O passado e o futuro
 
Texto de Rafael Arrais, em homenagem ao grande poeta Gibran Kahlil Gibran. 
Então Almitra [1] disse: fala-nos do passado e do futuro.
E ele respondeu:
O passado e o futuro estão dentro de vós, e não fora de vós.
O passado é como uma trilha de migalhas de pão que delimita o caminho que percorremos na floresta, e os degraus que subimos na montanha.
Ele também nos aponta as armadilhas e os trechos sem saída. Ele nos traz a história de todos os nossos irmãos, que seguiram por este mesmo caminho, em eras de outrora.
Porém, não se admirem  demasiadamente com o passado.
  Não queiram viver uma  vida que já não existe mais; não queiram seguir a trilha reversa, atrás de  migalhas que não estão mais lá.
Que a natureza não se detém em tempo algum. Os rios fluem sem cessar, e toda represa um dia encontra um caminho para vencer o concreto e seguir em frente.
Povo de Orfalés, não  sejam represas, sejam rios!
  Que a vida segue  apenas em uma única direção: adiante.
  E todos aqueles que  ignoram tal verdade, se tornam mortos enquanto vivos, cheios de lágrimas  represadas.
E o futuro, este é o  hóspede que ainda não chegou.
  Portanto, não se  preocupem em arrumar a casa para ele, pois que ele tampouco avisou quando irá  chegar.
Talvez, sejamos nós  que tenhamos de chegar a sua casa.
  Talvez ele more no  cume da montanha, e seu convite seja como um chamamento, para que prossigamos a  subir, sem mourejar.
E quando chegarmos lá  no alto, veremos que de nada adiantou toda essa preocupação com sua visita...
  Todos os jantares e  todas as mesas postas, tudo em vão.
Foi no café da manhã  que chegamos em sua morada, e lá do alto víamos o vale ensolarado e toda a  extensão de nossas vidas na floresta.
  E soubemos que a mesa  estava posta para nós, e não para o hóspede.
Que o hóspede era na  verdade o anfitrião.
  Que a vida não atende  aos nossos compromissos: ela tem os seus próprios.
  E da sua agenda, a  vida mesmo cuida.
  Que nada foi gravado  em pedra.
  E todas as coisas  fluem, como as estações do ano.
  E todas as histórias  se encerram em um único momento.
Este é o momento que realmente nos importa, meus irmãos: a vida se vive neste farfalhar de grama, nesta brisa incessante, neste aroma eterno de primavera...
***
[1] Almitra é o personagem que faz a maior parte das perguntas para Almustafa, o escolhido e bem amado, personagem principal que dá voz aos ensinamentos de Gibran em sua obra-prima, “O Profeta”. Este texto, entretanto, é apenas uma homenagem ao grande poeta.
***
» Parte da série "Após Gibran"
Crédito da foto: Billtam
Marcadores: Após Gibran, contos, contos (1-20), existência, filosofia, gibran, tempo
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