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28.11.13

Banksy!

Banksy é o pseudônimo de um dos maiores grafiteiros da história, provavelmente nascido na Inglaterra. Sua arte de rua é uma crítica inteligente e, por vezes, bastante ácida, da moderna sociedade de consumo e do atual sistema financeiro mundial. É um autoproclamado vândalo que nunca atirou uma pedra sequer em vidraça alguma. Há uma pequena chance de que Banksy seja somente uma única pessoa...

Nós criamos uma galeria em nossa página do Facebook com algumas de suas obras mais interessantes e sugestivas:

Veja a galeria com a arte de Banksy

***

Abaixo traremos algumas citações atribuídas a Banksy [1]:


Eu vou falar o que penso, então isto não vai ser nada demorado.

Ao contrário do que dizem por aí, o grafite não é a mais baixa forma de arte. Embora seja necessário se esgueirar pela noite e mentir para a mãe, grafitar é, na verdade, uma das mais honestas formas de arte disponíveis. Não existe elitismo ou badalação, o grafite fica exposto nos melhores muros e paredes que a cidade tem a oferecer e ninguém fica de fora por causa do preço do ingresso.

Um muro sempre foi o melhor lugar para divulgar o seu trabalho.

As pessoas que mandam nas cidades não entendem o grafite porque acham que nada tem o direito de existir se não gerar lucro, o que torna a opinião delas desprezível.

Essas pessoas dizem que o grafite assusta o público e é um símbolo do declínio da sociedade. O perigo, porém, só existe na cabeça de três tipos de indivíduos: políticos, publicitários e grafiteiros.

Quem realmente desfigura nossos bairros são as empresas que rabiscam slogans gigantes em prédios e ônibus tentando fazer com que nos sintamos inadequados se não comprarmos seus produtos. Elas acreditam ter o direito de gritar sua mensagem na cara de todo mundo em qualquer superfície disponível, sem que ninguém tenha o direito de resposta. Bem, elas começaram a briga e a parede é a arma escolhida para revidar.

Algumas pessoas se tornam policiais porque querem fazer do mundo um lugar melhor. Algumas pessoas se tornam vândalos porque querem fazer do mundo um lugar visualmente melhor.

***

Imagine uma cidade em que o grafite não é ilegal, uma cidade em que qualquer um pode desenhar onde quiser. Onde cada rua seja inundada de milhões de cores e frases curtas. Onde esperar no ponto de ônibus não seja uma coisa chata. Uma cidade que pareça uma festa para a qual todos foram convidados, não apenas as autoridades e os figurões dos grandes empreendimentos.

Imagine uma cidade como esta e não encoste na parede – a tinta está fresca.

***

A raça humana promove o tipo mais estúpido e injusto de corrida. Muitos dos corredores não calçam um tênis decente nem têm acesso a água potável.

Alguns já nascem largando muito na frente, recebem toda a ajuda possível ao longo do trajeto e ainda assim os fiscais de prova parecem estar ao lado deles.

Não surpreende que muitos desistam de competir, preferindo se sentar na arquibancada, comer porcarias e gritar que foi tudo marmelada.

O que a corrida humana precisa é de muito mais nudistas invadindo a pista.

***

Apenas quando a última árvore
Tiver sido cortada
E o último rio
Tiver secado até o fio
O homem finalmente entenderá
Que não se pode comer dinheiro
E que recitar velhos provérbios
Faz vocês parecer um babaca

***

Uma carta recebida pelo site do Banksy:

Não sei quem é você ou quantos de você existem, mas estou escrevendo para pedir que pare de pintar no lugar onde moramos. Especialmente na rua xxxxxx, em Hackney (Grande Londres). Eu e meu irmão nascemos aqui e moramos aqui nossas vidas inteiras, mas nos últimos tempos tantos yuppies e estudantes estão se mudando para cá que não temos mais dinheiro para comprar uma casa no lugar em que crescemos.

Seus grafites são sem dúvida parte do que faz esses babacas acharem que nosso bairro é descolado. Você obviamente não é daqui e, depois que os preços dos imóveis subirem, é possível que você vá para outro lugar. Faça um favor para todos nós e vá pintar suas coisas em algum outro lugar, como Brixton.

