Uma pergunta para Debora
 
Não há porque  temermos o Lago de Enxofre
Debora, este  mundo já é um inferno.
As guerras  por restos fósseis,
as matanças e  perseguições,
os estupros,  as famílias divididas,
e mesmo as  pequenas violências 
do dia a dia...
Não existem “violências  pequenas”.
  E eu bem sei,  Debora, o quanto
  sua mente  está cansada disso tudo;
  tudo o que os  “homens de bem”
  fazem pela  África e outros grotões
  e tudo o que  dizem ser
  na TV: “Paladinos  agindo
  em nome de  Deus!”
Mas a África  não é “um grotão”.
  É a casa de  nossos ancestrais,
  a nossa primeira  casa.
  Pise em suas  terras com reverência,
  dê graças por  suas chuvas e rios,
  pelas  montanhas e as savanas,
  e por todos  os demais deuses.
O que falta,  minha amiga,
  para este  inferno todo queimar
  no fogo  inefável do amor
  até que se  torne, novamente,
  o Paraíso?
Antigamente,  os deuses julgavam estranho
  apenas ao que  é estranho.
  Não estavam  tão preocupados
  com a  promiscuidade dos bonobos,
  nem com o  andar desengonçado dos elefantes
  ou com a  vaidade dos leões.
Quando o  presidente em Washington
  ofereceu uma  quantia em dólares 
  ao Chefe  Seattle, ele respondeu assim,
  “Você deseja  comprar nossa terra,
  mas os homens  não são donos da terra,
  são parte  dela.
  Como podem  comprar aos rios e as matas?
  Esta é uma  ideia estranha para nós.”
  Foi o que eu  quis dizer com
  “Apenas ao  que é estranho”.
Disso tudo  você já sabe, Debora.
  Que neste  inferno de desejos desenfreados
  não somos  realmente proprietários de nada,
  exceto do que  há de mais precioso
  e  assustador...
Há muitos que  tem preferido
  viver anestesiados  e alheios,
  repetindo as  orações das igrejas
  e as fórmulas  de sucesso
  das  celebridades.
Você que não  é famosa neste mundo,
  mas nos  reinos de cima;
  Você que  tomou coragem
  e se atirou  nesse abismo infinito;
  Você, ó  grande dona
  dos jardins  da alma, 
  me diga:
Como  conseguiu abraçar ao mundo todo
  e realizar  toda esta Alquimia
  de dor e  desespero
  em sentido
  e missão?
raph'13 (escrito na AE)
***
Crédito da imagem: Martin Bartsch Salvadores
Marcadores: alquimia, amor, céu e inferno, espiritualidade, natureza, poesia, poesia (111-120)
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2 comentários:
Lindo poema, como o trabalho dela! Queria ter um coração assim... Outro dia, aqui onde moro, fui passear em um bairro pobre, chamado Comércio. Como adoro pastel com caldo-de-cana, fui a um "boteco/lanchonete copo sujo" saborear a iguaria. Um pedinte chegou e me pediu dinheiro. Ofereci um lanche como o meu. Ele devorou antes de mim e foi pedir a outros fregueses. Quando eu estava pagando a conta, veio uma senhora idosa e também me pediu dinheiro, então deixei pago um lanche para ela. O homem veio até nós e disse com autoridade e total arrogância para que ela não pedisse mais nada ali, pois o ponto era dele. Tomado de raiva, virei para o homem e disse: "é por isso que vive assim! enquanto não aprender a dividir não vai sair da miséria!" e fui embora... Moral da história: quem é bom como a Débora é simplesmente bom, quem não é e tenta ser tem lá os seus perrengues para controlar e não estragar tudo... Estou tentando chegar lá, nas pessoas que sabem se doar sem esperar nada do outro...
Obrigado pelo belo depoimento :)
É verdade, imagina estar numa zona de guerra e atender não somente os oprimidos, as estupradas, mas também os opressores e estupradores, quando necessário for...
É uma questão complexa. Mas acho que o que mais ajuda é compreender que ninguém pediu para ser doente. E toda doença um dia terá cura. Ou, ao menos, é o que esperamos.
Ah sim, eu também adoro caldo de cana!
Abs
raph
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