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19.12.09

O universo conhecido

Vídeo pelo Museu Americano de História Natural. Texto original por Kentaro Mori, no blog 100 nexos.

"O Cosmos é tudo o que há, tudo o que algum dia foi e tudo o que nalgum dia será."
Carl Sagan

São imagens poderosas, afinal, é todo O Universo Conhecido, um filme produzido pelo Museu Americano de História Natural em uma viagem do monte Everest e as gargantas do rio Ganges até os limites de todo o cosmo conhecido.

No caminho, enquanto nos afastamos do planeta vemos o azul profundo do Pacífico, a Terra como um todo, as órbitas de milhares de satélites que lançamos em órbitas baixas e então um anel daqueles em órbita geostacionária; rapidamente focando o brilho de nosso Sol, o sistema solar, a bolha de nossas transmissões de rádio com décadas de anos-luz de raio, a nossa galáxia, a estrutura filamentar de milhões de outras galáxias próximas até o limite do Universo observável, na radiação de fundo composta dos ecos do Big Bang.

Viajar pelo espaço nesta escala é também viajar no tempo, enquanto a esfera final do Universo conhecido marca também os primeiros instantes de tudo. Caso se sinta alguma vertigem, basta se segurar nos assentos porque logo fazemos todo o caminho de volta ao pálido ponto azul.

Esse tipo de visualização não é particularmente novo, e sua versão mais famosa é o clássico Potências de 10 (1977), sendo que uma versão recente particularmente bela inicia o filme Contato (1997). A diferença é que desta vez, “a estrutura de O Universo Conhecido é baseada em observações e pesquisas precisas e cientificamente acuradas”. Isto é, enquanto todas as outras versões anteriores contavam com uma boa dose de licença artística e imaginação, nesta versão a beleza é derivada diretamente de dados científicos concretos. É por isto que em certo momento a visualização de galáxias e quasares forma uma espécie de ampulheta, porque só podemos observar em grandes distâncias em planos perpendiculares ao disco de nossa Via Láctea – isto é, “para cima ou para baixo”, porque “dos lados” todas as estrelas de nossa galáxia bloqueiam a visão.

» Post orginal no blog 100 nexos

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18.12.09

Frases para o Natal

Para quem não sabe, o Natal é comemorado como uma celebração simbólica do nascimento (seja qual for a data real [1]) de um dos maiores sábios que caminhou sobre esta terra, senão o maior. Aqui temos algumas de suas frases, para reflexão:

"Vós sois deuses e filhos do Altíssimo, todos vós. Podereis fazer tudo o que faço e muito mais." (João 10:34 - se referindo a passagem do AT; João 14:12)

"Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (João 3:12)

"Ama teu irmão como tua alma, protege-o como a pupila dos teus olhos." (Tomé 25)

"Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. Vós conheceis o caminho para onde eu vou." (João 14:2; João 14:4)

"Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça." (João 7:18)

"Minha família é constituida daqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam." (Lucas 8:21)

"O reino de Deus está dentro de vós e está fora de vós. O reino do Pai está espalhado sobre a terra e os homens não o vêem." (Tomé 3; Tomé 113)

"Viemos da Luz, de onde a Luz se originou dela mesma." (Tomé 50)

"Vós observais o aspecto do céu e da terra e não conheceis aquele que tendes diante de vós, e não sabeis avaliar este instante." (Tomé 91)

***

[1] Segundo a Wikipedia, as evidências históricas confirmam que, num esforço de converter pagãos, os líderes religiosos adotaram a festa que era celebrada pelos romanos, o "nascimento do deus sol invencível" (Natalis Invistis Solis), e tentaram fazê-la parecer "cristã". Para certas correntes místicas como o Gnosticismo, a data é perfeitamente adequada para simbolizar o Natal, por considerarem que o sol é a morada do Cristo Cósmico. Segundo esse princípio, em tese, o Natal do hemisfério sul deveria ser celebrado em junho. Há muito tempo se sabe que o Natal tem raízes pagãs. Por causa de sua origem não-bíblica, no século 17 essa festividade foi proibida na Inglaterra e em algumas colônias americanas. Quem ficasse em casa e não fosse trabalhar no dia de Natal era multado. Mas os velhos costumes logo voltaram, e alguns novos foram acrescentados. O Natal voltou a ser um grande feriado religioso, e ainda é em muitos países.

***

Crédito da foto: Stephen Oliver/Corbis

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Nós não viemos barganhar

Sei que muitos não esquecem o mensalão do PT, enquanto outros tem a tendência de resumir a culpa de todas as mazelas do Brasil na figura de um único homem, porém há que se admitir que este discurso de Lula ante os chefes de estado do mundo, reunidos na conferência de mudanças climáticas de Copenhagen, a COP15, foi praticamente impecável - tanto que foi o mais aplaudido de todos os discursos de chefes de estado. Enfim, pena que Lula é presidente, e não diplomata:

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16.12.09

Onde estarão os memes, parte 4

Continuando da parte 3...

A natureza não nos deixará relaxar

O geneticista norte-americano Dean Hamer parece ter uma predisposição inata à polêmica. Em 1993, afirmou ter descoberto um trecho do DNA, que batizou Xq28, supostamente responsável pela homossexualidade masculina. A descoberta lançou à fama e depois ao escárnio (quando outros cientistas falharam em replicá-la, já em 1999) o campo da genética comportamental, do qual é pioneiro.

Ultimamente Hamer voltou à carga, metendo a mão numa área literalmente sagrada. Em seu livro "O Gene de Deus" (Ed. Mercuryo), Hamer tenta sustentar que a crença em um criador também é geneticamente determinada. Antecipando as críticas, Hamer disse logo que não se trata de "o" gene, mas de "um gene entre vários". E, ah, não é exatamente Deus, mas uma predisposição à crença, que ele chama de "espiritualidade". Em todo caso, segundo ele, “O Gene de Deus” é um título que vende muito mais...

O tal gene, isolado por Hamer e sua equipe no Instituto Nacional do Câncer, nos EUA, é identificado pela sigla vmat2. Ele estaria envolvido no transporte de uma classe de mensageiros químicos do cérebro conhecidos como monoaminas, do qual o mais famoso é a serotonina, a molécula do bem-estar. Algumas drogas como o ecstasy e o prozac também influenciam o humor alterando os níveis de serotonina no sistema nervoso. Será que a fé se resume a isso?

É precisamente esse tipo de tratamento ultra-superficial do assunto que permitiu que a ciência moderna chegasse a uma visão mecanicista do homem, e do funcionamento da mente. Mas nosso atual estudo se resume a questão da possibilidade de que características psicológicas e comportamentais possam ser passadas de geração a geração, e evoluir de forma darwinista, precisamente como os genes. Portanto, se gente como Dean Hamer tivesse comprovado que algum gene, seja ele qual for, pode ser o responsável pela transmissão desse tipo de característica – no caso, a homossexualidade ou a espiritualidade – teríamos uma grande comprovação de que os genes, afinal, não transmitem apenas características físicas adiante, e que os memes nada mais seriam do que características ocultas dos genes, sendo passadas adiante pela reprodução humana.

