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19.11.18

Nenhum mestre chama a si mesmo de mestre

Estive recentemente num encontro de espiritualistas em São Paulo, nele havia alguns mestres que subiram num palco para falar aos demais. Um deles representava a Ordem Sufi Naqshbandi no Brasil, que é parte do misticismo islâmico. Ao se dirigir a plateia, onde certamente havia mais discípulos do que mestres, ele tratou de nos trazer uma reflexão muito relevante, logo de início:

“Como pode um aprendiz falar de tesouros que ele ainda não possui?”.

Sheikh Ahmed Shakir ainda não se considera um mestre, e provavelmente tem razão. Mas, ainda que fosse um mestre, ele jamais chamaria a si mesmo de mestre. É precisamente assim que somos capazes de julgar, se é que isso é possível, quem é mestre, e quem diz ser mestre (e não é).

O atual mestre da Ordem Naqshbandi vive no Chipre, uma ilha ao sul da Turquia. Segundo Ahmed, quando um mestre sufi está prestes a morrer, ele transfere a incumbência de “mestre da ordem” para um de seus discípulos. Se isto não ocorrer, a ordem inteira se encerra, como já ocorreu com a Ordem Mevlevi, fundada por seguidores do grande poeta do séc. XIII, Jalal ud-Din Rumi, e também inventor do sama, a dança dos sufis (ou dervixes) rodopiantes. Em meados do século XX, o último mestre dos Mevlevi foi morto devido a perseguições políticas, sem transferir a incumbência a ninguém, e os seus discípulos em grande parte “migraram” para a Naqshbandi, que ainda tinha um mestre vivo. Por isso hoje a Ordem Naqshbandi é a representante do conhecimento esotérico, oculto, da dança inventada por Rumi. Os demais a praticam de forma essencialmente artística, não mais puramente espiritual.

Ahmed também nos explicou que uma linhagem de mestres tem origem num profeta. Profetas reais são raríssimos, e usualmente fundam religiões. Maomé foi o último profeta, segundo se crê no islamismo, e há uma linhagem contínua, uma “linhagem dourada”, desde Maomé até o atual mestre da Ordem Naqshbandi. Quem sabe Ahmed seja o próximo.

Mas não importa, nenhum mestre chamaria a si mesmo de mestre, ao menos não para um total desconhecido. Ainda que carregue consigo segredos imemoriais, poderes quase sobrenaturais, conhecimentos ocultíssimos, um mestre se faz mestre por reconhecer que sempre haverá muitos discípulos no Caminho, e ele mesmo talvez jamais deixe de ser um...

Se não crê em mim, basta analisar o que disse Issa, ou Jesus Cristo (Issa é o seu nome islâmico), considerado por muitos como “o mestre dos mestres”:

Dia virá em que farão tudo isso que eu tenho feito, e ainda muito mais (trecho de João 14:12)

Ora, se um dia faremos tudo o que fez o mestre, significa que um dia todos seremos mestres. Mas, então, o mestre ainda seria mestre?

É assim que percebemos duas coisas muito importantes: (1) que todo mestre só é mestre em relação ao seu discípulo; e (2) que todo mestre deseja ardentemente que o seu discípulo também se torne mestre um dia.

Assim sendo, um mestre jamais chamaria a si mesmo de mestre, jamais se apresentaria a um total desconhecido dessa forma, pois o objetivo dele não é reinar acima de uma turba de discípulos ou não discípulos ignorantes, mas antes torná-los melhores, quiçá tão “mestres” quanto ele próprio, ou ainda mais sábios!

E se o Sheikh Ahmed ainda não aceita ser chamado de mestre, sequer na presença de discípulos, no mesmo encontro em São Paulo havia um mestre de fato, já mais velho e com um fiel grupo de discípulos em todo o mundo:

Atma Nambi Guruji nasceu em um pequeno vilarejo no sul da Índia, estado de Tamil Nadu, onde cresceu de uma forma simples, em meio às plantações de arroz. Seus pais nunca lhe impuseram religião alguma, permitindo seu crescimento com a liberdade que uma criança merece e precisa. Atmaji, como é chamado pelos discípulos, teve seu primeiro mestre aos 10 anos de idade, um brâmane que comandava as cerimônias e rituais do templo de Shiva em sua vila. Seu desenvolvimento com esse mestre estendeu-se até seus vinte e poucos anos, período em que aprendeu bem a língua inglesa e o Bakit Yoga – a Yoga da Devoção.

