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30.6.11

Links Mayhem (19)

O Projeto Mayhem foi criado em Março de 2010 como centro de debates e discussões sobre temas Ocultistas e Herméticos. Agora, toda semana, os participantes do projeto divulgam os links mais interessantes para artigos nos blogs de outros participantes.

Especial colunistas do Portal Teoria da Conspiração:

- Textos para Reflexão - A Crença do Espiritualista
- Artigo 19 - Da Loucura à Normalidade
- O Alvorecer - O que as pessoas querem?
- Autoconhecimento e Liberdade - Sobre Autoconhecimento e Liberdade
- Magia Oriental - O que são os Kami?
- Labirinto da Mente - A Mente, o Corpo e a Vida
- Sinfonia Cósmica - Música: Ciência, Arte ou Magia
- Vetfloral - História das Ervas Mágicas Medicinais
- Paradigma Divino - "I have a Dream inside a Dream"
- No Esquadro - Maçonaria no Mundo: Israel
- Hermetic Rose - Hermes e o Caibalion

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» Veja todos os posts sobre o Projeto Mayhem

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28.6.11

Esperando a Nave-Mãe

Conto pessoal, da série “Festa estranha”, com depoimentos de Rafael Arrais acerca de suas experiências espiritualistas. Baseado (ou não) em fatos reais. Os nomes usados são fictícios (exceto para pessoas públicas).

« Este conto é uma continuação direta de “Fotografando auras”

Quando subi a escada de madeira que dava na sobreloja do endereço que Inês havia me passado – a tal “casa esotérica” onde encontraria Carla e poderia iniciar meu “desenvolvimento na paranormalidade” – confesso que não estava nem um pouco assustado... Esse sempre foi o meu trunfo e minha maldição ao lidar com assuntos “do outro mundo”: minha curiosidade sempre foi muito maior do que meu temor ante o assunto.

Mas, quando cheguei na pequena sala de espera, que mais parecia de um consultório ondontológico, tive uma decepção e um temor. A decepção foi ter encontrado apenas um garoto mais ou menos da minha idade sentado numa cadeira – esperava encontrar algumas “esotéricas bonitinhas”, não nego. O temor foi devido ao ar de assombro com que o jovem me encarou, ele parecia estar com tanto medo de mim, ou de “sei lá o que” que envolvia estar naquele ambiente, que eu mesmo acabei absorvendo um pouco daquele medo para mim.

Quando ia me dirigir a ele para perguntar sobre Carla, ela abriu uma porta que dava para a única outra sala da sobreloja, e me convidou a entrar. Carla era bem mais jovem e bonita do que Inês, mas nesse caso isso era algo estranho para mim – como poderia “ela ser a guru, e a outra a assistente”? Como podem ver, eu não tinha muita experiência no ramo, somente muitos anos depois descobri que em assuntos espirituais a idade não é garantia nem documento de nada.

Mas, ao menos nesse caso, tanto Inês quanto Carla pareciam estar igualmente “confusas”... Minha conversa com Carla foi tão estranha que eu hoje mal lembro exatamente sobre o que conversamos. Tudo que me lembro foi que ela eventualmente me alertou para “a chegada das naves” e para como “deveríamos estar preparados para deixar a Terra de um dia para o outro”. Aquilo me deixou tão confuso que tudo que pude fazer foi concordar com a maior parte do que ela me disse, e tentar compreender melhor se aquilo fazia algum sentido posteriormente, lendo o livro que ela me indicou...

De saída, passei numa livraria próxima onde o livro estava à venda. Chama “Projeto Evacuação Mundial” e foi escrito por Ergom Abraham, que normalmente é referido como “professor Ergom”, apesar se eu não saber até hoje o que exatamente ele ensina. Por sorte, o livro é tão fantástico e absurdo, que resolvi guardá-lo para a posteridade, do contrário não poderia trazer a vocês tantos detalhes sobre ele agora. Ele está aqui do meu lado, vou citar algumas passagens:

“Este livro é carinhosamente dedicado a Todos os Membros da “L.I.V.R.E.” – Legião Intergaláctica dos Voluntários Reais Espaciais, presentes no Planeta (trecho da Dedicatória, o primeiro que se lê no livro)”.

“De Jesus o Cristo:
Deve haver paz na Terra. Deve haver fim às guerras e ao ódio entre irmãos. Os milhões que vêm de outros mundos, de galáxias distantes para ajudar a trazer Paz à Terra, têm meu firme apoio e respaldo para todos os seus esforços [...] Eu sou Sananda e esta é minha mensagem ao mundo (trecho do Prólogo, onde temos o comunicado do comandante espacial Sananda, ou seja, Jesus Cristo)”.

“Vários milhões de voluntários universais caminham sobre a Terra: estão cheios de luz, completos em sua dedicação e consagração ao Governo Celestial, à Hierarquia Solar e a Confederação Intergaláctica, na salvaguarda do planeta. Os mais elevados Concílios Celestiais decretaram que aqueles eleitos sejam pessoalmente recolhidos a Terra, temporariamente postos em uma frequência superior dentro de nosso território, para ali serem preparados física e espiritualmente para as missões e operações a serem efetuadas (trecho de uma das mensagens de Ashtar, o comandante da Nave-Mãe que virá a Terra buscar “os eleitos”)”.

“Com quase um ano de antecipação, fui informada de que regressaríamos das reuniões com o Comando, com “algo para levar e usar” [...] Algumas trarão colares, outros anéis, broches, porém todos com pedras de cristal engastadas. O que importa nesses objetos não é a forma, mas sim o fato de que sejam levados e, de algum modo, colocados sobre o corpo (depoimento da médium Eve Carney, onde alerta sobre os “presentes” que os extraterrestres lhes darão, estranhamente seriam presentes um tanto quanto “terrenos”)”.


Vamos resumir rapidamente do que se trata o livro: Os tempos “estão chegados”, uma “nova era” se aproxima e ela não trará a princípio boas notícias para nosso planeta. Grandes desastres naturais e guerras causadas pela ignorância humana vão transformar a Terra em um inferno. Porém, alguns “eleitos” e “iniciados nos mistérios do Comando Ashtar” serão selecionados para escaparam do apocalipse terreno na Nave-Mãe do Comandante Ashtar e outras naves de sua frota. A esses seres “evoluídos espiritualmente” espera-se que a esperança da raça humana persista, e que possam povoar outros mundos, ou talvez este mesmo, quando retornarem para arrumar a bagunça que os “não eleitos” tiverem causado a Terra.

Antes que me perguntem: sim, a Nave-Mãe viria fisicamente ao planeta. E o “arrebatamento” seria também físico – nada de um intercâmbio de espíritos desencarnados, conforme relatos espíritas nos trazem, seria um evento puramente FÍSICO.

Agora o que eu achei do assunto? Bem, não posso afirmar a priori que o Comandante Ashtar e sua Nave-Mãe não existam, pois a ausência da evidência não é a evidência da ausência. Além disso, como os alienígenas se comunicam através de contatos com médiuns na Terra, e como eu acredito que a mediunidade exista, não poderia negar a priori a possibilidade desse tipo de contato. Dito isso, existem obviamente vários problemas graves com a teoria de Ergom:

A. Se a “evacuação mundial” será física, e não espiritual, porque até hoje nenhum seguidor de Ashtar nos trouxe uma prova física de sua existência? Não precisava ser uma de suas naves a descer em frente à Casa Branca nem nada desse tipo, bastaria um artefato, um desses “colares” e “broches” que seriam entregues, contendo quem sabe um tipo de cristal inexistente na Terra. Mas não há nenhum tipo de evidência física.

B. Se “os tempos são chegados” e é preciso que as pessoas tenham fé na vinda da Nave-Mãe, para que sejam salvas, porque então não trazer uma evidência física? Esse tipo de coisa traria muito mais seguidores, muitos mais “candidatos à salvação”, do que apenas mensagens mediúnicas publicadas em livros esotéricos.

