O chamado dos navegantes
Quando soou, o sinal foi inesperado:
“O que é isso, onde vai?”
“Tomar o barco, onde sou chamado.”
“Mas ainda é noite...”
“Verei o sol que nasce noutras terras.”
“Espere que irei contigo!”
E então, você sorriu e me disse, com os olhos refletindo a lua:
“Esta noite só viajam os convidados, meu amigo.”
Assim partiu o melhor homem que caminhou por nosso país
Sereno como a noite – majestoso como as estrelas;
Tomou o barco e foi conhecer outros reinos
E outras terras...
Navegava pelo oceano uma vez mais
Deixando meu coração assim, tão seco!
Com o sangue gotejando pelo chão
Formando já uma poça de solidão...
Num sonho, encontrei-o;
Estava ainda no barco, mas um corvo me levou até lá:
“Onde está morando agora?”
“No mar.”
“Mas como faço para falar contigo?”
“Sonhe.”
“Mas como posso saber se me lembrarei deste sonho?”
“Pinte um quadro, me disseram que nos ajuda a lembrar...”
Quando acordei, ainda sangrava – não me lembrava de quase nada;
Mas foi então que a imagem do quadro me veio à mente...
Na verdade, talvez nunca saiba ao certo
Se o que pintei foi o que se passou realmente
Mas usei meu sangue escorrido para tingir a vela vermelha
E com as lágrimas que me restaram, preenchi o mar...
Só então a ferida aberta estancou
A saudade que ainda paira pelo ar:
Esta foi o amor que ficou
raph’12
***
Crédito da foto: Westend61/Corbis
Marcadores: existência, poesia, poesia (91-100), saudade
2 comentários:
Lindo poema. Tudo a ver com a fase que estou passando. Sincronicidades podem ser bons presságios... abraços.
Este veio dos sonhos, de Epicteto, de Rumi, e da saudade dos navegantes...
Abs
raph
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