2012: Nova data marcada
Os céticos sempre reclamam que as revelações do fim dos tempos nunca estabelecem uma data marcada. Já outros defendem que o fato de várias civilizações no mundo terem apresentado narrações apocalípticas sugere que estas têm uma origem comum e ancestral (supostamente revelada ao homem por um ser dotado de inteligência superior, entre outras teorias) que foi sendo deturpada pela transmissão oral. Esta visão assume, por vezes, um carácter ecológico, ao propor que a mensagem do apocalipse se refere à capacidade que o homem civilizado tem para destruir o mundo.
A literatura apocalíptica tem uma importância considerável na história da tradição judaico-cristã-islâmica, ao veicular crenças como a ressurreição dos mortos, o dia do Juízo Final, o céu, o inferno e outras que são ali referidas de forma mais ou menos explícita. O Apocalipse de João, último livro da Bíblia, apresenta a previsão para o fim dos tempos, numa forma de escrita que ironicamente lembra em muito a mitologia pagã. A maior parte do livro é escrita em linguagem simbólica, e, por isso, dá margem a diversas interpretações pelos diversos segmentos cristãos.
Em 130 d.C. Justino, o Mártir acreditava que Deus estaria a atrasar o fim do mundo porque desejava que o Cristianismo se tornasse uma religião mundial. Por volta do Século III a maioria dos professos cristãos acreditava que o fim dos tempos ocorreria depois de suas mortes. Em 250 d.C. Cipriano, Bispo de Cartago, escreveu que os pecados dos cristãos eram um prelúdio e prova de que o fim dos tempos estava próximo. Alguns, recorrendo às Tradições Judaicas, fixaram o fim das eras na Sexta Idade do Mundo. Usando este sistema, o fim foi anunciado para 202 d.C. mas, quando esta data passou, foi fixada uma nova data. Na época de Clóvis I, considerado o fundador da França e que se converteu ao catolicismo após ser entronizado como rei em 481 d.C., alguns escritores católicos haviam apresentado a idéia de que o ano 500 d.C marcaria o fim do mundo. Depois de 500 d.C., a importância e a expectativa da vinda do fim do mundo ou das eras como parte dos fundamentos do Cristianismo foi marginalizada e gradualmente abandonada. Apesar disso, surgiu um temporário reavivamento dos temores relacionados com o fim dos tempos com a aproximação do milésimo ano do nascimento de Cristo. Muitos acreditavam na iminência do fim do mundo ao se aproximar o ano 1000... Pode-se perceber aqui um padrão. De fato, há relatos de comoção popular ante a iminência do fim dos tempos em praticamente todo final de século desde a época de Jesus. Mais recentemente, a última promessa que tivemos de um "grande desastre mundial" foi chamada de Bug do milênio, e apesar de ter sua base em argumentos lógicos, acabou não passando de mais uma previsão que não se cumpriu (o bug foi praticamente inofensivo).
Os céticos poderiam então pensar que estavam livres desse tipo de previsão por praticamente mais um século, mas não foi o que ocorreu. A última "moda" em apocalipse se chama "2012":
Em diversas culturas ancestrais o ano de 2012 é marcado nos calendários como o “apocalipse”, o “fim do mundo”, “o juízo final”, “o fim de um ciclo” e, nos mais otimistas, “o ano em que esta era terminará e outra, melhor, será iniciada”. Maias, Egípcios, Celtas, Hopis, Nostradamus e diversos profetas, Chineses e Budistas, WebBots, Cientistas e Religiosos das mais diferentes crenças afirmam que algo extraordinário ocorrerá em nosso planeta em 2012 (ou antes). Nunca antes uma data foi tão importante para muitas culturas, para muitas religiões, cientistas e governos.
Na cosmologia Maia, há 5 grandes ciclos, cada um com cerca de 5.125 anos. Quatro já passaram. " Os 4 ciclos anteriores terminaram em destruição. A profecia maia do juízo final refere-se ao último dia do 5º ciclo, ou seja, 21 de dezembro de 2012." diz Steven Alten. Portanto o 5 e atual ciclo também terminará em destruição. O que irá desencadeá-la? A resposta pode estar em um raro fenômeno cósmico que os maias previram a mais de 2.000 anos. "A profecia maia para 2012 baseia-se em um alinhamento astronômico. Em dezembro de 2012, o sol do solstício vai se alinhar com o centro de nossa galáxia. É um raro alinhamento cósmico. Acontece uma vez a cada 26.000 anos" diz John Major Jenkins, autor do livro Maya Cosmogenese 2012.
A cada 26.000 anos o sol se alinha com o centro da Via Láctea. Ao mesmo tempo ocorre outro raro fenômeno astrológico, uma mudança do eixo da terra em relação a esfera celeste. O fenômeno se chama Precessão. A data exata disto tudo é 21 de dezembro de 2012. "A Terra oscila lentamente sobre seu eixo mudando nossa orientação angular em relação a galáxia. Uma precessão completa leva 26.000 anos." diz John Major Jenkins.
O texto dos últimos três parágrafos (destacados em itálico) foi retirado do site porque2012.com, que tem uma extensiva quantidade de informações acerca do assunto. Veja a continuação do texto aqui.
