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29.8.18

O mundo para além da linguagem

Dois meses atrás eu saí do Brasil e agora estou vivendo na Europa. Existe algo dessa experiência que está para além de mudar de endereço, visitar paisagens diferentes e ter novas fotos para as redes sociais.

Trata-se do desafio de se comunicar. E com isso não quero dizer pedir comida no restaurante ou conversar sobre o jogo de futebol na rua. Eu me refiro às coisas misteriosas da vida – a existência, o amor, nossos desejos, a vida em sociedade – e que sempre fazem nos desentender nas discussões filosóficas.

Nossos desentendimentos advêm da própria forma como a linguagem se estrutura, e experiências com outras culturas e idiomas podem esclarecer isso.

Vilém Flusser explica, por exemplo, que é simples traduzir a palavra mesa para o inglês table porque ambas as palavras e referem ao mesmo objeto. Tanto na cultura portuguesa quanto na cultura inglesa existe o mesmo objeto real mesa, esta que usamos para trabalhar ou se alimentar.

No entanto, é impossível traduzir a palavra mesa para a língua esquimó simplesmente porque na cultura dos esquimós esse objeto é inexistente. Seu vocabulário é ausente de qualquer referência à mesa, já que nunca a utilizaram.

Para explicar a um esquimó ao que estamos nos referindo, teríamos que usar a palavra em nosso idioma e depois explicar o seu funcionamento no idioma deles. Ainda assim, permanece a impossibilidade de tradução porque em sua cultura tal conceito é inexistente.

Quando estamos nos expressando sempre na mesma língua, nós estamos utilizando sempre os mesmos conceitos. Isto é, as ideias e objetos que fazem parte do nosso modo de ver o mundo, e consequentemente pensá-lo e reagir a ele.

Basta que nos desloquemos para outra realidade ou tentemos nos expressar num idioma diferente do nosso para percebermos que a maioria das coisas que sentimos ou pensamos em nossa língua original não possuem tradução.

Dizer eu te amo em português ou te quiero em espanhol são ensinados como sinônimos, mas ocupam lugares diferentes em suas respectivas línguas. Pois dizer que se ama alguém significa simplesmente que há um sentimento afetuoso por ela, sem nenhuma consequência declarada a princípio, enquanto dizer que a quer é empregar um verbo que implica necessariamente num desejo de algo, seja qual for o desejo.

Ou como pensar o inglês que não há diferenças entre ser e estar no verbo to be, senão pelo contexto? Se você diz a uma moça you are beautiful, será que ela entenderá que você dizendo que ela é uma moça bonita na vida ou que ela está particularmente bonita vestida como hoje?

Cada idioma cria os seus próprios conceitos, nem sempre partilhados com outros idiomas. Mais do que uma simples ferramenta, a linguagem que aprendemos a usar também nos ensina como pensar. É a partir dela que pensamos, e não o contrário. Fomos colonizados pela língua que nos ensinaram e estamos predestinados a chegar às respostas que nossa língua nos permite chegar.

Por tal motivo os linguistas dizem que aprender um novo idioma é também aprender a pensar de uma nova forma. Pois as estruturas da linguagem que adquirimos, bem como as expressões que utilizamos, modulam nossa forma de ver e – principalmente – reagir ao mundo.

Que um brasileiro ao xingar diga filho da puta, um norte-americano diga motherfucker (aquele que fode sua mãe) e um espanhol diga me cago en tu madre (defeco em tua mãe), revela que a todos ocidentais é ofensivo atentar contra a mãe. Mas não pelas mesmas razões. Se no Brasil o problema é ter sido parido por uma mulher que troca sexo por dinheiro, nos Estados Unidos o problema é o incesto, na Espanha... bem, a coisa na Espanha fica escatológica.

Ainda que todas essas expressões queiram igualmente ofender, seria inocente imaginarmos que são traduzíveis umas pela outra, já que se referem a conceitos – as situações compreendidas como vergonhosas – bem diferentes.

