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17.5.15

2 respostas para Abu

Como já disse aqui algumas vezes, toco este blog primeiramente para organizar minhas próprias ideias. Isso não me desobriga, entretanto, a reconhecer que é sim, muito legal, ter leitores e curtidores. Mas fato é que, há quase uma década atrás, quando ninguém curtia ou comentava nada, ainda assim eu escrevia...

A primeira vez que me surpreendi com a “fama” do blog foi no início do III Simpósio de Hermetismo, em São Paulo, quando conheci pessoalmente um dos leitores do blog, que me reconheceu e veio falar comigo. Ele hoje é um amigo que inclusive já escreveu por aqui também.

Mas o que sempre me deu ânimo para continuar escrevendo foram os raros e-mails de pessoas dando seus depoimentos, extremamente pessoais, de como algum texto daqui as auxiliou em suas vidas... Afinal, o que poderia ser mais recompensador do que isso?

Ainda assim, eu confesso que gostaria de haver alcançado uma certa “fama”, ao menos ao ponto de ter sido convidado para participar do programa Provocações, e ter sido entrevistado pelo Abu...

Talvez vocês o conheçam pelo seu personagem mais famoso, o Ravengar da novela Que Rei Sou Eu?, de 1989. Mas Antônio Abujamra foi muito mais do que um feiticeiro de personalidade forte, ele foi um pensador de personalidade forte. Seu programa de entrevistas, que durou quase 15 anos na TV Cultura, até a sua passagem recente, no último 28 de Abril, era interessantíssimo por diversas razões: entrevistava personalidades realmente interessantes, independente de sua “fama” (tendo, inclusive, entrevistado minha amiga Debora Noal, um anjo do Médicos Sem Fronterias, e até mesmo o Frater Goya, que conheci no Simpósio); recitava poemas (de uma forma magistral, pois Abu sempre foi um ator grandioso); e, principalmente, pelas perguntas, as perguntas!

Abu idolatrava a dúvida, e costumava fazer uma sequência de duas perguntas ao final dos programas. Primeiro, perguntava, “O que é a vida?”; e então, após a pessoa se esforçar muito para dar uma resposta sincera, ele repetia a mesma pergunta, “O que é a vida?”... Assim chegamos a diversos depoimentos que, se não resolveram a questão (e ela dificilmente seria resolvida), ao menos partiram genuinamente do fundo das almas que por lá tiveram o privilégio de passar.

Eu não tive tal privilégio, mas em todo caso gostaria de usar aqui a imaginação, e responder ao meu querido Abu:


[Abu] Raph, o que é a vida?

[Raph] Sabe Abu, se tem uma coisa capaz de nos manter sempre em movimento, sempre à frente, é a nossa divina capacidade de questionar o que sabemos, pois ela é de fato aquilo que nos faz buscar saber mais, cada vez mais...

E, se este oceano de conhecimento cada vez se alarga mais, e se fica evidente que, para cada dúvida que resolvemos, surgem diversas outras, é bom que seja assim, que este oceano é vasto, verdadeiramente vasto.

O que é a vida, então, senão a própria essência por traz deste questionamento? Não importa a resposta, importa mesmo é que continuemos a perguntar.

[Abu] Raph, o que é a vida?

[Raph] John Galsworthy, um dramaturgo inglês, dizia que “as palavras são somente cascas de sentimentos”... Então, Abu, é preciso compreender que “Deus”, “sentido”, “vida”, e até mesmo “eu” e “você”, tudo isto são apenas palavras...

Nesse sentido, talvez até exista uma resposta para essa pergunta, mas não creio que ela possa ser transmitida por palavras... Quem sabe por um gesto, ou um olhar, um olhar de amor...

Se um grande pesquisador descobre que o sentido da vida reside no interior de uma pérola em meio ao mar, ele pode tentar tirar toda a água do mar com sua grande máquina. Mas de que adiantaria saber o sentido da vida apenas após haver drenado o mar e esvaziado toda a praia?

Somente quem vai e mergulha pode encontrar tal pérola... Pessoa estava certo: navegar é preciso, navegar é cada vez mais preciso!

***

Crédito da imagem: Google Image Search/Divulgação

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4 comentários:

Blogger Abenids disse...

Amigo Raph
Também assisti muito ao Provocações.
Quanto à escrever no blog acontece que mais pessoas leem o que escrevemos do que se pode contar. Acontece que as pessoas leem e não se manifestam. Para aqueles que gostam de escrever a quantidade de leitores não é importante, a qualidade sim.
Abraços
Abenides

17/5/15 23:31  
Blogger raph disse...

Valeu Abenides!

Saudades da época do Orkut, que rendeu mais de um livro :)


Abração
raph

18/5/15 09:34  
Blogger Unknown disse...

Sempre que ele fazia essa pergunta. Recordava-me do trecho de um poema que li pela primeira vez neste blog, que falava sobre a vida ser "a ânsia da vida por si mesma".

18/5/15 21:02  
Blogger raph disse...

Isto vem originalmente de "O Profeta" de Khalil Gibran. A ideia da "ânsia da via por si mesma" é tão forte que eu a reutilizei diversas vezes nos meus textos, em diversos contextos...

A minha tradução para o trecho do livro, em que ele fala dos filhos, segue abaixo:

E UMA MULHER que amamentava um bebê disse, “nos fale dos Filhos”.
E ele disse:
Seus filhos não são seus filhos.
Eles são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Eles vêm através de vocês, mas não de vocês,
E embora eles vivam ao seu lado, eles não pertencem a vocês.

Vocês podem lhes dar seu amor, mas não podem formar seus pensamentos,
Pois eles possuem seus próprios pensamentos.
Vocês podem abrigar seus corpos, mas jamais suas almas,
Pois suas almas residem na mansão do amanhã, que vocês não podem visitar nem mesmo em sonhos.
Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem fazê-los como vocês.
Pois a vida não anda para trás e nem se demora com o ontem.

Vocês são os arcos dos quais suas crianças são arremessadas como flechas vivas.
O Arqueiro fita o alvo no caminho infinito; Ele os estica com toda a Sua força para que Suas flechas possam voar ligeiras, rumo ao horizonte.
Deixe que o seu encurvamento na empunhadura do Arqueiro seja a sua alegria;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama da mesma forma ao arco que permanece estável.”

(trad. Rafael Arrais)

19/5/15 09:49  

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