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9.7.15

Uma longa tradução (parte 2)

O grande projeto do Textos para Reflexão este ano é, como alguns devem saber, a tradução de um dos livros mais sagrados do mundo, o Bhagavad Gita (vocês podem saber mais sobre ele no artigo A sublime canção, que servirá de base para o prefácio da edição).

Conforme falei no início, estarei lhes trazendo alguns trechos desta longa tradução para que possam acompanhar o seu andamento enquanto eu não chego ao final do trabalho.

Portanto, continuando da parte anterior, segue abaixo mais um trecho do Capítulo I:


O dilema de Arjuna

Ante tal visão, Arjuna foi tomado de uma grande compaixão e pronunciou tais palavras com imensa tristeza:
Ó Krishna, ver meus parentes em ambos os lados do campo de batalha, com vontade de lutar até a morte, faz minha alma arrefecer e minha boca ressecar. Meu corpo estremece e meu pelo fica todo arrepiado. (1.27-29)

Meu arco escorrega das mãos, e minha pele se incendeia. Minha cabeça tonteia, eu mal consigo permanecer de pé. Ó Krishna, eu vejo maus presságios. Eu não vejo nenhum sentido em matar meus parentes nesta guerra. (1.30-31)

Não desejo nem a vitória nem a conquista de reino algum, ó Krishna. Qual o uso de um reino, dos espólios da guerra, ou mesmo da própria vida, se todos eles estão aqui, agora, dispostos a lutar entre si até a morte? [1] (1.32-33)

Eu não quero matar nenhum dos meus parentes, nem mesmo pelos reinos do céu, e muito menos pelos reinos da terra, ó Krishna. (1.34-35)

Ó meu amigo, que prazer nós poderemos encontrar na matança de nossos irmãos? Nesta guerra insensata tudo o que podemos colher é o remorso e o arrependimento. (1.36)

Desta forma, não devemos lutar contra nossos parentes. Como poderíamos ser felizes após matá-los, ó Krishna? (1.37)

Apesar de estarem cegos pela ganância, e não conseguirem perceber o grande mal que há na destruição de sua própria família, ou o pecado em serem traiçoeiros com seus amigos, por que nós, que podemos ver claramente esta grande calamidade, deveríamos concordar com ela, ó Krishna? (1.38-39)


(tradução de Rafael Arrais)

***

[1] No plano literal, o início do Bhagavad Gita traz uma mensagem pacifista. Já no plano mítico, Arjuna identifica os participantes da guerra aos próprios desejos. Isto é, conforme destacado no prefácio desta edição, fica claro que se trata de uma guerra psicológica. Neste caso, o leitor deve invariavelmente se identificar com o próprio Arjuna, e descobrir quem são os Kurus e os Pândavas (os pensamentos materialistas e espirituais, respectivamente) em sua própria mente. Note, entretanto, que todos eles “são seus filhos”.

» Em breve, novos trechos desta tradução...

***

Crédito da imagem: Google Image Search/God Wallpapers

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2 comentários:

Blogger Ecuador disse...

O ponto de vista para ler o Bhagavad Gita?

http://editoraadvaita.blogspot.com.br/2010/03/o-ponto-de-vista-para-ler-o-gita.html

Parabéns pelo trabalho e desculpe se o comentário saiu repetido.

10/7/15 11:57  
Blogger raph disse...

Uma reflexão espetacular, obrigado por compartilhar Ecuador :)

Eu mesmo posso dizer que estou tentando traduzir o Gita do ponto de vista do Krishna que também reside em mim...


Abs!
raph

10/7/15 16:46  

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