Médium de si mesmo
Se Deus, ou os "seres de luz", quisessem nos trazer a Verdade, ou diremos agora, uma "boa parte" da Verdade acerca das Leis do Cosmos, de uma vez só, para todos os seres da Terra, já poderiam ter feito isso há milhares de anos atrás... Bastava deixar "anotado" na psicografia de algum Xamã, Sacerdote do Egito, ou até mesmo um Filósofo Grego... Porque não o fazem?
Porque obviamente seguem sua própria Lei. De que adianta trazer a Verdade de mão beijada aos seres? Seria mais fácil tê-los criado já conhecedores da Verdade de antemão. Mas quem é criado "programado" para conhecer a Verdade de antemão, não passa de um autômato, um robô, que em realidade não conhece coisa alguma por si mesmo, mas pela "graça de Deus", ou coisa assim...
Seria um tanto curioso que Deus se prestasse a criar o Cosmos, e todo o sistema que visa nos fazer encontrar essa Verdade por nós mesmos, ao longo das existências, apenas para em dado momento "resolver" nos trazer a Verdade de mão beijada, gravada em tábuas, em um livro "infalível", ou na fala de um profeta.
Foi Jesus quem disse a Nicodemus: "Se não entendestes de coisas terrestres, como irei lhes falar das celestiais?"... E o mesmo Jesus disse "que faremos tudo o que ele faz, e ainda muito mais". Mas será que Jesus foi importante porque curou cegos? Ressuscitou mortos? Caminhou sobre as águas?
Não me parece que tenha sido por isso... Jesus, tenha existido ou não, simboliza a Sabedoria que podia ser compreendida, até então, pelo ser humano... A mesma Sabedoria que chegou a nós por diversas outras vias, e continua chegando até hoje. Quem tem olhos para ver, a percebe, debaixo de uma pedra, entre um graveto de árvore, em qualquer lugar...
Ou ainda, dentro da própria alma, como um legítimo médium de si mesmo.
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Crédito da foto: Mary Lou Harris/Corbis
Marcadores: frases, frases (21-30), gnósticos, jesus, verdade
5 comentários:
Concordo na parte de que é "mais legal" assim. Porém, o que dizer, por exemplo, de Hermes e seus ensinamentos compilados no Caibalion? Me soa como um ser trazendo 'uma "boa parte" da Verdade acerca das Leis do Cosmos, de uma vez só'.
Talvez, para quem as soubesse interpretar. E, quem as soube interpretar, tampouco aprendeu isso da noite para o dia, ou somente porque as tenha lido. Pense nisso :)
É complicado falar de experiências dos outros (visões e textos de pessoas consideradas profetas, santos ou mesmo médiuns) e até mesmo as próprias, para quem "trabalha" com isso. Já escreveu poesia, amigo Franco-Atirador? Um bom poema deixa tudo subentendido. Fica tudo ali, oculto nas entrelinhas, como a beleza enigmática de um "sorriso de Monalisa". O sorriso é como a forma do poema, as palavras escritas, mas a alma da poesia é o enigma por detrás do sorriso. Fazer isso conscientemente é dificílimo. Na escrita por livre associação com um método similar ao de "imaginação ativa" do dr. Jung podem até surgir fácil, mas saber o que se quer dizer naquela salada de símbolos e arquétipos é que são elas... As criações mitológicas são ainda mais fascinantes e fazem algo parecido de deixar subentendido. Hoje sabemos por exemplo, do complexo de Édipo a nível psicológico. Será que quem escreveu o mito de Édipo sabia de todos os pormenores psicológicos por detrás do mito? Acho que não... A energia flui, cria estórias, esculturas, "livros de revelações", ensinamentos místicos, mas tudo isso é só o sorriso pintado da Monalisa, não o enigma por detrás do sorriso. Este, talvez, nem o próprio autor soubesse. Isso, se foi um só. Geralmente conhecimentos assim são em cascata: começa o mito de Thoth (talvez até baseado em alguém que encarne o arquétipo), começa a adoração de Thoth, os mitos vão agregando novos significados, as estórias vão aumentando... a cada nova experiência dos participantes do culto em processos místicos os conhecedores dos mistérios compilam os resultados, experiências e explanações filosóficas até chegar em um Cabailion e mesmo um Caibalion precisa que seu leitor saiba ler nas entrelinhas. Imagine que um médium/profeta ou doido escute em sua mente a frase: o Todo é mente. Para alguns, o Todo será visto como um cérebro e vão pressupor, pela frase solta, que o universo tem a forma de um cérebro, para outro, o entendimento será diverso. A interpretação da experiência depende de cada um e depende mais ainda de tudo o que ele herdou ou construiu com o que herdou(como ele construiu sua linha de pensamento, que passa desde suas respostas automáticas regidas por arquétipos primitivos à filosofia de Nietzche; se vive seus pensamentos nos moldes de culturas islâmicas, cristãs, hindus, etc). Mesmo acreditando que uma "explicação" divina venha de uma pessoa/avatar (no caso da hipótese do próprio Thoth-Hermes ter escrito) a compreensão do leitor depende do que citei atrás, ou seja, sua interpretação pessoal.
Não quero aqui dizer que Hermes não existiu materialmente em Malkuth, ou que Jesus, Krishna, etc, tbm não, isso é totalmente pessoal. Só quis demonstrar que alguns colocam o pensamento "cristão" como o conhecemos como vindo de Jesus, o Hermético de Hermes, etc, enquanto que o pensamento é, a maior parte dele, construído pelos participantes dos mistérios ao longo do tempo...
Eis um belo comentário acima. É por isso que de nada adianta termos a nossa frente a Verdade escrita, se não soubermos interpretar seus símbolos, seus signos... Poesias chegam mais perto, mas ainda assim são essencialmente compostas por essas cascas de sentimento...
"O poeta finge ser dor a dor que deveras sente; e quem o lê, na dor lida se sente bem; mas não nas duas que teve o poeta, e sim na dor que eles não têm" - porque a dor é uma experiência. Mas o amor também é uma experiência.
Somente o pensamento pode, quando conectado a tais mistérios, ao mesmo tempo sentir e conseguir retirar deste fruto a sua casca, e trazer cascas de sentimento para o papel... Ainda assim, somente o poeta sabe o que sentiu - o que escreve é um fingimento, mas um divino fingimento.
É por isso também que digo: minha religião é meu pensamento.
Legal. Bacana, mesmo. Talvez os esses ensinamentos os tenham sido tão estranhos quanto os conceitos sobre física quântica, universos paralelos, viagem no tempo e etc nos são. E falando desse modo até parece que hoje entendemos perfeitamente o que diz o Caibalion, o que não acho ser o caso.
É, sobre os antigos não saberem entender a verdade diante deles, é inevitável que a conversa iria convergir para os famosos símbolos e nossa capacidade de interpretá-los. Concordo perfeitamente com os comentários.
Quanto a poesia, não tenho costume de ler, leio ocasionalmente uma ou outra, e quando leio não aprecio muito, embora reconheça sua importância e 'mágica' quanto à transmissão de idéias, vislumbres etc da qual comentaram acima. Ainda me falta desenvolver essa capacidade de apreciá-la devidamente; acredito que por eu ser mais objetivo, linear.
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