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29.10.15

Frases (19)

Palavras nômades que vêm e vão. Costumam aparecer primeiro no meu twitter, e depois aqui:


"Quando muda nossa percepção do mundo, de certa forma, o mundo todo muda. Afinal, lá fora está o aro, aqui dentro, o eixo."

"Há uma fonte no subterrâneo de cada ser humano. Contanto se mantenha a cavar, ela jamais deixará de lhe dar água."

"Quase sempre, quem se incomoda em admitir restrições ao livre-arbítrio é o ego. Quem está plenamente conectado com sua essência, não é livre porque 'pode suprir qualquer desejo'; é antes, livre, porque já não deseja nada... Já não é feliz para ficar triste nem triste para ficar feliz, apenas é, junto a Natureza. Já não sobrevive, vive!"


"A morte vem só a meia-noite. Até 23:59 persista, firme, erguendo o Céu dentro de si."

"Há uma lei que permite que todos permaneçam sonolentos enquanto assim desejarem, mas são incapazes de sonhar..."

"Na filosofia, a única certeza que temos é de que existe algo, e não nada... Ironicamente, o que muitos místicos navegantes descobriram a duras penas é que, no fim das contas, não necessitamos realmente de nenhuma outra."


"Um anjo caído não pode se arrepender?"

"Se alguém é criado 'programado para ser mal', não é um ser com livre-arbítrio, é um robô; neste caso: quem o programou?"

"Muitos ainda creem num deus ansioso por julgar os outros, e decidir quem vai para o Céu ou Inferno... Enquanto isso, os místicos e os santos já estão no Céu que ergueram para si próprios, aguardando a chagadas dos demais. E lá há um Mestre de Cerimônias, e os convites para a sua celebração eterna foram enviados a todos, desde o início dos tempos."


"Einstein disse que o tempo é uma dimensão. A mecânica quântica disse que essa dimensão é mais como um rio do que como uma estrada sinalizada."

"Viajar pelo tempo, ou seja, viver, é como caminhar numa trilha que muda a todo momento, de modo que fica impossível fazer um mapa do caminho."


"De certa forma, todos somos refugiados. Mas há muitos que se esqueceram. E, nesse esquecimento, creem em linhas imaginárias e lendas acerca do direito de um povo a esta ou aquela terra."

"Se quer que os homens sejam irmãos, faz com que construam uma torre. Mas, se quer que eles se odeiem, joga-lhes um punhado de trigo." (Saint-Ex)


"Encontrar a verdadeira identidade é o ato máximo da inteligência." (Lúcia Helena Galvão)

"Com que idade você estaria se você não soubesse quantos anos tem?" (Anônimo)

"E se, de repente, destruíssemos todos os espelhos e deixássemos de contar os dias, as semanas, os meses, os anos? Em que momento nos perceberíamos velhos?" (Anônimo)


"Até que você faça consciente o inconsciente, ele vai dirigir a sua vida, e você vai chamá-lo de destino." (Carl Jung)

"Tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto." (Manoel de Barros)

"Deus: É o amor com cabelo grande e poderes." (Ana Milena Hurtado, 5 anos)

***

Crédito da foto: Marília Del Vecchio

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20.10.15

Mantiqueira

Eu venho neste lago desde pequenino
contemplar a tranquilidade das águas
a receber as lágrimas da Mantiqueira
e, como divino conselheiro,
responder com este silêncio,
um silêncio ensurdecedor!

Eu também já vim chorar ao seu lado
as desilusões da adolescência
neste mundo carregado de chumbo;
então, como grandes amigas,
as araucárias à margem me consolaram:
me falaram de sua dança de brisas e sementes
e de como flertam umas com as outras
há tanto, tanto tempo,
que aqueles meus momentos de angústia
eram como o breve piar dos pássaros
que enchiam o mundo de música...

Ó, as araucárias me ensinaram
a enxergar a sinfonia inteira!

E hoje, aqui, sou o testemunho
de que tinham razão:
vejo a mulher que amo,
a futura mãe dos meus pequeninos,
contemplar o mesmo lago
sob a sombra das mesmas araucárias...

É então que, subitamente, penso nas montanhas
que sempre abraçaram o horizonte daqui,
e em como, para elas, o tempo do amor das araucárias
é tão breve quanto o tempo da minha própria vida
em relação as árvores.

E ainda, que este lago em si
carrega em seu leito
as testemunhas liquefeitas
do início dos tempos!

E assim, inundado de poesia,
eu lembro que esqueci o celular no chalé,
e corro morro acima
para colocar logo em papel
este meu pequeno testemunho
do piscar dos olhos
da serra que chora...


raph'15

Amantikir é um termo indígena que deu origem à palavra Mantiqueira, cujo significado é “Serra que Chora”. A Serra da Mantiqueira é uma cadeia montanhosa que se estende por três estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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Crédito da foto: raph

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13.10.15

Sheldrake contra a ortodoxia científica

Entre 2007 e 2008, quando participava de produtivos fóruns de discussão online sobre fé e razão no saudoso Orkut, acabei dialogando com um sujeito (que chamarei aqui de Flávio, embora não seja o nome real, pois não se trata de pessoa pública) que tinha uma fé cristã tão arraigada que acreditava piamente que tudo o que ocorria no universo era uma ação direta de Deus.