C. Porque diabos Jesus Cristo, ou o Comandante Sananda, sendo o regente interplanetário deste setor da galáxia (incluindo a Terra), iria simplesmente enviar uma nave para resgatar alguns poucos eleitos? Porque não enviar uma nave que pudesse trazer a tecnologia necessária para salvar a Terra das catástrofes vindouras? Porque não descer ele mesmo nessa nave, ou quem sabe o Comandante Ashtar, para que pudessem instruir nossos governos ao que deveria ser feito para salvar o planeta? Porque, enfim, deixar bilhões morrerem (incluindo os animais que não tem nada a ver com a história), para salvar alguns milhares?

D. Porque toda essa história se parece tanto com a crença bíblica de Céu e Inferno? Há no livro inúmeras referências ao “apocalipse bíblico” e as “muitas moradas” relatadas por Jesus... Mas, se toda essa história é apenas uma “versão futurista” do mito do fim do mundo, caímos de volta na fragilidade de muitas de suas afirmações. Eu poderia me estender sobre isso aqui, mas creio que basta lembrar de uma coisa: “Como poderemos ser nalguma felizes no Céu sabendo que boa parte dos seres da Terra, incluindo amigos próximos e familiares, estarão ardendo em um Lago de Enxofre?”.

A minha ideia de Céu não se parece com um Reino de Ócio nem com um “planeta novo a nossa espera”... O Céu se faz quando todos os seres se amam e auxiliam mutuamente. No Céu só poderemos entrar de mãos dadas, e se nalgum dia chegarmos lá antes de nossos irmãos, tudo o que desejaríamos seria retornar e ajudar os que aqui ficaram – pois isso seria a atitude natural de um ser amoroso.

Então, eu sinto muito, Ergom, e eu sinto muito, Comandante Ashtar, mas se quiserem pousar sua Nave-Mãe e “salvar seus eleitos”, que sejam bem vindos. Mas eu, eu ficarei. Ficarei para ajudar o planeta... E acho que isso resume o que tinha para dizer acerca do “Projeto Evacuação Mundial”.

Nunca mais voltei aquela “casa esotérica”, mas tem uma coisa que não me foge a memória... O garoto, o pobre garoto... Será que ele vive até hoje angustiado, esperando pela Nave-Mãe que não chega? Será que ele realmente se acha um paranormal?

Também não me perguntem o que o Comando Ashtar tem a ver com as fotografias Kirlian, até hoje não descobri... Felizmente, no entanto, nem todas as minhas festas estranhas foram tão sem sentido.

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Vejam também:

» Entrevista com Ergom, onde ele se defende das acusações de “elitismo” em sua teoria.

» Algumas fotos (falsas) de Nibiru, o planeta que traria uma “mudança de era” ao orbitar muito próximo da Terra (Ergom infelizmente participou da fraude, desvelada no site Ceticismo Aberto).

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Crédito da foto: Markus Ram

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27.6.11

Dudamel e El Sistema

Gustavo Dudamel nasceu em Barquisimeto, Venzuela, em 1981, filho de um trombonista e de uma professora de canto. Em uma cidade que respira música, estudou desde novo ao se envolver com El Sistema, o renomado programa de educação musical venezuelano.

Em 1999 ele foi apontado como diretor musical da Orquesta Sinfônica Simón Bolívar, a orquestra nacional de jovens da Venezuela, realizando turnê por diversos países. Dada sua competência e originalidade, Dudamel começou a ganhar diferentes competições de condução. Sua reputação se espalhou rapidamente, e hoje ele é, apesar de ainda jovem, um dos maestros mais famosos do mundo.

Eu que não entendo tanto assim de música clássica, fiquei particularmente maravilhado com o "ambiente musical" que ele consegue criar com suas regências - principalmente quando rege a orquestra do El Sistema:

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Veja também:

» Dudamel se apresenta em uma conferência do TED

» Dudamel rege a Orquestra Filarmônica de Viena no Bolero de Ravel (apenas um trecho)

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25.6.11

Fotografando auras

Conto pessoal, da série “Festa estranha”, com depoimentos de Rafael Arrais acerca de suas experiências espiritualistas. Baseado (ou não) em fatos reais. Os nomes usados são fictícios (exceto para pessoas públicas).

Em 1997, havia voltado recentemente de duas semanas de férias no paraíso de Cancun, no México (minha primeira viagem internacional, e uma das poucas), e cursava o terceiro período de Gravura, Belas Artes, na UFRJ.

Houve uma espécie de “feira esotérica” no primeiro andar da Reitoria da Ilha do Fundão, onde eu estudava, e fiquei curioso acerca de uma mulher que dizia poder tirar “fotos da aura” com um estranho aparelho, em sua tenda com temas indianos.

Inês me disse que a foto normalmente custava 20 reais, mas que durante a feira estava em promoção: só 10 reais. O processo consistia em enfiar o dedão em uma estranha máquina fotográfica e aguardar alguns segundos para que a foto fosse tirada. Paguei, e no dia seguinte vim pegar minha foto Kirlian, a foto da minha aura!

Segundo pesquisei na época, a técnica surgiu em 1939, na União Soviética, sob a denominação de "efeito Kirlian", em homenagem a Semyon Davidovich Kirlian, “descobridor” da mesma. O método consiste em fotografar um objeto com uma chapa fotográfica, submetida a campos elétricos de alta-voltagem e alta-frequência, porém baixa intensidade de corrente. O resultado é o aparecimento de uma aura, ou melhor, um "halo luminoso" em torno dos objetos, seja ele qual for, independente de ser orgânico ou inorgânico.

Somente muitos anos depois descobri que na verdade havia sido primeiramente descoberta pelo padre brasileiro (e inventor) Landell de Moura, que havia construído a primeira máquina já em 1904, embora houvesse sido obrigado a interromper suas pesquisas sobre o assunto em 1912, “a pedido de seus superiores católicos”... Ao que consta, Semyon Kirlian provavelmente nunca conheceu a pesquisa de Landell de Moura, embora ninguém possa comprovar ao certo. Fato é que Semyon Kirlian ficou conhecido como o “descobridor”, e nunca procurou corrigir tal erro histórico.

A fotografia Kirlian é uma técnica hoje descrita como pseudociência, particularmente depois que se comprovou experimentalmente que o efeito Kirlian é inexistente em fotografias realizadas no vácuo absoluto. Isso significa que os resultados nada têm a ver com um efeito da aura humana. Por outro lado, um físico e ocultista amigo meu postula que a foto Kirlian pode captar interações indiretas entre a aura humana e a atmosfera imediatamente a sua volta... Isso talvez explicasse porque até hoje ela é usada na Rússia como instrumento médico auxiliar de diagnósticos, e até na mineralogia.

Entretanto, o que Inês pôde falar sobre mim a partir da “análise” da minha foto (ela ilustra este conto) me pareceu algo surpreendentemente detalhado. Não me lembro ao certo hoje em dia de tudo que ela me disse, mas lembro bem que ela inicialmente afirmou que a predominância da cor avermelhada na foto, inclusive “invadindo” a circunferência do meu polegar, significava que eu tinha “imensa paranormalidade”. Já as ranhuras na parte esquerda do polegar significariam que eu continha “muitas toxinas na aura, provavelmente causadas pelo consumo excessivo e recente de álcool”.

Ora, aquilo me deixou encucado... Afinal, eu acabara de tomar o primeiro e maior porre da minha vida no México, com certamente mais de uma dúzia de copos de tequila (maiores detalhes, quem sabe, em outra festa estranha). Então aquilo pareceu fazer todo o sentido para mim.

Por outro lado, paranormal, eu? Bem, na época eu já frequentava as palestras espiritualistas semanais do Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea (certamente falarei ainda sobre elas em outra festa), e sabia muito bem que embora todos fossem médiuns, somente aqueles que haviam estudado e desenvolvido adequadamente sua mediunidade poderiam, quem sabe, se autodeclarar um médium... Já sobre paranormais, então, não sabia quase nada, exceto talvez de um ou outro filme de Hollywood que em todo caso não deveriam ter sido de grande ajuda.

