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21.1.09

Praise song for the day

Provavelmente a primeira vez que uma poetisa foi chamada para uma cerimônia de posse presidencial norte-americana, e criou um poema especialmente em homenagem ao evento (e tudo o que ele significa). A poetisa Elizabeth Alexander recita o poema, em inglês (sem legendas):

Leia a transcrição do poema em inglês.

"E se Amor fosse a palavra mais poderosa?(...) Uma canção de louvor ao ato de se caminhar em direção a esta luz."

Se uma imagem transmite mil palavras, muitas vezes poesias transmitem o que imagens nem palavras, sejam quantas forem, poderiam transmitir...

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20.1.09

Discurso de Obama na posse

Segue na íntegra o discurso de Obama na posse da presidência em 20/01/09, talvez um momento a ser lembrado por ainda muito tempo na história. Em negrito, eu destaquei três passagens. (Fonte: O Globo):

"Meus caros concidadãos,

Eu venho aqui hoje humildemente diante da tarefa à nossa frente, grato pelo crédito que vocês me designaram, consciente dos sacrifícios feito pelos nossos ancestrais. Eu agradeço ao presidente Bush pelos seus serviços a nossa nação, assim como pela generosidade e cooperação que ele demonstrou durante o período de transição.

Agora, quarenta e quatro americanos já fizeram o juramento presidencial. Discursos foram feitos durante períodos iluminados de prosperidade e de épocas de paz. Assim como, muitas vezes, o juramento foi feito dentre períodos nebulosos e em meio a tempestades. Nestes momentos, a América progrediu, não simplesmente pela habilidade ou visão daqueles que estavam em altos cargos, mas porque nós, o povo, nos mantivemos fiéis aos ideais do nosso autocontrole, nossa verdade e nossa fundação.

Assim foi feito. Assim deve ser com esta geração de americanos.

Que estamos no centro de uma crise já é conhecido. Nossa nação está em guerra contra uma distante rede de violência e ódio. Nossa economia está se deteriorando, como consequência de ganância e irresponsabilidade de alguns. Mas nosso coletivo falhou em fazer escolhas difíceis e preparar a nação para uma nova era. Casas foram perdidas, empregos se diluíram, empresas desapareceram. Nosso seguro de saúde é muito caro, nossas escolas são muito falhas, e, a cada dia, aparecem evidências de que nossa forma de utilizar energia fortalece nossos adversários e ameaça o planeta.

Estes são os indicadores da crise, com dados e estatísticas. Menos mensurável, mas não menos profunda é a falta de confiança do povo em toda a nação - um medo perturbador de que a queda da América seja inevitável, e de que a próxima geração tenha perdido o seus horizontes.

Hoje eu digo a vocês que os desafios que enfrentamos são reais. Eles são sérios e são muitos. Eles não serão superados facilmente e em pouco tempo. Mas saiba isso, América - eles serão superados.

Hoje nos unimos porque escolhemos a esperança sobre o medo, a união sobre os conflitos e a discórdia.

Hoje proclamamos um fim ao pequeno descontentamento, às falsas promessas, à recriminação e aos princípios morais desgastados, que por muito tempo prejudicaram a nossa política.

Nós continuamos sendo uma jovem nação, mas nas palavras da Bíblia, a hora chegou para afastar as infantilidades. Chegou o momento de reafirmar o espírito duradouro; de escolher uma história melhor; de continuar a transmitir o dom, a nobre idéia, que passamos de gerações a gerações: a promessa de Deus de que todos somos iguais, livres, e de que todos merecemos a chance de ter a felicidade.

Ao reafirmar a grandeza da nossa nação, entendemos que a grandeza nunca é um presente. Ela deve ser merecida. A nossa jornada nunca foi de corte de caminho ou de contentamento por menos. Ela não tem sido um caminho de covardes - aqueles que preferem o lazer ao trabalho, ou procuram apenas os prazeres da riqueza e da fama. Em vez disso, tem sido o caminho dos que arriscam, dos que fazem, dos que produzem - alguns reconhecidos, mas muitos frequentemente escondidos pelo trabalho, que nos levam distante, por longas estradas de prosperidade e liberdade.

Por nós, levaram suas poucas posses materiais e viajaram por oceanos em busca de uma nova vida.

Por nós, trabalharam em condições sub-humanas e se estabeleceram no Oeste; suportaram chicotadas e lavraram a dura terra.

Por nós, combateram e morreram, em lugares como Concord e Gettysburg, Normandia e Khe Sanh.

Continuamente estes homens e mulheres lutaram, se sacrificaram e trabalharam até as mãos ficarem ásperas para que pudéssemos viver uma vida melhor. Eles enxergaram a América maior do que a soma de nossas ambições, maior do que todas as diferenças de origem, riqueza ou facção.

Este é a jornada que continuamos hoje. Continuamos a ser a mais próspera, poderosa nação na Terra. Os nossos trabalhadores não são menos produtivos do que eram quando a crise começou. Nossas mentes não são menos inventivas, os nossos produtos e serviços não são menos necessários do que eram na semana passada, mês passado ou no ano passado. Nossa capacidade permanece intacta. Mas não há mais tempo para proteger interesses mesquinhos ou protelar decisões desagradáveis - esse tempo certamente passou. A partir de hoje, nós devemos levantar, sacudir a poeira e começar a trabalhar pela reconstrução dos Estados Unidos.

Para onde quer que olhemos, há trabalho a ser feito. O estado da economia exige ação, arrojada e rápida, e não vamos agir só para criar novos postos de trabalho, mas para estabelecer novas bases de crescimento. Vamos construir estradas, pontes, redes elétricas e linhas digitais que alimentam nosso comércio e nos unem. Vamos pôr a ciência no lugar certo e usar as maravilhas tecnológicas para aumentar a qualidade e baixar o custo do sistema de saúde.

Vamos usar o sol, os ventos e o solo para abastecer nossos carros e fazer funcionar nossas fábricas. E nós vamos transformar nossas escolas, colégios e universidades para satisfazer as demandas de uma nova era.

Tudo isso podemos fazer. E tudo isso faremos.

Agora, existem aqueles que questionam a amplitude da nossa ambição - os que sugerem que nosso sistema não pode tolerar tantos grandes planos. A memória deles é curta. Eles esqueceram o que este país já fez, o que homens e mulheres livres podem alcançar quando a imaginação é acompanhada por uma proposta comum, necessidade e coragem.

O que os cínicos não entendem é que a terra tem mudado debaixo deles - que os argumentos políticos que nos consumiram por tanto tempo não se aplicam mais.

A pergunta que fazemos hoje não é se nosso governo é demasiado grande ou pequeno, mas se ele funciona, se ele ajuda as famílias a encontrarem trabalho com um salário decente, saúde que eles possam pagar, uma aposentadoria digna.