Esse dia, porém, ainda não chegou; E, pelo que temos visto dos “grandes estudos” de gente como Hamer, a tendência é que nunca chegue: os genes, como qualquer geneticista aprendeu na faculdade, transmitem mesmo apenas características físicas. Caberá aos memes, ou a outras teorias, solucionar o problema da transmissão de características não-físicas pelas gerações humanas.

O psiquiatra suíço Carl G. Jung desenvolveu o conceito de inconsciente coletivo – uma parte da mente, compartilhada por todos, como produto da ancestralidade. Para ele, esse inconsciente inclui os arquétipos (conceitos universais inatos), como mãe, Deus, herói, etc., detectáveis na forma de mitos, símbolos e instinto. Presume-se que ele via o inconsciente coletivo como um tipo de memória popular, corporificado na estrutura do cérebro. Ora, que o cérebro de um recém-nascido obtenha registros em seu hipocampo, trazendo memórias armazenadas por seus ancestrais, nem seria um grande problema científico, contanto que fossem detectadas as partículas responsáveis por tal transmissão. Nesse caso, a grande diferença da teoria de Jung para a teoria de Dawkins é que o inconsciente coletivo pode mesmo abrigar memórias e costumes de toda a espécie, e não apenas dos memes que foram passados adiante na reprodução.

E temos aí uma enorme quantidade de informação “mitológica” a “flutuar pelo ar” e influenciar diretamente os costumes e a cultura dos seres humanos. Continua inexplicado, continua oculto, continua profundamente místico – exatamente como os memes.

Nesse ponto o bom observador deve ter percebido o grande dilema: por um lado, cientistas, psicólogos e antropólogos têm percebido e reconhecido que, sem dúvida, certas características não-físicas são transmitidas adiante ao longo da evolução humana; por outro lado, as únicas unidades materiais detectadas, os genes, não explicam o mecanismo de tal processo. Portanto, qual a grande diferença entre os que acreditam em memes e no inconsciente coletivo, e os reencarnacionistas e espiritualistas em geral?

Muitos dos que se dizem “materialistas” imaginam que a máxima da teoria do materialismo – “tudo o que existe é matéria” – coloca esta maneira de ver o mundo automaticamente acima das demais, que crêem no “imaterial”. Mal sabem que existem muitos espiritualistas que crêem piamente que “tudo o que existe é matéria”, da mesma forma que os materialistas. A única diferença é que certos espiritualistas crêem que os 96% de matéria não detectada no universo (porque não interage com a luz, segundo a teoria da Matéria Escura) podem explicar muito do que é desconhecido do materialismo, que por seu lado, crê piamente que o mecanismo de tudo o que existe, incluindo a mente humana, já pode ser compreendido apenas analisando-se os 4% da matéria já detectada.

A grande diferença entre esse tipo de espiritualista (alguns diriam, moderno) e o materialista, é que o último já se dá por satisfeito com o que já foi detectado pela ciência, enquanto o primeiro dedica a vida a desvendar os segredos da matéria fluida, não-detectada. É nesse sentido que se diz que a consciência, ou o que quer que forme seu processo, pode perfeitamente sobreviver após o fim da vida corpórea, assim como decerto já vivia anteriormente ao nascimento – dessa forma se explicariam fenômenos como experiências de quase morte, crianças que se lembram de “vidas passadas”, e outros ramos mais próximos da parapsicologia do que da auto-proclamada “ciência oficial”.

Obviamente que o fato de tais teorias espiritualistas virem sempre envoltas em questões teológicas e, segundo muitos céticos, “pseudo-científicas”, afasta muitos cientistas de seu estudo, temerosos com a possibilidade de serem conhecidos como “cientistas espiritualistas” – algo que a comunidade científica aparentemente condena, apesar de ficar por vezes igualmente aparente que muitos deles ignoram completamente o que exatamente significa ser um espiritualista.

Porém, como já foi dito por mim em outros artigos, a natureza nunca se comportou da maneira que “achávamos que iria se comportar”. Segundo Richard Feynman, “a imaginação da natureza é muito maior que a do homem, ela nunca nos deixará relaxar”. É provável que tanto os adeptos da memética quanto os reencarnacionistas vejam o mundo através de uma lente ainda desfocada, talvez o futuro da ciência e do espiritualismo ainda nos esconda mecanismos naturais tão belos e extravagantes, tão simples e transcendentes, que nossa imaginação não seja capaz de vislumbrá-los, e nossa racionalidade não seja capaz de compreendê-los.

Que as lentes se interponham. Que venha o futuro!

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Crédito da foto: [topo] Divulgação (Richard Feynman), [ao longo] Hikabu (arquétipos)

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15.12.09

Pequenos redemoinhos

A todos aqueles que não cansam de dizer
Que o mundo é cinzento
Que todo momento é feito de dor
E que não há fórmula para resolver
A angústia de se existir
Eu me pergunto: será mesmo que estão
A viver no mesmo mundo que eu?

Que na imensidão semi-plana das terras
Pode-se dizer que montanhas nada mais são
Do que cicatrizes e rugas de épocas
Perdidas na memória das eras
Mas as paredes que nos escondem o horizonte
São como um deus imóvel, tão profundamente
Absorto no próprio pensamento
Que mal percebe o sol e a lua a lhe reverenciar
No eterno baile do firmamento

Não vejo como alguém poderia reduzir
As águas caudalosas que vêm lá do alto
Fazendo a luz da manhã refletir
Nas encostas cheias de neblina úmida
Apenas a rios, cachoeiras e oceanos
Que cada córrego tem seu próprio jeito
Peculiar de se esgueirar pela lama do solo
Até atingir no rio o leito, e prosseguir
Ao além-mar

E dizer que cada flor é apenas outra cor
Com que a natureza presenteia os raios da tarde
É ignorar que cada uma delas se curva
De sua maneira – ao céu, ao vento, e a chuva
Cada fragância guarda a história de seu campo
E do amor com que foi ofertada
As abelhas e aos beija-flores
Que distribuem seu pólen, ainda que sem saber
Como sementes divinas do novo amanhecer

A todos aqueles que não cansam de dizer
Que o amor nada vale ante a morte
E que todas as coisas são como poeira
Assoprada por ventos, vindos de algum lugar
Desconhecido – eu não posso evitar
Questionar: e será que não é melhor amar
E perder, do que nunca haver sequer amado?
Pois que é a morte, senão o eterno renovar
Das coisas que formam a vida?

E o que é o desconhecido, o oculto, o inexplicado
Senão o combustível do conhecimento?
Senão buscar para se encontrar, e em se encontrando
Continuar buscando – até o alto das montanhas
Por detrás dos horizontes e muito além do mar
Após a fragância das flores e as incertezas do amor
Terem se rendido ao soar do vento
Onde toda dor se resume ao momento
Em que o ser se encara: face a face

Vai meu filho... Meu amigo... Meu irmão
Vai e procura... Vai e encontra...
E continua sempre a procurar!
Que nessa estrada infinita de seres
Todo o amor do mundo se encerra em Ti
E à Seus pés encontram-se rendidos
Todos os poetas e todos os sábios
E todo conhecimento oculto a dançar
Por entre pequenos redemoinhos de vento

raph'09

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Crédito da foto: f. a. photography

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14.12.09

Onde estarão os memes, parte 3

Continuando da parte 2...

