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31.8.11

A árvore da vida: criação

Em "A árvore da vida" (The tree of life) o diretor Terrence Malick nos traz uma inebriante experiência existencial. Podem gostar ou não do seu estilo de narrativa "trêmula e sussurrante", mas acredito que seja unanimidade a opnião de que as cenas da Natureza, em suas criações (e renovações) incessantes, sejam algumas das mais belas da história do cinema. Abaixo, temos algumas delas (veja com calma, saboreando-as):

O filme estreou nos cinemas brasileiros em Agosto de 2011


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Links Mayhem (27)

O Projeto Mayhem foi criado em Março de 2010 como centro de debates e discussões sobre temas Ocultistas e Herméticos. Agora, toda semana, os participantes do projeto divulgam os links mais interessantes para artigos nos blogs de outros participantes:

- Teoria da Conspiração - Uma Visão de Mundo
- Artigo 19 - Arcanos Maiores
- Universo Paralelo - Compiladão de filmes ocultistas/filosóficos
- Diário do Adeptu - O destruidor, o transformador, Lord Shiva
- O Alvorecer - A Sabedoria Antiga
- O Arcano 21 - Caminhos não tão fáceis como se imagina (parte 2)
- Labirinto da Mente - Hipácia de Alexandria, vítima do fanatismo cristão
- Idéia Biruta - Algo Quer
- Jedi Teraphim - A espécie fabuladora
- Tudo sobre Magia e Ocultismo - Mandrágora
- Hermetic Rose - Silencioso e Sombrio
- Hermetic Rose - Sobre as mandrágoras

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30.8.11

Poeira ao vento

Filme de 1977, por Timothy L. Johnson, que serve como belo pano de fundo para a memorável música "Dust in the wind", da banda Kansas; Uma verdadeira celebração da vida, de sua transitoriedade, e do único momento que temos, este aqui:

Eu fecho meus olhos
Apenas por um momento
E o momento se vai
Todos os meus sonhos
Passam diante dos olhos, uma curiosidade...
Poeira ao vento
Tudo que eles são é poeira ao vento

A mesma velha música
Apenas uma gota d'água
Em um mar infindável
Tudo o que fazemos
Se esvai ao solo
Embora nos recusemos a ver...
Poeira ao vento
Tudo o que somos é poeira ao vento, [ohh]

Agora, não fique aí parado
Nada dura para sempre
Apenas o céu e a terra...
Tudo escorre entre os dedos
E todo o seu dinheiro
Não comprará sequer outro minuto
Poeira ao vento
Tudo o que somos é poeira ao vento [x2]
Poeira ao vento
Tudo é poeira ao vento [x2]
O vento.

Poeira ao vento (Dust in the wind). Tradução do inglês por Rafael Arrais.

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26.8.11

Levítico: pedras não faltarão

Em agosto de 2011, na véspera da Parada do Orgulho Gay de Ribeirão Preto, a Justiça mandou retirar da rua um outdoor considerado homofóbico. O outdoor foi feito pela Casa de Oração de Ribeirão Preto e continha citações bíblicas, entre elas uma do livro de Levítico: "se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável...".

Em sua decisão, o juiz que julgou o caso afirmou que "a Constituição Federal protege a conduta do réu de expor suas opiniões pessoais, mas, ao mesmo tempo, também protege a intimidade, honra e imagem das pessoas quando violadas". Um dia antes da realização da parada gay em Ribeirão Preto, o outdoor foi retirado.

Nos diversos portais de notícias onde essa informação foi divulgada, podemos observar a habitual animosidade entre os defensores dos homossexuais e os pretensos “defensores da liberdade de expressão”. Esses últimos costumam afirmar algo mais ou menos assim – o que pode se estender não somente para este caso, como para inúmeros outros:

Da mesma maneira que o homossexual tem o direito de viver sua vida como lhe apraz e os simpatizantes dessa conduta demonstrarem sua simpatia, também aqueles que não apoiam esse comportamento devem ter direito a voz e opinião, é simples assim, um peso e uma medida para todos. Parada gay pode, mensagem bíblica em outdoor não pode?

Costumam simpatizar com esse ponto de vista todos aqueles que pensam que “está na moda ser gay”, ou que “defender os gays agora é o politicamente correto”; ou ainda que “precisamos agora é de uma Parada do Orgulho Hetero!”. Se você por acaso também pensa assim, me desculpe, mas acho que precisará rever um pouco os seus conceitos...

