Pular para conteúdo
15.12.09

Pequenos redemoinhos

A todos aqueles que não cansam de dizer
Que o mundo é cinzento
Que todo momento é feito de dor
E que não há fórmula para resolver
A angústia de se existir
Eu me pergunto: será mesmo que estão
A viver no mesmo mundo que eu?

Que na imensidão semi-plana das terras
Pode-se dizer que montanhas nada mais são
Do que cicatrizes e rugas de épocas
Perdidas na memória das eras
Mas as paredes que nos escondem o horizonte
São como um deus imóvel, tão profundamente
Absorto no próprio pensamento
Que mal percebe o sol e a lua a lhe reverenciar
No eterno baile do firmamento

Não vejo como alguém poderia reduzir
As águas caudalosas que vêm lá do alto
Fazendo a luz da manhã refletir
Nas encostas cheias de neblina úmida
Apenas a rios, cachoeiras e oceanos
Que cada córrego tem seu próprio jeito
Peculiar de se esgueirar pela lama do solo
Até atingir no rio o leito, e prosseguir
Ao além-mar

E dizer que cada flor é apenas outra cor
Com que a natureza presenteia os raios da tarde
É ignorar que cada uma delas se curva
De sua maneira – ao céu, ao vento, e a chuva
Cada fragância guarda a história de seu campo
E do amor com que foi ofertada
As abelhas e aos beija-flores
Que distribuem seu pólen, ainda que sem saber
Como sementes divinas do novo amanhecer

A todos aqueles que não cansam de dizer
Que o amor nada vale ante a morte
E que todas as coisas são como poeira
Assoprada por ventos, vindos de algum lugar
Desconhecido – eu não posso evitar
Questionar: e será que não é melhor amar
E perder, do que nunca haver sequer amado?
Pois que é a morte, senão o eterno renovar
Das coisas que formam a vida?

E o que é o desconhecido, o oculto, o inexplicado
Senão o combustível do conhecimento?
Senão buscar para se encontrar, e em se encontrando
Continuar buscando – até o alto das montanhas
Por detrás dos horizontes e muito além do mar
Após a fragância das flores e as incertezas do amor
Terem se rendido ao soar do vento
Onde toda dor se resume ao momento
Em que o ser se encara: face a face

Vai meu filho... Meu amigo... Meu irmão
Vai e procura... Vai e encontra...
E continua sempre a procurar!
Que nessa estrada infinita de seres
Todo o amor do mundo se encerra em Ti
E à Seus pés encontram-se rendidos
Todos os poetas e todos os sábios
E todo conhecimento oculto a dançar
Por entre pequenos redemoinhos de vento

raph'09

***

Crédito da foto: f. a. photography

Marcadores: , , , , , ,

0 comentários:

Postar um comentário

Toda reflexão é bem-vinda:

‹ Voltar a Home