Onde a resposta for sim, nós queremos seguir em frente. Onde a resposta for não, os programas deverão acabar. E aqueles que gerenciam o dinheiro público serão cobrados - para gastar de forma inteligente, mudar maus hábitos, e fazer seu trabalho às claras - porque só assim poderemos restaurar a confiança da população no seu governo.

A questão para nós tampouco é se o mercado é uma força para o bem ou para o mal. Seu poder de gerar riqueza e expandir a liberdade é inigualável, mas essa crise nos faz lembrar de que, sem um olhar atento, o mercado gira fora de controle - e de que a nação não pode ter sucesso quando favorece apenas os prósperos. O sucesso de nossa economia sempre dependeu não somente do tamanho de nosso Produto Interno Bruto, mas no alcance de nossa prosperidade em nossa habilidade de estender as oportunidades a todos os corações - não por caridade, mas porque é o caminho mais certo para um bem comum.

No caso de nossa defesa, rejeitamos como falsa a escolha entre nossa segurança e nossos ideais. Nossos pais fundadores, que encararam o perigo que nós imaginamos, traçaram um carta para assegurar as regras das leis e dos direitos do homem, expandida pelo sangue das gerações. Esses ideais ainda iluminam o mundo, e não vamos desistir deles pela diligência. Então, para todas as outras pessoas e governos que nos assistem hoje, das grandes capitais ao pequeno vilarejo onde meu pai nasceu: saibam que a América é uma amiga de cada nação e cada homem, mulher, e criança, e que pede um futuro de paz e dignidade, e estamos prontos para liderar mais uma vez.

Lembrem que as outras gerações encararam o fascismo e o comunismo não somente com mísseis e tanques, mas com sólidas alianças e firmes convicções. Eles entenderam que apenas o nosso poder não pode nos proteger, nem nos dá os direitos que gostaríamos. Em vez disso, eles sabiam que o nosso poder cresce através de nossa prudência; que nossa segurança vem da justiça da causa, a força de nosso exemplo, da nossa qualidade de moderação, da humildade e da contenção.

Somos os guardiões de nosso legado. Guiados novamente por esses princípios, poderemos enfrentar novas ameaças que exigem um esforço ainda maior - uma cooperação ainda maior e de entendimento entre as nações. Nós começaremos a deixar o Iraque com responsabilidade ao seu povo, e mostrar uma paz duramente obtida no Afeganistão. Com velhos amigos e antigos adversários, nós trabalharemos exaustivamente para reduzir a ameaça nuclear, e fazer retroceder o fantasma de um planeta que está se aquecendo.

Não vamos nos desculpar por nosso estilo de vida, nem vamos vacilar em defendê-lo. E para aqueles que pretendem atingir os seus objetivos com o fomento do terror e a matança de inocentes, dizemos que o nosso espírito é mais forte e não pode ser rompido; não podem durar mais do que nós, e vamos vencê-los.

Porque sabemos que nossa herança é a força, não uma fraqueza. Nós somos uma nação de cristãos e mulçumanos, judeus e hindus - e incrédulos. Nós somos moldados por todas as línguas e culturas, traçados por todos os cantos desta Terra; porque provamos um pouco dos detritos da guerra civil e da segregação e emergimos deste capítulo negro mais unidos; não podemos deixar de acreditar que antigos ódios vão um dia desaparecer; que as linhas das tribos vão em breve se dissolver; que o mundo crescerá um pouco e que a humanidade deverá se reavaliar; e que a América terá seu papel em liderar uma nova era paz.

Ao mundo muçulmano, nós esperamos um novo caminho, baseado no mútuo interesse e no mútuo respeito. Aos líderes em volta do globo que desejam espalhar o conflito, ou levar sua sociedade à desgraça - saiba que seu povo irá julgá-lo por aquilo que construir, não pelo que destruir. Àqueles que chegam ao poder através da corrupção, da fraude e do silêncio de seus oponentes, saiba que você está indo para o lado errado da história; mas nós estenderemos a mão se você desejar abrir o punho.

Para o povo das nações pobres, nós prometemos trabalhar juntos para fazer suas fazendas florescerem e deixar suas águas limpas correrem; nutrir corpos famintos e alimentar mentes ávidas. E àquelas nações como a nossa que aproveitam relativa abundância, dizemos que não podemos mais arcar com a indiferença ao sofrimento fora de nossas fronteiras; nem consumir as fontes mundiais sem levar em consideração seus efeitos. Porque o mundo mudou, e devemos mudar com ele.

Quando avaliamos a estrada que se desvela a nossa frente, lembramos com humilde gratidão aqueles bravos americanos que, neste momento, patrulham longínquos desertos e montanhas distantes. Eles têm algo para nos dizer hoje, assim como os nossos heróis que descansam em Arlington sussurram através das eras. Nós os honramos hoje não apenas porque são os guardiões de nossa liberdade, mas porque eles incorporam o espírito de servir; um desejo de encontrar significado em algo grandioso para eles próprios. E agora, neste momento - um momento que definirá uma geração - é precisamente este espírito que deve habitar em todos nós.

Para aquilo que um governante pode fazer e deve fazer, é, no final das contas, a fé e determinação do povo americano sobre esta nação que conta. É a bondade de ajudar um estranho em uma inundação, a abnegação de trabalhadores que aceitam reduzir suas horas de trabalho para não ver um amigo perder um emprego nas piores horas. É a coragem de um bombeiro subir a escada cheia de fumaça, e também o desejo de um pai em alimentar um filho, que, no fim, decide nossos destinos.

Nossos desafios podem ser novos. Nossos instrumentos que encontramos agora podem ser novos. Mas aqueles valores sobre os quais nosso sucesso depende - trabalho duro e honestidade, lealdade e patriotismo - estes são antigos. Estes são verdadeiros.

Eles foram a força silenciosa do progresso por toda nossa história. O que é exigido agora é o retorno para estas verdades. O que é pedido de todos nós é uma nova era de responsabilidade - um reconhecimento, por parte de toda América, que nós temos responsabilidade conosco, com nossa nação e com o mundo, responsabilidade que não aceitamos rancorosamente, mas que agarramos com satisfação, sólidos no conhecimento que não há nada tão satisfatório para o espírito, tão definitivo do nosso caráter, do que dar o máximo à nossa difícil tarefa.

Este é o preço e a promessa aos nossos cidadãos.

Esta é a fonte de nossa confiança - o saber que Deus nos chama para moldar um destino incerto.

Este é o significado da nossa liberdade e do nosso credo - porque homens, mulheres e crianças de todas as raças e todas as crenças devem se unir em celebração através desta magnífica avenida, e porque um homem, cujo pai, há mais de sessenta anos trabalhou num restaurante local, pode agora vir à frente de vocês fazer o mais sagrado juramento.