O restante da história do Atmaji vocês poderão conferir no vídeo ao final do artigo, mas antes de encerrarmos, cabe contar uma anedota sobre ele. Todo ano Atmaji vem ao Brasil dar palestras (ou satsangs) no Rio, em São Paulo, e em Campo Grande/MS, onde eu moro. Numa dessas palestras havia todo um marketing por detrás, com banners online e cartazes, o anunciando como “um grande sábio indiano”. Isso não é feito com nenhum tipo de má intenção, o valor arrecadado nas palestras é quase simbólico, e o valor total mal paga a viagem da Índia ao Brasil. Portanto, seria perfeitamente compreensível que Atmaji se portasse como um “grande mestre”, ainda que não se autointitulasse um.

Pois bem, mas eu nunca esquecerei do dia em que ele, adentrando o espaço de uma das palestras, deu de cara com um imenso cartaz onde ele aparecia como um “grande mestre”, quase um ser sobrenatural. Ele simplesmente olhou para aquilo e disse algo como: “this is bullshit, everyone can achieve illumination” (isso é besteira, qualquer um pode conquistar a iluminação).

E, na sequência, ele continuou a fazer o que tem feito há décadas, desde que ele mesmo atingiu a sua iluminação, na Índia: trazer convites aos demais, melhorar este mundo, formar novos mestres, um discípulo por vez.

Com vocês, um mestre do Caminho:

***

Crédito das imagens: [topo] Google Image Search (sufis dançando o sama); [ao longo] um amigo (eu, ao lado de Atmaji e Sheikh Ahmed, no VII Simpósio de Hermetismo, em São Paulo).

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13.11.18

Buda, o Darma e o Karma (Reflexões no YouTube)

Neste vídeo veremos como viveu e morreu, quiçá pela última vez, Sidarta Gautama, o Buda, o homem que atingiu a iluminação, e depois passou o resto da vida ensinando aos demais como alcançá-la. Também trarei o novo lançamento das Edições Textos para Reflexão: "Dhammapada", o texto budista mais lido e traduzido no mundo. Ao final, veremos o que são, afinal, o Darma e o Karma.

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12.11.18

O mistério

Há muitos poemas aqui
passando a minha frente,
dentre meus dedos,
sobre meus olhos,
através da minha alma;
todos eles escorrem
aqui:
no córrego
que flui da fonte.

No rio de todos nós,
fundador de cidades,
semeador de civilizações,
pai do Nilo e do Ganges;
e, no entanto, o rio
que já não é o mesmo rio:
um rio cujas águas
se renovam e renovam
sempre.

Como nossas vidas
e nossas relações vividas,
que se encenam e reencenam
nesta dança eterna
do tempo do amor
de um pelo outro...

Entre eu e você
não há “eu”
nem “você”:
há corredeira,
há rio desembocando em mar,
e o grande mistério,
eterno e inefável,
do que vem a ser poema,
do que vem a ser amar.


raph'18'S.G.

***

Crédito da imagem: Oleg Oprisco

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8.11.18

O que a filosofia nos ensina sobre o ódio

Nunca se falou tanto sobre o ódio. O cenário político e o crescimento dos conflitos sociais nos últimos anos têm nos chamado a atenção para esse afeto. Hoje vemos inclusive que o ódio pode ser um fenômeno social, capitalizado para interesses políticos.

Mas como a filosofia pode nos ensinar a lidar com esse afeto? Vejamos o que nos diz Sêneca em seu diálogo Sobre a Ira, a face mais agressiva do ódio.

A ira, diz-nos Sêneca, é o desejo de causar dano ao outro porque temos o sentimento que nos foi causado algum dano antes. Neste sentido, a ira é um desejo de vingança. Retribuir um dano sofrido.