Nessa época eu certamente não havia exercitado suficientemente o meu ceticismo [1]. Embora fosse adepto da prática das “dúvidas razoáveis” (parafraseando a coluna de Kentaro Mori), eu obviamente ainda era uma “presa fácil” para esse tipo de “esoterismo”... Inês havia me fisgado, eu certamente não era um paranormal, mas gostaria muito de, em todo caso, saber do que se trata a paranormalidade com mais detalhes; E quem sabe um dia efetivamente poder realizar coisas que paranormais faziam. Fossem elas o que fossem, deveriam ser estranhas e, portanto, interessantes para minha curiosidade.

Inês me indicou uma “casa esotérica” na Tijuca (bairro da zona norte) onde poderia encontrar Carla, uma paranormal que iria me “iniciar” nos estudos mais aprofundados “de sabe lá o que” – já que ela não me deu nenhuma pista do que eu iria efetivamente estar estudando lá. Ela também me alertou de que iria encontrar outros estudantes “tão paranormais quanto eu”, e que isso seria bom “porque poderíamos exercitar nossa paranormalidade juntos”.

Na época, eu esperava sinceramente que as estudantes paranormais (normalmente esses assuntos atraíam bem mais mulheres do que homens) fossem mais jovens e bonitas do que Inês. Eu ainda era jovem, e minhas doces decepções no caminho espiritual haviam mal começado...

» A continuação direta deste conto é “Esperando a Nave-Mãe”

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[1] Estudando posteriormente as interpretações das fotografias Kirlian, soube que o “halo energético” deveria estar completo em torno da marca do polegar, pois se não estivesse, mesmo que em “pequenos intervalos”, isso deveria significar que a pessoa estava “perdendo energia vital”, ou algo do gênero... Se virem minha foto acima, ficaria difícil compreender como sobrevivi até hoje, se estava com um enorme rombo na parte direita do polegar. Por outro lado, talvez isso signifique que estava “totalmente aberto ao universo” – tenho certeza de que Inês teria explicado assim se eu houvesse perguntado.
Já sobre as ranhuras que denotam toxinas, nessa foto em específico me parece óbvio que eram as ranhuras do meu próprio polegar (da minha pele, como todos podem ver em suas carteiras de identidade). Em outras interpretações de fotos que pesquisei, compreendi que as toxinas seriam pequenos pontos amarelados, e não exatamente apenas ranhuras... Portanto ela estava errada acerca das toxinas (embora eu continue admitindo meu porre homérico em Cancun, em todo caso).
Uma outra hipótese que considero é que Inês sequer sabia tirar uma foto Kirlian direito, e o fato da cor avermelhada ter “invadido” meu polegar pode ser resultado de uma foto extremamente mal tirada. Eu não tenho nada contra Inês, até mesmo porque esse episódio me ensinou muitas coisas sobre o que a espiritualidade não era, conforme veremos na continuação desta festa estranha.

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Crédito da foto: esta é a foto da minha aura!

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24.6.11

Rolando poliedros

Conto pessoal, da série “Festa estranha”, com depoimentos de Rafael Arrais acerca de suas experiências espiritualistas. Baseado (ou não) em fatos reais. Os nomes usados são fictícios (exceto para pessoas públicas).

A chamada tradição oral é a preservação de histórias, lendas, usos e costumes através da fala. Origina-se do primórdio da história humana, quando ainda não havia a escrita e os materiais que pudessem manter e circular os registros históricos. Na atualidade própria das classes iletradas, a tradição oral tem sido, contudo, muito valorizada pelos eruditos que se dedicam ao seu estudo e compilação (os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo), ao considerarem que é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. Supõe-se, por exemplo, que a Ilíada e a Odisseia de Homero foram, inicialmente, longos poemas recitados de memória.

Joseph Campbell gostava de dizer que “o mito é algo que nunca existiu, mas que existe sempre”. Esse aparente paradoxo pode ser reconciliado se entendermos a tradição oral, mãe da mitologia, como a melhor forma com a qual o espírito humano pôde passar adiante suas experiências no contato com a essência das coisas, com o que há de eterno no mundo. Dessa forma, todas as variantes de um mesmo mito são, no fundo, uma mesma história. E toda mitologia é, no fundo, uma mesma mitologia, uma mitologia do espírito humano.

Mas hoje não vivemos mais em tribos e aldeias, e nem todos necessitam decorar tais histórias antigas. Além disso, não são os xamãs nem os anciãos quem nos passam os mitos, mas alguns poucos textos sagrados de outrora, que até hoje inspiram inúmeras variações na mente dos contadores de histórias modernos – a quem conhecemos, principalmente, como artistas. Existem mitos sendo recontados em todos os cantos: nos livros de vampiros adolescentes, nos filmes de Hollywood, nas séries de TV de fantasia, e até mesmo num gibi.

Desde pequeno eu fui imediatamente atraído pela mitologia dos super-heróis do século passado. E o meu predileto é Steve Rogers, o Capitão América, que era fisicamente fraco, mas ao passar pelo processo “mágico” do projeto do supersoldado, tornou-se um ser sobre-humano. No entanto, a maior força de Steve sempre foi sua honra e sua ética, sua compaixão pelos fracos – tão fracos e indefesos como ele fora um dia. Ora, essa história é um mito, e esse mito nada tem a ver com os Estados Unidos da América. Steve calhou de ter sido criado durante a Segunda Guerra, por quadrinistas americanos, e por isso serviu como um elemento patriótico na luta contra o nazismo. Mas a guerra acabou. As guerras passam, os mitos permanecem.

Por isso os heróis das histórias precisam continuar lutando suas guerras, e vivenciando suas aventuras e jornadas de heróis – tais histórias podem hoje terem se tornado superficiais, mitos “diluídos” em uma sociedade que em sua maior parte se esqueceu da espiritualidade antiga... Mas ainda continuam narrando, em essência, aquilo que está fora do tempo. Continuam se tratando de jornadas espirituais. Mesmo que não saibamos, estamos até os dias de hoje vivenciando a mitologia, apenas uma mitologia moderna, que nos chega através de gibis e filmes 3D, e não pela boca de um contador de histórias, próximo à fogueira no centro da aldeia, numa noite de céu estrelado – salpicado de super-heróis.

Essa festa pode não ter nada de aparentemente estranha, mas isso é porque poucos interagem com os mitos. As histórias contadas da maneira antiga serviam principalmente para que cada homem e cada mulher se imaginassem como o herói ou heroína através de sua jornada. Não era algo para se ouvir e simplesmente decorar. Era algo para se ouvir, imaginar, experimentar, modificar, e só então passar adiante... Obviamente que as histórias foram alteradas, e seria estranho que não fossem. Mas, ainda mais estranho, é que tenham chegado aos dias atuais com sua essência inalterada – eis que são diversos modos de se abordar um mesmo mito, e o mito não se altera, pois sua essência reside fora deste mundo.

J. R. R. Tolkien foi um filólogo e escritor britânico que desde cedo se ressentiu do fato da maior parte da mitologia inglesa ter se perdido com o tempo. Ele decidiu resolver o problema criando uma nova mitologia inglesa. Claro que de nova ela não tinha nada, pois que todos os mitos são tão antigos quanto à humanidade, mas era uma mitologia moderna, uma mitologia que cativou seguidores em todo o mundo... Só para terem uma ideia, existem grupos que se reúnem para falar em quenya, um idioma fictício que existe apenas nas obras de Tolkien. Esses estão literalmente “entrando na história”, vivenciando o mito.

Mas foi através de Gary Gygax que encontramos uma forma totalmente inesperada de vivenciar mitos. Em 1974 ele adaptou, junto com seu amigo Dave Arneson, um jogo de guerra baseado no movimento de miniaturas em um tabuleiro. O tabuleiro passou a ser irrelevante, as partidas passaram a ocorrer principalmente na imaginação dos jogadores, e todos se tornaram contadores de histórias – novamente. No jogo de Gygax, o primeiro Role Playing Game da história (“Jogo de Interpretação de Personagens”), heróis enfrentavam jornadas épicas e aventuras sem fim, adentrando masmorras obscuras como labirintos de minotauros, e digladiando-se com dragões e outros seres mitológicos... Cabia ao jogador designado como mestre do jogo, um novo xamã da tribo, determinar o desenrolar da história – mas todas as escolhas dos heróis eram feitas por eles próprios, os jogadores. Todos estavam vivenciando a jornada.

