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28.5.08

Céu de Liberdade

Onde a mente encontra-se sem medo e a cabeça é mantida erguida
Onde o conhecimento é livre
Onde o mundo não foi quebrado em fragmentos
Por estreitos muros domésticos
Onde as palavras vêm da verdade profunda
Onde laboriosas lutas esticam seus braços em direção à perfeição
Onde o riacho límpido da razão não perdeu o seu rumo
Afluindo ao triste deserto dos hábitos moribundos
Onde a mente é direcionada adiante por você
A pensamentos e ações sempre em constante afloramento
Nesse céu de liberdade, Pai, deixe meu país acordar

Rabindranath Tagore (tradução de Rafael Arrais)

*

Heaven of Freedom

Where the mind is without fear and the head is held high
Where knowledge is free
Where the world has not been broken up into fragments
By narrow domestic walls
Where words come out from the depth of truth
Where tireless striving stretches its arms towards perfection
Where the clear stream of reason has not lost its way
Into the dreary desert sand of dead habit
Where the mind is led forward by thee
Into ever-widening thought and action
Into that heaven of freedom, my Father, let my country awake

Rabindranath Tagore

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13.5.08

Sobre deixar de existir

O meu problema não é com deixar de existir, mas com existir;
Existir, com um sentido para a existência.

Para mim, a justiça divina só pode ser compreendida pela reencarnação;
Do contrário, o mero fato de uns nascerem no Quênia e outros na Suécia
Já seria injusto de antemão:
Em Deus não existindo ou não sendo infinitamente justo,
Não há realmente muito sentido para a existência
Que não observar o baile em descompasso
De poeira de estrelas
Em turbilhão.

Se eu realmente acreditasse que a existência não segue uma lei
De causa e efeito, de “a cada um segundo suas obras”,
De que tudo o que fizer, de bom e de mal,
Não fará para mim diferença alguma em meros 100 anos,
Eu não teria medo de morrer...
Teria medo de viver.

Pois não encontraria, onde quer que vá,
Bases que sustentassem qualquer conduta moral;
Ou sequer motivo para estudar, adquirir conhecimento,
Conhecer pessoas e amá-las.
Seria tudo aleatório, como um tsunami na Ásia,
Um tiroteio da linha vermelha,
Um acidente a beira da estrada...

Acredito que passaria então, o resto da vida, viajando o mundo,
Conhecendo lugares que nunca mais terei a chance de ver;
Ou observando estrelas, galáxias e quasares,
Percebendo toda a imensidão que nunca, nunca,
Terei chance de conceber.

No entanto, crendo na reencarnação, eu sei
De tantos e tantos lugares que já morei
De tantas e tantas pessoas que já me apaixonei
De tantas crueldades que já pratiquei
De tantos degraus que subi pé a pé;
E serão muitos mais...
Uma eternidade para sempre viajar,
Estudar, me depurar, e amar.

Cada ação que cometer: moral ou imoral,
Me retornará uma resposta futura
De maior sofrimento ou felicidade,
Sem, no entanto, nunca ser injusta:
O sofrimento será sempre o remédio amargo
Que tomarei de bom grado
Para findar a dor,
E iniciar o amor.

E todas as pessoas que conheci,
Todos os lugares por que passei,
Todos os mares que me banhei,
Todo o tronco de árvore em que adormeci,
E também minha sabedoria, moral,
Minha individualidade:
Estarão sempre comigo,
Por toda e qualquer idade,
Como num casamento ancestral.

Acaso lá no fim, na morte,
Eu retornar ao Grande Nada,
Pelo menos saberei que pautei a vida
Por decisões morais:
Responsabilidade perante a mim,
Ao próximo,
E a divina Natureza do mundo.

Se, no entanto, eu aqui continuar,
Talvez toda essa crença,
Que muitos dizem ser absurda,
Venha a me servir de alguma coisa, em algum lugar...

raph'08

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12.5.08

Palavras do Chefe Seattle

O Presidente em Washington diz que deseja comprar a nossa terra.

Mas como pode comprar ou vender o céu, a terra? Essa idéia é estranha para nós. Cada parte dessa terra é sagrada para o meu povo. Cada agulha de pinheiro brilhante. Cada grão de areia da praia, cada névoa na floresta escura. Cada característica é sagrada na memória e na experiência do meu povo.

Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores são nossas irmãs. O urso, o veado, a grande águia são nossos irmãos. Cada reflexo na água cristalina dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do meu pai. Os rios são nossos irmãos. Eles levam nossas canoas e alimentam nossos filhos.

Se lhes vendermos nossas terras, lembrem-se de que o ar é precioso para nós. E compartilha seu espírito com as formas de vida que sustenta. O vento que deu a nosso avô o seu primeiro alento recebe, também, o seu último suspiro.

Sabemos que a terra não pertence ao homem. O homem pertence à terra. Todas as coisas são interligadas, como o sangue que nos une. O homem não tece a teia da vida - ele é apenas um fio dela. O que fizer à teia, fará a si mesmo.

O destino de vocês é um mistério para nós. O que vai acontecer quando todos os búfalos forem sacrificados? O que vai acontecer quando os recantos secretos da floresta estiverem passados com o odor de inúmeros homens e a vista das colinas verdejantes se macular com os fios que falam?

Será o fim da vida e o começo da sobrevivência. Quando o último pele-vermelha sumir com a natureza selvagem, e sua lembrança for só a sombra de uma núvem sobre a planície, essas praias e florestas ainda estarão aqui? Terá sobrado algum espírito do meu povo?

Amamos a terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe. Se vendermos nossa terra, amem-na como nós a amamos. Cuidem dela como cuidamos. Preservem na mente a lembrança da terra, tal como ela estiver quando a receberem. Preservem a terra para as crianças e amem-na como Deus nos ama.

Sabemos que só existe um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver isolado. No final das contas, somos todos irmãos.

Parte da carta feita pelo Chefe Seattle ao Presidente Franklin Pierce em 1854, tal qual resumido por Joseph Campbell em "O Poder do Mito".

» Veja a carta completa

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