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12.6.08

Evolução das Espécies e Espiritismo

Em seu livro de 1859 , "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), Charles Darwin introduziu a idéia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural.

A Gênese, cap. X, publicado em 1868 :

"27. - Na classe dos mamíferos, o homem pertence à ordem dos bímanos. Logo abaixo dele vêm os quadrúmanos (animais de quatro mãos) ou macacos, alguns dos quais, como o orangotango, o chimpanzé, o jocó, têm certos ademanes do homem, a tal ponto que, por muito tempo, foram denominados: homens das florestas. Como o homem, esses macacos caminham eretos, usam cajados, constróem choças e levam à boca, com a mão, os alimentos: sinais característicos.

28. - Por pouco que se observe a escala dos seres vivos, do ponto de vista do organismo, é-se forçado a reconhecer que, desde o líquen até a árvore e desde o zoófito até o homem, há uma cadeia que se eleva gradativamente, sem solução de continuidade e cujos anéis todos têm um ponto de contacto com o anel precedente. Acompanhando-se passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior. Visto que são idênticas às dos outros corpos as condições do corpo do homem, química e constitucionalmente; visto que ele nasce, vive e morre da mesma maneira, também nas mesmas condições que os outros se há de ele ter formado.

29. - Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra. Aí está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil protestar.
Todavia, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, tanto mais cresce de importância o princípio espiritual. Se o primeiro. o nivela ao bruto, o segundo o eleva a incomensurável altura. Vemos o limite extremo tio animal: não vemos o limite a que chegará o espírito do homem."

Meu comentário:
A doutrina da evolução das espécies é, na sua parte comprovada (e física), peça fundamental do Espiritismo. Ocorre que o Espiritismo explica então a evolução moral e cognitiva pela parte espiritual, que teve essencialmente de passar por encarnações em diversas espécies dos reinos vegetal ao animal, até chegar ao Homo Sapiens.
Pois bem, pode-se supor que Kardec, conhecedor de ciências, tenha se apropriado rapidamente das idéias de Darwin e elaborado uma explicação surpreendente para a publicação da Gênese.
Mas, o que diriam se um livro que foi publicado ANTES do livro de Darwin trouxesse as sementes dessa idéia que até então não havia sido proposta sequer pela ciência?

Questões retiradas do Livro dos Espíritos, publicado em 1857 , 2 anos ANTES de Darwin expor sua Evolução ao mundo:

" 595. Os animais têm livre-arbítrio?
— Não são simples máquinas, como supondes (1)mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material.
(1) Descartes ensinava que os animais são máquinas, agindo segundo as leis naturais, por não terem espírito. Essa concepção, que no tempo de Kardec era ainda bastante difundida, prevalece até hoje entre a maioria dos homens. Os Espíritos a contestam, como se vê, e a sua opinião é referenciada pelas Ciências. (N. do T.)"

"604. Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre interiores aos homens, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras?
Tudo se encadeia na Natureza por liames que não podeis ainda perceber , e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender no seu estado atual. Pode entrevê-los por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos prejuízos do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá suas idéias limitadas lhe farão ver as coisas de um ponto de vista mesquinho. Sabei que Deus não pode contradizer-se e que tudo, na Natureza, se harmoniza através de leis gerais que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador."

"606 - a) A inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único?
— Sem nenhuma dúvida; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos.

607. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida. (Ver item 190.) Onde cumpre o Espírito essa primeira fase?
Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade. "

"609. O Espírito, tendo entrado no período da humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano(*)?
- Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações, ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na Natureza se faz por transição brusca(1); há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia do seres e dos acontecimentos. Mas esses traços desaparecem com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos se realçam lentamente, porque não são ainda secundados pela vontade, mas seguem uma progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire consciência mais perfeita de si mesmo."

Meu comentário:
(*) A nomenclatura tosca para algo que os espíritos não poderiam ainda divulgar, e que portanto os auxiliares de Kardec não conseguiam bem definir, mostra que, ao mesmo tempo:

1- Kardec e seus auxiliares não vislumbravam a Evolução de Darwin e tinham sérias dificuldades em compreender que o espírito humano veio sim do reino animal, onde evoluiu até formar consciência própria e poder encarnar em Homo Sapiens.