Abra a bíblia, e leia
O Levítico é o terceiro livro do Antigo Testamento, cujo autor supostamente é Moisés, inspirado diretamente por Javé (Deus). Basicamente é um livro teocrático, isto é, seu caráter é legislativo; possuí ainda o ritual dos sacrifícios, as normas que diferenciam o puro do impuro, a lei da santidade e o calendário litúrgico entre outras normas e legislações que regulariam a religião. Obviamente, se trata de uma legislação compatível com um povo parcialmente nômade que sobrevivia nos desertos do Oriente Médio há mais de 2 mil anos atrás.

Se reparar bem, a mensagem do outdoor de Ribeirão Preto está incompleta, o versículo completo se lê assim: Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles (Le 20:13).

Como podem ver, no deserto não haviam prisões e, infelizmente, o Deus de Moisés determinava que essas e outras “faltas” fossem punidas com a morte – não se sabe ao certo se pela mão dos homens, ou do próprio Deus.

Ocorre que, esta não é a única “falta” passível de tal punição. Existem muitas, muitas outras...

Algumas “faltas”, segundo o Levítico
- Tatuagens, nem pensar... Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós (Le 19:28).
- É preciso muito cuidado com a forma que cortamos o cabelo... Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba (Le 19:27).
- A cada menstruação, passados 8 dias será necessário sacrificar dois pombos para a purificação da mulher... Quando, pois, o que tem o fluxo, estiver limpo do seu fluxo, contar-se-ão sete dias para a sua purificação [...] E ao oitavo dia tomará duas rolas ou dois pombinhos, e virá perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação e os dará ao sacerdote (Le 15:13-14).
- Comer carne de porco? Deus me livre... Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se divide em duas, mas não rumina; este vos será imundo (Le 11:7).
- Muito cuidado antes de consultar um “feiticeiro” [1]... Quando alguém se virar para os necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu porei a minha face contra ele, e o extirparei do meio do seu povo (Le 20:6).
- Mulher casada? Sai fora... Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera (Le 20:10).
- Se por acaso acha sua sogra bonitinha, tire imediatamente este pensamento da cabeça... E, quando um homem tomar uma mulher e a sua mãe, maldade é; a ele e a elas queimarão com fogo, para que não haja maldade no meio de vós (Le 20:14).

Bem, acho que já deu para ter uma ideia do “problema” não? Repare, inclusive, que as 3 últimas “faltas” da lista acima foram retiradas praticamente da mesma página onde se encontra o versículo do outdoor.

Você pode dizer que eu estou apenas citando versículos fora de contexto, que não tenho “a exegese necessária para a interpretação da bíblia”, mas então eu lhe pergunto: e por acaso os versículos do outdoor não estavam mais fora de contexto ainda?

Pois, me parece que numa interpretação mais aprofundada, não seriam somente os homossexuais que mereceriam a morte, mas no mínimo também os adúlteros, os que se consultam com “feiticeiros” e, quem sabe, até mesmo aqueles que comem carne de porco na churrascaria...

Atire a primeira pedra...
No entanto, estranho de se pensar, no mesmo Levítico encontramos ensinamentos do tipo: “Não oprimir os estrangeiros” (Le 19:33); “Não amaldiçoar os deficientes” (Le 19:14); “Não se vingar” e “Amar o próximo como a si mesmo” (Le 19:18).

Não quero aqui discutir se Moisés conseguiu ou não receber as leis de Javé na forma correta, ou ainda se era o próprio Javé quem parecia ter algum problema em elaborar leis que fizessem algum sentido, mas, antes, lembrar do doce Rabi da Galiléia, que nos disse:

Atire a primeira pedra quem não houver pecado.

Será mesmo que o temos escutado? Será mesmo que temos sido cristãos, ou ainda estamos perambulando pelas tribos de Israel, ainda mais no “olho por olho, e dente por dente”, do que no “ama ao próximo de todo o teu coração”?

Errar o alvo
Podemos interpretar as “faltas” mencionadas acima como pecados, sem dúvida.

A origem etimológica da palavra “pecado” remete a um conceito até mesmo bastante simples: errar o alvo. Errar o alvo! Sim, como quem gostaria muito de estar agindo acertadamente mas, seja por ignorância do bem, ou do que quer que seja “o certo”, ainda tem errado o alvo...

