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16.12.13

A identidade da luz

Esta história se passa na época em que Shams de Tabriz, célebre místico sufi, havia abandonado Konya rumo a Damasco, voltando a ser um andarilho anônimo. Também participam dela Sultan Walad, filho de Rumi, assim como o jovem estrangeiro, que era um buscador espiritual vindo da França, e o velho teólogo. Não há necessidade de sabermos seus nomes.

Shams havia ganho todas as rodadas do jogo de dados com o jovem estrangeiro, e como isto valia algum dinheiro – não que Shams necessitasse dele –, o jovem estava a ponto de lhe atacar com sua adaga, pois estava certo de estar sendo trapaceado pelo andarilho desconhecido.

É nesse momento que Sultan Walad, primogênito de Jalal ud-Din Rumi, o maior dos poetas sufis e fundador da ordem dos dervixes rodopiantes, adentra a taverna e deposita dois potes cheios de moedas de ouro e prata aos pés de Shams, implorando – em nome do pai – que ele retornasse a Konya.

Foi então que o jovem estrangeiro guardou sua adaga e, se prostrando a sua frente – como se fosse, ele também, um pote – pediu para ser seu discípulo. O jovem havia tomado ciência da magnitude espiritual daquele andarilho que jogara dados em sua companhia. “Certamente foi com ajuda divina que ele ganhou todas as rolagens”, pensou.

Shams, entretanto, pediu que Walad guardasse todo aquele ouro e prata com ele e que o aguardasse de manhã na entrada da taverna, pois ele aceitaria o convite de seu grande amigo.

“E quanto a mim”, perguntou o jovem, “poderei ser seu discípulo? Poderei acompanhá-lo até Konya?”

“Não, pois você terá muito o quê fazer noutro lugar. Mas pode me acompanhar na contemplação da luz da lua.”

E eles saíram da taverna e se embrenharam em uma viela estreita que dava numa praça aberta com alguns arbustos e um velho poço no centro. A luz da lua cheia era tão forte que um leve esbranquiçado pairava sobre todas as coisas da noitinha, e as estrelas pareciam mais tênues.

Shams parou em frente a beirada do poço e, se esticando um pouco, fitou a escuridão abaixo.

“O que você está observando aí embaixo?”

“Venha ver, está para acontecer em breve...”

E então, após alguns minutos de escuridão, uma luz tênue começou a irradiar das águas do poço. Era o reflexo da lua!

O jovem estrangeiro sentiu uma emoção estranha ao encontrar a lua cheia no fundo daquele poço, mas sua emoção foi bruscamente interrompida pelo aconselhamento de um velho teólogo que os havia seguido até ali:

“Bah! Você, andarilho louco, não passa de um infiel, e ainda quer corromper aos jovens... Muito cuidado, meu caro estrangeiro, pois o objeto de nosso louvor deve ser a lua, que está lá no alto da noite, e não o seu reflexo, embrenhado em tal escuridão. Sua infidelidade nasce de um engano, e eu lhe perdoo. Mas não há perdão para você, andarilho, que Allah o castigue!”

E, como Shams não esboçou reação alguma, o velho retornou bamboleando pela rua, e seus resmungos foram se tornando cada vez mais baixinhos, trazidos pela brisa, até que sumiram por completo.

O jovem estrangeiro ficou indeciso sobre em quem confiar. Aquele andarilho místico parecia um feiticeiro, e ele se sentia atraído por sua presença. Mas, seria esta atração fruto de sua magnitude espiritual, ou de sua magia sedutora?

“Antes que me pergunte, devo dizer que o velho estava certo: não devemos confundir a lua com seu reflexo.”

“Mas, então, o que foi isso? Um teste?” – indagou o jovem, crendo que havia falhado...

“Teste? Não eu não faço testes, eu apenas contemplo o mundo. Olhe para o poço mais um momento”.

E, enquanto o jovem observava o reflexo da lua nas águas do poço, Shams cantarolou um breve poema. Ele dizia mais ou menos assim:

Se olhar a sua volta,
poderá encontrar a face de Deus
em cada pequena coisa.
Ele não se esconde numa igreja, mesquita ou sinagoga,
mas se espalha sobre tudo que há.

Ninguém vive após vê-lo face a face.
Ninguém morre após vê-lo face a face.
Aquele que o encontra, permanece com ele
na Eternidade!

Enquanto refletia e se emocionava com tais palavras, o estrangeiro pôde perceber que a imagem da lua refletida começou a arder em chamas alaranjadas e etéreas... Era como se estivesse sonhando... Mas, quando o fogo cresceu e ameaçou jorrar para fora do poço tal qual uma erupção vulcânica, ele se assustou e se jogou ao chão, acovardado.