Me lembro de haver perguntado ao Flávio assim: "Mas se eu estou aqui digitando e discordando de você, pois creio que guardo uma certa liberdade própria, então seria Deus que estaria me fazendo digitar cada tecla do meu teclado e enviar esse texto para você?"... Flávio respondeu que sim. Esse tipo de negação total de qualquer espécie de liberdade ou livre-arbítrio sempre me pareceu um tanto radical, embora não admirasse menos a fé de Flávio por conta disso, visto que ele sempre me tratou educadamente, apesar de discordar do meu pensamento.

O mesmo tipo de espanto eu senti ao me deparar com os materialistas mais radicais, ou poderia-se dizer, mais fiéis a premissa básica do materialismo. Filósofos como o americano Daniel Dennett defendem que a consciência não existe, e aquilo que entendemos pelo "ato de se estar consciente" não passa de uma ilusão cerebral. Materialistas eliminativos como Dennett creem piamente que todas as nossas escolhas são fruto de reações químicas em nosso cérebro, e que os cerca de 4% da matéria e energia detectadas no universo são suficientes para explicar todos os processos conscientes.

Eu continuo até hoje espantado com o fato da mente humana conseguir chegar a extremos de crença como os dois citados acima, e até já escrevi um artigo sobre isso...

Mas felizmente existem mentes mais céticas e curiosas, que ainda creem não somente em sua própria liberdade de conhecer e questionar o mundo, como conseguem fazer isso através do próprio método científico. Nesta palestra para o TED, o biólogo britânico Rupert Sheldrake questiona diretamente os maiores dogmas do materialismo científico, e critica a Academia por limitar o escopo da ciência moderna ao se manter presa a dogmas do século XIX. O mais interessante é que Sheldrake não é um "cientista qualquer": possui mais de 80 artigos científicos publicados (inclusive na Nature), além de 10 livros (um deles o monumental Ciência sem Dogmas, que ele menciona no vídeo) e diversos artigos que ainda hoje aparecem com certa regularidade em reconhecidos jornais ingleses.

Talvez por isso tal palestra tenha sido "banida" do canal do TED no YouTube, devido a pressão de cientistas mais ortodoxos, digamos assim. É claro que isso só fez o interesse pelo que Sheldrake diz nela aumentar enormemente, de modo que somente um dos "espelhos" dela no YouTube já se aproxima de um milhão de visualizações.

Antes de escutarem ao que ele tem a dizer, no entanto, vale lembrar duas coisas: (1) A intenção de Sheldrake não é substituir o dogma materialista por algum dogma religioso, tanto pelo contrário – a despeito do que dizem por aí, as suas teorias também vão contra visões de mundo muito mais antigas do que o materialismo do século XIX; (2) O fato de Sheldrake chegar a questionar consensos estabelecidos, como até mesmo se a velocidade da luz é realmente constante, não significa que ele tenha razão em sua crítica, apenas levanta uma via de pesquisa que pode eventualmente nos trazer uma visão mais abrangente das "leis naturais" – o que é certamente mais de acordo com a ciência genuína do que termos a velocidade da luz estabelecida "por decreto", como ocorre hoje.

E agora, com vocês, o homem que desafiou a Academia:

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Crédito da imagem: Google Image Search/Red Ice Radio

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11.10.15

Agora, sem as rodinhas!

Quando surgiu pela primeira vez na comunidade científica, a ideia de que todo o universo tivesse se originado de uma espécie de “átomo primordial” há bilhões de anos, e que vinha se expandindo desde então, pareceu tão absurda que um famoso astrônomo da época a chamou de Big Bang num programa de rádio da década de 1940.

A intenção de Fred Hoyle, o cientista britânico defensor da teoria do universo estacionário ou eterno, era ridicularizar a teoria do belga Georges Lamaître, aquele quem primeiro propôs a ideia de que o próprio espaço-tempo se encontrava em expansão. O fato de Lamaître, para além de físico e astrônomo, ser também um padre católico, certamente levou Hoyle a supor que ele estava se baseando mais nos dogmas do Gênesis do que em ciência genuína...

Mas hoje sabemos que a hipótese do Big Bang venceu a batalha contra o universo estacionário de Hoyle, e o que determinou a vitória foram os fatos: em 1966, já próximo da morte num leito de hospital, Lamaître foi comunicado que os astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson haviam confirmado experimentalmente a existência da chamada radiação cósmica de fundo, uma espécie de “registro fóssil” em micro-ondas da época em que todo o universo era quente e denso, apenas cerca de 380 mil anos após o seu início.

Junto com outras evidências, como a de que as galáxias ainda hoje estão se afastando umas das outras, e a observação de uma imensa abundância de elementos leves no universo, hoje a teoria do Big Bang é de muito longe a hipótese mais aceita na comunidade científica, fazendo parte do chamado “modelo padrão”. Penzias e Wilson ganharam o Prêmio Nobel de Física de 1978 por sua descoberta. Se estivesse vivo, Lamaître certamente teria o seu Nobel garantido.

A ideia de um universo eterno, entretanto, era um conceito muito mais antigo do que o advento da própria astronomia moderna; um paradigma tão cristalizado na mente humana que eventualmente também se tornou quase que um dogma científico, ao ponto de ter tirado o sono até mesmo de Albert Einstein, que relutou o quanto pôde em admitir que o universo de fato se expandia. O célebre físico alemão chegou a dizer que este foi “o pior erro de sua carreira”.