Idéias inatas

Dawkins costuma dizer que o darwinismo é uma teoria boa demais para ficar restrita apenas à biologia. A idéia foi levada a sério pelo psicólogo evolucionista Steven Pinker, da prestigiosa Universidade Harvard. Seu livro “Tábula Rasa” (Cia. das Letras) é um extenso apanhado das contribuições da biologia darwinista a campos como a antropologia, a sociologia, a ciência política e até a crítica de arte.

O objetivo declarado de “Tábula Rasa” é nada mais nada menos do que propor uma nova idéia de natureza humana. A palavra "natureza" deve ser entendida literalmente. Diz respeito à nossa biologia, às determinações inescapáveis que a seleção natural depositou em nosso código genético. Impressas em nosso DNA estariam não apenas as instruções para fazer cinco dedos em cada mão e um nariz no meio dos olhos. Todos nascemos com uma programação básica que nos habilita à condição humana, da capacidade de aprender uma língua ao senso de justiça em trocas comerciais. O apêndice do livro traz uma lista de "universais humanos" compilada pelo antropólogo Donald Brown. Seriam características comuns a todas as culturas do planeta – uma lista de cinco páginas com itens que vão do óbvio ao curioso: medo de cobras, poesia, sorriso, linguagem, etc.

O estudo dessas características comuns do comportamento humano faz parte do programa da psicologia evolucionista, ramo científico relativamente novo, que ganhou força no final do século XX. Para esses psicólogos, se o homem trai mais do que a mulher, é porque ainda guarda muitas características da Idade da Pedra em sua mente – precisa disseminar seus genes, se reproduzindo com o maior número possível de mulheres, visto que para sua mente “ancestral”, ele ainda vive num mundo inóspito e selvagem, e não têm grandes perspectivas de sobrevivência à longo prazo. Já as mulheres seriam, ao contrário, muito mais seletivas – a gestação é um período de perigo iminente a sua sobrevivência, e a de seus filhos, e ao invés de se “arriscar” com qualquer homem que apareça, as mulheres tendem a preferir aqueles com aparência mais saudável, e que tenham maior tendência a permanecer para protegê-las durante a gestação e alguns anos depois.

Tais idéias de comportamento masculino e feminino entre as espécies não são novas. A novidade está em atribuir tamanha influência do instinto animal as decisões do homem moderno. Não se trata nem de se considerar o homem moderno como uma espécie de sub-produto da mente “ancestral”, mas por vezes quase que considerá-lo praticamente um animal irracional, a mercê dos instintos – ainda que viva com a convicção de que têm toda a liberdade do mundo em suas decisões.

As teorias da psicologia evolutiva sofrem pesadas críticas de outros cientistas mais céticos. A maior parte delas se resume a questão da falta de evidências. Nesse caso, o ceticismo não poderia estar mais bem fundamentado: a ciência simplesmente não sabe como diabos essas idéias inatas, esses comportamentos ancestrais, são passados adiante de geração a geração (se é que o são), visto que genes transmitem apenas características físicas, e não características psicológicas ou tendências comportamentais.

Entretanto, Dawkins não podia negar o que percebia claramente a sua frente – idéias inatas, sejam o que forem exatamente, certamente existem – e criou a teoria dos memes para abarcar esse problema. Acredito, no entanto, que as alegações da psicologia evolutiva caiam por terra quando analisamos algumas características mais exóticas do comportamento humano. Por exemplo: a homossexualidade...

Kim Petras nasceu menino, mas antes mesmo de completar 18 anos conseguiu se transformar em uma menina sensação da música pop alemã e britânica. Como não poderia deixar de ser, ela passou a ser um alvo dos tablóides europeus. Kim, que nasceu Tim, disse que passou a tomar hormônios em 2005, consultou dezenas de psiquiatras e sempre se viu como uma garota. Os pais deram o apoio para a transformação, relata. O último passo para o tratamento foi realizado em outubro de 2008.

Ora, muitos homossexuais e/ou bissexuais manifestam suas tendências sexuais “heterodoxas” geralmente em algum momento da adolescência – nesses casos, podemos atribuir a causa à influência da cultura e das relações sociais em suas tendências. Mas, e quanto à gente como Kim? E quanto às crianças que, desde muito cedo, dizem se sentir “presas em um corpo errado”?

A equipe chefiada pela cientista Ivanka Savic, do Instituto Karolinska, mostrou, com a ajuda da ressonância magnética, que o tamanho e a forma do cérebro variam de acordo com a orientação sexual. O cérebro de um homem gay parece o de uma mulher hétero – com os dois hemisférios mais ou menos do mesmo tamanho. O de uma lésbica, no entanto, parece o de um homem hétero – pois os dois têm o lado direito um pouco maior que o esquerdo. O cérebro de um homem gay é mais parecido com o de uma mulher do que com o de um homem heterossexual. É o que mostra seu estudo feito na Suécia, que revelou as provas mais sólidas até hoje de que a sexualidade não é uma opção, mas uma característica biológica.

“Excelente”, você pode estar pensando – a ciência parece estar comprovando que essas características não-físicas, essas idéias inatas de comportamento sexual, são realmente passadas de geração a geração... Ora, independentemente de tais estudos estarem comprovando que a homossexualidade certamente não é uma doença, eles levantam um problema enorme para os psicólogos evolutivos: afinal de contas, como a homossexualidade pode estar sendo transmitida adiante, seja por memes ou por algum outro mecanismo desconhecido, se homossexuais não têm filhos – ou seja, se não transmitem seus genes adiante?

É nesse ponto que a mente do cientista materialista deve estar se fundindo. Não há muitas opções senão ignorar totalmente o assunto, e tratar o estudo de pessoas que nascem com cérebros característicos do gênero oposto de forma separada aos estudos da memética e da psicologia evolutiva. Pois, a outra opção seria admitir que certas características psicológicas e comportamentais humanas não são passadas adiante de geração a geração, através da reprodução e da disseminação de genes ou memes, mas sim através de um mecanismo ainda oculto a ciência.

Tal mecanismo é conhecido dos reencarnacionistas a centenas de anos. A seguir, chegaremos às alternativas espiritualistas para a questão...

***

Veja também:

» Entrevista com Kim Petras na CBS (em inglês)

» Documentário "Meu Eu Secreto", da ABC, sobre crianças transsexuais (legendado)

Crédito da foto: Divulgação (Kim Petras)

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9.12.09

O sistema solar em movimento

Todos sabemos que os planetas do sistema solar orbitam nosso sol devido a sua atração gravitacional. No entanto, poucos se dão conta, em seus esquemas mentais para esse movimento, de que o sol não está parado. O sol e toda a Via Láctea se movem através do universo, influenciado por sua expansão e também pela atração gravitacional de outras galáxias. Vejam essa animação de alguns segundos criada pelo físico Nassim Haramein e o The Ressonance Project:

Tudo se move, e a terra nunca volta para o mesmo ponto após um ano de rotação em torno do sol - de fato, ela se move mais de onze bilhões de milhas todo ano através do Cosmos.