Os resultados se suas ações eram determinados pelo resultado obtido em se arremessar poliedros regulares na mesa. Os famosos sólidos de Platão e Pitágoras continuavam a ser sagrados – são os rolamentos dos dados de 4, 6, 8, 12 e 20 faces que decidem o destino dos heróis (bem, existe também o dado de 10 faces, embora este não seja um poliedro regular). Todo jogo de RPG tem alguma coisa de experiência religiosa, mas foi só muito tempo depois de ter jogado a primeira vez, com cerca de 11 anos de idade, que me apercebi disso.

Cheguei a criar meu próprio mundo de fantasia e cenário de RPG. A mitologia moderna me atraiu, e não poderia ter sido de outra forma. Hoje compreendo: aquele jogo tão distinto, onde o tabuleiro existia principalmente em nossa mente, foi talvez a minha primeira festa estranha.

E, se não lhes pareceu suficientemente estranha, gostaria de lembrar brevemente que quando um personagem com o qual jogamos RPG eventualmente morre na história, podemos ser ressuscitados por feitiços, mas também podemos ter de criar um novo personagem. E, não importa se este novo é um guerreiro ou ladrão, enquanto o antigo era um clérigo ou mago, nosso entendimento do jogo se desenvolveu, nosso potencial para jogar e interpretar cada vez melhor é hoje maior do que ontem. E, se tivermos de começar uma vez mais do nível 1, não significa que tenhamos perdido a experiência de um dia termos chegado, quem sabe, a um nível 13 ou 14... Um dia chegaremos finalmente ao nível 20, e depois quem sabe a semi-deuses, e depois a algum nível que nem mesmo Gygax descreveu nas regras. E teremos de criar novas regras nós mesmos.

Assim também ocorre com o espírito. Esta vida é meu mais novo personagem, e sinceramente não sei mais em que nível eu estou...

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Crédito da foto: Jason Thompson

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23.6.11

Links Mayhem (18)

O Projeto Mayhem foi criado em Março de 2010 como centro de debates e discussões sobre temas Ocultistas e Herméticos. Agora, toda semana, os participantes do projeto divulgam os links mais interessantes para artigos nos blogs de outros participantes:

- Teoria da Conspiração - Diferença entre Religião e Espiritualidade
- Paradigma Divino - O Aprendizado e o Mestre
- Hermetic Rose - Hermes e o Caibalion
- Artigo 19 - Hochma
- Não está sendo fácil - A Psicomagia de Alejandro Jodorowsky
- Jedi Teraphim - A Metáfora, por Joseph Campbell
- O Véu de Maia
- O Alvorecer - A Simbologia de um Eclipse
- Autoconhecimento, Tecnologia e Liberdade - Geração Coca-Cola
- Idéia Biruta - Algo Ama
- Universo Paralelo - Projeto Medita Som
- Tudo sobre Magia e Ocultismo - Informações sobre a Arruda
- Eu tô pensando - Reino dos Céus: Onde está?
- Labirinto da Mente - Donald: Matemática e Música
- Legio Mundi - As Sereias e os mares de Netuno

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Veja também os colunistas no Portal Teoria da Conspiração:

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22.6.11

Festa estranha

Quando se passa anos divulgando textos espiritualistas pelos quatro ventos, é inevitável que surjam dúvidas e curiosidades acerca de quem os escreveu, de que forma, com que propósito, etc.

Eu tenho há muito tempo me protegido pelo personagem – ou máscara – de mim mesmo, uma prática que uso desde cedo, e que certamente faz parte do toque “impessoal” que dou a maior parte de meus artigos... Já se muitas de minhas poesias revelam-me mais do que gostaria, sempre posso recorrer à solução de Pessoa, e dizer que “o poeta é um fingidor”.

Faço isso não por algum desejo de ludibriar os leitores, muito pelo contrário – exatamente por um desejo de ser o mais sincero possível. Todo médium, exu, ou artista que compreende de onde vem a maior parte de sua inspiração, sabe que o que importa é a informação passada adiante, a luz que veio e refletiu-se de alguma forma incerta. Quanto mais nos “intrometemos” entre a luz e quem a observa, mais corrompemos sua luminosidade. Borges chegava quase a se desculpar por ter sido através dele que seus textos chegaram, e não através de outro escritor – ele sabia, era tão somente o mensageiro.

Por outro lado, há um desejo genuíno de se saber como alguém que, por alguma razão, escreveu algo que nos tocou a alma, chegou a tal compreensão. Ainda há outros que duvidam, e sentem que em alguns de meus textos sua dúvida quase encontrou algum porto seguro onde atracar – e gostariam muito de saber como diabos eu, o autor, chegou a acreditar, chegou a ter certeza de certas coisas estranhas.

Devo alertar que não tenho certeza de quase nada. As duas únicas certezas que nasceram comigo nesta vida foram as da existência de Deus e de que esta vida não é a única vida... Em todo caso, ter certeza de Deus não me foi de tanta valia se a maior parte das interpretações de Deus que conheci durante a juventude me soaram falhas e muitas vezes absurdas; Já tudo que a certeza de que esta não era a única vida me trouxe, a princípio, foi uma crença arraigada de que eu era, de alguma forma, louco. Ou eu era louco, ou quase todos os outros eram – pois sua interpretação de vida após a morte, de um Céu de Ócio e de um Inferno de Dor, era para mim ainda mais absurda do que a visão de um deus Senhor dos Exércitos.

Então eu tive de buscar muito, tive de esbarrar “por acaso” em livros dos sábios de outrora. Tive de chorar novamente quando revi a cena em que Sócrates bebe cicuta, tive de uma vez mais ouvir a Divina Canção de Krishna, ainda novamente deixar que as rodas percorressem os velhos sulcos do Tao... E, finalmente, uma vez mais morri junto com o Cristo, e renasci em seu novo mundo – o reino de Deus, este mundo.

Mas apenas o conhecimento, apenas reler o que já li tantas vezes, não era o suficiente... Eu também precisava praticar, investigar, ir aonde coisas estranhas ocorrem, participar de festas, entoar canções, sentir as inúmeras formas com que as almas têm se comunicado entre este e o outro lado do véu.

Também me inteirei do que a ciência tem descoberto, e me maravilhei... Ora, mesmo nos mundos desconhecidos dos átomos a natureza faz questão de derrubar quaisquer esperanças que tínhamos de obter uma certeza que fosse... Não sabemos, não podemos saber, teríamos de escolher: ou conhecer a posição de algo, ou a velocidade de seu movimento. E tal dança em turbilhão se estende também a todo o espaço-tempo: um tecido estranho que surgiu de algum ponto singular, e tem se expandido ad infinitum, nos carregando em torno de nosso pequeno Sol como o vendaval carrega um graveto (e nós somos apenas a formiga com as garras fincadas na madeira).

Esta será, portanto, a descrição da festa estranha. Uma série de contos onde procurarei narrar episódios de minha própria vida, esta vida, particularmente os da juventude... Através da narração de minhas buscas espirituais, espero poder demonstrar como passei a ter uma certa convicção de que coisas estranhas afinal realmente existem – o que não significa que as compreendemos por completo, ou que nalgum dia iremos compreender (ao menos, enquanto homens ou mulheres).

Longe de mim querer afastar o seu ceticismo. Toda dúvida é divina. A única certeza não é a morte, mas o mistério da vida – o paradoxo de uma existência a girar como calha de roda em torno da eternidade de um único momento, este estranho momento.

Para assegurar que não confiem facilmente no que lhes trarei, devo alertar sobre as regras do jogo: pelo menos um dos próximos contos (ou um em cada dez, se eventualmente chegar a escrever tantos) será absolutamente falso, uma descrição de algo que nunca ocorreu... Os mais atentos saberão, talvez, que se trata de algo absurdo em termos espiritualistas. Mas os mais atentos estão de plena posse de sua dúvida divina, e essa regra não é para eles, mas para os que se deixam levar facilmente por ideias alheias.