Muitas vezes não se trata de um dano físico, como um golpe, mas toda sorte de prejuízos que achamos ter sofrido por consequência das ações de outra pessoa. Por exemplo, se acreditamos que perdemos a mulher que amamos para outra pessoa, passaremos a odiar a mulher que perdemos ou nosso rival amoroso porque achamos que fomos prejudicados por eles.

Temos nossa primeira lição sobre o ódio: ele nasce da sensação de prejuízo. A partir disto, raivosos, queremos reparar o dano que sofremos igualmente prejudicando ou atacando quem consideramos inimigo.

Quando hoje se fala em discurso de ódio, não se trata de simplesmente odiar um grupo em particular. É odiar um grupo por acreditar que tais indivíduos são, diretamente ou indiretamente, responsáveis pela minha infelicidade.

O ódio aos homossexuais, por exemplo, e a consequente perseguição que esse grupo sofre, parte do fato que muitas pessoas se sentem ofendidas pela simples existência deles. Não importa que os gays não estejam fazendo nada além de simplesmente existirem e amar como desejam. Muitas pessoas aprenderam a odiar qualquer coisa que seja diferente de sua concepção de mundo ou que possa balizar os seus próprios desejos, e a diferença lhes agride. Trata-se, claro, de um problema de quem não suporta a diferença.

E Sêneca vai além. É impossível vivermos sem encontrarmos algo do qual não tenhamos motivos de censura ou aversão. É natural que haja coisas que apreciamos enquanto outras repudiamos. Faz parte da própria diversidade humana.

Basta rolar o feed de notícias das redes sociais ou ligarmos a televisão que veremos muitas coisas que desaprovamos. Seja um caso de corrupção que saiu no jornal ou a agressão injusta que uma pessoa querida nossa sofreu. Estamos sempre sujeitos a nos revoltarmos com as coisas que acontecem ao nosso redor. É muito fácil que o ódio surja a qualquer momento.

Porém, o ódio não é um afeto que soluciona nossos problemas.

Odiar um político corrupto pelo que ele fez ou um ex-amigo pela traição que ele cometeu consigo não irá reparar os danos causados. É possível sim que, por vingança, você queira fazer algo. Mas será que a vingança irá realmente curar as feridas?

Sêneca nos diz que algumas coisas não valem o ódio. A serenidade da alma é o bem mais precioso, e perder isso talvez seja o verdadeiro dano que você irá se causar.

Na filosofia estoica de Sêneca, o problema não é o dano que você venha a sofrer. A vida é inevitavelmente de dificuldades e desastres. O verdadeiro sofrimento está em aceitar que essas tragédias estraguem o seu humor, o seu dia, ou mesmo a sua vida.

Portanto, é melhor curar-se do ódio que tentar se vingar, pois a vingança absorve muito tempo e nos expõe a uma multidão de outras ofensas que nos causariam ainda mais dano. Além disso, satisfazer-se com as misérias alheias é uma satisfação muito pequena diante de outras que você proporcionar a si mesmo.

Ainda que nunca estejamos imunes ao ódio, e reações enérgicas podem ser algumas vezes justas e necessárias, vale como regra geral o conselho estoico: é melhor economizar suas energias de tentar se vingar ou atacar alguém investindo em sua própria felicidade.

Igor Teo é psicanalista e escritor. Para saber mais acesse o seu site pessoal.

***

Crédito da imagem: Jason Rosewell/Unsplash

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6.11.18

Onde vivem os deuses (Reflexões no YouTube)

Neste vídeo vamos nos aventurar pela roda dos deuses, e falaremos do Uno tanto do ponto de vista da pura lógica quanto do ponto de vista teológico e religioso. Veremos também como o culto a Deusa Mãe se perdeu juntamente com o Matriarcado, e como o "deus tataravô" se tornou o deus cósmico da Bíblia. No meio do caminho, ainda falaremos de anjos, orixás, e deuses mensageiros... Ao final, ainda recito um poema de minha autoria, quando talvez descubramos, finalmente, o que diabos é Deus.

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1.11.18

Lançamento: Dhammapada, O Caminho do Darma

As Edições Textos para Reflexão desta vez trazem a você o livro mais lido e traduzido do budismo, Dhammapada: O Caminho do Darma.