Então vamos marcar este dia na memória de quem somos e até onde viajamos. No ano do nascimento da América, nos meses mais frios, um pequeno grupo de patriotas aconchegava-se no campo de batalhas, nas margens de rios gélidos. A capital estava abandonada. O inimigo avançava. A neve estava manchada de sangue. No momento em que o resultado de nossa revolução estava em dúvida, o pai de nossa nação disse estas palavras para o povo:

"Que o futuro saiba(...) que no mais profundo inverno, quando nada, a não ser a esperança e a virtude poderiam sobreviver(...) que a cidade e campo, alarmados com o perígo, seguiram adiante para encontrá-lo".

América, frente a frente com os perigos, neste rigoroso inverno, vamos nos lembrar destas palavras eternas. Com esperança e virtude, vamos enfrentar mais uma vez a correnteza gelada, e suportemos as tempestades que possam vir. Que os filhos de nossos filhos digam que quando fomos postos à prova, nos recusamos a permitir que esta viagem terminasse, que não demos as costas e nem vacilamos; e com os olhos voltados para o horizonte e com a graça de Deus sobre nós, transmitimos o grande dom de liberdade e o transmitimos a salvo para as futuras gerações.

Obrigado, que Deus os proteja e que Deus salve a América."

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18.1.09

O louco

Então sou louco
E quando vejo a vida passar
Percebo que tudo que vejo
É sagrado;
E tudo que ainda não vejo
Mas dia virá que verei
É apenas a saudade que sinto
De tudo de sagrado...
Tudo isso que ainda não amei

Então sou louco
E quando vejo formigas a marchar
Andorinhas a voar
E homens ignorantes a se exterminar
Percebo que tudo segue a lei;
Nascer e morrer
Renascer e, lentamente, compreender:
A lei é a vontade
O amor é a lei...
E devemos tão somente amar-nos
Na idade em que nos é dado escolher

Então sou louco
Se me lembro de quem fui
Se percebo de relance
Quem sou: mais uma partícula de poeira
A girar no turbilhão universal;
Então compreendo o longo caminho
Que eu mesmo tracei para mim:
Vejo mundos, vejo a força que os conduz
Pelo Cosmos sem fim...

Então sou louco
E minha loucura é feita de luz

raph’09

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17.1.09

O caçador de médiuns

“Houdini... Houdini... Houdini...”

Ele estava imerso nas águas de um rio com a superfície congelada. Quando foi jogado por um dos buracos no gelo, estava preso por diversas correntes e cadeados, e trancafiado em um baú. Livrar-se das correntes e sair do baú, mesmo debaixo d’água, foi um dos truques que o fez famoso mundialmente, um dos muitos truques “mágicos” de fuga em que era especialista... Porém, naquele dia Houdini havia desconsiderado a possibilidade da forte correnteza do rio o levar para muito longe do buraco na superfície congelada, por onde deveria sair após se livrar das correntes e do baú, e infelizmente foi o que ocorreu.

Com pouco tempo de consciência em um leito de rio de águas em temperaturas muito baixas, tudo que conseguiu fazer foi achar um “bolsão” de ar entre a superfície da água e a camada de gelo imediatamente acima. Eram alguns centímetros talvez, mas era o suficiente para respirar um pouco. Porém, sem saber em que direção estava o buraco no gelo, Houdini passou a considerar que aquele talvez fosse o seu truque derradeiro: um truque do qual só escaparia com a morte.

Isso foi até ouvir a voz de sua recém-falecida mãe. A voz não era um cumprimento emocionado de uma mãe que talvez o estivesse esperando em algum céu, mas uma ordem para que nadasse em direção a ela... E, sem pestanejar, foi exatamente o que o mágico fez: seguindo a voz de sua mãe, encontrou a saída do túmulo de gelo e ainda teve muitos anos de glória pela frente.

Houdini no entanto nunca se esqueceu do ocorrido. Cético, acreditava que poderia ter “fantasiado” sobre ter ouvido a voz da mãe, mas como então explicar que a voz o direcionou a saída do rio? Como explicar a certeza que sentia em seu íntimo, de que aquela era, sem sombra de dúvida, uma comunicação genuína de sua mãe falecida?

Buscando explicações, Houdini acabou encontrando em Sir Arthur Conan Doyle, célebre criador de Sherlock Holmes, um conselheiro promissor: Doyle era um intelectual, e provavelmente mais confiável do que “espiritualistas em geral”.

Através de Doyle, Houdini teve suas primeiras experiências com o espiritismo, e alguns fenômenos que ainda eram comuns na Europa do início do século XX: “experiências com copos”, “mesas girantes” ou simplesmente médiuns que “diziam incorporar os mortos”. Entretanto, seguindo o próprio conselho do codificador da doutrina espírita, Houdini encarou todas essas pretensas “experiências espíritas” com extremo ceticismo. Com seus conhecimentos célebres de magia e ilusionismo, desmascarou inúmeros charlatões e falsários, a maioria dos quais cobravam por suas “apresentações” (o que é condenado pelo espiritismo). Não precisou de muito mais do que isso para que Houdini fosse então considerado uma espécie de desenganador, desmistificador, ou “caçador de médiuns”, principalmente porque desde essa época a mediunidade já era atacada por duas vias: céticos que contestavam a existência de espíritos fora de um corpo, e protestantes que ligavam a mediunidade a “comunicações com demônios”.

Doyle, que notadamente não era um cético por excelência, acabou rompendo sua amizade com Houdini. Obviamente que Houdini atacava somente os charlatães, e não os espíritas (que, dentre outras coisas, não cobram nada por sua mediunidade), mas o choque negativo (em relação à mediunidade em geral) que Houdini causava na mídia da época foi o suficiente para que Doyle considera-se afastar-se dele (mesmo o considerando um “grande médium”, coisa que o próprio Houdini sempre desmentiu).

Ora, me parece que até aqui essa é uma história ideal para os “céticos de plantão”, que aproveitam qualquer mísera oportunidade para atacar o espiritismo. Ocorre que, felizmente (ou infelizmente), esse tipo de “cético” não é muito dado e interpretações mais profundas dos fatos: sim, é óbvio que Houdini vinha desmascarando inúmeros charlatões durante os anos, mas engana-se quem acredita que Houdini fazia isso pelo puro prazer de os desmascarar, ou por alguma consciência de justiça; nada disso, Houdini estava todos esses anos tão somente tentando voltar a se comunicar com a mãe. Aquela experiência do rio realmente nunca lhe fugiu da memória: ele tinha a esperança clara de encontrar uma comunicação mediúnica verdadeira, pois sentia que precisava voltar a dialogar com a mãe.

