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1.7.10

O que dizem os astros, parte 2

continuando da parte 1

E o que é o futuro, senão a conseqüência do que se faz – do que se escolhe – no presente? Que a astrologia tenha se popularizado como uma forma simples de se prever a sorte diária não é culpa dos grandes sábios e cientistas (a astronomia veio da astrologia) de diversas épocas que a consideravam com seriedade, mas sim da superficialidade com que os ignorantes tratam do assunto. A Astrologia funciona através do que Carl Gustav Jung chamou de sincronicidade. As mesmas energias universais responsáveis por todo o mecanismo de gravitação dos corpos celestes e emanações solares fazem com que a cada determinado instante, a Terra seja imantada com uma determinada gama energética, que é representada através de arquétipos (signos).

Agrippa via o universo como o unus mundus, onde o que ocorre no mundo celestial chega até o mundo dos fenômenos, intermediado pela esfera dos corpos celestes. Nesta concepção, a relação entre a esfera dos corpos celestes e a esfera humana não é de causalidade, mas de analogia ou sincronicidade. Astrólogos de orientação biológica procuram a explicação nos ritmos e ciclos biológicos, como os circadianos e lunares. John Addey realizou vários levantamentos estatísticos em busca da comprovação de conceitos astrológicos, como o de quase mil nonagenários e a relação Sol-Saturno. Descobriu, assim, o significado das relações harmônicas entre períodos cósmicos. Outra concepção é que a influência se dá através da variedade de raios cósmicos que chegam ao nosso planeta. Ebertin é um dos defensores desta hipótese... Por mais que tais suposições e nomenclaturas soem estranhas para os astrônomos atuais, há que se admitir que possuem muito mais lógica do que a astrologia de jornal – independente de serem reais ou não.

Em todo caso, ao que me parece, a totalidade dos astrólogos sérios considera que o movimento celeste não exerce influência direta sobre os eventos cotidianos... Não é porque Vênus está neste ou naquele local do céu que teremos maior ou menor sorte em apostar na loteria. E, em todo caso, o que seria a sorte senão a conseqüência futura de escolhas presentes?

“Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.” – esta era a inscrição no Oráculo de Delfos, um dos centros religiosos da Grécia antiga. Me parece que ele encerra o conceito primordial em que se baseia toda a Astrologia: conhecer a si mesmo é análogo a conhecer os deuses e o universo (Cosmos). O que está em cima, os corpos celestes, é como o que está embaixo, os corpos neuronais... O céu noturno é uma emanação física da mente cósmica (isso é uma analogia!) assim como o baile elétrico das sinapses é uma emanação física de nossa alma (isso também é uma analogia).

Se o futuro é fruto de nossas escolhas presentes, de nada adiantam previsões que sempre serão algo incertas. O que importa é compreender o mecanismo pelo qual fazemos nossas escolhas. O que importa é compreender o sentido pelo qual fazemos nossas escolhas. O que importa é compreender a nós mesmos, que perto de tal compreensão todo o futuro é secundário. Exatamente por isso sempre houve esse consenso entre os grandes sábios... Mesmo o Rabi da Galiléia nos afirmou que somos deuses (João 10:34), que faremos tudo o que ele fez e muito mais ainda (João 14:12). O universo interior é ainda mais vasto que o exterior, compreendê-lo é a nossa divina jornada.

"Nós, como pessoas que experienciam, não aceitamos tudo o que nos é fornecido por nosso instrumento, a máquina neuronal de nosso sistema sensorial e o cérebro, nós selecionamos tudo o que nos é fornecido de acordo com o interesse e a atenção, e modificamos as ações do cérebro, através do eu" – Esta não é uma citação de um religioso ou astrólogo, mas de um neurologista... Sir John Eccles, vencedor do prêmio Nobel de medicina de 1963, foi talvez o mais ilustre cientista a argumentar em favor da separação entre a mente, a consciência (no caso, um processo da mente) e o cérebro. Somos seres que interpretam informações de acordo com nossa vontade, e não máquinas que computam informações de acordo com nossa programação.