“Não se preocupe, isto é normal. Ninguém nasce preparado para morrer neste fogo. Nossa vida é um aprendizado para esta morte. Um dia você conseguirá, como eu, de bom grado ser imolado por essas labaredas.”

“Mas, o que era todo aquele fogo? De onde veio essa luz toda?”

“Dos reflexos. A lua que vê no fundo do poço é somente um pálido reflexo da lua verdadeira, que reside no céu. Porém, mesmo esta lua do céu é ainda tão somente um espelho para o sol. É o fogo do sol o que viu, meu rapaz, e sua luz têm a mesma origem e a mesma identidade de todas as outras luzes do mundo; e o Amado está, dessa forma, sempre a nossa volta.

Você está preparado para vê-lo face a face?”

“Não, mas você me ensina?”

E foi isto o que Shams lhe respondeu:

“Retorna à Europa; visita os buscadores de lá, seja o seu líder e recorde-se de nós em suas orações. Não há nada que possa lhe ensinar com palavras que já não tenha sido despertado em seu coração. Busque o fogo, meu amigo, que ele sempre esteve lá, ardendo no poço de sua alma...

Vai e incendeia o mundo!”


raph’13

***

» Saiba mais sobre Shams de Tabriz em Rumi - A dança da alma.

Crédito da imagem: eyesofodysseus

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13.12.13

Uma canção para Mandela

Johnny Clegg é um músico e antropólogo sul-africano que compôs Asimbonanga, uma música de protesto da época em que Nelson Mandela já se encontrava encarcerado há décadas, durante o Apartheid (saiba mais). Clegg teve o prazer de cantar a música juntamente com Mandela no palco, quando ele já se encontrava livre (ver o vídeo). Mas, e agora que Mandela nos deixou?

Bem, hoje a música de Clegg talvez tenha se tornado ainda mais importante, e bela, com a nova liberdade de Mandela, e do próprio povo sul-africano. Isto é, com os negros livres da opressão dos brancos, e os brancos livres da ignorância de seus antepassados...

O vídeo abaixo traz uma bela homenagem da Soweto Gospel Choir, contratada para cantar Asimbonanga em meio a loja de departamentos Woolworths, em plena Joanesburgo:

Abaixo, a tradução da letra (por Rafael Arrais):

Asimbonanga [nós não o vimos]
Asimbonang' uMandela thina [não vimos Mandela]
Laph'ekhona [no lugar onde está]
Laph'ehleli khona [no lugar onde o aprisionaram]

Asimbonanga
Asimbonang 'umfowethu thina [nós não vimos nosso irmão]
Laph'ekhona [no lugar onde está]
Laph'wafela khona [no lugar onde morreu]
Sithi: Hey, wena [nós dizemos: "ei você!"]
Hey, wena nawe ["ei, você e você!"]
Siyofika nini la' siyakhona ["quando chegaremos ao nosso destino?"]


via Yahoo! South Africa


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12.12.13

Por que chora agora?

Que é isso que vejo em seus olhos?
Sou eu quem regresso e não você, querida;
Sou eu quem retorno a Mansão do Amanhã,
e embora já mal me lembre de quem sou
e do que faço aqui neste leito,
sou eu quem me vou a sonhar,
e você quem vai ficar
neste mundo sem sonhos.

E, no entanto, por que chora agora?
Porque chorar por mim que vou?

Talvez, por achar que já não me lembro mais de você
ou de seu nome?
Ora, querida, seu eu pudesse me levantar
e lhe falar uma última vez, eis o que diria:
“Não sei seu nome, nunca soube;
Sei que veio do lugar para onde agora vou.
Sei que lhe amo, e amo seu olhar,
sei que este amor habita a eternidade,
e isso basta!”

E então, algo estranho acontece,
e eu me lembro de quando tinha sua idade –
de quando dei o primeiro beijo em sua mãe.

Querida, por que chora agora?
Será porque eu mesmo também choro
ante tamanha beleza?
Um beijo do passado,
que gerou vida, vida!
Um beijo eterno, eterno!

Olho para o canto da sala, e vejo um bebê engatinhar.
Seria meu neto? Não poderia ser...
Eu sou muito novo para ser avô,
e foi outro dia que andei sozinho pela primeira vez!

Qual será, afinal, a minha idade?
Qual será a idade da eternidade?
Até onde vai, e volta, todo este amor?

Não chore, não chore... Me responda:
“Quando eu retornar da Mansão de onde todos saímos,
poderei ser seu filho, e você minha mãe?
Poderemos ser irmãos ou primos?
Ou melhores amigos?
Ou será que já fomos tudo isso,
e não lembramos mais?”

Num momento, estarei já a caminho...
Quem sabe não encontro sua mãe por lá,
e a convido para nossa próxima brincadeira!