Mas, como dizia Chico Xavier, “o telefone só toca da lá para cá” (Kardec diria outra coisa, mas isso já é outra história). Sem dúvida, Houdini perseguiu uma comunicação mediúnica com a mãe por boa parte da vida, mas ele a buscava pelos motivos errados, motivos egoístas. Mediunidade não é “passe de mágica”, nem uma coisa que existe para nos “consolar” ou “satisfazer os desejos íntimos”; mediunidade é uma lei natural que permite que espíritos trabalhem em comunhão em ambos os mundos (ou dimensões), e segue uma série de regras estritas (não cobrar fortunas é muitas vezes uma delas), todas voltadas para a reforma moral íntima dos médiuns, geralmente através da caridade. Quem vai atrás do espiritismo em busca de uma “comunicação” ou fenômeno espiritual, quase que sempre sairá de um centro espírita desiludido: os espíritos não se prestam às nossas necessidades, os médiuns é que se prestam as deles, de preferência aos espíritos adiantados moralmente que querem tão somente “melhorar a moral na vizinhança cósmica”.

Para os céticos que ainda não acreditam que a intenção real de Houdini era ter um novo contato com a mãe, resta-nos a história bastante conhecida que nos conta que, pouco antes de falecer (sua morte foi um tanto banal), Houdini confidenciou a sua esposa (Bess) um código que serviria para que ela interpretasse qualquer comunicação mediúnica após sua morte: caso o pretenso médium informasse o código, Bess saberia que era uma comunicação genuína do marido falecido. Meses após sua morte, Bess divulgou na mídia que buscava comunicações do espírito desencarnado de Houdini, e não sem surpresa, percebeu que a maioria delas era falsa, pois não informava o código. Isso prosseguiu até que um médium chamado Arthur Ford divulgasse o tal código secreto. Posteriormente, para conseguir com que um filme sobre a carreira do marido fosse rodado (o que lhe renderia bastante dinheiro), ela “admitiu” que talvez o tal código pudesse ter chegado a Ford antes de Houdini morrer (mas não deu muitos detalhes além disso, na realidade era “pré-condição” da produtora que Houdini não fosse retratado como “alguém que acreditava na mediunidade genuína”, devido a razões óbvias [novamente, duas vias de ataque: céticos e protestantes]).

O fato é que, tendo ou não o tal código sido revelado anteriormente a Ford, Houdini sem dúvida tinha a crença de que era possível a mediunidade genuína (embora, sem dúvida, soubesse que a grande parte dos “médiuns” da época eram fraudes): do contrário, não teria passado boa parte da vida buscando uma nova comunicação com a mãe, e muito menos se daria ao trabalho de criar o tal código para sua esposa.

Para mim, isso demonstra que o ceticismo e a mente aberta são condições ideais para a compreensão da realidade. É muito provável que ainda existam muitos farsantes no campo espiritualista (mesmo entre os que nada cobram, mas buscam atenção, ou sofrem de autoengano), mas ignorar a realidade espiritual do mundo pode nos limitar certas opções: será que quando estivermos congelando no leito de um rio escuro, seguiremos a voz que nos ama?

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15.1.09

Memórias de vidas passadas

A Discovery produziu um documentário sobre estudos de casos de crianças que se lembram de vidas passadas. Apesar do clima meio "ghostbusters" do início, lá pelo meio percebemos que o caso da menina do Sri Lanka é sólido, pois ao encontrar sua "família passada" ela sabia de detalhes da região, inclusive reconhecendo seus familiares por si própria. Os outros casos não são tão sólidos por se tratarem de netos lembrando da vida dos avôs, o que poderia ser explicado, dentre outras coisas, pelo avô estar "cuidando" do próprio neto, principalmente durante o sono (obviamente para quem não acredita em vida após a morte as opções são mais limitadas).

A experiência de falseamento cética também é muito bem conduzida, mostra que praticamente qualquer criança pode inventar uma história de quem foi "em uma vida passada", inclusive dando detalhes da morte. A questão é que elas foram sugestionadas a inventar (coisa que não ocorre nos casos sólidos, onde a criança por si só começa a falar sobre o assunto) e, além disso, a experiência não considera o fato de que muitas dessas crianças se lembram de endereços e parentes em vidas passadas, com extremo detalhe (e isso não pode ser "inventado").

Reencarnação: Histórias de Vidas Passadas (Discovery Channel) PARTE 1

PARTE 2 | PARTE 3 | PARTE 4 | PARTE 5

***

Leitura recomendada:
Twenty Cases Suggestive of Reincarnation, Ian Stevenson
Life before life, Jim Tucker

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Muitas doutrinas, uma só Lei

Cristianismo
"Faça ao teu próximo somente o que gostaria que lhe fizessem."

Judaismo
"Não faças ao teu semelhante aquilo que para ti mesmo é doloroso."

Confucionismo
"Não faças aos outros aquilo que não queres que eles te façam."

Hinduismo
"Não faças aos outros aquilo que, se a ti fosse feito, causar-te-ia dor."

Taoísmo
"Considera o lucro do teu vizinho como teu próprio, e o seu prejuízo como se também fosse teu."

Zoroastrismo
"A Natureza só é amiga quando não fazemos aos outros nada que não seja bom para nós mesmos."

Budismo
"De cinco maneiras um verdadeiro líder deve tratar seus amigos e dependentes: com generosidade, cortesia, benevolência, dando o que deles espera receber e sendo tão fiel quanto à sua palavra."

Jainismo
"Na felicidade e na infelicidade, na alegria e na dor, precisamos olhar todas as criaturas assim como olhamos a nós mesmos."

Sikhismo
"Julga aos outros como a ti mesmo julgas. Então participarás do Céu."

Islamismo
"Ninguém pode ser um crente até que ame o seu irmão como a si mesmo."

***

Será que somos assim tão diferentes?

***

Fonte: Livro "O Evangelho à Luz do Cosmos", de autoria de Ramatis, psicografado pelo saudoso Hercílio Maes, publicado pela Editora do Conhecimento. Post original do blog Universalistas.

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13.1.09

Rezas Inúteis II

Guerra santa
Santa guerra
Nada planta
Nada altera

Na Terra Santa
Ainda entoam
A lei do talião
Ainda tingem de sangue
Cada canteiro sagrado
E cada verso em oração...

Na Terra Santa

O que tem de santa essa terra?
O que tem de luz nessa guerra?
Além do Sol que vem aliviar
Da escuridão, aqueles que sofrem:
Os inocentes em meio à loucura
Que veem cegos a lutar;
Olho por olho
Só os inocentes ainda podem enxergar

Na Terra Santa
Ainda guardam Barrabás
E deixam o cordeiro de Deus sangrar
É que gostam de lutar
Por cada palmo de chão
E por cada gota de sangue no chão...

Na Terra Santa

raph’09

***

» Ver também: Rezas inúteis I

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12.1.09

Porque simpatizo com o espiritismo (III)

Seguindo o artigo anterior de onde parei...