Agora, eu te pergunto: quem será que tem errado o alvo por uma distância maior? Aqueles que se dizem cristãos, mas que se aventuram em cruzadas e guerras santas, esquartejando infiéis e fendendo grávidas, ou os pacíficos que atendem a “feiticeiros”? Aqueles que se dizem cristãos, mas traem as esposas, e às vezes até humilham e batem nas esposas, ou os pacíficos que, embora em relações homossexuais, procuram adotar crianças necessitadas? Aqueles que se dizem cristãos, mas julgam “pecadores e condenados a queimar eternamente num lago de enxofre” todos aqueles que cometem às menores faltas, embora não vejam as inúmeras traves a obstruir a própria visão, ou os pacíficos que valorizam a liberdade acima de tudo, e deixam que cada um leve sua própria vida da forma que achar melhor?

Antes de atirar a primeira pedra, cerifique-se de que você mesmo não esteja a errar o alvo – ainda mais do que aqueles a quem as pedras estão endereçadas... Pode ser que mude de ideia, e opte por deixar a pedra cair ao chão, inofensiva. Se, no entanto, não mudar, que Deus tenha piedade de nós, pois pedras não faltarão, e nem alvos.

Você não precisa viver pensando nas “faltas alheias”
Sobretudo, ao encontrar com um homossexual, lembre-se que ele não passa metade da vida fazendo sexo... Mas, ainda que fosse o caso, isso não o impediria de lidar com ele de forma civilizada (supondo, é claro, que ele também seja civilizado): você não precisa apertar a mão de um homossexual imaginando onde ele a tem colocado; você não precisa sentar ao lado de um homossexual imaginando onde ele tem sentado; você não precisa abraçar um homossexual imaginando quaisquer espécies de práticas sexuais “heterodoxas”, pois um abraço é um ato amoroso, e não sexual; e, sobretudo, você não precisa passear na rua próxima a uma Parada Gay – haverão inúmeras outras oportunidades no ano para tal.

Os estrangeiros
Voltando ao Levítico: não oprimais os estrangeiros. Sejam os estrangeiros de sua terra, sejam os estrangeiros de sua cultura, sejam os estrangeiros de sua raça, sejam os estrangeiros de sua crença, sejam os estrangeiros de sua opção sexual.

Se Javé é mesmo o Senhor, ele é o Senhor de todos nós.


Eu sou heterossexual, casado há quase uma década... Não me preocupo nem um pouco com o que homossexuais fazem ou deixam de fazer em suas camas, mas me preocupo com as pessoas que os acham "abomináveis", verdadeiros estrangeiros de si próprias, quase como se fossem demônios ou seres a parte... Como deve ser complicado viver cruzando com demônios imaginários em todos os cantos!

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Obs (1): Você pode conferir facilmente todas as citações de versículos do Levítico na Bíblia Online.

Obs (2): Há um consenso atual, mesmo entre os defensores dos direitos homossexuais, de que a Parada Gay se tornou uma espécie de "micareta de carnaval" no Brasil (e provavelmente em boa parte do Ocidente), que retrata os homossexuais como "fanáticos sexuais em busca de sexo fácil e go-go-boys", não exatamente como a maioria deles realmente é: casais como quaisquer outros, que as vezes até criam crianças adotadas, e a noite vão a restaurantes e não a casas de swing. Porém, ainda assim na Parada Gay não há violência, e qualquer manifestação popular onde não haja violência ou depredação do patrimônio público deve ser respeitada em um estado democrático. Ou, em outras palavras, as mesmas críticas que cabem a promiscuidade em uma Parada Gay, cabem igualmente a promiscuidade dos bailes de Carnaval e afins (onde a maioria é heterossexual).

[1] Existem inúmeras discussões acerca do que “feiticeiros e necromantes” significavam exatamente no contexto da época. Em todo caso, é bastante conveniente para os que interpretam a bíblia ao pé da letra considerar “feiticeiros” praticamente qualquer praticante de uma religião situada (teoricamente) fora do cristianismo.

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Crédito das imagens: [topo] Agência O Globo (este é o outdoor vetado pela Justiça em Ribeirão Preto); [ao longo] Ted Horowitz/Corbis.