Há tanta luz, e tanta beleza,
quando percebemos a vida pelo que ela é –
assim nos damos conta de que passamos boa parte dela
com medo do fim;
e não existe fim...

Então, por que chora agora?


raph'13 (após Zambujo)

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Crédito da foto: krausjr

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11.12.13

Lançamento: O Profeta

As Edições Textos para Reflexão tem o orgulho de lhes trazer O Profeta, a obra prima de Gibran Khalil Gibran, traduzida do original em inglês por Rafael Arrais.

Gibran é o tipo de escritor que trabalha no limite da linguagem, quando as palavras, apesar de serem apenas cascas de sentimento, conseguem ainda assim trazer um resquício do gosto e do perfume dos frutos que crescem além do tempo, no interior da alma. O Profeta já foi traduzido para mais de 30 idiomas e lido por milhões de pessoas em todo o mundo. Dentre estas há, quem sabe, milhares que o elegeram um livro de cabeceira, para onde retornam cada vez que sentem saudades da primavera.

Um livro digital já disponível para o Amazon Kindle e o Kobo:

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Abaixo, segue um dos capítulos do livro, onde Almustafa, o eleito e amado, fala sobre a Liberdade:

E LHE DISSE um orador, “nos fale da Liberdade”.
E ele respondeu:
“Nos portões da cidade e no aconchego de seus lares, eu os vi prostrados a adorar sua própria liberdade,
Como escravos que se rebaixam perante um tirano e os glorificam, ainda que ele os destrua lentamente.
Sim, no bosque do templo e pela sombra da cidadela eu tenho observado aos mais livres dentre vocês vestirem sua liberdade como o preso coloca suas algemas.
E meu coração sangrou em meu interior; pois vocês só poderão ser libertos quando até mesmo o desejo de liberdade deixar de ser um jugo, e quando cessarem de falar dela como se fala de uma meta e de um fim.
Vocês serão livres, em realidade, quando se livrarem das preocupações dos dias e dos desejos e aflições das noites;
E assim, mesmo quando essas coisas sobrecarregarem suas vidas, vocês se elevarão acima delas, desnudos e desatados de todos os seus nós.

E como vocês se elevarão acima dos seus dias e noites a menos que partam as correntes com as quais, na aurora de sua compreensão, vocês se ataram as suas horas passadas?
Na verdade, isto que chamam “liberdade” é a mais pesada dessas correntes, embora seus anéis cintilem ao sol e ofusquem os seus olhos.

E o que são senão fragmentos de si próprios aquilo do que vocês buscam se livrar para se tornarem libertos?
Se é uma lei injusta o que buscam abolir, lembrem-se de que esta lei foi escrita por suas próprias mãos em suas próprias frontes.
Vocês não podem apaga-la pela queima de seus códigos de leis ou por lavarem as faces de seus juízes, embora derramem todo o mar sobre eles.
E se é um déspota que desejam destronar, cerifiquem-se primeiro de que o trono erguido em seus interiores já se encontre destruído.
Pois como poderia um tirano dominar os livres e os orgulhosos se estes já não possuíssem uma tirania em sua própria liberdade e uma vergonha em seu próprio orgulho?
E se é uma preocupação o que desejam eliminar, esta preocupação não lhes foi imposta, mas sim escolhida por vocês mesmos.
E se é um medo o que desejam dissipar, o trono deste medo está em seu coração e não nos lugares assombrados.

Em realidade, todas essas coisas se movem em seus interiores em constante meio enlace – o que é desejado e o que é temido, o que é repugnante e o que é atrativo, o que buscam e o que lhes inspira a fuga.
Tais coisas se movem em seu ser como luzes e sombras, em pares estreitamente unidos.
E quando a sombra se dissipa e já não está mais lá, a luz que ainda perdura se torna a sombra de uma outra luz.
E assim é que a sua liberdade, quando se livra de seus grilhões, se torna ela mesma um grilhão para uma liberdade ainda maior.”


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2.12.13

O último suspiro

Se há uma lenda que me incomoda é a lenda da luta eterna entre a fé e a razão, a ciência e a espiritualidade. Não acho que seja assim, não creio em tal lenda, acho que foi inventada e têm sido constantemente anunciada exatamente por aqueles que beberam somente das águas paradas no charco em torno do córrego do Cosmos. Era preciso encharcar as galochas, era preciso avançar sobre o matagal, era preciso ter a água até a cintura e, só então, ter coragem para mergulhar.

Mas não mergulharam, e acharam que a ciência era somente uma descrição mecanicista da natureza, um mero conjunto de equações; E acharam, isto também, que a espiritualidade era somente o que este ou aquele deus dizia que fosse, um mísero conjunto de orações para se decorar, e anedotas para se contar na mesa de jantar pouco antes da ceia de Natal.