Esse tipo de experiência linguística/antropológica que temos ao aprender um novo idioma ou vivermos numa nova cultura é o que mais se aproxima de um legítimo ato filosófico. Pois é a partir do estranhamento do diferente que podemos questionar aquilo que temos por naturalizado em nós – e o que temos de mais naturalizado do que nossas próprias palavras e significados?

O mundo é algo muito absurdo, e por isso mesmo misterioso. As palavras tentam organizar este mundo em conceitos, mas ao mesmo tempo em que nos permite comunicá-lo também nos confunde, já que uma palavra nunca será a coisa.

A impossibilidade de tradução da realidade nos mostra que a linguagem termina por criar a nossa própria realidade, e disso não podemos escapar. Mas é a experiência de estranhamento disso que nos mostra um mundo para além de nossas ideias sobre ele.

Igor Teo é psicanalista e escritor. Para saber mais acesse o seu site pessoal.

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Crédito da imagem: Jason Leung/Unsplash

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28.8.18

Levítico e Parada Gay (Reflexões no YouTube)

Neste vídeo venho estabelecer um diálogo com você, conservador cristão, que ainda carrega essa pedra na mão, e não sabe nem bem porquê. Será que é justificada a liberdade de expressão religiosa em outdoors com certos trechos não muito simpáticos do Levítico, livro do Antigo Testamento bíblico, em relação aos gays? Será que vociferar publicamente esse tipo de opinião não pode contribuir para o aumento da violência contra homossexuais na sociedade? Vem, vamos refletir mais sobre isso...

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23.8.18

Realização

Realização vs. Acomodação .:.

"Quando você se aceita como está, se conforma com as circunstâncias em que vive, baixa a cabeça para antigos hábitos e se acomoda, as dificuldades ganham força, os problemas não tem fim e se repetem aonde quer que vá!

A filosofia aplicada lhe sugere o conhecimento de si, lhe aponta o caminho da auto-observação e contínua transformação.

Se na natureza tudo progride, também tudo no gênero humano deve avançar.

Melhorar a cada dia, crescer a cada etapa, elevar-se a cada ciclo e iluminar-se a cada dia é a missão.

Não nos é pedido 'saltos quânticos', viradas repentinas ou guinadas de 360º, mas sim um consciente caminhar diário, contínuo e consciente.

Na medida do esforço maximiza-se a força.

Na medida da continuidade eleva-se a maturidade.

Na medida do aprofundamento resplandece a realização."

Caciano Camilo Compostela, Monge Rosacruz – Contato: facebook.com/ mongerosacruzcacianocompostela

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Crédito da imagem: Fleur Treurniet/unsplash

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21.8.18

O Sexo e a Morte (Reflexões no YouTube)

Neste vídeo trago uma reflexão sobre a relação entre o sexo e a morte, que nasceram juntos há mais ou menos um bilhão de anos, quando os organismos evoluíram e deixaram de se reproduzir somente pela bipartição, algo que favoreceu muito a evolução das espécies. Também iremos avaliar se a violência ainda tem lugar no sexo sadio, e se as simulações de estupro no xvideos não deveriam ter o mesmo status da zoofilia: isto é, serem ilegais.

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15.8.18

Lançamento: Luz no Caminho

As Edições Textos para Reflexão desta vez trazem a você a obra-prima da teosofista Mabel Collins, Luz no Caminho.

Não foi por acaso, quem sabe, que o grande poeta português Fernando Pessoa escolheu a dedo esta preciosa obra para realizar sua primorosa tradução do inglês. Muitos devem saber que Pessoa foi um místico relutante, e a carta que trazemos na Introdução, endereçada ao seu amigo Sá-Carneiro, nos dá uma bela ideia de como os textos teosóficos o impactaram; e este, talvez mais do que todos os outros. Somente quem já deu seus primeiros passos no Caminho, quem anda devagar porque já teve pressa, quem traz um sorriso porque já chorou demais, poderá aproveitar completamente o teor deste pequeno mistério em forma de palavras.

