As cartas de Deus
 
Poema de Walt Whitman em "Folhas de Relva" (Ed. Martin Claret). Tradução de Luciano Alves Meira. O comentário ao final é meu.
Eu disse  que a alma não é mais do que o corpo,
e disse  que o corpo não é mais do que a alma,
e nada,  nem Deus, é maior para um ser do que esse ser para si mesmo,
e quem  quer que ande um estádio sem solidariedade caminha para seu próprio funeral  vestindo sua mortalha,
e eu ou  tu sem um centavo no bolso podemos comprar a nata da terra,
e  vislumbrar com um olho, ou apresentar um grão na sua vagem, confundindo o  conhecimento de todas as eras;
e não há  negócio ou emprego em que um jovem, seguindo carreira, não possa se tornar um  herói;
e não há  objeto que seja tão delicado que não posso funcionar como o centro em que se  ligam todas as rodas que movem o Universo;
e digo para  qualquer homem ou mulher, “Deixe que sua alma esteja tranquila e íntegra  perante um milhão de universos.”
E digo  para a humanidade, “Não tenha curiosidade sobre Deus”,
  pois eu  que sou curioso sobre todas as coisas não tenho curiosidade alguma sobe Deus.
  (Não há  uma gama de termos grande o suficiente com a qual eu possa dizer o quanto estou  em paz sobre Deus e sobre a morte.)
Ouço e  observo Deus em todos os objetos e ainda assim não compreendo Deus minimamente;
  não posso  compreender quem possa haver que seja mais maravilhoso do que eu.
Por que  eu deveria ver Deus melhor do que este dia?
  Eu vejo  algo de Deus a cada hora das vinte e quatro horas do dia, e a cada momento,
  nos rostos  dos homens e mulheres eu vejo Deus, e em minha própria face no espelho;
  encontro  cartas de Deus espalhadas pelas ruas e todas elas são assinadas por Ele,
  e  deixo-as ficar onde se encontram, pois sei que onde quer que vá,
  outras  virão pontualmente – para toda a eternidade.
***
Grandes místicos e poetas não  precisam ir longe para encontrar a Deus, e tampouco têm curiosidade sobre tal  encontro.
  Eles quebram um galho seco, removem  uma pedrinha do lugar, observam a relva que preenche os campos, e não estão  curiosos acerca do mistério divino.
  Eles vivem este mistério, e leem a  assinatura divina em cada pequeno pedacinho do Cosmos.
  E eles vivem isto neste momento,  pois não poderia haver outro.
  E eles sabem que estão em Deus e  Deus está neles, pois não haveria nenhum outro lugar onde um ou outro pudessem  estar.
  Não há neste vasto Universo,  tampouco num milhão deles, alguém tão maravilhoso quanto você.
  Não há nenhum grande herói ou vilão  dos mitos de outrora que não seja você mesmo, e não há nenhum deus que não  contemple a humanidade inteira.
  De fato, não há nenhum deus além  deste que sempre esteve ainda mais próximo de ti do que o seu próprio olho.
  Não há, enfim, uma gama de termos  grande o suficiente para descrever o que Walt Whitman sentia no momento em que  escreveu tais palavras.
  E palavras são somente as cascas do que se sentiu, os rascunhos da Eternidade, a flutuar pelos campos como as folhas  secas carregadas pelo vento outonal...
  Você pode ler suas assinaturas?
***
Crédito da imagem: Joel "Boy Wonder" Robinson
Marcadores: autores selecionados, autores selecionados (161-170), Deus, misticismo, poesia, Walt Whitman
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