Ah, os eclesiásticos, eles querem nos convencer de que há algum Deus que pode ser enclausurado nas paredes de seus templos, e ser obrigado a escutar, agachado e sem poder dançar, a toda a sua lenga lenga escrita em tomos de capas douradas e encenada com mantos de pura seda. Mas foi exatamente um de seus filhos que orou nos desertos, e que nos falou que ele estava espalhado por tudo o que há, e que os ventos traziam seu perfume.

E os acadêmicos? Eles querem passar em seus vestibulares e publicar suas pesquisas minuciosas nas revistas mais badaladas. Eles querem provar suas teorias do tudo, e as esfregar na cara de todos aqueles que ainda ousam acender uma vela para um santo ou orixá. O que ganham com isso? Melhor seria se eles mesmos acendessem suas velas para os deuses – o deus da Gravidade, o deus da Eletricidade, o deus da Energia Escura. Há muitos e muitos deuses pelo Infinito!

Mas quem, como Feynman, apenas se deleita em conhecer um pouco mais acerca da inefável natureza da Natureza? Quem, como Feynman, já compreendeu que, ao final da vida, não haverá nenhum Professor para lhes fazer um questionário final, nenhuma média que precise ser alcançada e nenhuma teoria que precise ser comprovada. E, da mesma forma, tampouco haverá algum Juiz para lhes decretar o caminho do Céu ou do Inferno.

O Inferno já existe na mente daqueles que o temem, ou que já desistiram deste mundo. No Céu, afinal, entraremos todos de mãos dadas. E, de fato, já estamos caminhando de mãos dadas. Só que, quando os da frente tropeçam, nem sempre os que lhes davam a mão se mantém firmes e o seguram onde estava. É por isso que todos tropeçam nas mesmas pedras e vagueiam em zigue-zague pela existência, cada qual procurando ser o Super-homem capaz de vencer todos os erros do ser humano.

Ah Nietzsche! Quão pouco faltou para compreender... O Super-homem não era um homem só acima dos demais, mas uma comunidade que se torna maior por pensar na mesma vibração e amar o mesmo horizonte. Esqueçamos também o que disseram o primeiro e o segundo zaratustras, eles também ficaram velhos, e o rio que corre hoje não é mais o mesmo que correu há mais de um século.

E se Deus está morto, que o façamos ressuscitar, ou reencarnar nalgum outro deus – contanto que tenha espaço para dançar, pois nisso o bigodudo estava certo!

Deus e Natureza, afinal, são apenas palavras, e as palavras deveriam servir para o entendimento dos homens e mulheres, jamais para o seu afastamento. Se os cientistas observam as estrelas mais distantes em seus aglomerados galácticos, se valendo de suas lunetas tão modernas, também os espiritualistas observam a fundo, e cada vez mais fundo, o abismo de suas próprias almas.

E o que falta, senão mergulharem? Senão construírem naves espaciais e barcos mitológicos para navegarem para dentro e para fora de si mesmos? “Deus ao mar o abismo e o perigo deu, mas nele é que espelhou o Céu”, disse o poeta que também foi navegante...

Os tempos já são chegados e a Natureza já dá os seus sinais. Extraímos metade do petróleo existente na Terra, e em poucas gerações iremos nos digladiar por água doce. Não há mais tanto tempo assim. Não é que o mundo esteja ameaçado, somos apenas nós, os seres humanos, que temos cada vez menos tempo para ajustar as coisas.

E, se não vamos mais ao Coliseu ver feras devorando escravos, disso não podemos nos abster de comemorar... Mas, como sabemos, ainda é cedo para que tenhamos a batalha por ganha. O animal ainda se esgueira pelos charcos da alma humana, e sem o fogo, sem a morte e o renascimento, estaremos fadados a continuar repetindo os caminhos em círculo de nossos ancestrais.

Se existe Deus ou o neutrino, quem vai saber? O desconhecido inexistente é idêntico ao existente. Quem já deu alguns passos neste Caminho, no entanto, sabe. Como Agostinho sabia: “Amanhã, amanhã? E porque não hoje?”.

Demoramos tantas eras, tantas gerações e vidas, para chegar até aqui. E quanto mais sabemos, mas há por saber. Mas sabemos! Sabemos que o Infinito fica ali, logo adiante, logo após o horizonte.

Até quando ficaremos separados, nos digladiando em nossas caixas de areia, enquanto há tantos bosques, prados e montanhas tão maiores? Muito maiores...

E quem já deu alguns passos neste Caminho, quem já subiu na beirada do monte, quem já viu de relance o serpentear do córrego do Ser pelas escarpas longínquas do verdadeiro Paraíso sabe.

E dá um último suspiro, e este suspiro é tudo o que os demais precisam experimentar.

Para viver na imensidão, é preciso antes morrer em si e para si.

***

Crédito da foto: Oleg Oprisco

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