Realmente não é fácil quebrar antigos paradigmas. Demócrito e outros filósofos atomistas da Grécia Antiga, por exemplo, acreditavam que os átomos eram eternos e imutáveis. Pitágoras e seus discípulos consideravam que todo o universo era ordenado por princípios imateriais eternos de harmonia e “verdades matemáticas”. Já Platão foi ainda mais longe, e generalizou a matemática transcendente pitagórica para uma visão mais ampla de Ideias arquetípicas e universais, que incluíam a Forma de cada objeto ou qualidade, como cavalos, seres humanos, cores e bondade. Segundo o grande filósofo grego, a própria realidade era composta por “sombras e reflexos das Formas transcendentais”.

Sempre foi complexo para a mente humana imaginar uma Natureza evolutiva, que não surgiu “pronta e acabada”, com todas as suas leis e variáveis imutáveis. E isso, é óbvio, se reflete também nas ideias científicas.

Ironicamente, o mesmo paradigma de universo estacionário com leis imutáveis gerou um baita problema para a visão ateísta do mundo... De acordo com o Princípio Antrópico, se as leis e constantes cosmológicas fossem ligeiramente diferentes após o Big Bang, não teria sido possível o surgimento de formas de vida baseadas em carbono, como nós aqui neste planetinha. Uma das respostas óbvias para tal enigma é que a própria Criação foi obra de alguma espécie de inteligência superior, ou seja, a ciência se vê forçada a retornar a hipótese de um Criador.

Para contornar esse “incômodo”, muitos cosmólogos preferem pensar que há inúmeros universos além do nosso, cada um deles com leis e constantes específicas. Nesses modelos de “multiverso”, o fato de calharmos de estarmos aqui, conscientes e maravilhados, se explica pela extraordinária sorte de fazermos parte de um dos bilhões e bilhões de universos que propiciou o surgimento da vida como a conhecemos. Segundo esses modelos, não faz o menor sentido reclamarmos de qualquer espécie de azar, pois a nossa sorte em estarmos aqui vivos é tão imensamente grande que equivale a uma chance estatística inferior a sermos atingidos por um raio a cada minuto durante toda a vida (e, nesse caso, também considerando as chances de sobrevivermos a todos eles).

Portanto, se as leis e constantes são imutáveis e tudo estava determinado desde o início dos tempos, tanto faz se calhamos de existir num dos universos que possibilitou a vida baseada em carbono, ou se este universo único foi criado conforme descrito no Gênesis, as chances estatísticas provavelmente se equivalem, e tudo passa a ser uma questão de “gosto pessoal” que defina qual aposta é menos absurda do que a outra.

No fundo, todas as teorias que postulam a existência de um multiverso possuem a crença comum na primazia da matemática sobre a realidade. Mesmo que existam muitos universos além do nosso, o que os sustenta, segundo tais ideias, são fórmulas matemáticas transcendentes, como por exemplo as que formam a espinha dorsal da teoria das cordas ou teoria M. Para resumir: tais teorias nada mais são do que uma espécie de pitagorismo ultrarradical.

Mas temos outra alterativa surpreendente, defendida pelo físico Rupert Sheldrake em seu monumental Ciência sem Dogmas. A opção ao pitagorismo é a evolução das regularidades da Natureza. Tais regularidades seriam mais semelhantes a hábitos adquiridos do que a leis imutáveis que estavam lá desde o início dos tempos, e ficariam mais fortes (ou “constantes”) pelo meio da repetição, da mesma forma que aprendemos a andar de bicicleta. Segundo Sheldrake, há um tipo de memória na Natureza, e o que acontece agora é influenciado direta ou indiretamente pelo que já ocorreu antes.

Hábitos ancestrais foram estabelecidos há bilhões de anos, e estão arraigados de tal forma na Natureza que se parecem mesmo com “leis imutáveis”. Dos fótons, prótons e elétrons surgiram as moléculas, depois as estrelas e as galáxias, então os planetas, os cristais, e ao menos aqui neste planetinha, as plantas e os seres humanos.

Entre as moléculas, por exemplo, a de hidrogênio é provavelmente a mais antiga – ela já existia antes da formação da primeira estrela. As “leis” e “constantes” associadas a esses padrões arcaicos de organização estão tão bem estabelecidas que atualmente já não apresentam nenhuma mudança detectável. Em contrapartida, algumas moléculas são novíssimas, como as centenas de compostos produzidos pela primeira vez por químicos de síntese em nosso próprio século. Nesse caso, os hábitos ainda estão se formando. O mesmo ocorre com novos padrões de comportamento em animais e novas habilidades humanas.

Se eliminarmos a biologia e nos mantivermos exclusivamente na física e na química, ainda assim esta teoria tem uma vantagem gritante se comparada às teorias que postulam um multiverso como forma de explicação ao Princípio Antrópico: ela fala de coisas que podem efetivamente serem observadas e testadas!

Na verdade, sabemos que os químicos que sintetizam novas substâncias muitas vezes têm grandes dificuldades de fazer com que elas se cristalizem. Às vezes leva muitos anos para os cristais surgirem pela primeira vez. Por exemplo, a turanose, um tipo de açúcar, durante décadas foi considerada um líquido, até que, na década de 1920, ocorreu a cristalização. Depois disso, esse açúcar formou cristais em todo o mundo [1].

