Tudo o que há
Uma névoa sem forma
flutuava num espaço sem espaço;
e, no tempo do sonho
fez-se a luz, e lá havia alguém:
“Isto sou Eu”
Esta foi a primeira reflexão.
Então Eu tive medo de estar só
por toda eternidade;
e, no sonho do tempo
aglutinou-se a escuridão, é lá estava Eu:
“Não posso, não posso ser somente um!”
Esta foi a primeira dor.
E assim, Eu chorei,
e tenho chorado desde então;
mas, quando vi que de minhas lágrimas
nascia uma espiral de seres
e tempo e espaço e energia e matéria,
passei a contemplar aquilo que Eu mesmo
havia imaginado:
“Vida, vida e mais vida, é o que Eu desejo!”
Esta foi a primeira iluminação.
Eis que da pedra ao arcanjo,
do mais Abaixo ao mais Alto,
tudo o que há sou Eu,
tudo o que há é este momento
em que todas as minhas lágrimas perdidas
retornam como cocriadoras –
a sua vontade já é a nossa Vontade.
Mas, quando Eu decidir cerrar novamente os olhos,
tudo isso terá fim.
raph'20
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» Parte da série "Mito da criação"
Crédito da imagem: Martin Pugh
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