Nota: Nassim Haramein até hoje não tem trabalhos científicos publicados em sites ou revistas de renome, e suas teorias não são consideradas de forma séria (ao menos até o momento) pela comunidade científica internacional. Isso não quer dizer que seja um charlatão ou uma fraude, apenas um homem com idéias heterodoxas acerca da geometria do Cosmos.

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Onde estarão os memes, parte 2

Continuando da parte 1...

Em busca de coisas etéreas

Os sufis dizem que assim como no corpo físico de um indivíduo muitos germes nascem e se desenvolvem como seres vivos, de forma análoga, existem também muitos seres no plano mental, chamados muwakkals ou elementais. Estes são entidades ainda mais etéreas nascidas do pensamento humano, e assim como os germes vivem no corpo humano, tais elementais sobrevivem de seus pensamentos. Segundo os místicos do Islã, o homem muitas vezes imagina que seus pensamentos não têm vida; ele não percebe que eles são mais vivos do que os germes físicos, e que eles também passam por nascimento, infância, juventude, velhice e morte. Eles trabalham contra ou a favor dos homens de acordo com sua natureza. Os sufis afirmam que os criam, elaboram e controlam. Um sufi os repete e os educa através de sua vida; ele forma seu exército e subjuga seus desejos.

Quando Richard Dawkins elaborou o conceito dos memes em seu célebre livro, “O Gene Egoísta”, ele provavelmente nunca tinha ouvido falar dos elementais do sufismo. Para muitos, é uma deliciosa ironia que o “evangelizador do ateísmo” tenha despontado para o sucesso no meio acadêmico científico exatamente através de um conceito, muitos diriam – profundamente místico.

Um meme é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma se auto-propagar. Os memes podem ser idéias ou partes de idéias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autônoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.

Por exemplo, a penicilina, o antibiótico descoberto pelo bacteriologista escocês Alexander Fleming em 1928, salvou inúmeras vidas durante a Segunda Guerra Mundial, pois evitou que os soldados feridos em batalha pegassem infecções em seus ferimentos, o que até pouco tempo era morte certa. Já a insulina é o cerne do tratamento contra a diabetes, uma doença muito antiga na evolução humana; sem esse tipo de tratamento, muitos diabéticos do século passado teriam morrido ainda jovens, e não teriam tido tempo de terem filhos e passar seus genes adiante. Finalmente, a descoberta das lentes divergentes no campo da ótica permitiu que pessoas com miopia pudessem enxergar normalmente pela maior parte de suas vidas; até então essas pessoas viam o mundo de forma incompleta, e tinham sérias dificuldades em sobreviver em ambientes selvagens. Pessoas feridas em batalhas, pessoas com diabetes e pessoas com problemas de visão a distância sempre existiram, mas antes de tais descobertas tinham poucas chances de passar seus genes adiante. Esse é o poder do conhecimento humano, o poder dos memes: tomar o controle da evolução biológica, muitas vezes abrindo novas possibilidades, permitindo que pessoas que antes estavam condenadas a uma vida breve e sem filhos, possam viver normalmente e – principalmente – se reproduzir normalmente.

Que memes sejam idéias que se propagam como “germes etéreos”, até então não há aí um grande problema científico. Talvez, ao desvendarmos os mistérios da consciência e da forma como os pensamentos são formados, possamos quem sabe, até mesmo detectar tais memes em laboratório. Talvez sejam impulsos elétricos tão indetectáveis quanto os neutrinos ou a matéria escura, talvez sejam algo ainda mais bizarro; ou mais simples, como simples códigos passados através da linguagem, que despertam certas reações no cérebro alheio.

A questão é que o conceito não se resume aí. Segundo os adeptos da psicologia evolutiva, a cultura humana também se propaga, através dos memes, de geração em geração, sem que para isso a transmissão de conhecimento através da linguagem tenha de estar necessariamente envolvida. Nesse caso em específico, aí sim, os memes se tornam a alternativa mística aos genes, que transmitem apenas características físicas.

Mas será que os memes têm mesmo esse poder? E, se tiverem, o que os difere dos elementais do sufismo, ou de conceitos similares para os quais a “ciência oficial” têm torcido o nariz a tantos anos? É isso que veremos à seguir...

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Crédito da foto: Gavin Hellier/JAI/Corbis

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8.12.09

Nós não temos religião

Este é um pequeno conto sobre minha conversa com um espírito “caboclo” [1] incorporado na médium que ministra o curso de correntes magnéticas [2] do qual eu participei, e estava então na sua penúltima aula, quando temos a oportunidade de fazer perguntas diretamente a um espírito de luz [3], ou pelo menos ao mentor de uma médium já experiente.

Não sei bem porque, mas mesmo entre os estudantes mais experientes, quase ninguém pergunta sobre questões mais abrangentes, a grande maioria aproveita para perguntar sobre questões pessoais, sobre o futuro, sobre os “mortos”, sobre pedidos de ajuda a Deus, etc., ou seja – exatamente o tipo de pergunta que um espírito de luz não irá responder, pois sabe que cabe somente ao ser em si julgar o que deve fazer de sua existência, assim como cabe aos “mortos” se dirigirem aos “vivos”, e não o contrário. Mas isso não é uma crítica, apenas uma constatação.

Sem grandes expectativas acerca da resposta, que imaginei ser mesmo breve, quando me aproximei da médium incorporada e ela me dirigiu a atenção, perguntei:

“Olá minha irmã. Gostaria de fazer uma pergunta sobre vocês, e não sobre mim. Gostaria de saber qual a religião de vocês. E gostaria de saber se vocês têm uma resposta para o motivo de tantos de nós guerrearem e se matarem por causa de religião. Você teria um conselho sobre como eu poderia, através do que escrevo, ajudar a aproximar as pessoas de religiões contrárias?”

O espírito, do qual sequer sei o nome, e que até então falava com um sotaque quase incompreensível, me respondeu com um longo e inesquecível ensinamento, do qual entendi cada palavra de forma cristalina:

“Meu filho, nós não temos religião. Nós seguimos a Deus. Quem segue a Deus não se preocupa em ter religião, apenas realiza a Deus dentro de si [4].

Quando Siddharta Gautama [5] viu as pessoas sofrendo fora de seu palácio, ele não se tornou um peregrino para fundar o Budismo. Ele tão somente seguiu a Deus. O Deus que via refletido nos outros, e que acabou por realizar dentro de si.

Todo o sábio, todo o ascencionado, apenas realizou a Deus dentro de si mesmo, para então realizá-lo também no mundo, através de suas ações de amor.

Quando os hindus investigaram seus deuses, acabaram por encontrar a Brahma, o criador do universo, e alguns também conseguiram realizar a Brahma dentro de si. Outros criaram as castas, e dividiram os irmãos segundo a lei do homem, mas contra a lei de Deus. Para Deus não existem castas, meu filho.