Como vinha dizendo, uma coisa é crer na possibilidade de um Criador, outra muito distinta é compreendê-lo. Em todo caso, poderemos começar por uma lei da Natureza para a qual tanto céticos quanto espiritualistas não criam objeção a primeira vista: a lei da evolução. Evolução não significa que os organismos na Terra evoluem aleatóriamente com o passar do tempo, peixes que "decidem" ir viver na terra firme, simios que "decidem" ir viver em cima das árvores, ou girafas que "de alguma forma" esticam seu pescoço até que consigam comer as folhas das copas das árvores... Evolução significa que genes já existentes na espécie são privilegiados ou descartados, de acordo com sua função, até que certas características físicas (determinadas por esses genes) possibilitem uma melhora na capacidade da espécie sobreviver: peixes que tinham mais chances de sobreviver em terra firme se transformam lentamente (ao longo de várias espécies e milhões de anos) em criaturas desse tipo, simios que sobrevivem mais nos galhos das árvores evitando predadores no solo se transformam em mestres das árvores, girafas que vislumbram a possibilidade de encontrar pasto acima das árvores (onde não há muita concorrência com outros herbívoros) se transformam em criaturas pitorescas de pescoço alongado.

Se existe um plano para tudo isso, pela lógica devemos considerar que todas as criaturas vivas tem igual oportunidade na Terra, e que a Natureza, muito antes do homo sapiens chegar, proporcionou um vasto campo de experiências para essas espécies, onde simples bactérias evoluiram lentamente para todo tipo de animal sobre a Terra: uns bem sucedidos na sobrevivência, outros mal sucedidos ou extintos. A Natureza não faz um drama disso tudo: ela apenas propicia que espécies evoluam fisicamente, até estarem de acordo com a capacidade de abrigarem consiciência. Se considerarmos toda a história da Natureza na Terra, como um todo, teremos um maravilhoso exemplo de luta feroz pela sobrevivência, mas também do lento afloramento daquilo que nos é mais precioso: a capacidade de sermos conscientes de nós mesmos, e então passarmos a decidir nosso próprio futuro; Sermos morais ou imorais, sábios ou ignorantes, amorosos ou indiferentes... Agora, não dependemos apenas dos instintos animais, não precisamos mais ser governados por eles.

O Criador justo

Por mais que nos seja complexo definir conceitos como a Justiça, me parece que toda a história descrita acima pelo menos nos leva a uma idéia de "igual oportunidade". Pois, se Deus criasse os espíritos no ato da concepção, e os "enviasse" as mães, como poderíamos ver Justiça quando uns nascem em terras áridas africanas, enquanto outros nascem em celeiros de riqueza europeus? Quando uns nascem numa era de tecnologia, anestesia e direitos civis, e outros nascem no passado tribal ou na época negra medieval? Quando uns nascem perfeitamente saudáveis, e outros nascem com doenças terminais ou disfunções desastrosas?

Na minha modesta opinião, um Criador só poderia ser realmente Justo se nos houvesse criado todos iguais, princípios de consciência ancestrais, que vieram evoluindo ao longo de diversas espécies, e diversas encarnações, até que a consciência enflorasse, e pudéssemos então guiar a nós mesmos, obedecendo a uma simples Lei de Causa e Efeito: tudo o que sua consciência inflige de mal, estará para sempre gravado nela própria. A única forma de evoluir moralmente, portanto, é nos expurgarmos desse mal, lapidando nossa alma lentamente, também ao longo de milhares de anos... Não existe punição nessa Lei, a "punição" está de acordo com a ignorância de cada espírito para com os segredos de sua própria consciência. Melhor aquele que matou pessoas na fogueira vir como enfermeiro de queimados, do que ele mesmo morrer queimado... No entanto, existem espíritos ignorantes que ainda seguem a lei do Talião, e mesmo aqueles que se recusam de antemão a qualquer prática de caridade. Mas, aqueles que tem algum conhecimento de si mesmos, e do Amor que nos liga a todos em uma teia divina, trata de trabalhar sempre para que sua consciência se veja livre de toda culpa, o quanto antes melhor!

Seguindo a mesma lógica, teremos uma elegante explicação para a evolução da cognição humana. Genes, como já disse, determinam apenas características físicas. Não se sabe que espécie de genes determinam características cognitivas (como em gênios precoces da música ou matemática), morais (como nos grandes sábios e seres amorosos) ou mesmo culturais (embora os cientistas tenham chegado a vaga teoria dos Memes). Ora, é que esses tais "genes da cognição" nada mais são do que a capacidade cogntiva desenvolvida pelos espíritos ao longo de inúmeras encarnações. São como "potencialidades da alma" que se encontram adormecidas, e podem ser afloradas ou não, dependendo da "sorte" de cada um na vida atual, ou seja: do que se propuseram a vir realizar de construtivo para si mesmos (e todo restante do planeta).

Dessa forma, o médico que precisa desenvolver sua moral, poderá ter uma potencialidade para a prática da medicina nunca desenvolvida, e quem sabe ser um mero faxineiro do hospital: para este, o aprendizado não vem mais de cirurgias, e seu jaleco de faxineiro o trará todo o tipo de provas que o fará "forçosamente" encarar os problemas morais em seu espírito; Poderá, no mínimo, aprender a respeitar a todos como iguais, cirugiões ou faxineiros. E nos livros de Kardec, exemplos como este não faltarão.

Porisso também é que a grande maioria se esquece de suas vidas passadas, é que elas não desempenham papel tão preponderante assim: não precisamos "saber" o quanto fomos imorais para praticar a moral. Não precisamos "fazer regressão" para despertar nossa capacidade de amar... Ela já está aqui, dentro de nós, e o espiritismo nos passa sempre essa mesma recomendação de trabalho na melhora gradual de nós mesmos. É tão somente isso que os espíritos de luz desejam para nós, pois que ninguém evolui sozinho, e a evolução não anda para traz. Certamente que antes, quando iámos ao Coliseu ver feras devorando homens, quando achávamos normal a escravidão e a idéia de que mulheres e animais não tinham alma, eramos decerto menos evoluídos moralmente... Daí a lógica de que procurar saber de nosso próprio passado espiritual quase nunca é passo necessário para que evoluamos aqui e agora, no único presente ao qual nos foi dado decidir o que fazer.

Nascer, morrer, renascer ainda, e progredir sempre. Tal é a lei (essa frase se encontra na lápide de Kardec, na França).

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9.1.09

Porque simpatizo com o espiritismo (II)

Seguindo o artigo anterior de onde parei...

Muitos podem estar se perguntando - "tudo bem, você acredita que espíritos podem ser consciência extra-corpo formados por partículas que não interagem com a luz, mas dado o fato que essas nunca foram detectadas pela ciência, não é meio ilógico e arriscado crer em algo assim?" - Ao que respondo - "Arriscado sem dúvida, a vida é arriscada. Ilógico, não."

A lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar. Entendo particularmente a lógica como um conjunto de idéias ou conceitos que interagem uns com os outros, e que mesmo considerados em conjunto continuam fazendo sentido. Para mim é lógico que um pensamento nada mais seja que um estímulo elétrico navegando pelos neurônios do nosso cérebro, mas é ilógico afirmar que esse estímulo é "aleatório", ou convenientemente ignorarmos que todo estímulo se deve a uma "origem". Será que algum neurologista descobriu de onde exatamente no cérebro isso vem (não estou falando de estímulos de origem não consciente)?

A lógica de um Criador

Seguindo uma lógica parecida, podemos afirmar que todo efeito consciente tem uma causa na consciência, ainda que não saibamos ainda exatamente o que é a consciência, sabemos que ela é obviamente a origem de um efeito consciente, ou uma ação qualquer originada de um ser que tem a consciência de si mesmo, de sua individualidade (certos religiosos atribuem suas ações ao "determinismo divino" ou a "sedução do Diabo", mas isso é uma outra história). Se "voltamos no tempo", chegamos aos fatos: um homo sapiens é fruto da evolução das espécies na Terra, a vida na Terra orginou-se de um "evento fortuito" que provavelmente se deveu a combinação de elementos químicos (como o Carbono) presentes na atmosfera do planeta (muitos chegaram por asteróides, nem estavam aqui originalmente) que "de algum forma" deram origem a vida orgânica; Esses mesmos elementos (principalmente o Hidrogênio) são fruto do Big Bang - a "explosão" que deu origem ao Universo. A ciência não tem uma idéia suficientemente elaborada sobre o que ocorreu nos milesegundos iniciais do Big Bang, e muito menos sobre o que havia antes dele.

Mas o fato é que do Big Bang surgiu o Universo. E nesse mesmo Universo, partículas que formaram certos elementos químicos ainda relativamente "logo após" ao Big Bang, possibilitaram posteriormente não só o surgimento da vida na Terra, como o advento da consciência no homo sapiens (e provavelmente em outros animais). Daí retiramos a lógica de que todo efeito tem uma causa, e todo efeito consciente, ou que gera a consciência, tem uma causa consicente. Aqui está, pura e simples, toda a lógica que divide aqueles que acreditam em um Criador daqueles que acreditam na aparente aleatoriedade do Universo (tudo bem, existem as Leis da Natureza que estão muito distantes de serem aleatórias, mas o evento que criou tais leis foi aleatório para os ateus, visto que não o vêem como algo "orquestrado", nem com "algum propósito específico").

Bem, eu pessoalmente não sou ateu, mas nada tenho contra eles (inclusive além de ter diversos amigos ateus, aprecio sua capacidade lógica, embora não concorde com sua defesa da aleatoriedade do Universo).

Seguindo com meu encadeamento lógico: se existe um Criador, é porque ele é a soma de toda a sua criação, e algo a mais. Não estamos falando de um cientista que cria vida artificial manipulando organismos que já existiam, ou do poeta que escreve sobre uma Natureza que já estava aqui muito antes dele, estamos falando sobre um Criador que criou tudo - cada partícula, cada bit de informação de um RNA, cada código simples e elegante da Natureza, cada sutileza assombrosa da Gravidade e outras leis naturais. Então, esse Criador é pela lógica - Onisciente (sabe de cada canto e cada segundo do Universo, em todos os tempos, em todos os pensamentos), Onipotente (a soma de tudo o que é possível na Natureza, do buraco negro ao amor de mãe e filho) e Onipresente (uma condição óbvia da Onisciência, visto que não estamos nos atendo a um "corpo físico divino" [nem muito menos a um "velho barbudo nos céus"]).

Até aqui, não temos muitas discordâncias entre as religiões: que existe um Criador. O problema, porém, se mostra muito mais complexo quando nos perguntamos "mas como será exatamente esse Criador? Qual o seu plano para o Universo? Ele intercede em suas próprias leis naturais? Ele criou o mal? Ele nos julga, ou julgará?" - Não pretendo aqui me ater a essas perguntas, prefiro focar na pergunta principal: "Poderemos um dia compreendê-Lo?".

Ao contrário de muitos religiosos que já se julgam incapazes de antemão a compreender "qualquer detalhe que seja" de um Criador, ou daqueles outros que seguem fielmente um Livro Infalível e atribuem todas as contradições aos "mistérios de Deus", penso que é nosso dever, e possibilidade real, compreender todas as nuances do Criador. De fato, a união de ciência e religião, como falei anteriormente, trata extamente disso: do conhecimento, passo a passo, do Universo, do Cosmos, e análogamente, de seu Criador. Não tenho a ingenuidade de pensar que seremos capazes tão cedo de desvendar sequer metade de Seus mistérios, mas assim como na ciência os sonhos e ficções se tornam rapidamente realidade, ao vislumbrar a longa trilha que temos pela frente eu não vejo razão para acreditar que somos incapazes de "passar de certo ponto", mesmo que esse ponto esteja ainda a milhões de anos da compreensão de nossas consciências.

Ninguém chega a lugar algum sem dar os primeiros passos...

À seguir, continuarei com o caminho lógico apresentado, porém unindo a teoria da evolução das espécies com a idéia do princípio consciente que origina os espíritos.

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8.1.09

Porque simpatizo com o espiritismo (I)

"Simpatia (substantivo): Sentimento bom em relação a outra pessoa ou conceito (idéia)."

Esse é um depoimento de crença pessoal. Por mais que minha crença seja baseada em evidências e experiências de vida, essas são todas puramente subjetivas. Não tenho intenção de provar nada que afirmo à seguir, e tampouco tenho certeza absoluta de nada disso, nem acredito que tenha encontrado a verdade "final" acerca de tais assuntos. Estejam avisados.

Sobre ciência e religião

Eu costumo dizer que minha religião é meu pensamento. Não quero, com isso, me esquivar de críticas ao que acredito. De fato, eu tenho constantemente buscado uma visão equilibrada (ao mesmo tempo cética e espiritualista) acerca da religião. Religião é meramente "religação a Deus ou ao Cosmos", efetivamente o significado da palavra (do latim "religare") nunca teve quase nada a ver com muito do que é atribuido a ela: xamãs, rituais, igrejas, templos, padres, pastores, médiuns, gurus espirituais, etc... Nesse sentido, tanto um monge budista que procura desvendar os mistérios da meditação transcendental quanto o neurologista que estuda estados enigmáticos da consciência estão, essencialmente, atrás dos mesmos mistérios da Natureza, independente dos motivos que levaram cada um a sua busca, independente de este estar correto e aquele equivocado: no fim, é tudo questão de opinião.