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Links Mayhem (26)

O Projeto Mayhem foi criado em Março de 2010 como centro de debates e discussões sobre temas Ocultistas e Herméticos. Agora, toda semana, os participantes do projeto divulgam os links mais interessantes para artigos nos blogs de outros participantes:

- Teoria da Conspiração - Michelangelo, Yod-Heh-Vav-Heh e Deus
- Tudo sobre Magia e Ocultismo - Hecate
- Jedi Teraphim - O simbolismo da Rosacruz
- Idéia Biruta - Algo Pensa
- Diário do Adeptu - O lado oculto de lanterna verde: o filme
- Artigo 19 - Fabula Cherokee dos dois lobos
- Labirinto da Mente - Os Ciclos Naturais e as Criações Humanas
- Universo Paralelo - O Monstro
- Morada Secreta - Caminhos não tão fáceis como se imagina
- Hermetic Rose - Silencioso e Sombrio
- O Alvorecer - O que é Gnose?

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Super Homens

Nesta palestra no TED, Harvey Fineberg, especialista em ética médica, nos mostra três caminhos para a espécie humana em evolução constante: parar de evoluir por completo; evoluir naturalmente; ou controlar os próximos passos da evolução humana, usando modificações genéticas para nos tornar mais espertos, rápidos e melhores.

Fineberg chama a tal conceito de neo-evolução, porém a neo-evolução já é um conceito bem mais antigo. Não devemos confundir um com o outro, portanto... No caso de Fineberg a neo-evolução está estritamente ligada a modificações genéticas induzidas pela ciência:

A discussão ética acerca do uso desse tipo de modificação remete a origem do herói Capitão América, que através de um processo "mágico" se torna um Super Homem. Seus criadores, entretanto, evitaram tal questão fazendo com que o processo (o soro do supersoldado) só funcionasse uma única vez... Agora, imaginem um soro do supersoldado que poderá ser aplicado a vontade, em quem quer que tenha recursos disponíveis para pagar por ele? Certamente não era essa a ideia que Nietzsche tinha do Super Homem.

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24.8.11

Frases (7)

Mais frases que vem e vão, e por vezes as consigo agarrar, geralmente primeiro aparecem no meu twitter, depois aqui:

"A diferença entre nós e os seres de Acima é que eles não criam peixes em aquários apenas para se divertir ou decorar seus quartos."

"Os seres de Acima sabem que os peixes do aquário um dia serão como eles, e ainda muito mais... Quanto antes, quanto menos dolorido e mais amoroso o caminho, tanto melhor."

"Qual a previsão do presente?"


"Eu escrevo para melhorar a vizinhança. Quanto melhor a vizinhança, melhor o condomínio do mundo."

"A dúvida sem dúvida faz parte de um mundo em constante mudança."

"Quando mergulhamos nalgum canto da eternidade, não há nada a temer, nem nada a duvidar - pois não há nada a se pensar, apenas a se sentir!"


"Se tempo é dinheiro, o dinheiro é relativo."

"Quem doa amor, nada perde: ganha mais. É que o amor empresta sua essência do infinito, e a matemática do infinito está além da razão."

"Da próxima vez que algém lhe disser: vivo totalmente sem fé, pergunte onde ele guarda suas moedas de ouro."


"Quando descreve a natureza física, a matemática é ciência. Quando descreve a imaginação humana, ela é arte. Quando descreve o infinito, ela é sagrada."

"Existe enorme diferença entre ter o hobby de não colecionar selos, e o hobby de criticar ferozmente toda e qualquer coleção." [1]

"Diferença entre um humanista secular e um espiritualista: um defende o espírito humano enquanto encarnado, o outro o defende onde quer que vá."


"Um dia também acreditamos piamente que o Sol girava em torno da Terra, mas esse dia está nesse momento tão distante que se perdeu de nossa consciência atual."

"Aquele quem primeiro afirmou que era a Terra que girava em torno do Sol: era aqui um louco e, nas estrelas, mais um que despertou."

"Assim parece ocorrer: não encontramos a verdade talhada em pedra, despertamos para ela. Um sonho de cada vez..."


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[1] Alguns anti-teístas afirmam que apenas tem o hobby de não colecionar selos...

Crédito da imagem: do mestre da filosofia sequencial, Laerte.