Finalmente, existe a questão do “porque afinal, escrever?”. Porque se esforçar? Porque querer ditar o rumo a seguir? Bem, eu não dito rumos, apenas aponto para certos caminhos por onde a carroça de Lao Tsé passou, e que parecem os mais convidativos, ou pelo menos os caminhos onde sofreremos menos. Já sobre “o escrever”, o faço primeiramente para organizar minhas próprias ideias, para só então ter alguma condição de poder passar adiante alguma luz que tenho certa confiança de que servirá para a melhora, e não para a piora.

Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje. Eu escrevo para melhorar a vizinhança. Quanto melhor a vizinhança, melhor o condomínio. Um dia, todos sairemos do condomínio fechado para o oceano do Cosmos. Até lá, terão sido muitas festas estranhas... Estas são só algumas delas.


» Rolando poliedros

» Fotografando auras

» Esperando a Nave-Mãe

» Orando em teatros

» Gritando nas montanhas

» Dançando com ciganos

» Imaginando dragões

» Abrindo portas na mente

» Esperando Jesus

» Encontrando Eu

» Mergulhando em corações

» Avistando tribos


» Veja as festas estranhas mais recentes

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Crédito da foto: Brooke Fasani Auchincloss/Corbis

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21.6.11

Acreditar ou não

No início do mês de Junho/2011 me tornei um dos colunistas do Portal Teoria da Conspiração. Meu primeiro artigo enviado foi “A crença do espiritualista”, que fala sobre uma visão ecumênica da fé e da razão, do ceticismo e da crença. Nesse momento o artigo conta com mais de 180 “likes/curtir” do Facebook, e também mais de 50 comentários. Destes comentários, um me chamou a atenção pela profundidade e sinceridade, e com a permissão do autor – Marcos Vinícius – estou agora o trazendo a vocês em meu blog [com alguns breves comentários meus]:

Acredito que a questão mística de acreditar ou não acreditar ainda é relacionada à posição do homem àquilo que ele não conhece, muitos “acreditam” por alienação realmente, assim como os que “não acreditam”.

Isso é exatamente o que move o preconceito que todo mundo ainda tem de diversas questões, é o julgamento de algo que lhe é estranho e fora do seu contexto; Assusta, o mais fácil é ignorar e manter sua “estabilidade”. Todo mundo é assim, o conhecimento apenas que esclarecerá melhor o consciente coletivo.

Sou bastante racional, sempre fui, e sempre precisei de comprovação das coisas, porque sempre fui contestador a tudo, desde minha adolescência.

Comecei a me interessar a assuntos relacionados ao espírito por curiosidade e me surpreendi com o tanto de informação científica sobre o assunto, tantas evidências e esclarecimentos que para qualquer pessoa de bom senso compreende, nada “fora do normal” [de fato, muitos espiritualistas reconhecem que não há o sobrenatural, mas apenas o paranormal, ou o natural ainda incompreendido pela ciência, e por nós mesmos...].

Esses entendimentos, na minha concepção, estão mais relacionados à “preguiça” de entender (e assim caímos no “acreditar ou não”), do que simplesmente à fé. Acho fundamental esse tipo de discussão cara, fico feliz da vida, porque o “acreditar ou não” não contribuirá em nada nos entendimentos sobre esses assuntos, ninguém deve “acreditar ou não” em algo que não lhe convence, isso é alienação, androidezação da mente, as coisas devem ser entendidas.

A fé é uma questão que deve ser desenvolvida assim como tudo na vida, para aprender a trabalhar com carros você tem de estudar, praticar, e assim é com as questões espirituais também. É necessário desenvolver, tudo é energia, emanação e recepção, se você não sabe como intensificar ou repelir essas energias, é difícil confiar realmente, porque você não terá resultados palpáveis.

Existem inúmeros cientistas que provam, através da física, a existência de outros planos dimensionais que se sobrepõem, e sobre inúmeras outras questões, sou um mero estudioso e curioso [na verdade não existem provas de outras dimensões, mas isso é postulado seriamente por inúmeras teorias, sendo a mais proeminente a Teoria das Supercordas, ou Teoria-M].

Confio piamente que assim como o homem descobriu a ferramenta e o desenvolvimento material ele ainda descobrirá o desenvolvimento intelectomoral (só intelectual é perda de tempo, é necessário saber utilizar) e esse é o ponto de tudo: não é acreditar, é desenvolver.

[...] Cara, geralmente não costumo falar sobre essas questões, pela polêmica... E prefiro ter a minha opinião, e fazer meu trabalho para o meu desenvolvimento e tal, mas não me contive quando vi esse artigo e tive que deixar um comentário aqui [ainda bem que deixou!].

Valeu pela oportunidade, e obrigado a todos aí que comentaram também. Os jovens têm mais facilidade pra assimilar conteúdo, essa é a hora da juventude começar a sacar essa questões que fazem muita diferença dentro de nós mesmos [concordo plenamente, a começar pelo próprio Marcos que tem somente 22 anos].

Se o externo é Jesus, Buda, Krishna, é a escolha de cada um, mas as mensagens de todos eles foram “olhe para dentro”. Essa é a parada.

A revolução não será mais pela espada.

Comentário de Marcos Vinícius, 22 anos, Strategic Planner e Médium de Umbanda.

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Crédito da foto: Guy Hunt

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19.6.11

Filhos de neandertais

Há muito tempo se sabe que os neandertais são uma espécie extinta, do gênero homo, que habitaram o Oriente Médio e a Europa desde cerca de 300 mil anos atrás. Também por muito tempo acreditou-se que os neandertais eram uma "espécie inferior" ao homo sapiens – chamados homo neanderthalensis –, e que eram seres quase irracionais, praticamente “homens das cavernas”, que sequer tinham a capacidade de falar qualquer linguagem. Segundo essa crença, a extinção dos neandertais, há cerca de 29 mil anos atrás, estaria explicada pela competição com o homem moderno na medida em que este avançava para ocupar todo o globo, incluindo as terras nativas onde os neandertais se desenvolveram por milhares de anos.

Em 1856, três anos antes da publicação de “A origem das espécies”, do co-autor da teoria da evolução, Charles Darwin, foram encontrados os primeiros fósseis de neandertal numa gruta do pequeno Vale de Neander, na Alemanha [1]. Este vale, que também emprestou seu nome a própria espécie neandertal, foi assim batizado em homenagem a Joachim Neander: pastor e compositor do séc. XVII, autor de cânticos religiosos ainda hoje populares entre os protestantes alemães. Consta que ele gostava de procurar inspiração neste vale, então com uma paisagem idílica. Numa tradução para o português, o nome deste vale seria Vale do Homem Novo. Numa feliz coincidência, os neandertais não poderiam ter sido batizados por nome mais apropriado – os homens novos.

Para compreender como a mesma ciência que um dia classificou os neandertais como “homens das cavernas”, recentemente “desmistificou” esta crença, e descobriu evidências de uma espécie que, em sua época, era provavelmente tão ou mais desenvolvida que o homo sapiens, precisamos antes voltar ainda mais no tempo...

Uma comparação moderna do DNA de hominídeos (espécies ancestrais do homo sapiens) e humanos vivos sugere que o homo sapiens surgiu entre 120 mil e 220 mil anos atrás na África. Um grupo de talvez apenas 10 mil deles então deixou o continente entre 50 mil e 100 mil anos atrás, talvez pelas mudanças climáticas ocasionadas por uma erupção vulcânica monumental na ilha de Sumatra (há cerca de 71 mil anos), talvez simplesmente porque decidiram explorar o horizonte à frente.

Esse movimento migratório não deve ser compreendido como um movimento exploratório, mas como uma lenta migração onde a maior parte dos descendentes terminava por permanecer nas terras próximas de onde nasceram, enquanto apenas alguns poucos continuavam seguindo adiante... Já os neandertais evoluíram a partir de um ancestral comum dos homo sapiens, provavelmente o homo erectus, e já haviam chegado a Europa e ao Oriente Médio quando os primeiros exploradores sairam da África.

