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5.4.11

Caso Parmod, parte 1

Ian Stevenson foi um médico psiquiatra canadense e também o fundador da moderna pesquisa científica a respeito da reencarnação. Ele ficou conhecido por recolher e analisar meticulosamente casos de crianças as quais pareciam lembrar de vidas passadas sem o auxílio da hipnose. Após a publicação de seu primeiro ensaio sobre reencarnação em 1966, o inventor da fotocopiadora, Chester Carlson, custeou as suas primeiras visitas de campo à Índia e ao Sri Lanka. Quando Carlson faleceu (1968), legou um milhão de dólares para manter uma cadeira na Universidade da Virgínia, e mais um milhão de dólares para o próprio Stevenson, com o intuito de que a pesquisa sobre a reencarnação não parasse [1].

E, de fato, não parou: em 1974 Stevenson lançou sua obra mais relevante e conhecida, “20 casos sugestivos de reencarnação”, onde relata os 20 casos de evidência mais forte dentre as centenas que estudou em todas as partes do mundo (não apenas no Oriente, como também no Alasca e até mesmo no Brasil). Felizmente, esta obra se encontra hoje traduzida e lançada no país pela Editora Vida e Consciência, da família Gasparetto.

A despeito do interesse do tema entre os espíritas e reencarnacionistas em geral, esta obra é relevante para qualquer estudioso sério da parapsicologia. Mesmo Carl Sagan, em sua “bíblia do ceticismo”, o livro “O mundo assombrado pelos demônios”, menciona os estudos de Stevenson como o tipo de pesquisa heterodoxa que mereceria uma atenção mais cuidadosa da comunidade científica: “crianças pequenas às vezes reportam detalhes de uma vida anterior, detalhes que quando analisados revelam-se precisos, e um conjunto de informações que não poderiam saber de nenhuma outra forma que não a reencarnação”... Ainda que Sagan acreditasse numa explicação alternativa – ou seja, não necessariamente a espiritual – fato é que reconheceu a seriedade da pesquisa.

O próprio Stevenson reconhecia que seus estudos não eram inteiramente conclusivos, mas sem dúvida requeriam um aprofundamento maior. Simplesmente negar a tudo a priori, ou taxar todas as manifestações como fraudes, seria uma simplificação inteiramente não compatível com o ceticismo – primeiro, porque os relatos eram originários de crianças, segundo porque as famílias envolvidas não recebiam qualquer benefício financeiro ou vantagem pela divulgação dos casos (pelo contrário, a maior parte delas procurava evitar a exposição indesejada, e só seguia adiante devido à angústia das crianças), e finalmente, porque os relatos ocorrem em todas as partes do globo, não apenas nas regiões onde a cultura e a religião são favoráveis a explicação da reencarnação [2].

Stevenson aposentou-se em 2002, deixando o seu trabalho para sucessores, dirigidos pelo Dr. Bruce Greyson. Dr. Jim Tucker, um psiquiatra infantil, continua com trabalho de Ian Stevenson com crianças, concentrando-se em casos norte-americanos. Em 2007 Stevenson faleceu de pneumonia, aos 88 anos.

Uma das maiores vantagens que vejo na pesquisa genuinamente científica da reencarnação, é que ela opera livre de dogmas ou crenças fortemente arraigadas do passado. Não se trata, portanto, de ler o livro de Stevenson apenas para demonstrar para si mesmo “que a reencarnação está cientificamente comprovada”, conforme diz (erroneamente) o site onde o livro é vendido no Brasil. Pois já na introdução do livro é o próprio autor quem afirma que seus estudos são inconclusivos, comportamento de um cético genuíno... Ou seja, é preciso analisar como exatamente a reencarnação opera na natureza.

E, nesse aspecto, as descrições dos 20 casos de Stevenson acabam por identificar certos padrões que, por serem fruto de pesquisa científica, podem ser analisados de forma puramente racional [3]. Alguns destes padrões corroboram, é claro, muito do que tem sido afirmado sobre a reencarnação em literatura espiritualista. Outros, no entanto, podem fugir completamente das teorias mais aceitas, ou até mesmo aprofundar a explicação de aspectos que são tratados de forma superficial nos textos filosóficos e religiosos.

Acredito que a melhor forma de demonstrar isso seja trazendo a vocês o texto original de Stevenson, comentado onde encontrei os padrões mais relevantes... Como não posso e nem pretendo publicar todos os 20 casos do livro aqui, optei por trazer a versão resumida de apenas um dos casos.

» Na continuação, o caso de Parmod.

***

[1] Num mundo acadêmico essencialmente materialista e avesso a estudos do gênero, seria uma surpresa que um cientista conseguisse custear suas pesquisas sem o auxílio de um patrocinador da área empresarial. O fato de Stevenson ter sido patrocinado por um empresário meramente curioso, ocidental, e que ainda por cima faleceu logo no início de suas pesquisas, retira de sua obra qualquer sombra de conivência com grupos religiosos. Não custa lembrar que isso é atestado por céticos do porte de Sagan.

[2] Ver, por exemplo, o caso extraordinário do garoto americano James Leninger. Apesar de ser um caso bem mais atual, uma pena não ter ocorrido na época dos estudos de Stevenson.

[3] Não que outros tipos de análise sejam inválidos, mas certamente precisamos encarar a realidade sob diversos aspectos. Analisar a reencarnação de forma puramente racional é uma ação que pode nos ajudar a desvelar muitos detalhes que são notoriamente ignorados em textos espiritualistas. Há muitos padrões que, numa análise filosófica ou religiosa são de pouca ou nenhuma importância, mas que numa análise detalhista e meticulosa, sobretudo do mecanismo e não do sentido da reencanação, se revestem de grande relevância – quantos anos em média uma alma demora para reencarnar, se há mudança de sexos e com que frequência, qual a importância de mortes traumáticas na lembrança em vida posterior, etc.

***

Crédito da imagem: Editora Vida e Consciência (divulgação).

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2 comentários:

Blogger Adriano Bello disse...

Oi Rafael,

Boa essa dica sobre o livro do Ian Stevenson, eu particularmente gosto desses estudos baseados em fatos sobre reencarnação.

Aliás, aproveito para deixar aqui meus parabéns pelo novo layout do blog e pelos seus últimos textos que têm sido excelentes. Tenho acompanhado os updates pelo twitter.

Abração!

12/4/11 21:00  
Blogger raph disse...

Obrigado Adriano :)

Abs!
raph

13/4/11 09:53  

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