O xilitol, álcool de açúcar usado como adoçante em gomas de mascar, foi preparado pela primeira vez em 1891 e considerado líquido até 1942, quando surgiram cristais pela primeira vez. O ponto de fusão desses cristais era de 61ºC. Depois de alguns anos surgiu outra forma de cristal, com ponto de fusão de 94ºC e, mais tarde, o primeiro tipo de cristal desapareceu da Natureza [2] (leia novamente este parágrafo se não compreendeu ainda o quão assombroso ele é)...

Nós tendemos a ver o universo sob o nosso ponto de vista, mas ironicamente postulamos que, ao contrário de nós mesmos, ele deveria ser como que um rio congelado, uma espécie de fórmula matemática supersimétrica, superelegante, transcendente e eternamente imutável. Dessa forma, tendemos a ver a Natureza como uma espécie de supercomputador programado desde o início dos tempos para obedecer às mesmas leis e constantes, sem a mísera variação. Entretanto, basta olhar a nossa volta, como uma árvore só pode existir após haver sido broto e, ainda antes, semente. Como os filhotes de passarinho devem ser alimentados por seus pais antes de criarem força nas asas e, eventualmente, se arremessarem aos céus. Como toda a metrópole tem o seu centro histórico e, dentro dele, o seu marco inicial.

Tudo evolui do simples para o complexo, e o grande destino da vida parece mesmo ser se organizar, de alguma forma extraordinária, em consciências capazes de observar o mundo – a Natureza vendo a si mesma, compreendendo a si mesma, se espantando consigo mesma.

E não podemos saber ainda, de fato, se há mesmo um Criador que pensou nisso tudo desde o início. Talvez, quem sabe, ele esteja aprendendo conosco. Talvez ele tenha preferido nos deixar livres para descobrir as coisas, tateando o Cosmos e evoluindo por nossa própria conta.

Como quando nossos pais nos levam ao parque para nos ensinar a andar de bicicleta. No começo, colocam rodinhas para que nos auxiliem a manter o equilíbrio. Talvez, quem sabe, todo o nosso passado mineral, vegetal e animal tenha sido como que um aprendizado com o auxílio das rodinhas...

Mas hoje, hoje despertamos, hoje somos seres conscientes encarando de volta a vastidão cósmica salpicada pelas mesmas fornalhas que fundiram os elementos de nosso corpo, habituadas há bilhões de anos a este caminho ancestral que vai do átomo primordial de Lamaître a um planetinha, quiçá bilhões e bilhões deles, plenos de vida, plenos de crianças a arriscar suas primeiras voltas de bicicleta.

Até o dia em que partiremos deste pequeno parquinho para os mundos e galáxias mais distantes, e quem sabe neste dia não poderemos olhar para o Alto e dizer:

“Olhem para nós! Agora, sem as rodinhas!”

***

[1] Crystals and Crystal Growing, por Allan Holden e Phyllis Singer (1961), pp. 80 e 81.

[2] Ibid., p. 81.

Crédito da imagem: Google Image Search/shutterstock

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8.10.15

A ciência e os seus dogmas

Trechos de Ciência sem Dogmas, de Rupert Sheldrake (editora Cultrix). Tradução de Mirtes Pinheiro. Os comentários ao final são meus.


Há mais de duzentos anos, os materialistas prometeram que a ciência explicaria tudo sob a ótica da física e da química. A ciência provaria que os organismos vivos são máquinas complexas, que a mente nada mais é do que atividade cerebral e que a natureza é desprovida de propósito. As pessoas apoiam-se na fé de que as descobertas científicas justificarão suas crenças.

Karl Popper, filósofo da ciência, chamava essa postura de “materialismo promissório”, pois depende de notas promissórias por descobertas que ainda não foram feitas. Apesar de todas as conquistas da ciência e da tecnologia, atualmente o materialismo está enfrentando uma crise de credibilidade que seria inimaginável no século XX.

[...] A preposição fundamental do materialismo é de que a matéria é a única realidade. Portanto, a consciência nada mais é do que atividade cerebral. É como uma sombra, um “epifenômeno”, que não faz nada, ou apenas outra maneira de falar sobre atividade cerebral. No entanto, os pesquisadores de neurociência e estudos da consciência não chegaram a um consenso sobre a natureza da mente.

Revistas respeitadas como Behavioural and Brain Science e Journal of Counsciousness Studies publicam muitos artigos que revelam problemas profundos na doutrina materialista. O filósofo David Chalmers chamou a própria existência da experiência subjetiva de “problema difícil [da consciência]”. Difícil porque desafia uma explicação em termos de mecanismos. Mesmo que compreendamos como os olhos e o cérebro reagem ao farol vermelho, a experiência de [interpretar o] vermelho não é levada em consideração.

Na biologia e na psicologia, o grau de credibilidade do materialismo está em queda. Será que a física pode vir em seu socorro? Alguns materialistas preferem denominar-se fisicalistas, para enfatizar que suas esperanças dependem da física moderna, e não de teorias sobre a matéria do século XIX. Mas o grau de credibilidade do fisicalismo foi reduzido pela própria física, por quatro razões.

Em primeiro lugar, alguns físicos insistem em afirmar que a mecânica quântica não pode ser formulada sem levar em consideração a mente dos observadores. Eles alegam que a mente não pode ser reduzida à física, porque [a] física [também] pressupõe a mente dos físicos.