Daniel (sobrenome não informado)

***

As pessoas ou me amam, ou me odeiam ou realmente não dão a mínima (Banksy).

***

[1] Todas retiradas de Banksy: Guerra e Spray (Intrínseca). Tradução de Rogério Durst.

Crédito da imagem: Banksy

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22.11.13

EU MAIOR finalmente estreia

O documentário EU MAIOR é uma iniciativa da Associação Dobem, organização sem fins lucrativos, cuja missão é disseminar conhecimento voltado para um desenvolvimento integral do ser humano.

EU MAIOR traz uma reflexão contemporânea sobre autoconhecimento e busca da felicidade, por meio de entrevistas com expoentes de diferentes áreas, incluindo líderes espirituais, intelectuais, artistas e esportistas (alguns exemplos: Prof. Hermógenes, Mario Sergio Cortella, Marcelo Gleiser, Monja Coen, Marina Silva, Rubem Alves, Richard Simonetti, Leonardo Boff, Letícia Sabatella, e por aí vai). Um filme sobre questões essenciais e universais, numa época de grandes transformações e desafios, que pedem níveis mais altos de discernimento e consciência individual.

Com duração de cerca de 100 minutos, EU MAIOR estava em fase de produção desde meados de 2010. Após diversos adiamentos, finalmente estreou em 21/11/13. Bem, valeu a pena a espera... Além de estar disponível gratuitamente no YouTube, o documentário também se encontra à venda em DVD e BlueRay, além de estar passando em certas salas de cinema pelo país.

Quem resume bem todas as questões do filme é exatamente o Prof. Hermógenes, o vaga-lume silencioso, e ele responde com um suspiro; prestem atenção até o fim:


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21.11.13

Nos fale do Amor...

O próximo livro digital das Edições Textos para Reflexão será uma tradução da obra mais grandiosa da Luz do Líbano, Gibran Khalil Gibran.

O Profeta, escrito originalmente em árabe e, depois, em inglês, é a obra mais profunda, conhecida e bem sucedida de Gibran.

Já foi traduzida para mais de 30 idiomas e lida por milhões de pessoas em todo o mundo. Dentre estas há, quem sabe, milhares que o elegeram um livro de cabeceira, para onde retornam cada vez que sentem saudades da primavera. Gibran, afinal, entendia da Alma e das Estações...

No trecho abaixo, a versão final para a minha tradução do trecho onde Almustafa, o eleito e amado, fala sobre o Amor:

***

ENTÃO, disse Almitra, “nos fale do Amor”.
E ele ergueu a cabeça e observou a multidão, e uma quietude recaiu sobre todos. Com uma voz forte, ele lhes disse:
“Quando o amor lhes acenar, sigam-no,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados.
E quando suas asas lhe envolverem, aceitem-nas,
Embora a espada oculta em suas plumas possa lhes ferir.
E quando ele lhes falar, acreditem no que diz,
Embora sua voz possa despedaçar os seus sonhos como o vento do norte devasta ao jardim.

Pois assim como o amor os coroa, ele também os crucifica.
E da mesma forma que auxilia em seu crescimento, trabalha também para a sua poda.
E assim como ascende a sua altura e acaricia os seus ramos mais tenros que se agitam ao sol,
Também desce até suas raízes e as sacode em seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele os aperta junto a si.
Ele os debulha para expor-lhes a nudez.
Ele os peneira para livrar-lhes das suas cascas.
Ele os mói até a extrema brancura.
Ele os amassa até que se tornem maleáveis.
Então ele os encaminha ao fogo sagrado, para que possam se tornar o pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas o amor irá operar em seu interior para que conheçam aos segredos de seus próprios corações, e através deste conhecimento se tornem um fragmento do coração da Vida.

Entretanto, acaso em seu medo vocês buscarem apenas a paz e o prazer do amor,
Então será melhor que cubram a sua nudez e abandonem ao açoite do amor,
Para que deem risadas num mundo sem estações, mas nem todos os seus risos; e chorem, mas nem todas as suas lágrimas.

O amor nada oferece além de si mesmo e nada recebe além de si mesmo.
O amor não possui, e tampouco pode ser possuído;
Pois o amor se basta em si mesmo.