Segundo a tradição, ele teria sido composto pelas anotações dos discípulos que chegaram a conviver com o Buda. Ou seja, se trata do que nos foi ditado pelo próprio Buda. Monges budistas da vertente teravada registraram o Cânone Páli algumas centenas de anos após a morte do Buda. O Dhammapada é uma parte do Sutta Pitaka, que por sua vez é uma parte do Cânone Páli. Trata-se de uma coleção de 423 versos que nos demonstram como viver uma vida que conduza à iluminação. Quem consegue viver uma vida neste caminho, segue o seu Darma.

Disponível em e-book e versão impressa :

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***

À seguir, trazemos um trecho do Prefácio (por Rafael Arrais, tradutor da obra):


Uma criança é um Buda que não sabe que é um Buda. E um Buda é uma criança que sabe que é um Buda. (Satyaprem)

Enquanto vivia sua juventude em meio ao luxo do palácio de sua família, o príncipe Sidarta era mesmo puro, puro como a criança que tem a sorte de viver uma infância de belezas. Diz-se que seu pai, o governante de Kapilavastu (um reinado que se situava ao sul de onde hoje existe o Nepal), tentou proteger o filho de qualquer tipo de sofrimento humano, e o criou dentro dos limites do próprio palácio, sem que tivesse contato com o que havia fora dele.
Quando fez 16 anos, Sidarta Gautama se casou com uma prima da mesma idade e com ela teve um filho. Até os 29 anos, o príncipe viveu uma vida sem grandes incidentes, tendo a sua mão todo o conforto material de que poderia necessitar, embora se diga que nada disto jamais o seduziu. Talvez faltasse algo naquela vida de contos de fada, afinal...

Inquieto em meio a uma vida de perfeições palacianas, aos 29 anos Sidarta resolve sair de seu palácio (sem o conhecimento do pai), acompanhado somente por um cocheiro, que pilotava a sua luxuosa carruagem. Diz-se que ele fez quatro viagens curtas para além das muradas palacianas, finalmente tendo contato direto com o mundo lá fora:
Na primeira viagem, avistou um homem velho e decrépito, apoiado num cajado. Seu cocheiro prontamente lhe explicou que envelhecer era o destino de todas as pessoas.
Na segunda viagem, avistou um homem doente e cambaleante, ardendo em febre. Seu cocheiro complementou que muitas doenças eram inevitáveis na vida.
Na terceira viagem, avistou um corpo já em decomposição, sendo conduzido a um cemitério local. Seu cocheiro explicou que ninguém poderia escapar para sempre da morte.
Desolado e deprimido, em sua quarta viagem o príncipe finalmente avista um monge mendicante calmo e sereno, mesmo conhecendo a velhice, a doença e a morte, como todos os demais que viviam fora dos palácios. Essa visão o consola e, ao mesmo tempo, estabelece um novo sentido para a sua vida: chega de palácios artificiais, chega de infância, Sidarta desejava ser adulto em meio ao sofrimento do mundo.
Numa noite, enquanto todos no palácio dormiam, saiu novamente acompanhado de seu amigo cocheiro, cada um montando um cavalo. Desta vez, a viagem seria bem mais longa...