Em segundo lugar, as mais ambiciosas teorias unificadas da realidade física, a teoria das cordas e a teoria M, com dez e onze dimensões, respectivamente, levam a ciência para um território totalmente novo.

[...] Em terceiro lugar, desde o início do século XXI, ficou claro que os tipos conhecidos de matéria e energia representam apenas cerca de 4% do universo. O restante consiste em “matéria escura” e “energia escura”. A natureza de 96% da realidade física é literalmente obscura.

Em quarto lugar, o Princípio Antrópico Cosmológico afirma que, se as leis e constantes da natureza tivessem sido ligeiramente diferentes no momento do Big Bang, jamais poderia ter surgido vida biológica e, portanto, não estaríamos aqui para pensar sobre isso. Então, será que uma mente divina ajustou as leis e as constantes no início?

Para evitar que um Deus criador surgisse numa nova forma, quase todos os principais cosmólogos  preferem acreditar que o nosso universo é apenas um entre um vasto, talvez infinito, número de universos paralelos, todos com diferentes leis e constantes, como também sugere a teoria M. Acontece que simplesmente existimos no universo que tem as condições certas para nós.

A teoria do multiverso é a suprema violação da navalha de Occam, princípio filosófico segundo o qual “as entidades não devem ser multiplicadas além do necessário”, ou, em outras palavras, devemos fazer o menor número possível de pressuposições. Essa teoria também tem a desvantagem de não poder ser testada, tampouco consegue se livrar de Deus. Um Deus infinito poderia ser o Deus de um número infinito de universos.

O materialismo apresentou uma visão de mundo aparentemente simples e direta no final do século XIX, mas que a ciência do século XXI deixou para trás. Suas promessas não foram cumpridas e suas notas promissórias foram desvalorizadas pela hiperinflação.

Estou convencido de que a ciência está sendo restringida por pressuposições que se enrijeceram em dogmas, mantidos por fortes tabus. Essas crenças protegem a cidadela da ciência tradicional, mas age como uma barreira ao pensamento aberto.


Comentários
Quando um cientista “desafia a visão dogmática” da Academia, logo surgem os seus detratores. O que eles costumam afirmar é que “não se trata de um cientista relevante”, ou ainda levantar a questão, “mas qual foi a contribuição dele para a ciência”?

Como se fosse necessário que alguém fizesse uma grande contribuição científica, ou tivesse artigos publicados em revistas de renome, como a Nature, para poder criticar a ortodoxia da Academia...

De qualquer forma, no caso específico deste cientista, ambas as “exigências” acima foram cumpridas. Rupert Sheldrake é um biólogo e bioquímico inglês de renome, que além de ter publicado mais de oitenta artigos científicos e uma dezena livros, já foi o convidado de diversos programas de divulgação científica de grande audiência na TV, como por exemplo o Grandes Mistérios do Universo, apresentado por Morgan Freeman (no Brasil, passa no Discovery Science, na TV a cabo).

Entre as suas importantes contribuições científicas, se destacam a descoberta do mecanismo de transporte da auxina em vegetais, assim como o auxílio no detalhamento da “morte celular programada”, que se tornou um campo de pesquisa vital no estudo de doenças como o câncer e a Aids, bem como da regeneração de tecidos pelas células-tronco. Na Índia, ainda participou no desenvolvimento de técnicas de cultivo em clima semi-árido, hoje amplamente usadas em todo o mundo.

Ou seja, este livro incomoda, pois não se trata do pensamento de um cientista “de pouco renome”. Viva-se com esse barulho.

O objetivo de Sheldrake, no entanto, não é substituir o dogma materialista por algum antigo dogma espiritualista. Ele quer somente romper a represa dogmática que tem restringido enormemente o atual pensamento científico, particularmente dos cientistas que, exatamente por terem obtido relativo sucesso em suas carreiras, ficam cada vez mais preocupados com “o que vão pensar lá na Academia” a toda a vez que falam sobre assuntos científicos heterodoxos.

O biólogo inglês é, sobretudo, um grande crítico da ideia de um “relojoeiro cego”, uma metáfora alçada à fama por Richard Dawkins para explicar como um universo complexo pode ter surgido do “acaso cego”. Ora, o que Sheldrake combate não é propriamente a ideia de “cegueira”, mas o conceito de que o universo é como um “relógio”, ou “alguma espécie de máquina que está lentamente perdendo o vapor”.

Não, segundo ele, o universo se parece muito mais com um organismo vivo, assim como todos os seres vivos dentro dele. Ao longo desse livro extraordinário o que ele tenta nos explicar é que, no final das contas, o materialismo em sua visão mecanicista sequer consegue encontrar as metáforas adequadas para explicar o que quer dizer – em suma, que não somos consciências que interpretam o mundo, mas tão somente máquinas que computam e guardam informações.

Afinal de contas, nenhum gene pode ser realmente “egoísta” nem muito menos “aspirar a imortalidade”, e ainda que o universo inteiro operasse efetivamente como um relógio, tudo o que um relógio pode fazer é apontar para algo muito maior e mais transcendente. O tempo não pode ser reduzido às engrenagens de um relógio, assim como a consciência e a subjetividade ultrapassam em muito a tentativa de explicar o que são utilizando somente 4% do que existe.

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Crédito da imagem: Harfian Herdi

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6.10.15

Memes para reflexão, parte 4

« continuando da parte 3

(clique nas imagens abaixo para abri-las em nossa galeria de memes no Facebook)

Sois deuses
Este meme foi de longe o que causou a maior polêmica, como era de se esperar...