Esses que brigam uns com os outros por causa de religião, brigam em nome de Deus, mas não brigam com Deus. Deus não está presente em brigas, Deus não poderá nunca se realizar em quem maltrata um irmão.

Mas, para chegar à realização de Deus dentro de si, é preciso do outro. É preciso essa troca (nesse momento ela colocou a mão um pouco acima de meu coração, e trouxe minha mão para a mesma região do corpo da médium – nesse momento a sensação peculiar de “fluxo de energia” se intensificou bastante).

Por isso, meu filho, somos todos irmãos, estamos todos ligados. O Deus de um só pode ser o Deus de todos, e a realização de um é também a realização de todos, é uma festa no céu.

Para acabar com essas brigas de religião, basta ensinar aos seres sobre Deus. Não o “deus” que eles pensam ter encontrado, mas esse Deus cósmico que preenche a cada um de nós. Quando todos realizarem a Deus dentro de si, não será mais preciso ter religião.

Vai em paz meu filho. (nesse momento, ao me despedir, eu beijei as mãos da médium, e o espírito, comandando seu corpo, retribuiu – beijando também as minhas mãos)”

Sim, foi inesquecível...

Eu bem sei que cada espírito, assim como cada ser encarnado, fala apenas do que sabe, e nada mais. Exatamente por isso, analiso a comunicação com os espíritos não pelos nomes que evocam (Deus, Jesus, Ave Maria, etc.) ou pelas “frases prontas” que repetem (na maioria, repetições dos evangelhos), mas pela real profundidade espiritual do que dizem.

Apesar de um espírito classificado como “caboclo” ter demonstrado conhecimento de budismo e hinduísmo, e ter falado de forma tão bela sobre Deus, ele não disse exatamente nada de novo. O que me importou, entretanto, foi à forma como ele disse o que disse. Infelizmente não sou hábil o bastante com as palavras, essas cascas de sentimento, para lhes passar exatamente a forma com que isso foi dito... Por isso também se diz que o caminho espiritual deve ser trilhado por cada um, individualmente, pois é impossível transmitir aos outros experiências deste tipo.

No entanto, este conto é tão somente minha tentativa de transmitir a você uma parte do que senti [6] naquele momento.

***

[1] Diz-se que um espírito é “caboclo” quando em suas últimas encarnações pertenceu a tribos indígenas. Eles se distinguem, independente da evolução espiritual, pela alta familiaridade com a natureza, e a dificuldade de compreender e se comunicar sobre assuntos modernos, urbanos.
Também vale lembrar que a prática de incorporação vem da Umbanda Sagrada, e não do Espiritismo. Ou seja, o centro espírita onde isso ocorreu é um centro ecumênico, e não ortodoxo.

[2] Eurípedes Barsanufo foi um grande educador, jornalista e espírita da virada do século 19 para o 20. O curso de Correntes Magnéticas é publicado pela editora Auta de Souza, e segue as técnicas iniciadas por Eurípedes décadas atrás.

[3] Essa classificação da literatura espírita é na maior parte das vezes julgada erroneamente por não-espíritas. Quando se diz que um espírito “é de luz”, se quer dizer que ele demonstra ter grande sabedoria e espiritualidade, e não que ele é alguma espécie de arcanjo, ou alguém em posição superior aos demais espíritos. E muito menos que a “luz” tem qualquer referência a sua cor de pele, até mesmo porque espíritos não têm pele.

[4] A palavra religião vem do latim re-ligare e significa “religação a Deus ou ao Cosmos”. Já a palavra igreja vem do grego ekklesia (ou do latim ecclesia) e significa “comunidade dos escolhidos por Deus”. Acredito que, no contexto do que o espírito disse, o significado ficaria melhor traduzido como “nós não temos igreja” – entretanto, achei melhor manter a resposta conforme foi ditada originalmente, inclusive para o título deste conto, até mesmo porque eu mesmo esqueci de usar “igreja” (ao invés de “religião”) em minha pergunta. Em todo caso, mais importante do que se ater as palavras, é se ater aos significados.

[5] Trata-se do Buda. Devo confessar que originalmente pensei em perguntar sobre o conhecimento dos espíritos das religiões orientais, como o Budismo e o Hinduísmo. Não sei se o espírito “leu minha mente”, mas terminou por incluir esse conhecimento em sua resposta, tornando-a ainda mais inesquecível para mim.

[6] A compreensão espiritual não se dá apenas pelo que vemos e ouvimos, mas pelo que realmente sentimos através de nosso espírito, de forma abrangente. Entenda quem tiver ouvidos para entender.

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Crédito da foto: Laura Monteiro

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7.12.09

Onde estarão os memes, parte 1

Decifrando a empatia

Uma das descobertas mais recentes e importantes da neurologia foi a dos neurônios-espelho. Eles foram descobertos inicialmente na área de planejamento motor do cérebro de macacos, e estudos subseqüentes de imageamento cerebral sugeriram que também existem nos humanos. Esse sistema aparenta ser mais amplo nos humanos do que nos macacos, por não se restringir às áreas do movimento, mas abranger locais relacionados às emoções, sensações e intenções. Propiciam um conhecimento imediato do que se passa na mente de outra pessoa; acredita-se que essa capacidade de saber o que o outro está sentindo ou fazendo seja a base da imitação.

Ao vermos outra pessoa emocionar-se, as áreas cerebrais associadas a essa sensação são ativadas, tornando as emoções transmissíveis. Em um estudo, voluntários cheiravam algo repulsivo e mais tarde observavam outra pessoa cheirando alguma coisa e expressando asco. Os dois produziram atividade neuronal na área do cérebro associada com a sensação de repugnância. Acredita-se que o espelhamento das emoções seja a base da empatia. Descobriu-se que autistas, que tendem à falta de empatia, apresentam menor atividade nos neurônios-espelho [1].

Segundo a antropologia moderna, a empatia e a imitação talvez tenham sido a base do mecanismo que nos tornou humanos. Ao observarem outras pessoas em seu grupo social, nossos ancestrais começaram a tentar desvendar o que se passava em suas mentes – e, para tal, tiveram que imaginar cada qual como um indivíduo em separado. Segundo a teoria da mente, pela primeira vez nossos ancestrais adquiriram a capacidade de julgar a intencionalidade de outro indivíduo, passando a “pensar como se fossem outra pessoa”, na tentativa de antever suas ações.

Ainda hoje, através do teste de Sally e Anne, psicólogos evolutivos são capazes de identificar a partir de qual idade as crianças geralmente se tornam capazes de atribuir crenças falsas a outros indivíduos. Geralmente, somente a partir dos quatro anos as crianças conseguem identificar que uma boneca, Anne, propositalmente muda uma bola de uma cesta para outra, enquanto sua amiga, Sally, não está vendo – quando Sally retorna, deve procurar na cesta em que acha que a bola estaria, quando não está mais. Talvez, seja a partir dessa idade que “perdemos a inocência” e passamos a compreender o conceito de mentira e manipulação. Mas, da mesma forma, é a partir da mesma idade que começamos a compreender que cada ser humano tem sua própria mente e suas próprias intenções – algo que nos será absolutamente essencial para o restante de nossas vidas.