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19.8.11

A medida de todas as coisas

Desde que a pitonisa do templo de Apolo afirmou que Sócrates era o homem mais sábio da Grécia, ele se dedicou a procurar saber quem era realmente sábio, e quem se julgava sábio, mas não era. A suspeita de Sócrates era simples: ele mesmo não se julgava sábio, portanto se os deuses afirmavam que o era, a única explicação era a de que a sua parca sabedoria advinha do fato de reconhecer a própria ignorância. O mundo era muito vasto, e o grande sábio da Grécia era sábio exatamente por perceber que ainda havia muito por ser descoberto – não era possível julgar-se coisa alguma no ramo da sabedoria, ou pelo menos não no sentido de estarmos numa posição superior aos demais.

Era uma época privilegiada da civilização Grega, por todo o lado surgiam grandes pensadores e, como não poderia deixar de ser, diversas teorias diferentes que tentavam explicar o mundo. Talvez o pensamento mais revolucionário da época – para o bem ou para o mal – tenha sido o sofismo. Até o surgimento dos sofistas, a educação grega (paideia) não fazia distinções entre religião e cultura – estava profundamente enraizada na religiosidade. Mas eis que surge o sofismo, e com ela uma nova forma de se pensar a educação: não mais um conceito de formação moral, enraizado nos valores absolutos transmitidos pelos deuses, mas um método de conhecimento do mundo, de organização dos diversos “saberes”, relativo em seus valores morais, assim como cada grupo de homens e, em última instância, cada indivíduo, traz consigo a sua própria visão de mundo – sua própria moral, independente dos deuses.

Sócrates se dedicou a demolir os argumentos de cada sofista que passou por seu caminho em Atenas. Perante sua sabedoria enraizada em campos elevados, seus argumentos eram como bodes mancos incapazes de subir as encostas de uma colina... Ante a máxima de Protágoras, um dos grandes dentre a escola sofística – o homem é a medida de todas as coisas –, Sócrates sai-se com uma outra máxima, que segundo muitos lhe é amplamente superior – a medida de todas as coisas é Deus.

É muito fácil, hoje em dia, interpretar tais afirmações de forma superficial, e fora de seu contexto. Pode-se, dessa forma, até mesmo imaginar que Protágoras e os sofistas eram prepotentes e ateístas, enquanto que Sócrates era o grande sábio temente a Deus... Porém, ambos, tanto Sócrates quanto Protágoras, foram acusados de ateísmo. A diferença é que Protágoras fugiu para a Sicília, impondo-se um auto-exílio, enquanto que Sócrates preferiu aceitar a punição máxima da morte por ingestão de veneno, embora tenha lhe sido ofertada a opção do exílio...

Não se discute que Sócrates foi um homem muito mais sábio, nobre, e relevante para a história da cultura ocidental, do que Protágoras – ele obviamente o foi. Porém, não se deve julgar todos os sofistas apenas por aquilo que se mostra deles nos livros de Platão. Em realidade, aqueles não eram sofistas na real acepção de seu lema (humanistas em essência), do contrário seriam grandes amigos de Sócrates, e não aqueles que ele caça em meio às ruas de Atenas, ansioso por demonstrar-lhes os equívocos de suas “suposições do grande saber”.

Com o sofismo surgiram os primeiros pedagogos e os primeiros advogados de que se tem notícia na história. Tratavam-se de homens que dedicavam a vida a estudar o conjunto dos conhecimentos e saberes, e então vendiam seus ensinamentos aos homens abastados, particularmente aqueles que se interessavam pela oratória ou pela política. Ora, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos, mais consta que sobrevivia do auxílio de seus discípulos. Pode-se então imaginar Sócrates como um “mendigo sábio”, e os sofistas como enganadores e quem sabe até ladrões... Mas em realidade todos tiveram seu devido papel na história.

É sabido que Sócrates não confiava muito na “sabedoria escrita”. Acreditava que os discursos escritos não tinham como defender a si próprios da argumentação alheia, eram demasiadamente estáticos e, portanto, impróprios para uma reflexão aprofundada do Cosmos. Ora, é claro que Sócrates tinha razão, mas o problema é que o mundo vinha já crescendo, e os conhecimentos humanos com ele; Também se fazia necessária à devida “catalogação” dos saberes, a organização dos processos de ensino, enfim, o surgimento da pedagogia.