Todos devem saber que a Igreja Católica deve muitíssimo ao imperador romano Constantino, que ao final da vida se converteu ao cristianismo e, o que é mais importante, o estabeleceu como a religião oficial do Império Romano.

Há quem creia que foi ele próprio quem examinou todos os textos religiosos cristãos da época e decidiu quais deles formariam o Novo Testamento da bíblia cristã, juntamente com os textos judaicos mais antigos. Ora, ainda que Constantino fosse o maior especialista em cristianismo do seu tempo, e não um governante imperial com inúmeras responsabilidades, ele sozinho jamais teria dado conta de tal seleção, organização e edição monumentais.

De fato, ele jamais participou desse processo. É bem provável que ao instaurar o cristianismo como nova religião, tenha contado com uma vasta equipe de monges e escribas para escolher os livros que mencionavam a vida de Jesus. Segundo a história oficial da Igreja, no entanto, a versão final do Novo Testamento só ficou pronta entre os concílios de Hipona, em 393, e de Cartago, em 397, mais de meio século após a morte de Constantino.

Muita gente no dia de hoje questiona se os ensinamentos de Jesus não se perderam em tantas seleções, edições e traduções. Outros, ainda, sequer creem que Jesus de fato existiu... Ora, ao meu ver, é bem provável que Jesus de Nazaré tenha de fato existido, mas a possibilidade de sua vida ter sucedido exatamente como foi descrita na bíblia, em cada ponto e vírgula, já é consideravelmente mais remota.

No entanto, uma das descobertas mais extraordinárias do século passado foram os chamados “evangelhos apócrifos”, encontrados em jarros enterrados no deserto, em Nag Hammadi, na região do Alto Egito, em 1945. Tais textos pertencem inequivocamente ao período do cristianismo primitivo, e alguns deles, particularmente o Evangelho de Tomé, mencionam muitos ensinamentos de Jesus que casam ou se assemelham enormemente com as parábolas do Novo Testamento. Apesar de Jesus não haver sido crucificado nesse texto (nem, obviamente, ter ressuscitado), fato é que a sua existência é um dos maiores indícios modernos de que “existiu algum Jesus”.

Porém, ainda que não tenha existido, o que importa no final das contas é a mensagem bíblica, e a junção do que Jesus diz em João 10:34-35 e 14:12 é, no meu entendimento, um dos seus ensinamentos mais essenciais, que conseguiu sobreviver ao tempo, as edições e as traduções: Sois deuses, e dia virá que farão tudo o que tenho feito, e ainda muito mais.

O “sois deuses” a que Jesus se refere também se encontra nos Salmos do Antigo Testamento (Sl 82:6-7) e até mesmo em antigos ensinamentos do misticismo egípcio e do orfismo grego, como na célebre frase, “Eu também sou da raça dos deuses”... De fato, a ideia de que somos “deuses em formação”, cujo potencial é incalculável, está presente em diversas doutrinas espiritualistas, mas a ideia passa longe de querer significar que seremos como que “rivais de Deus”, o que seria uma ideia absurda.

Da mesma forma, seria absurdo considerar que um ser humano, por mais iluminado e sábio que seja, possa ser “Deus encarnado”... Daí a extrema importância desse belo resumo que o próprio Jesus faz de sua vida, e do sentido do seu ensinamento. Ora, se “um dia faremos tudo o que ele fez, e muito mais”, isto significa obviamente que o seu anseio não era que “substituíssemos algum deus”, mas que, através da nossa fé e do nosso amor ao Deus que paira acima de todas as coisas, chegássemos a amar da mesma forma que o Rabi da Galileia amava – que este sim, seria o maior dos milagres, e o objetivo mais grandioso de uma vida religiosa.


O cientista que estudava de tudo
Sir Isaac Newton é reverenciado como um dos maiores pensadores da ciência moderna, com contribuições inestimáveis para a física clássica e a matemática.

Ora, certamente muitos terão ouvido dizer que, além de cientista e astrônomo, ele também foi alquimista, teólogo e grande estudioso bíblico... O que muitos não devem saber, no entanto, é que ele dedicou mais tempo aos estudos bíblicos e esotéricos do que propriamente as suas célebres equações.

Mas, e o que isso quer dizer em termos práticos, puramente científicos? Absolutamente nada!

Quando criei este meme, a minha intenção não era “forçar adiante” alguma ideia de que as descobertas científicas de Newton surgiram da bíblia ou da voz de algum anjo celeste ou demônio infernal, claro que não, as suas ideias, como aliás todas as ideias do mundo, surgiram dos momentos de inspiração.

E, para vivermos inspirados, precisamos estar sempre buscando realizar aquilo que amamos. Newton certamente amava a física e a matemática, mas a sua grande motivação era “descrever a obra divina”. Não fosse a sua religiosidade, jamais teria sido cientista (ou filósofo da natureza, como eles se auto intitulavam em sua época).

Dessa forma, é preciso tomar cuidado com a “demonização” moderna de todo e qualquer pensamento dito “anticientífico” associado a alguém que faz ciência. Você pode não saber ou não acreditar, mas fato é que é perfeitamente possível ser cientista e religioso, ou cientista e filósofo, ao mesmo tempo, e mesmo assim praticar ciência genuína. Quer alguns exemplos?

