Deuses monstruosos
Penso eu que o "aspecto monstruoso" da divindade é tão somente uma visão do ego sobre a mesma. Quando estamos reconectados com o nosso Verdadeiro Eu, o monstro é vencido ou, tanto melhor, torna-se nosso amigo:
Renascemos numa nova vida e num novo mundo, que é basicamente uma nova visão do mundo em que já estávamos; mas em que vivíamos, conforme diria Fernando Pessoa, como "cadáveres adiados". Agora despertamos, agora o Diabo não nos mete mais medo - pois que dominamos nosso lado animal, e não somos mais arrastados por nossas paixões, muito embora saibamos que elas continuarão lá, e que não merecem ser condenadas as trevas.
"Em nome de Deus" muitos ditos religiosos realizaram as maiores atrocidades contra outros seres humanos, animais, e a Natureza em geral. Mas aquele que despertou não fala mais "em nome de Deus" - ele está em Deus, e cala. Sua sabedoria se dá pelo seu exemplo, não pelo seu discurso.
O Cristo não fundou o cristianismo. Ele apenas amou - o Diabo foi vencido pelo Amor. Agora, são bons amigos...
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Crédito da imagem: mimagallery.com (Mahakala Thangka, artista desconhecido)
Marcadores: amor, espiritualidade, existência, frases, frases (31-40), jesus, mal
10 comentários:
Incrpivel como num texto tão breve houve tanta sabedoria. Principalmente sobre auqilo de quem encontra Deus se cala e ensina pelo exemplo. Gostaria MUITO que houvesse uma reflexão mais profunda sobre a frase que encerra o texto. Parab´pens.
Eu tento não escrever diretamente sobre o assunto porque isto tende a ser quase sempre mal interpretado.
São séculos e séculos de lendas acerca do Satanás. Falar em "tornar-se amigo de seu Satanás interior" dificilmente funciona exceto para alguns poucos capazes de compreender isto diretamente.
Por isso, falo indiretamente.
Mas também falei sobre o Mal aqui: http://textosparareflexao.blogspot.com/2010/04/reflexoes-sobre-o-mal-parte-1.html
Abs!
raph
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Bom texto, embora tenha um ponto de vista abraâmico e maniqueísta. Deus e Diabo são aspectos de um mesmo fenômeno. Basta lembrar a interpretação de uma Ordem Luciferiana sobre Deus:
"Diz o Deus Gnóstico AIWASS:
Eu sou o Grande Deus sentado ao trono de branco mármore.
Meus olhos são negros como a noite, mas brilham como o reflexo do sol sobre os campos cobertos de neve.
Meus chifres são obsidianos, revestidos de escarlate, e suas pontas estão cobertas com o Mel da Gnose.
Minha cauda é afiada como o nariz da cobra.
Meu Falo está sempre ereto, e minha Serpente interna está sempre enlaçada em um beijo com a Senhora dos Sonhos.
Meus pés estão abaixo da terra, e meus chifres perfuram as nuvens do céu.
Eu sou o Deus que se sentou ao Trono de Rá, eu sou o Glorioso, a que alguns chamam de Cristo, outros de Baphomet e que as massas conhecem como Satanás.”
Em tempo: não sou luciferianista nem thelemita.
Abs, Die Mensch-Maschine
A imagem da Deusa Kali no texto, classificada como o lado sombrio da Divindade ("Penso eu que o "aspecto monstruoso" da divindade é tão somente uma visão do ego sobre a mesma"), só é interpretada assim por influência das religiões abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo, Islamismo).
Basta lembrar que animais classificados hoje como de mau agouro, como dragões, gato preto e serpente foram e são interpretados como entes de boa sorte em outras culturas.
Inanna (Suméria), Ishtar (Babilônia) ou Asterote (Fenícia), todas a mesma Deusa representada sob a forma de um Dragão, era a Deusa da Amor e da Fertilidade (e da Guerra). Já na Goétia Judaica, transformaram-na num demônio (Astaroth).
Na China, o Dragão é um símbolo de vitalidade, força, sabedoria, vida longa e prosperidade. No Antigo Testamento e no Cristianismo é interpretado como um símbolo do mal - exemplos: São Jorge e o Dragão; Livro de Jó 41:18-21.