Disponível em e-book na Amazon e na Saraiva:

Comprar eBook (Amazon Kindle) Comprar eBook (Saraiva Lev)

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À seguir, trazemos os vídeos do canal Nova Acrópole no YouTube, onde a professora Lúcia Helena Galvão faz uma análise minuciosa desta obra inefável (até onde é possível explicá-la por palavras, é claro):

» Comentários dos degraus exotéricos, 1 a 7

» Comentários dos degraus exotéricos, 8 a 16

» Comentários dos degraus exotéricos, 17 a 21 + esotéricos 1 a 3

» Comentários dos degraus esotéricos, 4 a 12

» Comentários dos degraus esotéricos, 13 a 21 (FINAL)


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14.8.18

Amigo de Mago (Reflexões no YouTube)

Nesta primeira edição especial (Special Edition - SE) do Colossi Estúdio Gráfico em parceria com o nosso canal, iremos falar de dragões-fada imaginários, de sistemas modernos de espátulas e de servidores astrais, não necessariamente nessa ordem. Eu gostaria de poder falar mais, mas não quero dar maiores spoilers... Assistam por sua conta e risco!

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7.8.18

O Mito da Caverna no século 21 (Reflexões no YouTube)

Neste vídeo trago uma breve porém detalhada descrição de todos os passos da famosa alegoria da caverna de Platão. Vamos analisar como este antigo mito não só pode, como deve ser transportado para o nosso tempo, o nosso século, e reinterpretado por cada um de nós: pois é somente você quem poderá sair da caverna e ver o mundo lá fora por si mesmo, ninguém poderá fazer esta travessia em seu lugar.

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6.8.18

A psicanálise ainda é necessária?

O mundo moderno nos faz questionar a necessidade de terapia. Afinal, com os avanços da biologia do comportamento, a descoberta das influências químicas sobre o nosso humor, poderíamos trocar anos de análise por um medicamento receitado pelo psiquiatra.

Os tempos modernos exigem também agilidade na solução dos problemas. Não temos tempo para investigar suas causas. Precisamos de uma técnica eficiente, rápida e barata, para logo nos sentirmos funcionando bem.

Será que a psicanálise ainda é necessária nesse mundo? A resposta é sim, mais do que nunca. Há um engano perverso em acreditar que se pode curar-se de um envenenamento ingerindo mais veneno, mas assim agem aqueles que esperam da racionalidade moderna a saída para sofrimentos que são eminentemente modernos.

Por trás da demanda de solução rápida está a própria ansiedade, que sem repensá-la nunca se poderá estar em paz com nada.

Dos comprimidos de felicidade esperam-se mudanças sem responsabilização, como se o destino sempre dependesse de alguém ou algo que não si próprio.

Sócrates havia dito que uma vida sem reflexão é uma vida que não merece ser vivida. Pois parece que aceitamos que, na demanda de praticidade do mundo moderno, em que cada app do seu celular faz o trabalho duro de cem homens, não temos mais por que refletir. Sobretudo refletir sobre nós mesmos.

É preciso reconhecer que o padecimento nos diz outra coisa. Há mais da vida que uma existência irreconhecível, arrastada por um tempo cotidiano incontrolado, em que o contentamento se resume a ansiedade de qual será nosso próximo consumo.

Se alguns pensam monótono, deitar-se no divã do psicanalista resiste hoje como uma oportunidade de aventura para aqueles que ainda ousam desbravar a vida.

Resta algo de místico da psicanálise: o psicanalista como iniciado em sua própria análise sobre os segredos e paradoxos do desejo, e que agora está disposto a receber um neófito para auxiliá-lo em sua jornada pessoal. Há uma sabedoria que se transmite na experiência, que está para além de cursos e livros.

Contra todas as demandas modernas que nos dizem “não pense, apenas faça”, a psicanálise nos convida a refletir sobre a nossa estética existencial. Nosso lugar, escolhas, gozos e perspectivas. Fazendo valer o discurso socrático, é tomar o caminho de uma vida que vale a pena a ser vivida.

Igor Teo é psicanalista e escritor. Para saber mais acesse o seu site pessoal.

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Crédito da imagem: Nine Köpfer/Unsplash

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