(a) A própria ciência moderna deve muito ao hermetismo, que é uma ciência ocultista. A questão da Igreja com o heliocentrismo de Copérnico e Galileu tinha muito mais a ver com um embate religioso do que científico, tanto que o único que foi para fogueira de fato era um monge reformista, Giordano Bruno. Não é essa a “história oficial” nem da Igreja nem da Academia, mas todos que conhecem a fundo a história do hermetismo sabem muito bem qual foi o real motivo da sentença de Bruno.

(b) Albert Einstein, para além de ser o grande continuador da obra de Newton, foi também um profundo admirador da religiosidade latente da Ética de Benedito Espinosa, e jamais escondeu isso de ninguém.

(c) Alfred Russel Wallace, cocriador da teoria da evolução, juntamente com Charles Darwin, ao longo da vida se tornou um grande entusiasta do espiritismo, e é mesmo óbvio que o seu interesse pela evolução também se dava no âmbito espiritualista, particularmente no que tange a reencarnação. Pelo mesmo motivo, foi relegado as notas de rodapé da história da ciência, embora seja no mínimo tão responsável pela teoria da evolução quanto Darwin (há quem diga que até muito mais).

(d) Niels Bohr, Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger, todos grandes cientistas do século passado, tinham o Bhagavad Gita, a maior obra espiritual do hunduísmo, como livro de cabeceira. Alguns deles chegaram a der relatos de que muitas vezes se inspiraram diretamente em seus conceitos para alcançarem algumas de suas descobertas.

(e) Richard Feynman, o célebre físico americano, gostava muito de desenhar e tocar bongos!

Tudo bem, este último caso foi mais para exemplificar o que quero dizer: não é que os Vedas, os textos herméticos ou as sessões espíritas tenham servido de inspiração direta para descobertas científicas, mas todos eles têm o mérito de terem mantido todos esses grandes cientistas ativos e curiosos em mais de um campo de conhecimento.

O que seria de Feynman sem as sessões de bongos? Teria sido o mesmo cientista?

Talvez, quem sabe... Mas certamente não traria aquele enorme sorriso no rosto, tampouco aquele brilho peculiar no olhar, toda a vez em que falava sobre a inefável natureza da Natureza!

» Em breve, + memes!

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Crédito das imagens: Raph/Google Image Search

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2.10.15

Uma epidemia de autismo?

“Vivemos uma epidemia de autismo nos EUA. Se nada for feito, em 2025 um em cada dois recém-nascidos será diagnosticado com autismo.” – a conclusão não é de qualquer leigo no assunto,  mas de Stephanie Seneff, pesquisadora sênior do Computer Science and Artificial Intelligence Laboratory no mundialmente respeitado Massachusetts Institute of Technology (MIT). A Dra. Seneff, assim como muitos outros cientistas, afirma que o autismo não é um distúrbio neurológico apenas genético – é praticamente certo que ocorra devido a fatores ambientais. Dois desses fatores estão relacionados à exposição ao glifosato e a um coquetel de metais pesados, incluindo o alumínio. “Glifosato”, guarde este nome, pois já voltaremos a ele...

Antes, é preciso falar um pouco mais sobre o autismo. Trata-se de um distúrbio neurológico caracterizado por comprometimento da interação social, comunicação verbal e não-verbal, assim como de comportamento restrito e repetitivo.

Ninguém “pega autismo”, como se pega uma gripe ou doença sexualmente transmissível. Ou nascemos com autismo, ou não. Os pais costumam notar sinais nos dois primeiros anos de vida da criança. Os sinais geralmente desenvolvem-se gradualmente, mas algumas crianças com autismo alcançam o marco de desenvolvimento em um ritmo normal e depois regridem.

Segundo Temple Grandin, uma famosa autista savant (que desenvolveu grande empatia para com os animais, e pouca para com os seres humanos), autistas como ela “pensam em imagens” e, exatamente por “não serem atrapalhados pelas emoções”, estão aptos a resolver mais facilmente diversos problemas matemáticos e detectar padrões naturais que uma mente normal usualmente deixa passar em branco, simplesmente porque sua consciência está focada em aspectos, digamos, mais sociais da existência.

Mas são poucos os autistas que conseguem se destacar, como Grandin. Muitos são condenados a viver uma vida enclausurada em seu próprio mundo interno, como uma larva que entra num casulo, mas jamais chega a virar borboleta e voar para fora.

Voltando ao assunto da epidemia, mas não ao glifosato (continuem guardando o nome), há muitos americanos que desconfiam que o autismo está sendo causado por vacinas. Apesar de aparentemente absurdo, o assunto foi levado até mesmo ao recente debate dos candidatos do partido republicano à presidência dos EUA. E foi exatamente o mais cotado nas pesquisas para concorrer pelo partido, o bilionário Donald Trump, o único a defender abertamente a ideia de que, sim, as vacinas podem ter alguma relação com a tal epidemia.

Para o desespero dos médicos americanos, este assunto vem se tornando tão popular que doenças erradicadas há décadas estão retornando aos EUA, simplesmente porque alguns pais estão se recusando a vacinar seus filhos. Ora, para derrubar tal teoria, basta comparar as vacinas de hoje com as de décadas atrás, quando não havia tantos casos de autismo diagnosticados, e veremos que não, não é culpa das vacinas, ao menos não diretamente.