A serpente, que remete à cobra tentadora no Jardim do Éden, é classificada como símbolo de boa sorte e mudança na China e no Japão. Por sinal, de acordo com o horóscopo chinês, estamos no Ano da Serpente, que começou no dia 10 de fevereiro. Nesta data, os japoneses se congratulam dizendo uma palavra que significa "troca de pele". Ou seja, mudança de valores, atitudes e comportamentos.
Na Pérsia antiga havia a crença de que maltratar um gato preto era a mesma coisa que maltratar um espírito amigo, criado especialmente para fazer companhia ao homem durante sua passagem na Terra.
Na Escócia, um gato preto no alpendre traz prosperidade (influência celta).
Na costa de Yorkshire (Inglaterra), as mulheres dos pescadores acreditam que os seus maridos regressarão sãos e salvos da faina se mantiverem em casa um gato preto. Entre os pescadores, gatos pretos mantidos em casa enquanto saíam para pescar era sinônimo de bom tempo em alto mar. Há quem defenda que o preço dos gatos pretos chegou a aumentar de tal formar que muitos marinheiros não tinham dinheiro para comprar um exemplar. Em algumas regiões da Inglaterra, acredita-se que oferecer um gato preto à noiva traz sorte (influência celta).
No Egito antigo, os gatos eram muito importantes porque protegiam os grãos dos animais daninhos e acreditava-se que Bastet os protegia. Quem matasse um gato era punido com a morte. Quando os gatos morriam, as famílias raspavam a sobrancelha como luto e às vezes os felinos eram mumificados.
Finalmente, Kali, a Deusa da destruição de demônios, da morte e da sexualidade é uma força neutra. Tanto pode ser utilizada para afastar pessoas indesejáveis ou ajudar na morte de defeitos psicológicos. Digito isso baseado na experiência, não em teorias.
Abs, Die Mensch-Maschine
"Penso eu que o "aspecto monstruoso" da divindade é tão somente uma visão do ego sobre a mesma. Quando estamos reconectados com o nosso Verdadeiro Eu, o monstro é vencido ou, tanto melhor, torna-se nosso amigo"
Relendo o que foi digitado, compreendo que interpretei mal o parágrafo. Na verdade, compartilhamos o mesmo ponto de vista. Trata-se apenas de uma questão de nomenclatura. Diabo, Sombra, Ego são apenas nomes. Não acredito que o termo "Eu verdadeiro" seja uma boa referência ao Atman hindu, visto que este já transcendeu a individualidade, mas insistir nisto é bobagem.
Realmente, é o ego que interpreta Deusas com aspecto monstruoso como o lado sombrio da Divindade.
Este lado sombrio, como o texto indica, pode ser vencido. Entretanto, tenho um pouco de dúvida se este lado sombrio (a Sombra de Jung) é passível de eliminação. Talvez seja algo que apenas possamos controlar. Tomara que o meu trabalho diário a longo prazo prove o contrário, embora Jung tenha escrito que a Sombra jamais será destruída. Mas isso é uma teoria, e o que importa é a prática, a experiência.
Abs, Die Mensch-Maschine
A sombra jamais é eliminada, pois eliminá-la seria antes eliminar parte de nossa própria história evolutiva (tanto no sentido físico, do instinto das espécies pregressas, quanto no sentido espiritual, do instinto que sobrou na alma de homo sapines).
Foi precisamente isto que quis dizer com este trecho:
"Agora despertamos, agora o Diabo não nos mete mais medo - pois que dominamos nosso lado animal, e não somos mais arrastados por nossas paixões, muito embora saibamos que elas continuarão lá, e que não merecem ser condenadas as trevas."
Ou seja, que a sombra é domesticada, não eliminada.
De resto, também concordo que Verdadeiro Eu é apenas um nome :)
Abs!
raph
Perfeito.
Abs,Abs, Die Mensch-Maschine
Penso eu que o "aspecto monstruoso" da divindade é tão somente uma visão do ego sobre "si mesmo".
Quando estamos reconectados com o nosso Verdadeiro Eu, o monstro é "reconhecido" e finalmente torna-se nosso amigo.
"Se não me achar em si mesmo, jamais me encontrará. Tenho estado em você desde o início de mim" (Rumi)
:)
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