Depois de um breve período de coexistência no Oriente Médio, onde tanto o homem moderno quanto os neandertais geraram filhos uns dos outros, os homo sapiens partiram para dominar a Ásia, a Oceania e as Américas – através da Ponte Terrestre de Bering, que hoje derreteu. Os neandertais preferiram, por alguma razão, continuar no próprio Oriente Médio e na Europa. Nalgum dia histórico da pré-história, os homo sapiens finalmente decidiram adentrar a Europa, e encontraram seus primos entre uma e outra caçada. O que terão pensado uns dos outros? Teria a tradição oral de suas tribos selvagens conservado as histórias de suas origens em comum? É quase certo que não – é quase certo que se entenderam como seres completamente distintos.

Os neandertais desenvolveram-se em homens e mulheres mais atarrancados, com braços e pernas menos alongados, para que pudessem conservar melhor o calor corporal no frio europeu do Pleistoceno. Seus narizes eram mais largos e sua faces, quem sabe, mais “grotescas”. Os cérebos, porém, eram maiores e algumas gramas mais pesados – os neandertais tinham aproximadamente “uma bola de bilhar” a mais de massa cerebral, em relação aos seus primos.

A teoria de que os neandertais careciam de uma linguagem complexa foi difundida até 1983, quando um osso hióide de neandertal foi encontrado na caverna Kebara, em Israel. O osso encontrado é praticamente idêntico ao dos humanos modernos. O hióide é um pequeno osso que segura a raiz da língua no lugar, um requisito para a fala humana e, dessa forma, sua presença nos neandertais implica alguma habilidade para a fala.

Muitos acreditam que mesmo sem a evidência do osso hióide, é óbvio que ferramentas avançadas como as do período musteriense, atribuídas aos neandertais, não poderiam ser desenvolvidas sem habilidades cognitivas incluindo algum tipo de linguagem falada. Pesquisadores identificaram genes extraídos de fósseis que comprovariam que os neandertais possuíam capacidade de falar. Sua fala teria sido lenta, compassada e naralizada.

Certamente os neandertais foram muito mais do que “homens das cavernas”. Porém, teriam sido eles mais inteligentes e avançados que os homo sapiens de sua época [2]? Se este foi o caso, como diabos teriam sido extintos? Porque afinal hoje continuamos nos entendendo como homo sapiens, e não neandertais?

Em 2008, cientistas anunciaram a decodificação do genoma mitocondrial do neandertal. Na época, concluíram que as evidências genéticas indicavam que os neandertais provavelmente não se misturaram com o homo sapiens, apesar de terem convivido com seres humanos modernos por milhares de anos. O genoma mitocondrial, porém, é só uma amostra do DNA de um organismo... Nos anos seguintes, até meados de 2010, cientistas sequenciaram 60% do genoma completo dos neandertais e compararam o resultado com o genoma de cinco pessoas de diferentes partes do mundo (África do Sul, África Ocidental, Papua-Nova Guiné, China e França).

Os autores do trabalho, detalhado em dois artigos na revista “Science”, afirmam que os humanos modernos e os neandertais “muito provavelmente” se cruzaram “em pequena medida”. A área em que os esparsos encontros românticos ocorreram, provavelmente, foi o Oriente Médio, à medida que o homo sapiens saía da África em direção à Ásia. De 1% a 4% do genoma do homem moderno parece ser dos neandertais, estimam os autores [3]. Apenas alguns africanos parecem possuir um genoma “completamente humano”, todos os outros povos da Terra têm traços do genoma neandertal.

Teriam os neandertais sobrevivido em nós? Seremos nós os filhos dos neandertais? Sabe-se que os registros de fósseis neandertais foram sumindo gradualmente na linha de tempo pré-histórica – primeiro, do Oriente Médio, depois do oeste europeu, então o norte e a região central, até que os últimos fósseis apontam para a península Ibérica, há cerca de 29 mil anos. O que teria “varrido” os neandertais para oeste, até sua provável extinção?

Isso, não se sabe ao certo. Mas eis que ainda temos uma última e extraordinária evidência de que os neandertais encontraram uma forma de, literalmente, permanecer entre nós: O menino do Lapedo foi descoberto em 1998, numa expedição ao Abrigo do Lagar Velho, na cidade portuguesa de Leiria, para estudar algumas pinturas rupestres descobertas anteriormente.

A relevância deste achado arqueológico, com cerca de 24.500 anos, se dá pelo fato do fóssil ter pertencido a uma criança que teria nascido do cruzamento de um homo neanderthalensis com um homo sapiens, o que revelaria que espécies diferentes de humanóides poderiam cruzar entre si e gerar descendentes. Com o menino do Lapedo podemos também sugerir que o neandertal desapareceu não por extinção, mas sim por interação entre eles e os homo sapiens, e uma absorção do mesmo.

Nós somos, portanto, os verdadeiros filhos dos neandertais. Carregamos em nós os registros de seus antepassados, e alguma parte de nosso DNA vêm deles... Talvez, quem sabe, a melhor parte.

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[1] Na verdade partes de um esqueleto neandertal foram anteriormente encontradas na pedreira de Forbes, em Gibraltar, ainda em 1848. Mas por alguma razão estranha, a descoberta dita “original” pela história da ciência, e também certamente a mais famosa – tanto que deu origem ao nome da espécie –, foi esta alemã.

[2] Autores mais radicais, cujas teorias são consideradas fantasiosas pela maioria da comunidade científica, como Stan Gooch, em "Cities of Dreams: the Rich Legacy of Neanderthal Man Which Shaped Our Civilization" (1989), defendem mesmo que os neandertais eram detentores de uma cultura tão complexa quanto as atuais, e que teria mesmo servido para fundar muitos dos chamados arquétipos universais existentes entre os humanos modernos, em resultado da sua hibridização com os neandertais.

[3] Este valor seria o mínimo, alguns pesquisadores postulam que poderia chegar a 10% ou até mesmo a 20%. O DNA neandertal é 99,7% idêntico ao DNA do humano moderno, enquanto o DNA dos chimpanzés, por exemplo, é 99,8% idêntico ao nosso. Isso sugere, na prática, que somos todos espécies aparentadas de forma muito próxima... A diferença entre os neandertais e os chimpanzés é, entretanto, crucial – os últimos claramente nos precederam em centenas de milhares de anos na árvore evolutiva, enquanto que os primeiros têm uma origem muito mais recente, talvez não mais do que 100 mil anos anterior a nossa. O DNA neandertal é, portanto, provavelmente muito mais importante no que tange a cognição e linguagem humanas, fruto da nossa origem e inteligência em comum.

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Nota: este artigo chegou a ficar cerca de 6h no ar (em 19/06/11) contendo graves erros nas informações científicas, particularmente na nota #3, mas agora está corrigido. Peço desculpas pela falha.

Crédito das imagens: [topo] Joe McNally, National Geographic (reconstituição de uma neandertal fêmea); [ao longo] Bettmann/Corbis (reconstituição de um neandertal macho).

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17.6.11

Hedonismo

Texto de José Arreguy Pimentel que circula pela web há alguns anos, mas ao contrário de boa parte desse tipo de texto, é muito profundo. Os comentários ao final são meus.

Eu li em um dos livros do Ruy Castro que, ainda mais legal do que unir o útil ao agradável, é unir o agradável ao agradável. A exaltação do desfrute.

Há tempos venho ruminando sobre isso.

Conheço muitas pessoas que vão ao cinema, a boates e restaurantes e parecem eternamente insatisfeitas. Até que li uma matéria com a escritora Chantal Thomas na revista República e ela elucidou minhas indagações internas com a seguinte frase: "Na sociedade moderna há muito lazer e pouco prazer".

Lazer e prazer são palavras que rimam e se assemelham no significado, mas não se substituem. É muito mais fácil conquistar o lazer do que o prazer. Lazer é assistir a um show, cuidar de um jardim, ouvir um disco, namorar, bater papo. Lazer é tudo o que não é dever. É uma desopilação. Automaticamente, associamos isso com o prazer: se não estamos trabalhando, estamos nos divertindo. Simplista demais.

Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando, é só redefinir o que é prazer. O prazer não está em dedicar um tempo programado para o ócio. O prazer é residente. Está dentro de nós, na maneira como a gente se relaciona com o mundo.

Chantal Thomas aborda a idéia de que o turismo, hoje, tem sido mais uma imposição cultural do que um prazer. As pessoas aglomeram-se em filas de museus e fazem reservas com meses de antecedência para ir comer no lugar da moda, pouco desfrutando disso tudo. Como ela diz, temos solicitações culturais em demasia. É quase uma obrigação você consumir o que está em evidência. E se é uma obrigação, ainda que ligeiramente inconsciente, não é um prazer.

Complemento dizendo que as pessoas estão fazendo turismo inclusive pelos sentimentos, passando rápido demais pelas experiências amorosas, entre elas o casamento. Queremos provar um pouquinho de tudo, queremos ser felizes mediante uma novidade. O ritmo é determinado pelas tendências de comportamento, que exigem uma apreensão veloz do universo.

Calma. O prazer é mais baiano.

O prazer não está em ler uma revista, mas na sensação de estar aprendendo algo. Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que ele pode lhe trazer. Não está em faturar uma garota, mas no encontro das almas.

Está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos. Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na contramão. O prazer está em sentir. Uma obviedade que merece ser resgatada antes que a gente comece a unir o útil com o útil, deixando o agradável pra lá.

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Comentário: O título desse texto é "Hedonismo". O hedonismo é uma doutrina filosófica que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, seus maiores representantes foram Aristipo de Cirene e, principalmente, Epicuro. O problema é que muita gente entende por hedonismo uma simples busca desenfrada por prazer, particularmente de cunho material - como aquisição e consumo de bens e riquezas -, mas isso está um tanto longe do que Epicuro ensinava.
O filósofo grego em realidade afirmava que “o homem que alega não estar ainda preparado para a filosofia ou afirma que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que é jovem ou velho demais para ser feliz.” Longe de ensinar uma busca desenfreada por prazeres mundanos, ele defendia que uma vida equilibrada e na companhia de boas amizades era todo o necessário para a felicidade – neste caso, pão e água eram suficientes... “De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade... alimentar-se sem a companhia de um amigo é o mesmo que viver como um leão ou um lobo.”

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Crédito da foto: Ken Seet/Corbis.

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16.6.11

A arte

O que é arte? Essa é uma pergunta tão antiga quanto a sensibilidade humana. Desde que o primeiro homem, com sua inteligência primal, observou uma árvore e percebeu nela algo mais do que um tronco que sustenta folhas e faz sombra a luz do sol, a humanidade vem se questionando o que vem a ser esse “algo mais”. Por onde ele entrou? O que exatamente provoca em nós? Qual é sua função?

A arte sensibiliza… Não se vê com os olhos, não se ouve com os ouvidos, nem é sentida por qualquer outro sentido corpóreo. A arte é uma das forças universais. Imaterial, invisível, eterna. É a força que desperta o homem para o mundo espiritual, pois é tão somente com nosso espírito que vemos a arte.

Como pôde comprovar Kandinsky em seu belo estudo sobre a essência espiritual da arte: “A alma (espírito) é um piano de inúmeras teclas.” O homem sensível, ao deparar-se com a arte da criação, é manuseado pelas sublimes mãos do Pai, e transborda de regogizo com a sinfonia da vida, com a sublime canção universal.

Sim, essa é a derradeira e fundamental função da arte. Mas como é difícil aos homens percebê-la!

Desde a antiguidade nas cavernas, a arte já nasceu comprometida a ter uma função prática e material: a pintura e a escultura serviam para ilustrar o mundo, a música para as festas, a arquitetura para construção, a dança para as paixões, a literatura para contar histórias e registrar os fatos, a poesia para registrar os sentimentos… Isso para citar as faculdades intimamente ligadas a arte (depois eu explico).

Porém, em realidade, a arte verdadeira, a arte em si, pura e simples, sempre influenciou toda criação material. E sempre soprou ao coração dos homens: “Eu estou em você, mas você não está em mim. Você não me cria, mas eu estou naquilo que você pode criar. E quanto mais sensível e sincero você for ao criar, mas de mim poderá aproveitar… E tão mais sublime será tua criação.”

Aonde acaba a função material da arte, inicia sua verdadeira função: a de tocar as teclas do espírito. Onde acaba a imitação do mundo material, inicia a imitação do mundo espiritual. Onde acaba a natureza exterior, inicia a natureza interior. Onde acaba a razão, inicia a sensação.

A arte não é racional, não tem um processo determinado nem uma finalidade a ser alcançada. Como disse o filósofo alemão, Immanuel Kant: “A arte é o universal sem conceito.” Sim, ver a arte é sentir despreocupadamente a enorme força que criou e sustenta toda existência… Felizes aqueles que, de tempos em tempos, esquecem um pouco do tempo e da dura caminhada para sentar e observar o mundo. Pois esses estarão verdadeiramente descansando, e quanta energia estarão ganhando para continuarem firmes e fortes na vida! Estarão em contato com o amor da criação, o amor que está em tudo e a tudo movimenta. A força que move o mundo e que, quando percebida, sensibiliza o coração e reabastece o espírito. Bem-aventurados os que vivem assim, pois esses vivem com arte.

Cabe aos artistas buscar pela arte, buscar pela sua tão amada fonte de inspiração. Mas poucos se deram conta que a arte está em tudo, é a arte que escolhe o artista, e não o artista que escolhe ser artista! A arte de cada artista deve brotar de seu coração, do seu interior. Cabe ao artista sugar tudo o que vê do mundo, e estudar as coisas dentro de si mesmo, para então, só então, dar a sua visão e passar a sua mensagem… Nem todos passam boas mensagens, mas só os que são sinceros quanto a seus sentimentos podem sensibilizar.

Quanto maior a sensibilidade do artista, menos borrada estará sua visão do mundo, e maior será seu contato com a arte em si. Pois a arte está em tudo: feliz o artista que percebe que a água serve para muito mais do que aliviar a sede, o vento para muito mais do que agitar as copas das árvores, o trovão para muito mais do que assustar as crianças, o pássaro para muito mais do que nos causar inveja, o céu estrelado para muito mais do que nos orientar na escuridão, a mão para muito mais do que segurar um pincel ou tocar um violão, a mente para muito mais do que efetuar contas matemáticas, e o espírito para muito, muito mais do que podemos imaginar…

A maior emoção do artista não é a fama, o reconhecimento ou a riqueza. Podemos citar diversos gênios da história da arte que passaram sua vida em completa miséria material. Sim, mas esses eram muito, muito ricos espiritualmente… Pois o verdadeiro artista ama loucamente a arte, não pode parar de praticá-la, não vive sem ela, não a troca por nada. Esses são os artistas, homens seduzidos eternamente pela sublime beleza da canção da vida.

E porque só os pintores, músicos, escritores e profissionais do gênero são considerados artistas? Se a arte está no mundo, e são artistas todos os que vivem com arte, porque o cozinheiro, que cozinha com amor, e se delicia quando agrada a gregos e troianos com seu tempero, não seria artista? Porque o médico, que por amar demais ao próximo dedica sua vida a cura do sofrimento alheio, não seria artista? Porque o oficial do exército, que daria a vida para defender sua pátria contra a injustiça e a guerra, não seria artista? Porque o motorista de ônibus, que zela com sua perícia para que todos os seus passageiros tenham uma viagem tranquila, não seria artista? Porque o jogador de futebol, que dá o sangue e o suor pela competição justa, não seria artista? Porque o lixeiro, que não se importa com o odor nem com a calúnia para poder servir a cidade, não seria artista?

