O Amor segundo Gibran
O sujeito à esquerda da imagem acima se chama Gibran Khalil Gibran (apenas Gibran para os íntimos) e é um dos maiores poetas-filósofos de todos os tempos. Uma estrela cadente que habitou nosso mundo entre o fim do século 19 e o início do 20, tendo descido através do Líbano e eventualmente cintilado por todo o mundo, do Oriente ao Ocidente. Eu tive o enorme prazer de traduzir a sua obra-prima, O Profeta, da qual lhes trago abaixo o trecho onde ele fala sobre o Amor:
ENTÃO, disse Almitra, “nos fale do Amor”.
E ele ergueu a cabeça e observou a multidão, e uma quietude recaiu sobre todos. Com uma voz forte, ele lhes disse:
“Quando o amor lhes acenar, sigam-no,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados.
E quando suas asas lhe envolverem, aceitem-nas,
Embora a espada oculta em suas plumas possa lhes ferir.
E quando ele lhes falar, acreditem no que diz,
Embora sua voz possa despedaçar os seus sonhos como o vento do norte devasta ao jardim.
Pois assim como o amor os coroa, ele também os crucifica.
E da mesma forma que auxilia em seu crescimento, trabalha também para a sua poda.
E assim como ascende a sua altura e acaricia os seus ramos mais tenros que se agitam ao sol,
Também desce até suas raízes e as sacode em seu apego a terra.
Como feixes de trigo, ele os aperta junto a si.
Ele os debulha para expor-lhes a nudez.
Ele os peneira para livrar-lhes das suas cascas.
Ele os mói até a extrema brancura.
Ele os amassa até que se tornem maleáveis.
Então ele os encaminha ao fogo sagrado, para que possam se tornar o pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas o amor irá operar em seu interior para que conheçam aos segredos de seus próprios corações, e através deste conhecimento se tornem um fragmento do coração da Vida.
Entretanto, acaso em seu medo vocês buscarem apenas a paz e o prazer do amor, então será melhor que cubram a sua nudez e abandonem ao açoite do amor;
Para que deem risadas num mundo sem estações, mas nem todos os seus risos;
E chorem, mas nem todas as suas lágrimas.
O amor nada oferece além de si mesmo e nada recebe além de si mesmo.
O amor não possui, e tampouco pode ser possuído;
Pois o amor se basta em si mesmo.
Quando você ama não deveria dizer, “Deus está em meu coração”, mas sim, “Eu estou no coração de Deus”.
E não pensem que podem direcionar o curso do amor, pois o amor, se lhes acharem dignos, determinará ele próprio o seu curso.
O amor não tem outro desejo senão o de cumprir a si mesmo.
Entretanto, acaso em seu amor precisarem ter desejos, que sejam estes os seus desejos:
De se diluírem e serem como um córrego que canta a sua melodia para a noitinha.
De conhecerem a dor da extrema sensibilidade.
De se ferirem por sua própria compreensão do amor.
E de sangrarem de boa vontade e com alegria.
De acordarem na aurora com um coração alado e agradecerem por um novo dia de amor;
De descansarem ao meio-dia e meditarem acerca do êxtase do amor;
De retornarem para casa a tardinha com gratidão;
E então, de adormecerem com uma prece para o amado em seus corações, e uma canção de louvor em seus lábios.”
***
Se acaso estas lascas de estrelas, estas cascas de sentimento profundo, lhes tocaram de alguma forma ao coração, eu lhes convido a conhecer a mulher a direita da imagem, Lucia Helena Galvão, uma poetisa aqui mesmo de nossas terras, aqui mesmo de nosso século, que possui em sua alma uma rara e distinta compreensão do sentido mais oculto e sagrado das palavras de Gibran.
Na cerca de uma hora do vídeo abaixo, ela irá lhes trazer reflexões profundas sobre cada trecho do poema acima [1], e muito mais... Vale assistir com o espelho do coração voltado para o alto:
Obs.: Para quem está com alguma pressa ou não tem muita paciência para introduções, ela só começa a analisar efetivamente os trechos do livro em 13:10.
***
» A quem interessar, minha tradução de O Profeta se encontra à venda na Amazon, Kobo e outras lojas, como e-book.
» Conheçam também a Nova Acrópole Brasil.
[1] A tradução do livro utilizada no vídeo é a mais reconhecida no país, de Mansour Chalita. Embora seja superior à minha, ainda se vale de um estilo de linguagem antigo, que tentei atualizar na minha versão.
Crédito das imagens: Google Image Search/Divulgação
Marcadores: amor, espiritualidade, filosofia, gibran, Lúcia Helena Galvão, Nova Acrópole, videos
3 comentários:
É muito difícil viver banhado pela luz divina como viveu Gibran: ela é muito forte e geralmente cega. Apenas algumas almas iluminadas como a dele podem suportar tal visão.
Obrigado por mais um belo post Raph.
Sem palavras para descrever quão divina é a tradução da poetisa Lúcia Galvão!
Olá, a tradução na verdade é de Rafael Arrais, autor deste blog :)
Postar um comentário
Toda reflexão é bem-vinda:
Voltar a Home