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30.10.09

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26.10.09

Questões primordiais

Porque existe algo e não nada?

Como surgiu o universo?

Se a natureza é um sistema, qual a sua função?

De onde viemos?

Quem somos nós?

Para onde iremos?

Se o futuro ainda não existe e o passado já não existe mais, o que é o tempo?

O que, em nós, toma decisões morais?

Se Deus é onisciente, porque lhe pedimos algo?

Se todos nós respondemos as mesmas leis naturais, um evento sobrenatural não seria injusto?

O que é uma idéia inata?

O que é a consciência?

Se nós morremos todas as noites, e renascemos todos os dias, porque tememos a morte?

Se tudo o que somos é resultado do movimento de partículas, porque acreditamos que devemos punir decisões alheias?

Será melhor amar e perder, ou nunca ter amado?

Será melhor existir e sentir dor, ou nunca ter existido?

Porque se preocupar com eventos além de nossa vontade?

Tempo é dinheiro, tempo para (...)?

Viver para (...)?

***

Crédito da foto: David Gutierrez

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25.10.09

Somos apenas macacos?

Talvez fosse mais correto perguntar: "Somos apenas uma espécie animal que evoluiu na terra a partir de um ancestral em comum com os símios ainda não-extintos, dentre eles os bonobos e os chimpanzés?" - veja o vídeo abaixo, de Ernest Cline, e reflita sobre a resposta:

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19.10.09

Livro: A Evolução Desconhecida e outras reflexões

Coletânea dos artigos de Rafael Arrais no livro A Evolução Desconhecida e outras reflexões

Conforme prometido, comemorando os 3 anos deste blog, acaba de ser lançado o livro "A Evolução Desconhecida e outras reflexões" - uma coletânea com os melhores artigos publicados por Rafael Arrais nesses 3 anos. Clique na imagem para ir até o site e baixar o livro gratuitamente em PDF!

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13.10.09

Oferendas ancestrais

O bipedalismo, ou seja, a capacidade de se andar apenas com dois membros, e não com quatro, é uma característica desenvolvida por pouquíssimos animais ao longo da evolução das espécies. Como se sabe, um desses animais é o homo sapiens. Segundo a teoria de Darwin-Wallace, o homo sapiens evoluiu a partir de um ancestral comum com o chimpanzé, ou pelo menos esta era a teoria mais aceita até alguns anos atrás. Uma outra teoria acerca da evolução humana postulava que o bipedalismo foi desenvolvido sobretudo quando os humanos arcaicos, ancestrais do homo sapiens, abandonaram as regiões africanas de densas florestas e se aventuraram nas pradarias, onde a capacidade para arrancar frutos e carregar comida e armas de caça seria, talvez, mais importante do que a velocidade e equilibrio conferidas pelo andar em quatro patas, o que seria muito mais útil para se fugir de predadores.

No entanto, descobertas da arqueologia nas últimas décadas tem colocado em xeque tais teorias. Particularmente a descoberta do esqueleto de Ardi (ardipithecus ramidus) encontrado em 1992. O esqueleto demorou três anos para ser escavado pela equipe do Projeto Médio Awash, em Aramis, na Fenda de Afar, Etiópia. Sua reconstrução foi realizada por dezenas de cientistas de todo o mundo, sendo que atualmente a liderança dos estudos está em mãos de Tim White. Ele trabalha com Paleontologia e Arqueologia Paleolítica na África desde 1974, sendo professor de biologia da Universidade da Califórnia em Berkley e codiretor do projeto que atuou na retirada do achado.

Após mais de uma década de análises minuciosas, as conclusões finais dos arqueólogos e cientistas envolvidos foram finalmente publicadas na revista Nature de Outubro de 2009. A datação de Ardi como tendo vivido a 4,4 milhões de anos, e sua combinação única de bipedalidade indiscutível com os dentes molares pequenos, assim como a curiosa semelhança dos pés com os pés de outros símios, capazes de agarrar objetos com as mãos, lança muito mais dúvidas do que certezas no estudo dos cientistas.

Primeiro, fica comprovado que o "elo perdido", ou a espécie ancestral que o homo sapiens teria em comum com outros símios, teria vivido há muito mais tempo do que antes se imaginava, há pelo menos 7 milhões de anos. Isso levanta a curiosa hipótese de que os chimpanzés evoluíram por muito mais tempo após terem se "dissociado" de nosso galho evolutivo. Nesse sentido, é possível que muitas características dos chimpanzés sejam exclusivas deles, e nunca tenham estado realmente presentes em humanos arcaicos.