Se hoje existem mestrados, doutorados e áreas de especialização nas mais diversas disciplinas, não se enganem: também devemos isso aos sofistas, e bem mais do que a Sócrates. Entretanto, a questão parece estar em não abandonar a sabedoria, em não esquecer da espiritualidade, nos afogando em meio à pura racionalidade dos sistemas de conhecimento humanos. No fundo, Sócrates também tinha razão numa coisa: existem coisas que os livros jamais poderão nos ensinar.

Sim, o homem pode mesmo ser a medida de todas as coisas, mas tão somente no sentido de que é o homem quem interpreta todas as coisas, e é através dele que elas são efetivamente medidas. Mas sabemos que no mundo existem muitas e muitas coisas que estão além da medida, que não se equacionam, e que tampouco puderam nalgum dia serem medidas. Coisas como o amor, a ética e a poesia parecem pertencer a um outro reino, muito no alto das montanhas, além de nossa capacidade de catalogação – eis as coisas que residem no mundo das idéias, na terra da essência e não da transitoriedade. As coisas medidas por Deus.

O homem, porém, está no mundo, vive no mundo, lida com o mundo. Se ele consegue perceber a essência divina das coisas, da mesma forma parece conseguir organizar o próprio conhecimento dessa percepção, e medir o infinito por sua própria medida – humana!

Existem, portanto, essas duas lentes para se enxergar o Cosmos: uma lente que enxerga os sentidos e essências e outra lente capaz de observar os mecanismos e conhecimentos. Para muitos seres a vida sem a primeira lente pode ser insuportável e cinzenta; Mas há ainda outros que parecem ignorar a falta desta primeira lente por completo, e se dedicar apenas a uma imensa “catalogação” das cores do Cosmos. Seja como for, embora a segunda lente se faça até mesmo mais necessária quando consideramos uma vida em sociedades de conhecimento, o ideal me parece ser podermos contar com ambas. Contar com o humanismo dos sofistas e a espiritualidade dos sábios – ver tudo o que há para ver na imensidão infinita. E medir...

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Crédito da foto: Louie Psihoyos/Science Faction/Corbis

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18.8.11

Enquanto isso, na ECO 92...

Talvez você já tenha visto este vídeo, ele se tornou um "viral" popularmente chamado de "The girl who silenced the world for 6 minutes" (A garota que silenciou o mundo por 6 minutos), e traz a mensagem, quase uma espécie de sermão, de uma garota canadense do alto de seus 12 anos. Como estava em plena ECO 92, no Rio de Janeiro, é óbvio que se trata também de uma mensagem ecológica - no entanto, faz bem sairmos do "rótulo ecológico", que as vezes mais afasta do que atrai as pessoas para reflexões mais profundas, e analisarmos este vídeo com mais calma. Particularmente, os olhares e as expressões dos representantes dos países de todo o mundo. Um mundo pequeno, no fim das contas:

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Você pode pensar que de lá para cá pouca coisa mudou, e não estará totalmente errado. Mas o pouco que foi mudado não deve ser considerado irrelevante... Talvez a maior conquista tenha sido a solução do problema da emissão de CFC na atmosfera, o que praticamente "estacionou" a destruição da camada de ozônio. Mas se analisarmos as promessas que as pesquisas em novas formas de captação de energia, não haverá tanta razão para sermos pessimistas em relação ao futuro... Muito embora, obviamente, muitas das consequencias dos danos ambientais não possam mais ser remediadas, apenas postergadas e/ou mitigadas.

Quanto a garota: Severn Cullis-Suzuki continua sendo uma ativista ambiental, apresentadora de TV e escritora.

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Já que estamos falando de ecologia, talvez queira assinar a petição da AVAAZ para manisfestar o desejo da população brasileira (quase 80%, segundo pesquisas) de que a presidente Dilma vete a vergonha institucionalizada que é esse Novo Código Florestal. Ou pelo menos que vete a anistia aos desmatadores...

» Assine a petição da AVAAZ pedindo o veto a Dilma


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- Paradigma Divino - Arquétipos: Você conhece este homem?
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- Diário do Adeptu - Olha mãe, tô fazendo Projeção Astral
- Autoconhecimento & Liberdade - O que é ego?
- Artigo 19 - 2 Anos de Artigo 19
- Legio Mundi
- O Alvorecer

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