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27.2.13

Rumi - A dança da alma (Projeto Rumi)

Rumi - A dança da alma foi lançado em 27.09.13:

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Após Ad infinitum estar publicado e divulgado, inicio outro projeto. Desta vez, serei mais tradutor do que autor... O que segue abaixo é um trecho da introdução deste novo livro, que por enquanto será aqui chamado de Projeto Rumi [1]:


Já é noite, e a lua cheia da Pérsia estampa o tecido estelar, a refletir a luz que vem do outro lado do mundo. A sua volta, todos os discípulos estão tão taciturnos e quietos que, acaso fossem lamparinas vivas, poderiam ser confundidos com estrelas tristes.

Ao centro há um velho poeta dançarino. Ele encontrou e perdeu um grande amigo, ao mesmo tempo seu mestre e seu discípulo, pois que um completava ao outro como o sol e a lua... Mas isto foi há muitos anos, agora tudo o que ele faz é dançar. A tristeza incomensurável da perda em sua alma foi suplantada por chama ainda maior: um fogo que nunca se apaga.

Eis como se lamentava o seu filho ante sua aparente ausência:

Noite e dia, em êxtase ele dançava,
na terra girava como giram os céus.
Rumo às estrelas lançava seus gritos
e não havia quem não os escutasse.
Aos músicos provia ouro e prata,
e tudo o mais de seu entregava.
Nem por um instante ficava sem música e sem transe,
nem por um momento descansava.
Houve protestos, no mundo inteiro ressoava o tumulto.
A todos surpreendia que o grande sacerdote do Islã,
tornado senhor dos dois universos,
vivesse agora delirando como um louco,
dentro e fora de casa.
Por sua causa, da religião e da fé o povo se afastara;
e ele, enlouquecido de amor.
Os que antes recitavam a palavra de Deus
agora cantavam versos e partiam com os músicos [2].

Mas esta lamentação não inibiu seu espanto ante as palavras que o velho poeta parecia conseguir roubar do céu. Este silêncio todo é tão somente isto: o silêncio que antecede a chegada da poesia...

Ele faz um breve gesto, o sinal está dado. Os músicos começam a assoprar da alma para fora as melodias mais belas de todo o mundo árabe, e os escribas ficam a postos.

O poeta começa a dançar. Pé ante pé, suas passadas fazem com que gire agilmente em torno do próprio eixo, apesar da idade já avançada. Porém, assim como a Terra não gira no mesmo lugar, o poeta também circula uma estrela imaginária, um sol invisível a pairar no reino da imaginação [3]. É de sua luz que começam a chegar às palavras cantadas. Cada pequeno trecho é anotado:

Se você não me achar em você, nunca me achará.
Pois, tenho estado contigo, desde o início de mim.

Não há tempo a perder. É preciso aproveitar cada minuto do transe extático daquele que fora um grande sacerdote, mas que ao fim da vida havia se tornado algo ainda maior e mais profundo: um poeta que sabe como dialogar com Deus.

Lá onde nasce o verdadeiro amor
morre o “eu”, esse tenebroso déspota.
Tu o deixas expirar no negro da noite
e livre respiras à luz da manhã.

“Como pode, tão velho, após haver sofrido tanto de amor e de saudades, ainda conseguir trazer tanta água da fonte?” – pensam os escribas enquanto anotam, e anotam, e anotam... Foram milhares e milhares de poemas:

Está com ciúmes da generosidade do oceano?
Porque se recusaria a doar
esta alegria aos outros?
Os peixes não guardam o líquido sagrado em canecas!
Eles nadam nesta imensidão de liberdade fluída.

Ainda é noite, e o primeiro e maior dos dervixes rodopiantes, o dançarino em transe, continua a girar em torno de todo o Cosmos que, afinal, também está dentro dele mesmo.

Ele veio ao mundo para nos revelar a luz que vem do sol, pois que foi um dos poucos que a observou diretamente e não cegou – apenas amou, enlouquecidamente, e cada dia mais, até que seu espírito foi reclamado pelos que já estavam muito saudosos no outro mundo.

Isto foi há aproximadamente 8 séculos. O seu nome era Jalal ud-Din Rumi.

***

[1] Em 24/09/13 foi revelado o título do livro: Rumi - A dança da alma

[2] Texto de Sultan Walad, filho dileto, biógrafo e sucessor de Rumi. Walad foi o primeiro intérprete e exegeta de sua obra, e também o fundador da ordem sufi Mevlevi, conhecida como a ordem dos dervixes girantes, ou dançantes. O trecho citado foi transcrito da introdução de “Poemas Místicos” (Attar Editorial), com a seleção e tradução de José Jorge de Carvalho.

[3] Rumi criou a dança cósmica, o sama, praticada pela ordem sufi Mevlevi (ver nota 1). Sergio Rizek, editor da Attar, explica que essa dança se inspira no movimento dos astros: "Assim como todos os corpos giram por amor ao sol, os dervixes também giram por amor ao divino, que muitas vezes precisa de uma contrapartida humana, pois no Islã o amor humano é símbolo e reflexo do amor divino" (citação retirada do artigo de Débora F. Lerrer, “Quando o homem se confunde com Deus”).

» Veja também: Os dois mundos de Rumi

» Veja mais posts do Projeto Rumi

***

Crédito da imagem: Ayon/Raph

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6 comentários:

Anonymous Samuel Otemi disse...

Rumi é massa ,e eu me lembro da tradução daquela poesia sobre o sonho que você fez de rumi, ficou muito bom.

28/2/13 08:00  
Blogger raph disse...

Na Amazon.com você encontra mais de 5 mil resultados por uma pesquisa por "Rumi". E aqui no Brasil temos até então somente este livro da Attar... Precisava fazer justiça a um poeta tão magnífico e tão pouco traduzido para o português :)

28/2/13 09:37  
Blogger Ecuador disse...

Há uma versão do Masnavi em prtuguês.

28/2/13 18:53  
Blogger raph disse...

Verdade! E ainda é uma tradução extensiva, pelo número de páginas: http://www.skoob.com.br/livro/62233

Obrigado pela informação. Não quero traduzir nada que já tenha sido traduzido, então é bom conhecer todas essas poucas traduções...

Abs
raph

28/2/13 20:42  
Blogger Ecuador disse...

Sim, é esse mesmo. Pena que esgotado há alguns anos. Sorte que comprei o meu em um sebo a preço módico. Boa sorte, raph

13/3/13 19:31  
Blogger raph disse...

Uma certa inveja do momento em que achou este livro num sebo :)

Mas já passou... Obrigado outra vez.

14/3/13 14:02  

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