Nós não fomos programados, não formos criados como robôs ou fantoches. Fomos criados livres, e com um caminho infinito de evolução à frente. Nossa liberdade não é absoluta, da mesma forma que uma criança precisa brincar apenas em sua caixa de areia, nossas escolhas são locais e não globais – ainda assim, são escolhas! Perto da magnitude do Cosmos, perto da abrangência desse sistema que nos conecta a todos em uma trilha de luz, que importância poderia ter o futuro? Que importância poderia ter saber se vamos casar, ou com quem, se vamos ter mais ou menos dinheiro, se vamos sofrer acidentes ou doenças, se vamos tirar a sorte grande, se vamos ter tranqüilidade ou angústia, se vamos amar ou odiar, se vamos viver ou morrer? Se tudo passa pela nossa sagrada capacidade de escolher as escolhas que nos são dadas, e sermos inexoravelmente empurrados pelos ventos que não são possíveis de se evitar, honestamente eu dispenso a previsão.

***

Crédito da foto: Mark Miller e The Virgo Consortium

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5 comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Olá, vi seu texto no site do Marcelo, e me interesso muito pelo assunto. Em suas pesquisas, vc se deparou com algum cientista/filósofo/asrtólogo que conceba o cérebro como um tradutor da alma, para o plano físico?
Abraços, Andressa

3/7/10 12:44  
Blogger raph disse...

Oi Andressa,

De certa forma, todo o dualista (que crê na separação mente/corpo em entidades separadas) trata o cérebro como um tradutor da alma, ou um piano onde quem tecla a música é o espírito.

Mas acho curioso que existam dualistas mesmo na ciência e neurologia. Conforme citei no artigo, temos Sir John Eccles. Também gostaria de mencionar Bahram Elahi, especialisa em cirurgia e anatomia.

Sobre o assunto, recomendo o livro:

"O que acontece quando morremos" de Sam Parnia (ed. Larousse).

Fala sobre Experiência de Quase-Morte, mas é escrito por um neurologista e traz um resumo geral das teorias acerca da consciência e do monismo vs. dualismo.

ps. De Astrologia na verdade entendo muito pouco (conheço mais livros de Liz Greene), por isso fiquei muito feliz de receber a "aprovação" do Del Debbio - significa que não escrevi nenhuma grande besteira, pelo menos :)

Abs
raph

3/7/10 13:51  
Anonymous D. disse...

Uhm... mas se possuímos um nível qualquer de liberdade, isso se deve, necessariamente, a possuirmos um nível qualquer de caos verdadeiro (no sentido de algo capaz de romper com as leis físicas e de gerar uma realidade que vá contra a probabilidade, por mais que bem estudada)em nossa essência, não ?

O grande problema : Se possuímos algum nível de caos verdadeiro em nossa essência, esse caos não poderia eclipsar a sí mesmo, ou à essência ? Essências não deveriam aflorar e desaparecer a partir desse poço de improbabilidade, imprevisibilidade e indeterminismo ?

3/7/10 15:46  
Blogger raph disse...

Oi, não sei se compreendi bem essa definição de "caos verdadeiro", mas tendo a concordar contigo no sentido de que o determinismo e o indeterminismo não são absolutos... Ou seja, nós fazemos escolhas quando é possível fazer, as vezes não é possível - no que Sêneca atribuía ao "destino da Fortuna".

O que eu critico é o determinismo ABSOLUTO, seja materialista (somos coisas e não seres), divino (tudo o que ocorre é um "teatro de deus") ou astrológico (conforme a definição "superficial" de atrologia, com "a" minúsculo :)

Sobre nossa essência (no sentido de evolução espiritual), se ela vai aflorar mais ou menos, mais cedo ou mais tarde, acredito que tudo dependa de nossas escolhas (as que podem ser feitas, no caso).

Abs
raph

3/7/10 17:42  
Anonymous Franco-Atirador disse...

Hábito e novidade (pela nossa perspectiva - SEMPRE) na natureza, por Terence Mckenna:

http://www.youtube.com/watch?v=N_4iR7ZGzrc

13/9/12 15:50  

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