Involuções, parte 2
Segundo algumas teorias espiritualistas, a evolução física da vida na Terra reflete sua evolução espiritual: desde bactérias e insetos, passando por roedores e macacos, até o homo sapiens, princípios espirituais, sementes de consciência, vieram evoluindo e habitando corpos, aqui e ali, por todo o globo terrestre. Em biologia a palavra involução está associada à autólise, a morte celular. Não existe para a Natureza, até que se prove o contrário, algo como uma “involução das espécies”: existem mutações que eventualmente acarretam em pequenos ganhos na capacidade das espécies, e as vão lentamente moldando ao longo do tempo, de modo que consigam continuar se adaptando cada vez mais as condições de seu habitat natural. As espécies podem se extinguir, e a grande maioria já se extinguiu, mas isso pode somente significar que evoluíram para novas espécies mais adaptadas, ou que sumiram da face do planeta. Nenhum homo sapiens regrediu até hoje a um bonobo, assim como nenhum inseto transformou-se numa bactéria.
No mundo espiritual, às vezes podemos dar vazão demasiada a nossa imaginação e errar aqui e ali em nossas interpretações. Por isso um dia cristãos acreditaram em escravos e mulheres sem alma, ou em guerras santas, mas isso não significa que todos os cristãos ou que todos os espiritualistas estivessem sempre equivocados. Para um espiritualista, é sempre necessário comparar sua teoria subjetiva com a objetividade infinita das leis da natureza, e foi exatamente isso que Alfred Russel Wallace, co-criador da teoria da evolução, e tantos e tantos outros espiritualistas que não viraram as costas para a Natureza, o fizeram.
Desde épocas imemoriais, desde eras em que não éramos ainda homens nem mulheres, temos singrado o Cosmos e habitado seres que se organizam e evoluem, até que surja a consciência individualizada, e até que essa consciência se expanda até o estágio atual. Foi o próprio Rabi da Galiléia quem disse que somos deuses em formação, e que faremos tudo o que ele fez e ainda muito, muito mais... E ele também mencionou as muitas moradas do Reino. Ora, a Terra é apenas uma delas. Vivemos e evoluímos nela por bilhões de anos. Passamos por muitas eras de mudanças, mas raramente vimos mudanças de eras – o mundo atual talvez veja uma delas.
Por mais que a mídia insista em divulgar tragédias, guerras e violência em todos os cantos do mundo, no fundo aqueles que tem olhos para ver sabem que nossa ética jamais esteve a andar para trás: os assassinos e criminosos são normalmente a imensa minoria. Por mais estranho que possa parecer, os escravos negros que foram soltos na Europa e na América jamais se revoltaram como seria de se esperar, jamais desceram as encostas das favelas para fazer uma guerra social. Eles se acostumaram. Ainda que possam ter se acomodado, a história moderna fala muito mais de oportunidades de amor do que de ódio.
Mas a pior parte ainda é a indiferença... Apesar de tudo, no entanto, ainda existem médicos e voluntários que vão atender e salvar vidas nos entornos dos canteiros de guerras e genocídios. Ainda existem heróis que continuam a adentrar em prédios em chamas para salvar quem possa ser salvo. Ainda existem os caridosos, os que visitam creches, hospitais e asilos... Tudo bem, estes tampouco são a maioria, mas se o fossem, o céu já teria descido a Terra.
Mesmo assim, hoje vamos ao San Siro ver um clássico do futebol onde, ainda que exista alguma violência, raramente teremos um óbito sequer, e certamente jamais uma multidão estaria a aplaudi-lo como se aplaude a um belo gol. As “feras” de hoje são os craques de bola, e não tigres esfomeados com um antebraço entre os dentes...
Sim, algo mudou, e para melhor: hoje somos 7 bilhões de pessoas a dividir um mesmo planeta, e na maior parte de seu território temos paz, ou pelo menos uma vida muito mais pacífica do que aquela compartilhada pelos 300 milhões de 2 mil anos atrás.
Nosso maior inimigo não é a violência ou a promiscuidade sexual, mas nosso desejo desenfreado de consumir, e consumir, e consumir... Até que não reste mais nada a que se chamar de natural. O deus do consumo, porém, não contava com a sabedoria da Natureza: optou ela por fazer o papel de diabo da vez, e agora nos ameaça com seu clima caótico, nos forçando a nos unir em prol de um objetivo em comum.
Hoje temos a divina oportunidade de nos unir como uma única nação, um único povo, e estudar juntos a melhor forma de viver nesse reino de forma sustentável, para que muitos bilhões de nós ainda possam passar por aqui. Temos a árdua tarefa de regenerar a natureza devastada por nós mesmos nos últimos anos, mas isso ainda é muito melhor do que realizar guerras santas e outras aventuras inúteis, fruto de nossa enorme ignorância.
Sim, hoje somos um pouco mais sábios do que outrora, mas ainda é muito cedo para cantar vitória. No jogo na Natureza consigo mesma, ainda será necessário novas provas de que poderemos, finalmente, transitar desta para a próxima era. Mas é muito tarde para ser pessimista, nossa ciência e nossa espiritualidade têm nos apontado um glorioso farol de esperança logo ali, pouco além das próximas décadas. Quem tiver olhos para ver, e um espírito aberto para sentir, vivenciará o céu prometido, sem jamais involuir.
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Crédito da foto: Christian Liewig/Liewig Media Sports/Corbis
Marcadores: artigos, artigos (121-130), caridade, ecologia, espiritualidade, evolução, moral, natureza
5 comentários:
Tudo bem, concordo, a platéia não mais escolhe com o dedo se o perdedor morre ou vive, mas 2.000 anos depois, torcemos para que o juíz dê um pênalti inexistente para que saiamos felizes, e nem damos bola se o presidente do clube é um imoral, e ligado a máfia. Um abraço.
Pequenos passos, peqenos passos...
Eu costumo dizer que evoluímos nossa ética a passos de formigas dopadas, mas em comparações de mil em mil anos, certamente é possível perceber alguns avanços.
Abs
raph
João, digamos que entre a condenação/aceitação à morte nas arenas e a aceitação da corrupção há um pequena diferença. Há um evolução.
Esse texto esclarece que muita gente tá fazendo tempestade em copo da àgua atualmente. Um exemplo clássico para adicionar a sua gloriasa lista é a corrupção política . Muitas pessoas dizem que hoje em dia os politicos estão mais corruptos que no passado,mas essas pessoas sempre omitem o fato de que no passado,casos de corrupção eram guardados à sete chaves e pouquissimas pessoas podiam saber . Entretanto uma coisa não mudou,que é o fato do politico ter que se vender à um grupo qualquer para ser eleito pela população(quase como um politico patrocinado) e é por essa razão que acredito que a democracia está obsoleta.
Concordo plentamente.
Mas talvez não seja a democracia que esteja obsoleta, talvez a democracia sequer naulgum dia tenha sido totalmente uma democracia, visto que os políticos atendem mais interesses empresariais e de grandes corporações, que afinal os financiam para poderem terem a chance de serem eleitos...
O dia que o financiamento de campanhas for exclusivamente público, e devidamente monitorado por instituições independentes do governo, talvez quem saiba tenhamos mais políticos efetivamente defendendo os anseios do povo - então teríamos mais educação, saúde, segurança, transporte público de qualidade, que é a "base da base" do que o povo em sua maioria anseia.
Mas talvez ainda leve um bom tempo, ao menos no Brasil...
Abs
raph
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