2- Os espíritos aparentemente sabiam que os que perguntavam estavam confusos, no entanto não poderiam trazer uma revelação que a humanidade estava prestes a descobrir por si mesma, seguindo uma lei clara de não interferência... Ou seja, é como o professor que não pode resolver a equação do aluno, ainda que ele esteja quase a resolvendo por si só .

3- Os espíritos estavam apenas esperando Darwin divulgar sua teoria ao mundo para explicar as coisas de forma mais elaborada, o que foi feito na Gênese... Ainda que possamos pensar, de forma cética, que Kardec apenas "intuiu" tudo isso por si mesmo, e antecedeu a Darwin mesmo sem bem saber, sem dúvida a explicação MENOS FANTÁSTICA é a de que consciências extra-corpo que coordenam a vida terrestre trouxeram a informação no momento oportuno, pois seguem regras bem estabelecidades de contato com os encarnados e do que podem e do que não podem ainda divulgar.

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5 comentários:

Blogger André Luís N. Soares disse...

Raph,

Penso que seu texto tem três problemas. Eles estão concentrados no parágrafo abaixo.

Você diz: "Pois bem, pode-se supor que Kardec, conhecedor de ciências, tenha se apropriado rapidamente das idéias de Darwin e elaborado uma explicação surpreendente para a publicação da Gênese.
Mas, o que diriam se um livro que foi publicado ANTES do livro de Darwin trouxesse as sementes dessa idéia que até então não havia sido proposta sequer pela ciência?".

O primeiro problema é que Kardec era adapto da teoria da geração espontânea. Isso não se coaduna muito com a lei da transmissão dos caracteres adquiridos no darwinismo. O segundo é que a resposta dos espíritos na questão nº. 46 do "Livro dos Espíritos" parece confirmar a geração espontânea. O terceiro é que as idéias de Darwin sobre seleção natural já tinham sido divulgadas desde 1838. Sem falar que hipóteses sobre "origem comum" e "transmutação de espécies" já existiam desde o século VI A.C (o filósofo grego Anaximandro de Mileto, o filósofo grego Empédocles, o filósofo-poeta romano Lucrécio, o biólogo árabe Al-Jahiz, o filósofo persa Ibn Miskawayh e o filósofo oriental Zhuang Zi). Então na segunda metade do século XIX realmente havia um borburinho sobre teorias evolucionistas. A publicação de "A Origem das Espécies" em 1859 só foi o arremate final, num compêndio, das teorias que inclusivem já haviam sido expostas por dois artigos distintos na Linnean Society of London em 58.

Um grande abraço!

15/6/08 00:16  
Blogger André Luís N. Soares disse...

Parabéns pela iniciativa do Blog!!!

Que continuemos mantendo contato...

15/6/08 00:18  
Blogger raph disse...

Oi André,

Bem, sobre a #1, acredito que só enalteça ainda mais Kardec, pois codificou uma doutrina que ia contra sua própria crença.

Sobre a #2, ainda que possa parecer que eles corroboram com a idéia, vale o comentário sobres "germes primitivos", ou seja: eles não dizem que a geração vem do nada (do vácuo), indicam a existência da bactérias, mas não trazem a explicação pronta, pois era algo que a ciência ainda deveria descobrir por si mesma.

Sobre a #3, ai sim, é o argumento que pode derrubar este artigo, ainda que, como você mesmo disse, Kardec não acreditava em evolução das espécies, e foi "forçado" a crer pelas próprias respostas lógicas dos espíritos, ao que a ciência logo comprovou a veracidade. Ou melhor, Darwin não comprovou nada, mas nos trouxe uma grandiosa teoria que é dada quase que como certa até hoje, embora tenha suas falhas (ler "A Caixa Preta de Darwin").

8/8/08 13:44  
Blogger raph disse...

Outro abraço e parabéns pelo seu blog, é muito bom e na minha opinião imparcial na medida certa!

8/8/08 13:51  
Blogger raph disse...

Sincronicidades: toda revelação é apenas o estopim da inspiração. Que a lei da evolução está intimamente ligada a lei da reencarnação, muito embora nem todos tenham olhos para ver...

As lições da evolução

27/1/10 15:02  

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