No entanto, certamente não podemos ignorar que o método científico tem se mostrado bastante efetivo para nos descrever a realidade da Natureza. Como disse Einstein, "toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil - e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos." - Eu não entendo a ciência (que signifca "conhecimento") como algo dissociado da religião. De fato, se unirmos os dois significados originais, teremos algo como "O Conhecimento do Cosmos" ou, para dar mais ênfase a idéia: "O Conhecimento de Deus". Acredito que, como dizia Sto. Agostinho, precisamos "crer para compreender, e compreender para crer". Por muito tempo, ciência e religião anadaram de mãos dadas, eram simplesmente a Sabedoria (e Filosofia, diga-se de passagem, significa "amor ao saber"). Depois das incursões em métodos experimentais na ilha de Samos, na Grécia antiga, é que se começou a separá-las: alguns sábios afirmavam que a experimentação na Natureza era o caminho essencial para se conhecer o funcionamento da mesma, enquanto outros (não menos sábios) afirmavam que qualquer experimentação poderia ser realizada tão somente no campo das idéias, ou seja, do pensamento puro... Tratava-se tão somente de duas lentes para se ver a Natureza, era preciso de ambas para se chegar a algum lugar, e ainda é preciso.

Portanto, ao invés de ficarmos nos degladiando (ciência vs. religião), era interessante, a meu ver, que ouvissemos novamente a Einstein: "A ciência sem a religião é paralítica - A religião sem a ciência é cega..."

Dito isso, posso passar a explicação do porque simpatizo com o espiritismo. Primeiro, é interessante detalhar sobre qual espiritismo estou falando, pois o que mais se vê no Brasil são seitas e doutrinas espiritualistas se dizendo "espíritas", talvez porque esteja na moda (?), provavelmente apenas porque vende bem. Segundo Kardec, o codificador da doutrina espírita, o espiritismo "é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal." - Onde onde se lê "ciência", deve-se lembrar que Kardec era antes um cientista cético, e tratou das manisfestações de inteligência nas pretensas comunicações dos espíritos (através dos médiuns franceses de sua época) pelo método científico de observação dos fenômenos, e posterior teorização da lógica dos fatos. Não se trata da ciência oficial, na medida que esta não comprovou experimentalmente (em processos replicáveis e falseáveis) a existência dos espíritos, mas se trata, sem dúvida, de uma teoria lógica acerca desses fenômenos, muitos dos quais até hoje a ciência oficial também não explica (não me incomodo que chamem a ciência espírita de pseudociência, portanto).

Onde se lê "mundo corporal" é preciso compreender que na época de Kardec muitas das descobertas da ciência moderna acerca da natureza da matéria (por exemplo, sua intangibilidade) ainda não haviam sido realizadas. Dessa forma, era comum na época tratar do mundo corporal como mundo "da matéria", e do mundo espiritual como algo essencialmente "imaterial" (ainda que na pergunta #82 formulada por Kardec no Livro dos Espíritos, temos a resposta de que os espíritos são incorpóreos, mas não imateriais, pois que tudo é formado por matéria).

Hoje, a natureza do mundo corporal é compreendida pela Física Quântica como algo tão "virtual" (ou bizarro) quanto a mais psicodélica das teorias espiritualistas milenares. A diferença é que a Física Quântica trata de partículas detectadas em laboratório. Uma das teorias que defendo é a de que tudo é feito de matéria, inclusive o corpo espiritual (em espiritismo chama-se "perispírito"): um corpo fluídico nada mais seria do que um corpo formado por partículas ainda não detectadas pela ciência, do tipo que não interage com a luz (parte da chamada Matéria Escura).

Posso adiantar que não se trata de espíritos "de filmes ou histórias de assombração", de "demônios" ou de algo infantil como "gente que teve um karma ruim e reencarnou em um porco"... Trata-se do estudo lógico de um fenômeno, ou melhor, uma possibilidade: "a possibilidade de consciências extra-corpo se comunicarem com consciências [dentro do corpo, normais] de forma inteligente, ou seja, sem que a troca de informações possa ser originária de delírios ou alguma forma obscura de telepatia, pois as informações são muitas das vezes desconhecidas dos médiuns que as transmitem." - Um médium, no caso, não seria alguém "paranormal" ou dotado de um "dom divino", mas alguém como eu ou você, apenas com a capacidade de se comunicar com essas consciências extra-corpo mais desenvolvida, visto que segundo o espiritismo todos são médiuns, embora em graus variados (assim como todos podem compreender matemática, em graus variados).

Os espíritos nada mais são do que os seres inteligentes, ou com potencial de desenvolver a inteligência, por todo o Universo. Filhos da Natureza (embora se possa atribuir o advento dos espíritos a uma "aleatoriedade" tão grande quanto a que possibilitou a vida [de forma geral] no Universo, normalmente se atribui sua origem a um Criador), nascem como princípios inteligentes, e vivem em diversos planos vibratórios (pode-se entender como dimensões/branas, para quem conhece a Teoria M) ao longo da idade do Universo, seguindo toda a lógica evolucionista de Darwin-Wallace: apenas se propõe que o princípio que anima os seres orgânicos, da vida mineral a animal, evolui da mesma forma por etapas, ou reencarnações sucessivas, ora coletivas (na animalidade), ora individuais (no advento da consciência de si mesmo, em alguns animais mais evoluídos, e sem dúvida no homo sapiens). Assim como Wallace (um dos co-autores da própria teoria evolucionista) indiretamente defendia, o espiritismo nada mais faz do que explicar como a capacidade moral e cognitiva humana é transmitida adiante. Porque uns nascem criminosos e imorais, outros geniais e amorosos: é que estão em etapas diferentes de uma longa escada evolutiva, que se opera em absoluta independência dos genes, que nada mais fazem do que definir proteínas que determinam características físicas, como a cor dos olhos, ou a eficiência do sistema imunológico.

Importante frisar que os espíritos "falam apenas do que sabem", e nada mais. A grande parte das "desilusões" que se tem ao procurar a comunicação com espíritos provém da crença de que, em sua maioria, são seres de adiantado grau de conhecimento e moral, quando para os casos de contato mais comuns na mediunidade, ocorre exatamente o oposto (não são poucos os "avisos" nos livros de Kardec acerca de espíritos sombrios e zombeterios que só querem causar confusão). Portanto, uma vez admitida a possibilidade da mediunidade ser real, mesmo assim é preciso estar preparado (talvez com o kit de ceticismo de Sagan) para as inúmeras fraudes, ou comunicações atribuidas a espíritos zombeteiros, que iremos nos deparar pela frente.

Isso dá, acredito, um apanhado geral do que vem a ser o espiritismo real, codificado por Kardec (mas não de sua "autoria"). Para informações mais detalhadas, recomendo que consultem O Livro dos Espíritos.