Pois bem, então temos uma nova data marcada para o fim dos tempos... E dessa vez vem "respaldada" por diversas profecias e, mais especificamente, pelo que previu o calendário maia. Não quero aqui discutir a relevância de tais previsões, quero entrar em uma área mais profunda de análise: será que por "apocalipse" devemos entender realmente um "fim do mundo", ou mesmo uma mudança brusca e radical em nosso sistema de existência?
Muitos católicos rejeitam a idéia do "fim do mundo", sendo que para eles, a expressão apenas indica um estado de mudança das atuais condições do mundo para condições novas, tal como o mundo já teria sofrido outras metamorfoses no passado. Interpretam a passagem do Evangelho de João, no capítulo 14, versículo 12: "Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai." como um sinal de constante desenvolvimento e aperfeiçoamento infinito do homem.
Se os católicos moderados são perfeitamente capazes de compreender que a Bíblia, e especificamente o Apocalipse, são livros em sua maior parte escritos em linguagem simbólica, cheios de metáforas comuns a tantos tratados espirituais da humanidade, porque temos a necessidade de criar tanta comoção em torno de um fim do mundo literal, sempre que uma data em específico se aproxima? Seria porque alguns de nós estão cansados do mundo? Seria porque esperamos que "Deus desça e mude o mundo para nós"?
Dentro das teorias espiritualistas reencarnacionistas, temos a distinta idéia de que os seres espirituais vem e vão deste mundo, como gostas de chuva que caem e depois evaporam de volta aos céus. Segundo esse preceito, é necessário que os seres espirituais vivam inúmeras vidas, interpretem inúmeros papéis de si mesmos, para que apurem lentamente sua moral, seu amor e seu conhecimento. A palavra de ordem, nesse caso, se chama gradualmente: nada no universo ou na natureza opera de maneira brusca, radical, do dia para a noite. Assim como foram necessários milhões de anos para a formação da vida na Terra, não foi do dia para a noite que os seres se tornaram conscientes, e não será do dia para a noite que uma nova era de moral, amor e sabedoria se estabelecerá pela Terra.
Sob esse ponto de vista, de certa forma "2012", ou a chamada Nova Era, iniciaram-se a muito tempo, provavelmente na Revolução Francesa. Ou acaso achamos que os princípios universais, que a liberdade, a igualdade e a fraternidade (da frase de Russeau) estão desde aquela época instaurados no mundo? Claro que não... A evolução moral da humanidade opera lentamente, a passos de tartaruga talvez, mas sempre à frente. Analisando dessa forma abrangente, talvez não tenhamos a expectativa de um fim do mundo repentino e, quem sabe, mais "excitante"... Mas nossa análise moderada talvez se aproxime muito mais da realidade, do que afinal observamos na natureza e no avanço das sociedades.
Existiram decerto civilizações que "sumiram do mapa" de forma brusca. Mas não podemos dizer que isso foi obra do acaso ou da natureza: isso foi antes de tudo obra da ignorância do próprio homem, que sempre exterminou a si mesmo nesse mundo, em busca de riquezas ou de satisfazer teologias tolas... No entanto hoje estamos globalizados. Hoje somos forçados a ver o mundo de forma abrangente. Não podemos mais aceitar que o fim do mundo previsto para um povo será o fim dos tempos de todos nós. Assim como não podemos mais aceitar que Deus traga revelações apenas para um povo, e não para todos nós que aqui estamos. Deixemos a natureza seguir o seu curso. O nosso "fim do mundo" sempre decorreu de nossa ignorância da natureza e da teia que encadeia todos os acontecimentos, não apenas aqui, mas em todas as moradas do universo.
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O início do artigo contém textos retirados diretamente da Wikipedia.
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Crédito da foto: reinaldo_sjc
Marcadores: 2012, apocalipse, artigos, artigos (21-40), bíblia, espiritualidade, maias, nova era, ufologia
2 comentários:
Literalmente apocalipse quer dizer revelação.
As revelações de João podem ou não ter sido escritas por ele. Se a igreja as adotou, as defende até o final dos tempos, caso contrário seriam chamadas apócrifas.
As revelações simbólicas em culturas milenares que igualmente dizem de acontecimentos locais, mundiais e sobrenaturais, como no Novo Testamento, nos servem também para desfazer o pensamento de que somente a igreja deteria a verdade (ou uma parte da verdade).
Acho o simbolismo necessário, pois assim convoca o homem à pesquisa e à clarividência. Além do mais, os simbolismos têm várias dimensões, como Jesus mesmo exemplificou em suas parábolas.
Hoje mais ainda se faz necessária a decodificação, tanto quanto dos vocabulários técnicos das ciências que usam e abusam dos símbolos. Logo, a modernidade científica não tem como explicar sem o uso dos formulismos e nomenclaturas rebuscadas.
Enfim, será água ou fogo? Pelo batismo da água a humanidade hoje já passa abundantemente, vide as enchentes no planeta.
Abraços.
"Acho o simbolismo necessário, pois assim convoca o homem à pesquisa e à clarividência. Além do mais, os simbolismos têm várias dimensões, como Jesus mesmo exemplificou em suas parábolas."
E não podemos esquecer que a característica de interpretar símbolos está no cerne da evolução da consciência no homo sapiens, desde os primórdios a dezenas de milhares de anos atrás...
Mais um excelente comentário, obrigado :)
Abs
raph
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