O país do futuro
No país do futuro
há muitas criancinhas
que brincam pelas ruas
de catar balas de fuzil
dos tiroteios das madrugadas;
enquanto outras, mais grandinhas,
que já aprenderam a correr e pular,
brincam de subir o morro e gritar:
Vem aí os alemão!
No país do futuro
há jovens sem pai nem mãe
nem escola nem sociedade...
O que eles querem?
O tênis da moda,
a camisa do shopping,
o celular novo do comercial...
Mas, como já disse o poeta,
o seu cartão de crédito
é uma navalha.
No país do futuro
os homens de bem se trancam
em suas vilas, condomínios,
e malls maravilhosos,
cheios de grades, câmeras
e sentinelas...
Mas, quando se arriscam a sair
e apreciar a paisagem,
muito cuidado!
Eis que podem ser perfurados
pela realidade!
No país do futuro
há muitos que parecem temer
que todos esses que vivem nas encostas
subitamente resolvam descer ao asfalto,
juntos, e revoltados...
Porém, há muitos que se entreolham
nas praias, nos parques, nos estádios,
e nas vias comuns,
e indagam a si mesmos:
Mas não disse o rabi
que éramos todos irmãos?
No país do futuro,
que importa, afinal,
quem sobe
e quem desce?
No entanto, no país do hoje,
é preferível ainda
enviar todas essas criancinhas,
e jovens, e seres
condenados a viver a margem
para os morros
e as masmorras,
a depender, é claro,
do merecimento de cada um!
Depois ainda não sabem
porque diabos esse tal futuro
não chega nunca...
raph'15
***
Crédito da foto: Wilton Júnior/AE
Marcadores: Brasil, poesia, poesia (131-140), Rio de Janeiro, violência
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