Segundo Steven Mithen em seu célebre livro, “A pré-história da mente”, os hominídeos pré-humanos apresentaram variadas gradações de módulos de inteligência – a inteligência geral, a naturalista, a técnica e a social. Porém, somente nos homo sapiens esses módulos da mente se unificaram em um único grande conjunto, de modo a possibilitar o surgimento da cultura, da arte e da religião humanas. No entanto, observando outras espécies ainda próximas em nosso galho evolutivo, como bonobos e chimpanzés, sabemos que de todos esses módulos, o que mais contribuiu na evolução cognitiva da mente humana foi, sem dúvida, o social.

Estima-se que, ainda na época atual, as pessoas passem em torno de 2/3 de seu tempo de interação com outras pessoas falando sobre assuntos de cunho social – ou, em outras palavras, fofocando [2]. Isso surpreendeu até mesmo os maiores entusiastas da psicologia evolutiva. E a explicação para isso é simples: foi através de nossas interações sociais ancestrais, desde as pequenas tribos africanas de onde viemos, que desenvolvemos a linguagem. E a linguagem sim, é o grande catalisador de tudo o que veio depois. Sem a linguagem, toda nossa arte, religião e ciência seriam resumidos ao que cada geração conseguiu desenvolver em sua época, pois quase nada seria passado adiante as gerações seguintes. Em suma, como os hominídeos ancestrais, seríamos capazes de produzir machados de pedra no exato mesmo formato por mais de um milhão de anos, sem nenhuma inovação, sem nenhuma criatividade. Pois estes são próprios de uma mente onde os módulos de inteligência se conectaram, e também da linguagem que pôde passar tais descobertas adiante.

No entanto, essa não é toda a história até aqui. Segundo Richard Dawkins, na era atual a nossa evolução não é mais comandada somente pelos genes, que determinam apenas as características físicas de uma espécie, e dependem do lento processo de seleção natural, de milhares e milhares de anos, para que alguma mudança efetiva seja efetuada... Hoje, estamos na era da evolução memética, onde os memes tomaram o controle de nossa evolução cultural. Desse modo, não dependeríamos apenas da linguagem para passarmos nossa cultura adiante, pois os memes fariam isso por nós, sendo passados de geração em geração, transmitindo características culturais, e não apenas físicas, adiante.

Interessante? Sem dúvida. No entanto, falta-nos descobrir onde diabos estão esses memes. É isso que tentaremos fazer a seguir...

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[1] Segundo “O Livro do Cérebro”, da DK, publicado no Brasil pela editora Duetto.

[2] Segundo a série de documentários “Evolução”, da NOVA, lançada no Brasil também pela editora Duetto.

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» Vejam também esta palestra no TEDTalks, onde Paul Zak (Dr. Amor) fala sobre a oxitocina, a "molécula da moralidade e da empatia"

Crédito da imagem: Beau Lark/Corbis

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4.12.09

Jesus e a neurologia

Uma das recentes descobertas mais importantes da neurologia é a de que nossa consciência, ou processo de consciência, opera com defasagem de cerca de meio segundo em relação ao “tempo real”. Todos nós sabemos que vemos a luz de um relâmpago alguns momentos antes de ouvir o estrondo do trovão, que vêm na seqüencia, apesar de ambos serem ondas de partículas resultantes do mesmo raio – ocorre que as ondas de luz viajam pelo ar com uma velocidade muito superior as ondas sonoras.

No caso do raio, a distância temporal entre o relâmpago e o trovão é bem superior a meio segundo, e nesse caso a consciência “separa” os dois em dois momentos distintos, como de fato o são. Já em outras situações, a consciência consegue “mesclar” som e luz, de modo a que interpretemos a ambos como ocorridos no mesmo momento. Quando vamos a um concerto de rock, a luz que nos chega aos olhos mostrando nosso guitarrista predileto dedilhando as cordas de sua guitarra viajou muito mais rápido do que o som dos acordes tocados, mas nosso cérebro compensa esse fato iniciando o processamento do som assim que as ondas chegam, enquanto o processamento da luz fica alguns centésimos de segundo em stand by, aguardando o input sonoro para que a consciência nos entregue estes momentos como se fossem simultâneos: o dedilhar da guitarra e o som proveniente dos alto-falantes do show.

Reações emocionais, como o medo, também são desencadeadas antes de forma inconsciente – e depois de cerca de meio segundo, conscientemente. Por isso quando andamos pela rua e “sentimos a presença de alguém atrás de nós”, essa sensação nos chega primeiro de forma inconsciente, como uma alerta de perigo: “algo se aproxima!”; Então, frações de segundo depois, quando identificamos do que se trata – por exemplo, virando a cabeça para ver quem se aproxima – temos uma resposta consciente... Não vivemos mais como tribos sedentárias trilhando a natureza selvagem, e felizmente na maior parte do tempo esses alertas provam ser nada mais do que pequenos sustos de nosso sistema inconsciente, sempre de prontidão. Entretanto, também é graças a ele que evitamos alguns assaltos no meio do caminho.

Em suma, estamos equipados com um elegante sistema de percepção. Através dele, não é preciso “ver” o perigo, ou seja, processá-lo visualmente de forma consciente, para que possamos iniciar nossa resposta a ele. Ainda não se sabe ao certo “com que olhos” percebemos a aproximação de alguém, pois muitas vezes nosso tato não é aguçado o suficiente para perceber um pequeno deslocamento de ar em nossa volta, mas fato é que nossas reações inconscientes ao perigo são, e foram, vitais para nossa sobrevivência enquanto homo sapiens.

A cerca de dois mil anos atrás um sábio nos trouxe esse conselho:

Ama teu irmão como tua alma, protege-o como a pupila dos teus olhos [1].

Esta frase de Jesus não é encontrada em nenhum evangelho do Novo Testamento, mas sim no evangelho “apócrifo” de Tomé. A princípio ela não traz nada de novo em relação a frases parecidas dos evangelhos “oficiais” de Constantino – porém, hoje se sabe, através dessas descobertas da neurologia, que ela nos traz um ensinamento “um pouco mais profundo”, para aqueles que têm olhos, e conhecimento, para ver...

A reação de proteger os olhos ante algum objeto arremessado em sua direção é, talvez, a mais instintiva e inconsciente de todas as reações ao perigo eminente. É impossível ficar de olhos abertos quando um objeto é arremessado em nossa direção, e caso tenhamos mãos livres, é igualmente impossível evitar o reflexo instintivo de levá-las ao resto para protegê-lo. Não se trata mais de uma escolha consciente, nosso cérebro nos “força” a nos proteger.

