Sobre deixar de existir
O meu problema não é com deixar de existir, mas com existir;
Existir, com um sentido para a existência.
Para mim, a justiça divina só pode ser compreendida pela reencarnação;
Do contrário, o mero fato de uns nascerem no Quênia e outros na Suécia
Já seria injusto de antemão:
Em Deus não existindo ou não sendo infinitamente justo,
Não há realmente muito sentido para a existência
Que não observar o baile em descompasso
De poeira de estrelas
Em turbilhão.
Se eu realmente acreditasse que a existência não segue uma lei
De causa e efeito, de “a cada um segundo suas obras”,
De que tudo o que fizer, de bom e de mal,
Não fará para mim diferença alguma em meros 100 anos,
Eu não teria medo de morrer...
Teria medo de viver.
Pois não encontraria, onde quer que vá,
Bases que sustentassem qualquer conduta moral;
Ou sequer motivo para estudar, adquirir conhecimento,
Conhecer pessoas e amá-las.
Seria tudo aleatório, como um tsunami na Ásia,
Um tiroteio da linha vermelha,
Um acidente a beira da estrada...
Acredito que passaria então, o resto da vida, viajando o mundo,
Conhecendo lugares que nunca mais terei a chance de ver;
Ou observando estrelas, galáxias e quasares,
Percebendo toda a imensidão que nunca, nunca,
Terei chance de conceber.
No entanto, crendo na reencarnação, eu sei
De tantos e tantos lugares que já morei
De tantas e tantas pessoas que já me apaixonei
De tantas crueldades que já pratiquei
De tantos degraus que subi pé a pé;
E serão muitos mais...
Uma eternidade para sempre viajar,
Estudar, me depurar, e amar.
Cada ação que cometer: moral ou imoral,
Me retornará uma resposta futura
De maior sofrimento ou felicidade,
Sem, no entanto, nunca ser injusta:
O sofrimento será sempre o remédio amargo
Que tomarei de bom grado
Para findar a dor,
E iniciar o amor.
E todas as pessoas que conheci,
Todos os lugares por que passei,
Todos os mares que me banhei,
Todo o tronco de árvore em que adormeci,
E também minha sabedoria, moral,
Minha individualidade:
Estarão sempre comigo,
Por toda e qualquer idade,
Como num casamento ancestral.
Acaso lá no fim, na morte,
Eu retornar ao Grande Nada,
Pelo menos saberei que pautei a vida
Por decisões morais:
Responsabilidade perante a mim,
Ao próximo,
E a divina Natureza do mundo.
Se, no entanto, eu aqui continuar,
Talvez toda essa crença,
Que muitos dizem ser absurda,
Venha a me servir de alguma coisa, em algum lugar...
raph'08
Marcadores: existência, Lei da Causa e Efeito, morte, poesia, poesia (1-20), reencarnação
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