A alguns quilômetros de distância de Kapilavastu, Sidarta parou, cortou os próprios cabelos com sua espada, trocou as roupas luxuosas pelos trajes simples de um caçador, e se despediu do amigo, que retornou ao reino com ambos os cavalos.
Transformado em monge andarilho sob a alcunha de Gautama (o nome da sua família), dirigiu-se para Vaisali, onde um mestre bramânico indiano, Arada Kalama, ensinava um sistema filosófico que ficou conhecido como sanquia. Aprendendo-o rapidamente, mas julgando-o insuficiente, ele deixa o mestre e se dirige a Rajagarra, capital do reino Mágada, ao sul do rio Ganges. Lá conhece o rei Bimbisara, que, seduzido pelo seu já vasto conhecimento, lhe oferece a metade do próprio reinado, mas o monge Gautama gentilmente recusa a oferta, e logo se torna discípulo de outro mestre, chamado Udraka.
Após apenas um ano, domina com facilidade as técnicas e a filosofia do yoga ensinado por Udraka, e parte rumo à cidade de Gaya acompanhado por cinco discípulos, que já o tinham como mestre. Gautama se estabelece num local aprazível nas proximidades de Gaya, e lá se submete, durante alguns anos, à ascese mais severa. Chegou a se alimentar com um único grão de milho por dia.
Meditando imóvel, magro como um esqueleto coberto de parcas camadas de pele, eventualmente recebeu o título de sakyamuni (“asceta entre os Sakya”, o clã dos Gautama). Ao atingir o extremo limite da mortificação, finalmente compreendeu a inutilidade da ascese total como meio de libertação do sofrimento do mundo, e decidiu encerrar aquela prática.
Diz-se que uma mulher piedosa, ao ver o seu estado deplorável, lhe ofereceu um pote de arroz cozido. Para a imensa surpresa de seus discípulos, que naquela altura o veneravam, o monge Gautama aceita a oferta e devora o alimento. Consternados, seus cinco discípulos o abandonam a própria sorte...

Milagrosamente restaurado pelo arroz, Sidarta dirige-se a um bosque próximo, escolhe uma árvore (que eventualmente foi chamada de bodhi-druma, sânscrito para “a árvore do despertar”) e se senta ao pé de suas raízes, decidido a se levantar somente após haver obtido o “despertar”, ou seja, uma forma de se livrar definitivamente do sofrimento da existência.
Diz-se que, durante as sete semanas em que permaneceu aos pés da árvore, Sidarta foi tentado e atormentado inúmeras vezes pela entidade conhecida como Mara, que reinava sobre a morte. Ora, Sidarta ameaçava ensinar aos homens e mulheres a se libertarem definitivamente do ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos, portanto era natural que Mara quisesse impedi-lo.
Em suas reflexões internas, Sidarta avançava rapidamente, estava a um passo de se tornar Buda, “o desperto”. O último recurso de Mara foi lhe oferecer a passagem imediata para o Nirvana, o estado além da vida onde o príncipe se encontraria livre, para sempre, dos ciclos de mortes e renascimentos. Sidarta lhe respondeu que só aceitaria entrar no Nirvana após ter estabelecido naquele mundo uma comunidade instruída e bem organizada, que soubesse ensinar o caminho da libertação...

Assim, após sete semanas aos pés da árvore do despertar, o príncipe Sidarta Gautama venceu definitivamente a tentação de Mara, e se ergueu como o Buda, o primeiro desperto, o primeiro ser que conheceu o caminho para a libertação do sofrimento.
Aos 35 anos, o Buda iniciou sua peregrinação pelos vilarejos, pequenas cidades e grandes reinados dos arredores da região onde atingiu a iluminação. A pé, carregando pouco mais que a roupa do corpo, acompanhado por dezenas de discípulos (dentre os quais, aqueles cinco que lhe haviam abandonado), o Buda passou 45 anos ensinando as chamadas quatro nobres verdades que conduziam ao Darma, o caminho para a iluminação: a existência do sofrimento; a origem do sofrimento; a interrupção do sofrimento; e o caminho que nos leva à cessação do sofrimento.
A criança havia perdido sua pureza, e conhecido as dores da vida adulta. Mas, ao contrário de tantos outros, o adulto havia encontrado um meio para se libertar definitivamente de todo o sofrimento, e alcançar novamente a pureza infantil, mesmo tendo conhecido a dor. Sidarta era novamente como uma criança, mas era também um Buda que sabia que era um Buda.
Aos 80 anos, depois de padecer de uma forte diarreia em decorrência, provavelmente, de haver ingerido carne de porco estragada, o Buda se despediu deste mundo e pôde finalmente alcançar o Nirvana. Diz-se que isto se deu no nordeste da Índia, na cidade de Kushinagar. A data provável é o ano de 483 a.C.

Assim viveu e morreu, quiçá pela última vez, Sidarta Gautama, o Buda, o homem que trouxe o budismo a este mundo.


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