Quando você ama não deveria dizer, “Deus está em meu coração”, mas sim, “Eu estou no coração de Deus”.
E não pensem que podem direcionar o curso do amor, pois o amor, se lhes acharem dignos, determinará ele próprio o seu curso.

O amor não tem outro desejo senão o de cumprir a si mesmo.
Entretanto, acaso em seu amor precisarem ter desejos, que sejam estes os seus desejos:
De se diluírem e serem como um córrego que canta a sua melodia para a noitinha.
De conhecerem a dor da extrema sensibilidade.
De se ferirem por sua própria compreensão do amor.
E de sangrarem de boa vontade e com alegria.
De acordarem na aurora com um coração alado e agradecerem por um novo dia de amor;
De descansarem ao meio-dia e meditarem acerca do êxtase do amor;
De retornarem para casa a tardinha com gratidão;
E então, de adormecerem com uma prece para o amado em seus corações, e uma canção de louvor em seus lábios.”

(trecho de O Profeta de Khalil Gibran; tradução de Rafael Arrais)


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14.11.13

Eu não acredito em idade

Sim, esta é uma frase que sempre digo as pessoas quando o assunto envolve o tema “idade”. A maior parte delas apenas desconversa ou ignora completamente o que foi dito. Algumas ficam admiradas e me olham com uma aparência confusa: “Hmm, isto deve ser algo muito profundo, melhor não perguntar nada”. E somente umas poucas chegam a me perguntar: “O que você quer dizer com isso?”. Penso que está na hora de responder...

Primeiramente, é importante frisar que esta é uma das conclusões puramente intuitivas que trago de minha infância. “Eu não acredito em idade, eu nunca acreditei em idade” – é algo que simplesmente “nasceu comigo”, se é que é possível dizer. Não foi algo que li nalgum lugar, e nem mesmo algo que, somente pelo fato de haver lido em algum lugar, se tornaria parte da minha essência. Eu não acredito em idade, é parte da minha essência, e desde minha infância tenho tentado descobrir o que exatamente isto significa.

Quando pensam em idade, a maioria das pessoas pensa – conscientemente ou não, quer admita ou não – em uma espécie de relógio de areia onde cada grão que escorre pela fresta abaixo é um dia a menos, um dia que ficou para trás. E, da mesma forma, quanto menos grãos de areia restam na parte superior do relógio, menos tempo há para viver. Neste sentido, falar em idade é basicamente falar em morte: quanto maior o número, quanto mais próximo dos 70, 80, 100 anos, mais próxima estará a morte.

Eu ainda vou retornar ao assunto, mas por agora gostaria apenas de deixar claro que o fato de eu não crer em idade não significa que ignore a existência da morte. Da mesma forma que não ignoro que, com o passar das horas do dia, e com o pôr do sol e a chegada da noite, eventualmente irei deitar minha cabeça num travesseiro e dormir (ah não ser que esteja jogando RPG ou numa rave, mas isto têm sido cada vez mais raro em minha vida, para o bem ou para o mal).

Dito isto, após muito refletir cheguei a conclusão de que para mim existem em realidade três tipos distintos de “idades”. Embora eu creia nas três, talvez percebam que nenhuma delas tem relação direta com o que as pessoas usualmente chamam de idade.

A primeira idade em que tenho fé é a idade fisiológica. Ora, seja lá o que seja o “eu” ou a alma, é certo que, ao menos neste mundo, habitamos um corpo humano. E este corpo humano possuí diversas características, físicas e mentais, que são desenvolvidas ao longo da infância e da juventude, até a chamada idade adulta. Diz-se que um adulto é um ser humano que vive numa sociedade onde o texto de algum pedaço de papel afirma que, de acordo com sua idade, ele pode se casar, ter relações sexuais, votar, dirigir um automóvel, etc. O valor numérico destas idades varia de acordo com a região e a cultura do planeta. Na África há muitos adultos com 13 anos, enquanto que na maior parte do globo a idade da maioridade é 18 (19 na Coréia do Sul, 20 no Japão e 21 nos EUA). Como eu sou um sujeito que segue a maior parte das leis, sou obrigado a concordar e botar fé em tais números.