Ainda mais interessante do que isso, entretanto, são os resultados de pesquisas sobre reações inconscientes e conscientes de acordo com o aprendizado de certas atividades. Alguém que está aprendendo a dirigir um carro, por exemplo, precisará de ações conscientes para todas as pequenas atividades e movimentos requeridos: virar a direção, mudar a marcha, verificar o espelho, procurar um retorno na estrada. Já um motorista habilitado, com apenas alguns meses de experiência, fará quase tudo isso de forma inconsciente... Apenas em rotas em que dirige pela primeira vez, desconhecidas, irá procurar pelo retorno na estrada de forma consciente. Já em rotas que trafega todos os dias, até mesmo isso fará no modo “automático” [2].

Reagir no “automático” é também compreendido como reagir de forma natural, sem julgamentos, sem a necessidade de decisões conscientes. Como um animal que age por instinto.

Não é plausível imaginar que conseguiremos aprender a amar tão facilmente como se aprende a dirigir um carro. Porém, é perfeitamente plausível imaginar que o amor, como qualquer outra atividade consciente, também se aprende e se aprimora com a prática. Portanto, não basta desejarmos sermos mais amorosos apenas na teoria, na base da promessa para Deus ou para nós mesmos... Para se amar cada vez mais e melhor, nos basta praticar, nos basta, simplesmente, amar!

Mas, será que um dia conseguiremos seguir a este conselho de Jesus em toda a sua divina plenitude? Amar sem julgar, sem se perguntar o porque? Amar naturalmente, amar de forma instintiva, amar integralmente?

Talvez estejamos ainda muito longe disso, mas ainda nos vale a torcida para que toda a nossa ciência, e toda a nossa compreensão de nós mesmos, ainda hão de nos ajudar a chegar lá – na terra dos que amam incondicionalmente.

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[1] Verso 25 do Evangelho de Tomé, achado em Nag Hammadi.

[2] Para maiores detalhes sobre esta e outras pesquisas da neurologia moderna, recomendo a leitura do Livro do Cérebro, que está sendo publicado em 4 edições separadas pela Editora Duetto, nas bancas nos últimos meses de 2009. Outra dica são os livros de Oliver Sacks, publicados no Brasil pela editora Cia. Das Letras.

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Crédito da imagem: Arjuna Zbycho

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3.12.09

Ventura

Texto do poeta inglês John Galsworthy, nobel de literatura de 1932, traduzido do original (Felicity) por Rafael Arrais [1].

Quando Deus é tão bom para os campos, de que uso são as palavras – essas pobres cascas de sentimento! Não há como se pintar a Ventura nas asas! Nenhum meio de passar para a tela a glória etérea das coisas! Um único botão-de-ouro dos vinte milhões em um campo vale mais do que todos esses símbolos secos – que não poderão nunca expressar o espírito da neblina espumosa de Maio a se chocar com os arbustos, o coral dos pássaros e das abelhas, as anêmonas a se perder de vista, as andorinhas de pescoço branco em sua Odisséia. Aqui apenas não existem cotovias, mas quanta alegria de sons e de folhas; de estradas a refletir o brilho das árvores, os poucos carvalhos ainda em dourado amarronzado, e a poeira ainda espiritual! Apenas os melros-pretos e os sabiás podem cantarolar este dia, e os cucos no topo da montanha. O ano fluiu tão rápido que as macieiras já deixaram cair quase todas as suas flores, e nos prados alongados, a grama verde já deixou crescer suas “adagas”, ao lado dos estreitos córregos ensolarados. Orfeu senta-se por lá em alguma pedra, quando ninguém passa por perto, e toca sua flauta para os pôneis; e Pan pode eventualmente ser visto dançando com suas ninfas nos bosques onde é sempre crepúsculo, se você se deita e permanece calmo o suficiente no barranco da outra margem.

Quem pode acreditar em envelhecer, enquanto estamos envoltos nesse manto de cores e asas e sons; enquanto esta visão inimaginável está aqui pronta para ser observada – os carneiros de face lisa ali ao lado, e os sacos de lã secando pendurados na cerca, e grandes números de patos ainda pequenos, tão confiantes que os corvos já pegaram vários.

Azul é a cor da juventude, e as flores azuis têm uma aparência enigmática. Tudo parece jovem, muito jovem para trabalhar. Existe apenas uma coisa ocupada, um passarinho, bicando larvas para sua pequena família, acima de minha cabeça – ele deve precisar fazer esse vôo umas duzentas vezes por dia. As crianças devem ser bem gordinhas.

Quando o céu é tão aventurado, e as flores tão luminosas, não parece ser possível que os anjos de luz deste dia possam passar à escuridão da noite; que lentamente essas asas devam se fechar, e o cuco se colocar para dormir. Insetos enlouquecidos dançam junto à tardinha, a grama se arrepia com o orvalho, o vento morre, e nenhum pássaro canta...

Ainda assim, acontece. O dia se foi – o som e o glamoroso farfalhar de asas. Lentamente, o milagre do dia passou. É noite. Mas a Ventura não se retirou; ela apenas trocou o seu manto pelo silêncio, o veludo, e a pérola da lua. Tudo está adormecido, exceto uma única estrela, e as violetas. Porque elas gostam mais da madrugada do que as outras flores, eu não faço idéia. A expressão em suas faces, quando uma se curva ao crepúsculo, é mais doce e astuciosa do que nunca. Elas partilham algum acordo secreto, sem dúvida.

Quantas vozes se renderam ao fantasma da noite e desistiram de cantar – restou apenas o murmúrio do córrego lá fora, na escuridão!

Com que religiosidade tudo isso tem sido feito! Nenhum botão-de-ouro aberto; as coníferas com as sombras derrubadas! Nenhuma traça apareceu ainda; está muito cedo no ano para os noitobós; e as corujas estão quietas. Mas quem poderia dizer que neste silêncio, nessa luz macilenta a pairar, nesse ar privado de asas, e de todos os odores exceto o frescor, existe menos do incomensurável, menos disto que as palavras são ignorantes em explicar?

É estranho como a tranqüilidade da noite, que parece tão derradeira, é habitada, se alguém permanece calmo o bastante para perceber. Um pequeno cordeiro está choramingando lá fora preso a sua amarra; um pássaro em algum lugar, dos pequenos, a cerca de trinta metros, assobia da maneira mais deliciosa. Existe um cheiro também, por debaixo do frescor doce das roseiras, eu acho, e das nossas madressilvas; nada mais poderia se espalhar de tal forma delicada pelo ar. E mesmo na escuridão as rosas têm cor, talvez mais belas do que nunca. Se as cores são, como dizem, apenas o efeito da luz em variadas ondas, alguém poderia pensar nelas como uma melodia, o som de agradecimento que cada forma entoa, para o sol e a lua, para as estrelas e o fogo. Essas rosas coloridas pela lua estão cantando um som bem silencioso. De repente eu percebo que existem muitas outras estrelas ao lado daquela ali, tão vermelha e observadora. O falcão passou por ali com seus sete amigos; ele se aventurou muito alto e profundamente na noite, na companhia de outros voando ainda mais distantes...