Mas a questão mais curiosa é que, além da bipedalidade ter se desenvolvido há muito mais tempo do que antes se imaginava (sabe-se também que ela ocorreu milhares de anos antes do aumento e evolução do cérebro humano), estudos da região onde Ardi foi encontrada comprovaram que, em sua época, há mais de 4 milhões de anos, aquela região da Etiópia era cercada por densas florestas! Isso significa que a ciência precisa arranjar uma nova e arrojada explicação para o motivo dos humanos arcaicos teremos evoluído para a bipedalidade e os caninos menores, ainda milhares de anos antes de desenvolverem a cognição peculiar da mente do homo sapiens.

Uma das hipóteses que mais me agradaram foi a descrita no documentário da Discovery Channel. Segundo essa teoria, o bipedalismo e a redução dos dentes caninos foi acompanhada das primeiras convenções sociais entre os caçadores-coletores. As fêmeas passaram a preferir machos menos agressivos, e passaram também a trocar sexo por comida, além de se comprometerem por mais tempo com a "educação" dos filhos. Isso favoreceu nos machos, e consequentemente em toda a espécie, o bipedalismo: assim poderiam se deslocar por distâncias maiores, e carregar oferendas (pequenos pedaços de comida, sejam frutos ou carne de animais abatidos) por sexo. A redução dos caninos talvez indicasse que os machos não precisavam mais competir agressivamente pelas fêmeas, e que a troca de carinho (sim, talvez pudéssemos usar esta palavra) era mais reconfortante e necessária, então, do que as lutas sangrentas pelo direito de copular com as fêmeas.

Será que isso faz sentido? Será que nossas convenções sociais, nossa organização em famílias de indvíduos, tem uma origem ancestral, bem mais antiga até do que nossa cognição avançada?

Hoje se sabe que o altruísmo é uma forma de evolução da espécie. Grupos de indivíduos capazes de colaborar entre si tem maiores chances de sobrevivência do que indivíduos solitários que caçam sozinhos. Sim, eles tem maior reserva de alimento, mas muito menos proteção contra outros predadores, e contra a própria solidão da vida selvagem... Caso possamos fazer uma associação entre o altruísmo e o que o homem moderno chama de amor, talvez o estudo científico da evolução humana nos traga lições muito mais profundas do que a mera compreensão do mecanismo pelo qual nossos corpos evoluíram. Talvez compreendamos que não foram apenas dentes que deixaram de ser pontiagudos, ou mãos que passaram a ser capazes de produzir ferramentas especializadas, mas antes a evolução social que potencializou nossas chances de sobrevivência, e nos tornou a espécie dominante deste planeta.

Talvez, as oferendas ancestrais de humanos arcaicos em troca de sexo, dando origem aos rudimentos do que hoje chamamos de família, tenha sido o momento-chave que possibilitou toda a evolução seguinte. Afinal, a partir do momento que deixamos de rastejar junto ao solo, buscando comida e sobrevivência, e passamos a andar eretos, e a enxergar as estrelas no céu, e os olhos e a face de nossos semelhantes, possivelmente tenhamos passado a desenvolver o rudimento da consciência de nós mesmos, e do que afinal viemos fazer nesta terra.

***

Crédito da imagem: J.H.Matternes

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As origens da arte

Texto de Steven Mithen em "A pré-história da mente " (Editora Unesp, tradução de Laura de Oliveira).

Os três processos cognitivos cruciais para a produção da arte - a concepção mental de uma imagem [1], a comunicação intencional [2] e a atribuição de significado [3] - estavam todos presentes na mente humana arcaica. Foram encontrados, respectivamente, nos domínios das inteligências técnica, social e naturalista. Mas a criação e uso de símbolos visuais impõe que eles funcionem juntos, harmoniosamente. Isso exigiria ligações entre domínios (das inteligências). E o resultado disso seria a explosão cultural (incluindo a origem da arte humana).

Observamos realmente uma explosão cultural começando a quarenta mil anos na Europa, com a produção dos primeiros trabalhos artísticos, e eu sugeriria que isso pode ser explicado por novas conexões entre os domínios das inteligências técnica, social e naturalista. Os três processos cognitivos, antes isolados, agora funcionavam juntos, criando o novo processo cognitivo que podemos chamar de simbolismo visual, ou simplesmente arte.

