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21.8.15

Uma longa tradução (parte 3)

O grande projeto do Textos para Reflexão este ano é, como alguns devem saber, a tradução de um dos livros mais sagrados do mundo, o Bhagavad Gita (vocês podem saber mais sobre ele no artigo A sublime canção, que servirá de base para o prefácio da edição).

Conforme falei no início, estarei lhes trazendo alguns trechos desta longa tradução para que possam acompanhar o seu andamento enquanto eu não chego ao final do trabalho.

Portanto, continuando da parte anterior, segue abaixo o trecho final do Capítulo I:


Arjuna descreve os malefícios da guerra

Com a destruição da família, as antigas tradições e códigos de conduta também são perdidos, e a imoralidade passa a prevalecer. (1.40)

E quando a imoralidade prevalece, ó Krishna, as mulheres da família se tornam corrompidas, assim como seus filhos indesejados [1] (1.41)

Tudo isso carrega tanto a família quanto seus assassinos para o inferno, pois os espíritos de seus antepassados são esquecidos pelos filhos corrompidos, que já não lhe prestarão mais as oferendas cerimoniais nem o respeito devido. (1.42)

Pelo ato ilegítimo e pecaminoso de tais rebentos indesejados, as qualidades ancestrais da família e toda a ordem social são destruídas. (1.43)

Já nos foi dito, ó Krishna, que os membros de tais famílias corrompidas vagueiam pelo inferno por um longo período. [2] (1.44)

Ai de nós, de todos nós! Estamos prestes a cometer um grande pecado ao concordarmos com essa matança insensata de nossos parentes, tudo por conta da ganância dos prazeres e riquezas do reino (Hastinapura [3]). (1.45)

Para mim seria muito melhor que meus irmãos me matassem com suas armas na batalha, enquanto eu estivesse desarmado e sem oferecer resistência. Que eles bebam o sangue do meu coração... (1.46)

Sanjaya disse: Tendo dito isso tudo ao seu amigo Lorde Krishna, e deixando seu arco e suas flechas de lado, o príncipe Arjuna se recostou no assento de sua carruagem de guerra, com sua alma inundada de angústia e tristeza. (1.47)


(tradução de Rafael Arrais)

***

[1] Novamente há dois planos de interpretação. O literal se assemelha a antiga visão conservadora (de fato, milenar). O plano mítico continua tratando do campo psicológico: as mulheres corrompidas, e seus filhos indesejados, nada mais são do que os maus pensamentos, muitos dos quais “não sabemos exatamente como chegaram até nós”.

[2] No hinduísmo o inferno não é eterno, e quer significar o período de arrependimento pelo qual a alma passa, seja após a morte, quando aguarda um novo renascimento, seja ainda na própria vida. No entanto, muitas descrições do inferno hindu não devem em nada, em matéria de sofrimento, ao inferno do cristianismo.

[3] Hastinapura (cidade [pura] do elefante [hastina]) é a lendária capital da dinastia dos reis Kurus e local principal de toda a narrativa do Mahabharata, incluindo o Gita. Está localizada ao norte da Índia, às margens do rio Ganges, e possuí um importante sítio arqueológico que comprova sua existência ainda na época em que tais obras sagradas foram primeiramente escritas. Hoje abriga uma cidadezinha fundada em 1949, que contava 21.248 habitantes no senso de 2001.

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Crédito da imagem: Google Image Search/krishna.org

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