Essa serenidade da noite! O que poderia parecer menos provável de prosseguir, e se metamorfosear novamente no dia? Certamente agora o mundo encontrou o seu sono eterno; e o brilho de pérola da lua irá perdurar, e este precioso silêncio nunca mais irá renunciar ao seu reinado; a uva-flor deste mistério nunca mais irá brilhar novamente na luz dourada...

E ainda assim, não é o que ocorre. O milagre noturno se passou. É manhã. Uma luz pálida desponta no horizonte. Estou à espera do primeiro som. O céu ainda é nada mais do que papel acinzentado, com a sombra dos gansos selvagens a passar. As árvores não passam de fantasmas. E então começa – o primeiro canto de um passarinho, espantado em descobrir o dia! Apenas uma chamada – e agora, aqui, ali, em todas as árvores, repentinamente todas as respostas vêm em socorro, e o coral mais doce e despretencioso ecoa. Seria a irresponsabilidade alguma vez tão divina quanto isso, o piar dos pássaros? Então – açafrão no céu, e silêncio uma vez mais! O que será que os pássaros fazem após o primeiro Coral? Pensam em seus pecados e seus negócios? Ou apenas dormem um pouco mais? As árvores estão rapidamente soltando a imaginação, e os cucos começam a chamar. As cores estão queimando nas flores; o orvalho as saboreia.

O milagre acabou, pois a radiação iniciou seu trabalho; e o sol está desgastando essas asas negras e ocupadas com seu dourado. O dia chegou novamente. Mas sua face parece um pouco estranha, não mais como fora ontem. Estranho de se pensar, nenhum dia é como o dia que se foi e nenhuma noite como a noite que virá! Por que, então, temer a morte, que é noite e nada mais? Por que se preocupar, se o dia que virá trará uma nova face e um novo espírito? O sol iluminou o campo de botões-de-ouro agora, o vento acariciou os limoeiros. Alguma coisa me faz sombra, passando ali em cima.

É a Ventura em suas asas!

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[1] Admito que essa tradução estava bem além das minhas capacidades linguísticas, poéticas e zoológicas. Se você conhece inglês profundamente, recomendo ler o original - Felicity.

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Crédito da foto: Wikipedia (botões-de-ouro)

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1.12.09

De onde vem o sol

Em latim, temos uma curiosa semelhança entre as palavras casu e occasu. A primeira significa acaso, e a última, ocaso. A palavra ocaso hoje significa, dentre outras coisas, “o momento do dia em que o sol se põe”, e também “o ponto cardeal que indica o local onde ele se põe”. Já a palavra acaso nos chega com um significado bem diverso a primeira vista: “algo que ocorre sem causa aparente, um evento de causa desconhecida”.

Ora, sabemos que na natureza todo efeito tem causa. Se esta máxima não fosse verdadeira, dificilmente nossa ciência e mesmo nossa filosofia teriam chegado aonde chegaram. Imaginar um efeito sem causa é imaginar a fantasia na realidade, e o aniquilamento das leis naturais: nesse caso, passes de mágica e milagres deveriam ocorrer à todo momento em nossa volta. Evidentemente a realidade não é bem assim – por mais que ainda nos falte compreender a maior parte dos mecanismos da natureza, sabemos que tanto aqui na terra quanto em galáxias a milhões de anos-luz de distância, todo efeito tem causa, e as leis naturais continuam sendo válidas. Uma das características do universo que permitem que a ciência e, particularmente, a cosmologia, se desenvolvam, é exatamente essa: a simetria da natureza.

Simetria não necessariamente significa design, mas significa organização. Organização de acordo com sutis e elegantes leis que englobam todo o Cosmos. Os povos antigos, no entanto, talvez não conhecessem tão bem a tais leis como temos a felicidade de conhecer na era atual. O sol, que possibilitava a vida e a colheita, e afastava as sombras da noite, vinha de algum ponto distante além do horizonte, nascendo de sabe lá onde e se pondo do outro lado da terra. Lindo, demasiadamente maravilhoso – porém estranho, demasiadamente misterioso. Talvez, para os povos antigos, o nascer do sol e o por do sol fossem eventos tão extraordinários, embora inexplicáveis, que eles achavam que sua causa exata permaneceria oculta por todos os tempos. O acaso e ocaso do sol era um baile diário, sagrado, incomensurável, desconhecido...

No Egito antigo, porém, Eratóstenes precisou apenas de duas estacas de madeira, alguns ajudantes disciplinados, e uma mente curiosa, para descobrir o mistério das sombras que se moviam com o tempo. Eratóstenes, através das sombras de meras estacas, descobriu não só que a terra era esférica, como calculou sua circunferência com a precisão de algumas centenas de metros. Dizem que alguns livros da grande biblioteca Alexandria, que se perderam, já mencionavam que a terra era um esfera que girava ao redor de um sol fixo. Infelizmente os bárbaros e os dogmas venceram o brilho de Alexandria, e a humanidade só pôde comprovar tais previsões muitos séculos depois.

Hoje sabemos que o sol também se move, juntamente com a galáxia, juntamente com o restante do universo em expansão. Somos poeira a girar em vórtices pelo turbilhão do Cosmos. Nossa ciência percorreu um longo caminho desde que os antigos ainda olhavam para o sol com um misto de assombro e desconfiança... porém, ainda temos muito mais a avançar.

Na ânsia por explicações fáceis, que não resolvem as grandes questões da existência, muitos preferem relegar todo o Cosmos, tudo o que ocorre e ocorreu, ao acaso. Eles se esquecem que o acaso não existe enquanto explicação, mas apenas enquanto não-explicação. Dizer que o universo surgiu do acaso é o mesmo que dizer “o universo surgiu de alguma causa que nos é desconhecida” – não muito distante de dizer que a origem do universo é um “mistério divino”, não muito distante dos antigos que olhavam para o sol e fantasiavam sobre terras além do horizonte inalcansável.

Mesmo na mecânica quântica, onde tudo parece aleatório, as previsões teóricas sempre se comprovaram com acuidade quase inacreditável frente á tamanha bizarrice da natureza. Dizer que a aleatoriedade quântica poderia explicar como um universo surgiu do nada é o mesmo que dizer que um unicórnio rosa pode surgir nesse momento, em meio aos átomos que se agitam no ar a sua volta. Até que um unicórnio nos ameace com seu chifre, tudo o que poderemos afirmar com honestidade é que não fazemos a menor idéia do porque as partículas se comportam como se comportam no mundo do muito pequeno... Mas, ainda que flutuações quânticas pudessem explicar como partículas podem surgir do vácuo, ainda assim não explicaria como poderiam surgir do nada, visto que o vácuo está muito distante de ser o nada.

Enquanto andamos por esse Cosmos seguindo a luz do ocaso, não deixemos que a noção do acaso sem causa nos contamine a mente e nos faça desistir de prosseguir nessa infinita jornada de conhecimento. Do real conhecimento da causa de todo esse mecanismo elegante do sistema-natureza, e não apenas das respostas fáceis que pairam sobre aqueles que continuam a temer o desconhecido – tal qual aos antigos, temendo que o sol se pusesse para nunca mais voltar.

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Crédito da foto: Joseph Umbro

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