Se eu tivesse de escolher apenas uma característica da primeira arte para sustentar esse argumento, seria a incrível habilidade técnica e poder emotivo das primeiras imagens. Nenhuma analogia pode ser feita entre as origens da arte no tempo evolucionista e o desenvolvimento das habilidades artísticas na criança. Estas consistem de uma passagem gradual das garatujas às imagens representacionais, seguidas do aprimoramento gradual da qualidade das imagens. No caso de alguns jovens artistas, podemos então ver uma compreensão gradual do uso da linha e da cor para transmitir não apenas um registro do que se vê, mas os sentimentos a respeito. Não existe nada gradual sobre a evolução de uma capacidade para a arte: os primeiros objetos que encontramos podem ser comparados, em qualidade, aos produzidos pelos grandes artistas da Renascença [4]. Isso não significa argumentar que os artistas da Idade do Gelo não passaram por um processo de aprendizado; podemos na verdade encontrar muitas imagens que parecem ter sido feitas por crianças ou jovens aprendizes. Mas a habilidade de impor forma, de comunicar e interferir significados a partir de imagens já devem ter estado presentes na mente dos humanos arcaicos - embora não existisse arte. Tudo o que bastava para criar as maravilhosas pinturas da caverna de Cauvet era uma conexão entre os processos cognitivos que haviam evoluído para outras tarefas.

Antes de deixar as origens da arte, devemos voltar às peças riscadas de osso e marfim feitas pelos humanos arcaicos, como as de Bilzingsleben e Tata. Se - e este é um grande se - esses riscos foram feitos intencionalmente, como podem ser explicados? Sugiro que eles refletem o máximo da comunicação simbólica que pode ser alcançado ao depender apenas de uma inteligência geral. Os humanos arcaicos podem ter sido capazes de associar marcas com significados usando apenas suas capacidades para o aprendizado associativo. Mas depender disso teria restringido a complexidade das marcas e dos significados. Existe uma semelhança entre a simplicidade das capacidades de produzir instrumentos dos chimpanzés comparadas às dos humanos arcaicos, e a simplicidade das marcas intencionais dos humanos arcaicos comparadas às dos humanos modernos. Os chimpanzés dependem da inteligência geral [5] para a comunicação "simbólica". Como resultado disso, os chimpanzés e os humanos arcaicos parecem alcançar "sub-realizações" nessas atividades, em vista de seus feitos em domínios comportamentais para os quais possuem inteligências especializadas.

[Retirado do capítulo 9: O big bang da cultura humana: as origens da arte e da religião]

***

[1] Por exemplo, produzindo artefatos como machados de mão a partir de moldes mentais, a inteligência técnica.

[2] A comunicação intencional é fruto da inteligência social e surgiu juntamente com a linguagem gestual, assim como formas primitivas de vocalização.

[3] Caçadores-coletores dependiam da interpretação detalhada de marcas de cascos e pegadas de animais deixadas na natureza, os "símbolos naturais". Este é um atributo da inteligência naturalista:

"As marcas involuntárias de animais representam uma série de propriedades em comum com as "marcas" intencionais ou símbolos dos humanos modernos, como as pinturas em faces de rochas ou os desenhos na areia. Elas são inanimadas. Ambas estão espacial e temporalmente deslocadas do evento que as criou e o que elas significam. As pegadas, assim como os símbolos, devem ser colocadas na categoria certa se formos atribuir-lhes os significados corretos. Por exemplo, a pegada de um veado vai variar dependendo de ter sido feita no barro, na neve ou na grama, assim como o desenho de um símbolo vai variar segundo a face da rocha ou o estilo individual do artista."

[4] Pessoalmente acredito que o autor exagerou bastante na comparação, embora seu argumento continue sendo válido mesmo assim.

[5] O que seria, segundo o autor, um domínio não especializado da inteligência. É na "conexão" das outras inteligências "dentro" do campo da inteligência geral que surgiu a cognição avançada dos humanos modernos.

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Crédito da foto: Wikipedia

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7.10.09

3 anos de reflexões

No dia 27/11/2009 este blog completará 3 anos desde seu primeiro post. Achei que a melhor forma de comemorar a ocasião seria presentear os leitores com uma coletânea em PDF dos melhores artigos publicados ao longo desse período. Alguns chamam isso de "blogbook", mas eu prefiro chamar de livro mesmo.

A imagem ao lado é a da capa, que já está pronta. Basta clicar para abri-la em um tamanho maior. O título, como podem ver, será "A Evolução Desconhecida e outras reflexões". Como já comecei a repassar os textos do blog para o livro, é bem provável que esteja pronto antes do dia 27/11, mas assim que for lançado teremos um novo post especial somente para ele.