É aí que voltamos a Dra. Seneff e ao glifosato... A Monsanto é uma multinacional americana do ramo da agricultura e biotecnologia, sendo de longe a líder mundial na produção e comercialização de sementes geneticamente modificadas e do agrotóxico herbicida RoundUp, o mais vendido do mundo, cuja base é exatamente o glifosato.

O glifosato é um herbicida desenvolvido para matar todo tipo de ervas, usado no mundo todo, e no Brasil desde a década de 70. Há vários indícios de que ele pode ser cancerígeno, além de causar certo impacto ambiental pela destruição de bactérias que são vitais para a regeneração do solo, assim como pela má-formação de fetos de certos animais, principalmente anfíbios. Mas nada foi oficialmente comprovado, não se sabe se com a ajuda do lobby da Monsanto ou não.

A questão é que nunca se usou tanto glifosato no mundo quanto nas últimas décadas, pois a Monsanto também desenvolveu sementes geneticamente modificadas “imunes ao glifosato”, permitindo que ele pudesse ser despejado em grande quantidade sobre as plantações.

Isso significa que todos nós temos traços de glifosato na urina, e até mesmo no leite materno. Nos EUA, essas concentrações são cada vez maiores, e é precisamente aí que a teoria da Dra. Seneff começa a fazer todo sentido.

É possível que o glifosato seja inócuo para a grande maioria de nós, ou que seu efeito nocivo não seja facilmente notado, como a possibilidade de ser um agente cancerígeno. Entretanto, a coisa muda de figura quando temos a informação que ele está presente no leite materno e, dessa forma, na única dieta de um recém-nascido em seus primeiros meses de vida. É possível que o glifosato interfira na formação cerebral, já que sabemos que o homo sapiens vem ao mundo com seu cérebro ainda em plena formação, particularmente no início da vida.

Fazendo mais um “parêntesis” nessa história, vamos dar um pulo no campo espiritual... Anos atrás, quando estudei sobre o tema do autismo, eu tinha certa convicção que se tratava de uma “doença do espírito”. Isto porque, pensemos, ele só aparecia em crianças, e afetava as relações sociais, a empatia e o aspecto puramente emocional da vida. Sempre me pareceu como que uma doença programada para aqueles espíritos que “abusaram” das emoções noutras vidas, e que precisavam passar uma vida com esse aspecto “anestesiado”.

E, se tal convicção foi agora seriamente abalada por esta notícia de que o autismo pode muito bem ser causado por fatores puramente ambientais, ela não caiu inteiramente por terra em minha “rede de possibilidades” – simplesmente pelo fato de que a principal ação do glifosato nos recém-nascidos é a interrupção do bom funcionamento da glândula pineal.

Particularmente quando acompanhado de alumínio (e esse alumínio também vem das vacinas, que podem mesmo ter algum envolvimento indireto no assunto – com toda ênfase no “podem”), o glifosato interfere diretamente na boa formação da pineal, e conforme já sabemos muito pouco sobre essa glândula, sabemos menos ainda sobre o que o seu comprometimento pode acarretar. No entanto, segundo a teoria de um cientista brasileiro, Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, a relação entre o comprometimento da pineal e a baixa empatia faz todo sentido.

O Dr. Oliveira estuda a pineal há muitos anos, e como se trata de um cientista espiritualista, não se acanha ante as possíveis “funções espirituais” associadas à glândula. O que ele encontrou em seus estudos não é nada como “a sede da alma” ou algo vago, mas cristais, cristais de apatita. Ele percebeu que algumas pessoas já nascem com a pineal cheia desses cristais, enquanto outras têm poucos ou nenhum. Assim, ele fez experimentos com ambos os grupos.

Entre aqueles que possuem os cristais, os chamados fenômenos mediúnicos, assim como a percepção de campos eletromagnéticos, são muito mais significativos. Ora, no espiritualismo sabemos que a mediunidade não deixa de ser uma percepção do mundo à volta mais desenvolvida, principalmente no que tange a empatia e as emoções. É muito comum médiuns serem alertados para “tomarem cuidado com o canal aberto”, isto é, como o fato de que, para eles, os fenômenos emocionais podem ser muito mais poderosos e, por vezes, até mesmo devastadores...

E o autismo, o que é, senão o oposto da mediunidade?

Enquanto muitos médiuns têm enorme dificuldade em erguer um casulo entre o seu mundo interior e o exterior, os autistas sofrem do extremo oposto: têm dificuldades exatamente em romperem o casulo que os mantém quase que isolados do mundo social-emocional.

Tudo bem, você pode não acreditar em nada disso, mas a questão aqui não é bem crer, mas buscar por hipóteses que façam sentido, e que não sejam absurdas a priori. E ignorar a possibilidade do autismo se originar no comprometimento das funções da glândula pineal pode não ser o melhor caminho para elucidarmos tal mistério.

Em todo caso, fato é que há sim uma característica de epidemia nos casos de autismo nos EUA. Há um aumento de 75% nos registros desde 2001, e em 2014 cerca de uma a cada 68 crianças foram diagnosticadas com algum grau de autismo (enquanto em boa parte do mundo, esse número não passa de uma a cada 500). Segundo a Dra. Seneff, esse número pode chegar a uma a cada duas, em 2015. É preciso estar de olhos abertos para que os lucros de uma multinacional americana não justifiquem o custo de termos de lidar com dezenas, centenas de milhões de autistas.

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Crédito da imagem: Google Image Search/cancerfactsheet.org

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