Mesmo o cérebro humano, dizem os neurologistas, têm suas “idades”. Por hora do nascimento, um cérebro humano pesa cerca de 350 gramas e têm ¼ do tamanho de um cérebro adulto.  Com um 1 ano de idade, já têm o dobro do peso, 700 gramas, e metade do peso da versão adulta. Aos 6 anos, já têm 90% do tamanho final. Aos 12 anos, o córtex pré-frontal atinge sua fase final de desenvolvimento, que abrange toda a adolescência. Recentemente, cientistas têm discutido se este desenvolvimento não ultrapassaria em muito a idade dita adulta, geralmente os 18 anos, para terminar ainda muitos anos depois – o que estenderia, teoricamente, o tempo da adolescência, pois somente um “adulto com o córtex pré-frontal plenamente formado” teria condições de pensar com “toda a racionalidade condizente a fase adulta”...

Desta forma, ainda que eu acredite na idade fisiológica, isto por si só não me dá certezas se este ou aquele jovem já é mesmo adulto, se têm sua racionalidade “plena”, ou se ainda está em fase de desenvolvimento. Por via das dúvidas científicas, digamos que alguém na casa dos 30 anos estaria plenamente desenvolvido. Este sou eu: plenamente desenvolvido e, segundo uma amiga minha bem mais jovem, “já meio velhinho”.

E isto me leva para a segunda idade em que acredito, a idade espiritual. Bem sei que muitos aqui não irão concordar, mas fato é que também, desde minha infância, apesar de crer na morte, também creio na existência pós-morte e, da mesma forma, na existência pré-nascimento. Ou seja, não é que eu creia em vida após a morte, mas creio, isto sim, em vida após a vida, e em vida antes da vida. Creio em muitas e muitas vidas, enfim, e isto também está intimamente associado a intuições e lembranças de minha infância.

Quero lembrar que não é minha intenção “evangelizar” esta crença adiante, mas apenas explicar os motivos de minha descrença em idade – motivos, portanto, subjetivos. Dessa forma, para não me alongar muito, basta dizer que, quando lembramos de outras vidas e outras mortes, quem sabe da mesma forma que lembramos de viagens de nossa infância, ou do dia em que desmaiamos durante nosso primeiro porre alcóolico (embora eu não tenha tido tanta sorte, pois tenho uma grande dificuldade em perder a consciência), toda a vida atual é vista por um outro aspecto, um outro ângulo.

Dessa forma, se alguém me diz que estou “meio velhinho”, isto para mim faz tanto sentido quanto dizer que eu estou “a muito tempo nesta viagem de trem”. Não importa se os outros cismam em contar as horas até a próxima estação, eu não preciso mais me preocupar com isso, pois sei que a próxima estação é somente isso: mais uma estação nesta viagem infinita pelo Cosmos. Estação Terra, estação anos-luz da Terra – tanto faz, são todas estações.

Eu não sei se consegui me fazer compreender, pois isto é difícil de explicar com palavras fora de poemas, mas em todo caso acredito que a próxima idade ainda será esclarecedora...

Finalmente, creio na idade das montanhas.

Cícero dizia que “filosofar é aprender a morrer”. Há muitos que se admiram até hoje com Sócrates mais por sua serenidade ante a morte do que propriamente com suas ideias (“Mas eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, exceto os deuses” [1]).

Já Schopenhauer, influenciado pelas ideias religiosas do Oriente, afirmava que “para seu enorme espanto, um homem se vê de repente existindo, após milhares de anos de não existência; vive por algum tempo, e então transcorre de novo um período igualmente longo em que ele não existe mais. O coração rebela-se contra isso, sentindo que não pode ser verdade.” [2]

Há muitos pensadores modernos, como Jim Holt, que não têm tanta fé na existência pós-morte, e admitem a plenos pulmões o seu grande medo do Nada: “O medo da morte vai além da ideia de que o fluxo da vida continuará sem nós [...] É a perspectiva do Nada que provoca em mim certa náusea – senão puro e simples terror. Como encarar esse Nada?”. [3]

Epicuro, apesar de tampouco crer na existência após a morte do corpo, lidava com o tema de forma muito natural: “Quando a morte está, eu não estou. Quando eu estou, ela não está. A morte, o dito mais terrível dos males, não significa nada para mim”. [4]

Dessa forma, não é bem a crença em existências anteriores e posteriores a esta vida, a esta estação, que nos alivia do peso da morte, do peso do Nada. Este peso não tem propriamente a ver com um medo paralisante de algo que um dia chegará, e que está neste momento sendo contado no relógio de areia que chamamos idade; este peso tem a ver com uma falta de sentido existencial, um vácuo aberto dentro do peito, um grande tédio, um Nada que pela lógica jamais pode haver existido, mas que não obstante pode nos atormentar por cada momento da vida.