Se você é um editor (ou representa alguma editora) e gostou dos meus artigos, saiba que também tenho escrito aos poucos um livro intimamente relacionado com os assuntos tratados neste blog. Dessa vez tenho tido o cuidado de escrever algo que possa ser facilmente publicado comercialmente, com linguagem (relativamente) simples e agradável, e até mesmo com notas de rodapé!

Caso tenha interesse em saber mais, basta enviar email para mim: rarrais@yahoo.com

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2.10.09

2016: vontade de crescer

O Rio de Janeiro acaba de ganhar a disputa para sediar os Jogos Olímpicos em 2016. Ganhamos de Madrid na votação final. Os espanhois no entanto talvez tenham chegado além do que se esperava, pois todos os "especialistas" e as casas de aposta apontavam uma final entre Rio e Chicago (que acabou ficando apenas como a quarta escolha do Comitê Olímpico Internacional). Talvez Madrid tenha chegado mais longe devido a chamada "Cerimônia da Chama Sagrada", segundo anunciado pela BBC: "Todos vão se reunir para concentrar energias e convocar o mundo espiritual para que Madri seja eleita a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 - afirmou a sacerdotisa xamã espanhola Martha Elena na apresentação do evento à imprensa". Será que o "mundo espiritual" pode ter ajudado Madrid? Nesse caso, será que o Rio não ganhou com a ajuda dos umbandistas de plantão?

Talvez... Mas ainda acho que o que mais importa mesmo é a vontade das pessoas. Sabe-se que entre os americanos e japoneses a aceitação da olímpiada não era tão grande quanto entre os brasileiros e espanhois. Chicago chegou até mesmo a organizar um site pró-Rio (e anti-Chicago). Quando lembramos que o Pan-Americano de 2007 (no Rio) custou mais de dez vezes a mais do que o anterior, talvez tenhamos uma boa dica das razões que levaram os americanos a rejeitar uma olimpíada em plena era de crise econômica (bem, pelo menos no lado norte).

Pode-se pensar que a vontade das pessoas não é assim tão relevante. Que não adianta juntar milhares de pessoas na praia de Copacabana para torcerem pela vitória se a cidade não dispõe de um bom planejamento e infra-estrutura para sediar os jogos. Ora, isso é óbvio, mas quem disse que ter um bom planejamento e infra-estrutura também não passa pela vontade das pessoas? É a vontade das pessoas que decide eleições, que pressiona os políticos para roubarem menos e produzirem mais, e que efetivamente permite que um país cresça. Infelizmente no caso do Brasil, essa vontade é superficial, limitada a conquistas esportivas na maior parte das vezes... Quem poderia saber onde estaríamos hoje se, a 60 anos atrás, torcessemos mais pela melhoria de nossa educação básica do que pela conquista da Copa do Mundo? Se estivéssemos mais preocupados com a qualidade de nossos políticos do que com a habilidade de nossos atacantes? Se passássemos a iniciar o ano útil não após o carnaval, mas após o reveillon? Bem, fosse este o caso, certamente estaríamos no mínimo no mesmo nível tecnológico e educacional da Coréia do Sul, que passou esse tempo se dedicando a seu sistema educacional, e hoje pode ir mal na Copa do Mundo, mas vai muito bem no Índice de Desenvolvimento Humano (que a 60 anos, era muito pior do que o nosso).

Mas tudo isso já foi tão falado que as pessoas até perderam a paciência de escutar (e outras, ainda, de continuar insistindo no assunto)... Fato é que a "Cerimônia da Chama Sagrada" não foi capaz de nos tirar os Jogos Olímpicos de 2016. Ainda que os jogos sejam originalmente uma manifestação pagã, parece que o "paganismo brasileiro" venceu o paganismo tradicional, e que a nossa cerimônia regada a música e praia se mostrou mais "fortalecida" pela vontade de um povo que é sem dúvida sempre forte e alegre, quando se lembra de acordar.

Agora nos resta torcer para que até lá o Rio não precise fazer uma "maquiagem" para sediar os jogos, mas que esteja devidamente alçado a categoria de uma cidade segura, com infra-estrutura adequada e transporte urbano de qualidade. Isso sim seria uma grande vitória. Se para nós sediar os jogos parecia uma utopia a alguns anos, talvez possamos ter alguma centelha de esperança que a cidade maravilhosa seja realmente maravilhosa na vida real, e não apenas nos vídeos de cerimônias olímpicas.


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Crédito da foto: Ernanib

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