Como falou o filósofo grego Sócrates: “Justo é o homem que é útil ao estado e desempenha bem sua função.” Esse é o verdadeiro artista, aquele que se contenta com o que é e está desperto para o lado verdadeiro da vida. Que antes de ser artista, observou a arte. Que antes de criar para os outros, criou para si mesmo. Que ao invés de julgar o mundo, tentou descobrir sua beleza. E descobriu que a arte tem sim uma função, e uma função vital: a de educar o espírito para a verdade e tudo de maravilhoso que provêm dela…

E se em todos os seres há um espelho que reflete a luz da criação, no verdadeiro artista esse espelho só poderá ser mais limpo, mais brilhante e mais sublime.

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Esse texto é um dos capítulos do meu livro "Do Universo ao Universal" (1998), como nessa época ainda cursava Belas Artes na UFRJ, estava particularmente envolvido com o tema.

Crédito da imagem: uma réplica gigantesca de uma obra de Kandinsky (Weilheim, Alemanha).

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Links Mayhem (17)

O Projeto Mayhem foi criado em Março de 2010 como centro de debates e discussões sobre temas Ocultistas e Herméticos. Agora, toda semana, os participantes do projeto divulgam os links mais interessantes para artigos nos blogs de outros participantes:

- Teoria da Conspiração - A Crença do Espiritualista
- Labirinto da Mente - Projeção Astral com Wagner Borges
- Tudo sobre Magia e Ocultismo - Tjukurrtjana: Tempo de Sonhar
- Eu tô pensando - Dia dos Namorados: Lupercalia
- Paradigma Divino - O Fluxo de Energia e o Caminho do Adepto
- Autoconhecimento e Liberdade - O Poeta é um Fingidor
- Hermetic Rose - Ritual
- Idéia Biruta - Algo Vazio
- Jedi Teraphim - Origens do Martinismo
- O Alvorecer - A Greve dos Signos
- Artigo 19 - Binah
- Não está sendo fácil - A Experiência Plutoniana do Sefirat ha Omer
- Universo Paralelo - Escolha, Caminho, Destino
- Zzurto
- O Véu de Maia

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Veja também os colunistas no Portal Teoria da Conspiração:

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» Veja todos os posts sobre o Projeto Mayhem

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13.6.11

Nicolelis: muito além do eu

Miguel Nicolelis, professor e diretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, fala sobre seu novo livro ("Muito além do nosso eu") e as grandes promessas de suas pesquisas. É o brasileiro com a maior chance de um dia receber o prêmio Nobel. Vejam sua passagem pelo Manhattan Connection, da Globo News:

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Frases (6)

Mais frases que vieram com o vento, geralmente primeiro aparecem no meu twitter, depois aqui:

"No início, somos todos um pensamento. No fim, somos todos poeira de estrelas. Conectados do início ao fim."

"Um pedaço de carbono é um feto, e o maior diamante é a vida."

"O sol nunca deixa de aparecer, as núvens ciumentas é que as vezes querem ele todo só para elas. Ainda nesses dias, seu calor é invicto."


"O 'fim do mundo' não era uma fossa abissal, era algo muito maior do que isso. Era a própria noite, e o próprio dia."

"Na medida que avançamos, é o próprio horizonte que recua."

"Tudo o que vemos são mensagens do passado, trazidas por pequeníssimos fragmentos de eternidade. O presente não se vê, faz-se na mente."


"A maior das loucuras é aquela capaz de isolar os seres um dos outros, em grupos de santos/pecadores, castos/impuros, fiéis/infiéis, etc."

"Não é preciso que Deus te escolha mais de uma vez. Todo ser que se entende como ser já é um escolhido. No céu entraremos de mãos dadas."

"O problema da sociedade não são os religiosos ou ateus, mas os mentirosos, hipócritas, e também aqueles que se abstém de pensar."


"A sociedade moderna, ironicamente, é a que mais se baseia em um sistema de crença - isto é, crença no dinheiro ou na mídia, não em si mesmo."

"Jamais tantos rezaram para o mesmo deus. Existem os ateus, mas quem será ateu para o Deus do Consumo? Afinal: 'consumo, logo existo'."

"Ah, a infelicidade... O mais moderno pecado! Aplaque esta dor, ó deus da felicidade comprimida. Hoje, quero 100g, ou US$100, de felicidade."


"Certos poemas nada mais são que orações descompromissadas."

"Não é o mundo que muda, mas nossa visão dele. O mundo sempre muda, agora mudamos junto com ele, agora seguimos seu fluxo..."

"A vida é o grande evento do existir, está acontecendo nesse exato momento..."

"Duvide de quem não duvida. A única certeza não é a morte, mas o mistério da vida."

"Bem aventurados aqueles que ensinaram suas almas a dançar."

"O tempo nada custa, se for usado para viver."


"Não conseguimos acenter a luz rápido o bastante para poder ver o que existe pela escuridão ainda antes da luz chegar." [1]

"Deus: substância eterna, infinita; que através do movimento irradia-se em tudo que há; que através do amor mantém o movimento."


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[1] Tenho quase certeza de que li essa frase em algum lugar, que não é de minha autoria, no entanto não me lembro a fonte...

Crédito da foto: Monalyn Gracia/Corbis

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Hermes, Benedito e a Cadeira

Este conto foi originalmente publicado no Portal Teoria da Conspiração, onde agora sou colunista...

Agora que sou um colunista neste Portal, estive pensando no que seria o conceito principal que procuraria defender e elaborar aqui. Como tendo a ver a espiritualidade de forma ecumênica, acredito que essa “conciliação de pensamentos”, esse ponto de encontro de diversas doutrinas e filosofias diferentes, parece ser uma causa nobre a ser buscada. Mesmo ateus e agnósticos, quando seres de certa espiritualidade, hão de concordar que o Cosmos é um lugar sagrado, que a Natureza é divina, e nesse caso não é necessário erguer um “deus barreira” entre nós... Talvez, o verdadeiro Deus esteja exatamente no entendimento, no movimento de um em direção ao outro, enfim, no amor possível entre todos nós – os seres da Criação.

Bem, e este diálogo é em homenagem a esta ideia:

(Hermes) Vê aquela cadeira, Benedito?

(Benedito) Claro, um belo exemplar talhado em madeira nobre.

(H.) Você sabe quem a talhou?

(B.) Certamente algum carpinteiro, mas não o conheci...

(H.) Do que necessitou para fazer esta obra?

(B.) Bem, além da madeira, provavelmente as ferramentas para o entalhe.

(H.) Ignoremos as ferramentas, você concordaria comigo em que o material principal foi à própria madeira, certo? Pois bem, imaginemos este nobre carpinteiro prestes a executar o entalhe, o que diria se no seu ateliê não existisse nenhuma madeira?

(B.) Bem, que ele certamente precisaria ir a alguma madeireira para comprar mais madeira...

(H.) Mas e se não existissem madeireiras?

(B.) Como assim? Nesse caso teria ele mesmo que ir derrubar árvores e extrair a madeira.

(H.) E se não existissem árvores? E se não existisse nenhuma madeira no mundo?

(B.) Porque suas conversas sempre ficam tão estranhas?

(H.) Isso não importa agora, o que importa é que você pense no que lhe falei...

(B.) Bem, supondo que não existissem árvores, nós tampouco existiríamos, e esse carpinteiro subitamente se torna alguma espécie de deus, ao meu entender.

(H.) Mas pensemos na cadeira: mesmo que não houvesse madeira nenhuma, ainda assim ela já estaria pronta, concorda?

(B.) Pronta aonde?

(H.) Na mente do carpinteiro. Ou você acredita que um carpinteiro possa dar sequer o primeiro entalhe nalgum bloco de madeira antes de ter a cadeira pronta em sua mente?

(B.) Compreendo. De fato: mesmo que não existisse madeira nenhuma no ateliê, o carpinteiro já poderia ter a cadeira pronta na própria mente, apenas esperando a madeira para construí-la.

(H.) Mas se não existisse madeira nenhuma, ela antes teria de ser inventada...

(B.) Aonde quer chegar?

(H.) Ora, e não é óbvio? Para se construir uma cadeira à partir do nada, antes é necessário inventar todo o Cosmos!

***

Crédito da imagem: Photo2217

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