Filosofar pode, de fato, ser aprender a morrer. Tanto quanto aprender a morrer é aprender a subir montanhas...

Uma outra coisa que trago da minha infância é a Serra da Mantiqueira, ao sul de Minas Gerais. Isto já não tem nada ver com lembranças de outras estações, mas com a suprema sorte de haver, nesta mesma estação, tido a oportunidade de passar proveitosos períodos de férias em um hotel fazenda de minha família.

Foi na Mantiqueira que aprendi a subir e subir, por entre florestas antigas que estão por lá há centenas de estações, pisando em rochas que sobrevivem há milhares, há milhões!

Foi na Mantiqueira que aprendi a olhar para baixo do topo do mundo, e observar (mesmo antes de voar de avião) como há tantos e tantos homens e mulheres e crianças brincando em seus terrenos pequeninos, em suas fazendas pequeninas, em suas casas de brinquedo, em suas caixas de areia.

Eles juntam montes de areia, colocam seus enfeites e um telhado para proteger das chuvas. Eles vivem lá boa parte de suas vidas. Eles guardam por lá boa parte do que amontoaram em suas viagens. Eles mal sabem quantas montanhas e estações existem pelo Cosmos...

O que a idade das montanhas me ensinou, e têm até este momento me ensinado, é que não devemos por certo entrar em pânico ante ao Nada. Se iremos dormir para não mais acordar, ou se iremos sonhar com outras viagens e outras estações, fato é que nada do que somos, nem mesmo do que nos forma, pode de fato ser aniquilado, arremessado ao Nada.

Pois as montanhas são a prova de que o Nada não existe. Elas estão lá, imponentes, acima de todos nós, nos lembrando de que há coisas maiores, bem maiores, cósmicas, que existiram e continuarão a existir muito após esta nossa pequena viagem.

E se vamos acordar para um novo sonho ou não, pouco importa. O que importa é não deixar o entusiasmo escapar por entre os dedos da alma. Que se vamos ou não deixar de existir um dia, isto não é algo que seja definido, de forma alguma, por nossa idade. E eu não acredito em idade.

***

[1] Platão. Fédon.

[2] Arthur Schopenhauer, O vazio da existência.

[3] Jim Holt. Por que o mundo existe? (Intrínseca).

[4] Epicuro. Carta a Meneceu (UNESP).

Crédito da foto: raph + instagram (Serra da Mantiqueira)

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11.11.13

O fado da impermanência

Diz-nos a Wikipedia que "no essencial, a origem do fado é ainda desconhecida, mas certo é que surge no rico caldo de culturas presentes em Lisboa, sendo por isso uma canção urbana"...

Uma das características marcantes do fado de Portugal é a sua exaltação da tristeza. Não uma depressão devastadora, mas uma tristeza que por vezes consegue até mesmo ser bela, ao menos no sentido artístico da beleza. Parece coisa que se perdeu no tempo, numa época em que ser triste não era algo abominável, e quando os "analgésicos da alma" ainda não eram propagados a torto e a direito por grandes conglomerados farmacêuticos. Uma época, enfim, em que os lutos duravam mais de duas semanas, mas jamais se contavam, nem com os dedos da mão, há quantos dias estávamos tristes.

Melhor era fazer que nem Fernando Pessoa, e escrever (ou chorar) a tristeza em cadernos ocultos, para serem descobertos eras mais tarde e cantados até mesmo por fadistas (como João Braga, por exemplo). Para que? Ora, para que a tristeza não suma da existência - afinal, somente com a tristeza é que sabemos onde fica a felicidade.

Neste sentido, acredito que Pessoa teria sido um admirador de António Zambujo, um dos novos fadistas mais geniais e promissores... E que teria gostado, especialmente, deste fado intitulado "Fortuna", que me parece quase um cântico budista:

O tempo tudo consome, não tenho nada em meu nome... Um mantra para estes tempos anestesiados de tudo o que se sente.


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