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20.8.13

Lançamento: A Voz do Silêncio

Em mais um lançamento das Edições Textos para Reflexão, trazemos uma das obras-primas de Helena Blavatsky, A Voz do Silêncio.

Blavatsky escreveu esta obra de memória nos últimos anos de uma vida quase mitológica, totalmente dedicada a divulgação da luz da antiga sabedoria do Oriente. Esta edição traz um grande livro de uma grande autora, traduzido para nosso idioma por um dos homens que mais o dominaram ao longo de sua história, ninguém menos que Fernando Pessoa: 

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Abaixo, segue um trecho da introdução do livro:

Carta de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro

Lisboa, 6 de Dezembro de 1915

Meu querido Sá-Carneiro:

Como lhe escrevo esta carta, antes de tudo, por ter a necessidade psíquica absoluta de lhe escrever, Você desculpará que eu deixe para o fim a resposta à sua carta e postal hoje recebidos, e entre imediatamente naquilo que ficará o assunto desta carta.
Estou outra vez presa de todas as crises imagináveis, mas agora o assalto é total. Numa coincidência trágica, desabaram sobre mim crises de várias ordens. Estou psiquicamente cercado.
Renasceu a minha crise intelectual, aquela de que lhe falei mas agora renasceu mais complicada, porque, à parte ter renascido nas condições antigas, novos fatores vieram emaranhá-la de todo. Estou por isso num desvairamento e numa angústia intelectuais que você mal imagina. Não estou senhor da lucidez suficiente para lhe contar as coisas. Mas, como tenho necessidade de lhes contar, irei explicando conforme posso.
A primeira parte da crise intelectual, já você sabe o que é; a que apareceu agora deriva da circunstância de eu ter tomado conhecimento com as doutrinas teosóficas. O modo como as conheci foi, como você sabe, banalíssimo. Tive de traduzir livros teosóficos. Eu nada, absolutamente nada, conhecia do assunto. Agora, como é natural, conheço a essência do sistema. Abalou-me a um ponto que eu julgaria hoje impossível, tratando-se de qualquer sistema religioso. O carácter extraordinariamente vasto desta religião-filosofia; a noção de força, de domínio, de conhecimento superior e extra-humano que ressumam as obras teosóficas, perturbaram-me muito.
Coisa idêntica me acontecera há muito tempo com a leitura de um livro inglês sobre “Os Ritos e os Mistérios dos Rosa-Cruz”. A possibilidade de que ali, na Teosofia, esteja a verdade real me [?]. Não me julgue você a caminho da loucura; creio que não estou. Isto é uma crise grave de um espírito felizmente capaz de ter crises desta.
Ora, se você meditar que a Teosofia é um sistema ultracristão – no sentido de conter os princípios cristãos elevados a um ponto onde se fundem não sei em que além-Deus – e pensar no que há de fundamentalmente incompatível com o meu paganismo essencial, você terá o primeiro elemento grave que se acrescentou à minha crise.
Se, depois, reparar em que a Teosofia, porque admite todas as religiões, tem um carácter inteiramente parecido com o do paganismo, que admite no seu Panteão todos os deuses, você terá o segundo elemento da minha grave crise de alma. A Teosofia apavora-me pelo seu mistério e pela sua grandeza ocultista, repugna-me pelo seu humanitarismo e apostolismo (você compreende?) essenciais, atrai-me por se parecer tanto com um “paganismo transcendental” (é este o nome que eu dou ao modo de pensar a que havia chegado), repugna-me por se parecer tanto com o cristianismo, que não admito. E o horror e a atração do abismo realizados no além-alma.
Um pavor metafísico, meu querido Sá-Carneiro!

Fonte:
“Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas”. Fernando Pessoa (Introduções, organização e notas de António Quadros). Publicações Europa-América, 1986.

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Comentário
Ocorre um caso curioso no caso desta tradução de “A Voz do Silêncio”, onde o tradutor acaba se tornando mais famoso no meio literário, ao menos na “pátria da língua portuguesa”, do que a própria autora.
No entanto, embora nem todos o saibam, Fernando Pessoa traduziu diversos autores ligados a Teosofia: além da própria Helena Blavatsky, notadamente duas outras autoras – Annie Besant e Mabel Collins – e o autor C. W. Leadbeater. Em todos os casos traduções do inglês (idioma dominado por Pessoa) para o português (idem).


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2 comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Olá Raph, td bem?

Fugindo um pouco do assunto desse post...

Creio que você ficou sabendo do caso do menino de 13 anos que, supostamente, matou a família inteira (os pais policiais, avó e tia) e depois se suicidou.

Fica difícil acreditar que uma criança de 13 anos faça isso. Fico pensando também se ele tinha influência de obsessores.

Mas na sua opinião, supondo que ele seja o assassino, como ficaria a responsabilidade dele? Seria mitigada pela pouca idade? Gostaria de ler sua opinião.

Obrigado e abraços

21/8/13 08:40  
Blogger raph disse...

Opa,

Eu acho sempre problemático julgar o carma alheio, pois geralmente a tendência de erro é praticamente 100%; Mas, supondo que tenha sido mesmo o menino, a responsabilidade seria "mitigada" pela falta de compreensão devida do ato, e aí entra a pouca idade, mas também qualquer eventual problema psicológico e etc.

Mas ainda que a investigação conclua que foi somente o menino, sozinho, quem matou a família, duvido muito que isso convencerá a todos... Talvez só venhamos a saber o que ocorreu daqui a muito tempo, quando algum policial de mais alta patente confessar alguma coisa, ou não.

Abs
raph

21/8/13 10:02  

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