À seguir, irei expor o caminho lógico que me levou a crer na reencarnação e na possibilidade da mediunidade.

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Um dragão na minha garagem

"– Um dragão que cospe fogo pelas ventas vive na minha garagem.

Suponhamos (estou seguindo uma abordagem de terapia de grupo proposta pelo psicólogo Richard Franklin) que eu lhe faça seriamente essa afirmação. Com certeza você iria querer verificá-la, ver por si mesmo. São inumeráveis as histórias de dragões no decorrer dos séculos, mas não há evidências reais. Que oportunidade!

Mostre-me – você diz. Eu o levo até a minha garagem. Você olha para dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo, mas nada de dragão.

Onde está o dragão? - você pergunta.

Oh, está ali – respondo, acenando vagamente. – Esqueci de lhe dizer que é um dragão invisível.

Você propõe espalhar farinha no chão da garagem para tornar visíveis as pegadas do dragão.

Boa idéia – digo eu –, mas esse dragão flutua no ar.

Então você quer usar um sensor infravermelho para detectar o fogo invisível.

Boa idéia, mas o fogo invisível é também desprovido de calor.

Você quer borrifar o dragão com tinta para tomá-lo visível.

Boa idéia, só que é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.

E assim por diante. Eu me oponho a todo teste físico que você propõe com uma explicação especial de por que não vai funcionar.

Ora, qual é a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe? A sua incapacidade de invalidar a minha hipótese não é absolutamente a mesma coisa que provar a veracidade dela. Alegações que não podem ser testadas, afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico, seja qual for o valor que possam ter por nos inspirar ou estimular nosso sentimento de admiração. O que estou pedindo a você é tão-somente que, em face da ausência de evidências, acredite na minha palavra."

Carl Sagan - O Mundo Assombrado Pelos Demônios

***

Esse pequeno (e genial) jogo de palavras e significados resume quase perfeitamente a essência do pensamento cético. Muitos religiosos (e anti-religiosos) tem uma percepção errônea do ceticismo. Ceticismo não é simplesmente não acreditar em nada que não faça sentido em nossa realidade (a Física Quântica decerto faz muito menos sentido do que grande parte das teorias espiritualistas), mas sim só considerar aquilo que tem a possibilidade de ser comprovado.

Obviamente que as teorias para a existência do espírito tem sido classificadas como absurdas devido a imensa quantidade de fraudes que já foram verificadas ao longos dos anos. No entanto, poucos céticos se arriscam a tentar explicar o que não foi comprovado como fraude ainda, muito embora a ciência não explique. É tudo uma questão de compreensão de como as pessoas pensam, não podemos desmerecer os céticos que relutam em considerar teorias que para eles não tem a mínima conexão com sua realidade, mas também não podemos julgar os defensores de teorias espiritualistas como mistificadores e charlatões de antemão, mesmo porque a maioria deles não busca qualquer espécie de lucro em suas pesquisas; Buscam tão somente o mesmo que quase todos nós: compreender a Natureza.

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5.1.09

Suavizai o corte

Parte dos versos do Livro do Caminho Perfeito, o Tao Te Ching, que também consta em nossa lista de links (na home do blog):

Suavizai o corte
Desfazei os nós
Diminui o brilho
Deixai que as rodas percorram os velhos sulcos.
Devemos considerar nosso brilho
a fim de que nos harmonizemos, com a escuridão dos outros (...)

Verso 04 do Tao Te Ching

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Tudo pode ser?

Em seu livro "O mundo assombrado pelos demônios" Carl Sagan nos traz um conjunto de informações históricas acerca da relação entre mitos, lendas, credulidade, ceticismo, religião e ciência. Obviamente, Sagan se mostra ardoroso defensor da ciência e do método cético de análise dos fenômenos da Natureza (o "kit de detecção de mentiras"). Alguns céticos consideram esse livro, não sem razão, uma espécie de "bíblia" do ceticismo, enquanto que alguns não-céticos tecem sobre o mesmo livro alguns comentários, não sem razão, bastante críticos.

Interessante que, me parece, em ambos os casos, as pessoas não tenham compreendido Sagan da maneira correta. Sagan era um homem deslumbrado com a Natureza, num sentimento que muitos poderiam confundir por religioso, e não falava absolutamente sobre o que não havia previamente estudado extensivamente. Era um profundo conhecedor de religiões, principalmente as Abraâmicas, e profundo estudioso de relatos de sequestros por alienígenas que ficaram tão comuns nos EUA do século XX. Sagan não era agnóstico porque leu um livro que condenava a crença e a fé num "ser superior", era agnóstico porque estudou extensivamente as religiões e não encontrou, em nenhuma delas, evidências suficientes para que ele, e APENAS ele, pudesse tirar qualquer conclusão acerca desse Ser. Sagan não era cético acerca dos relatos de alienígenas aparecendo pela Terra porque achasse ridícula, de antemão, a suposição: ele mesmo cita que "gostaria muito de poder analisar um artefato alienígena, uma evidência física qualquer que tenha sido deixada em um desses milhares de casos", mas não houve um caso sequer, um artefato que tenha chegado em suas mãos.

Obviamente que um homem de ciências, profundamente lógico, não pudesse abraçar nenhuma outra causa que não a materialista, em se tratando de tantas e tantas fraudes encontradas ao longo da história... E, de fato, é isso o que qualquer espiritualista com um pingo de ceticismo percebe: que de cada 100 casos chamados "paranormais" ou "sobrenaturais", pelo menos uns 90, decerto, são fraudes, e a grande maioria delas, infelizmente, fraudes INTENCIONAIS.

Não quer dizer que a ciência materialista tenha a resposta para todos os fenômenos, sequer que ela tenha a ambição de ter essa resposta. Decerto a ciência explica como a evolução não se dá de forma aleatória, mas sim pelo "descarte" de genes e espécies que não "funcionam", favorecendo as mais aptas a sobrevivência; Porém, está um tanto distante de explicar o PORQUE de isso tudo funcionar assim, a ciência busca explicar COMO ocorrem os fenômenos da Natureza, e não seu sentido, se é que existe algum. Decerto a ciência tem teorias muito sólidas para a origem do Universo, como a do Big Bang (a radiação de fundo cósmica demonstra claramente que continuamos "dentro de uma explosão"), mas é incapaz de explicar como o Universo pode ter surgido aparentemente "do nada", ou porque os eventos encadeados fizeram com que asteróides caíssem no pálido ponto azul, um planeta que chamamos de Terra, e possibilitasse a suposta recombinação de elementos químicos que deu origem a vida. Decerto a ciência tem explicações lógicas para fenômenos extraordinários como o de crianças que se lembram de endereços e conhecidos em vidas passadas, que subitamente "se lembram" que sabem falar aos 2 meses de idade (e escrever aos 4), que têem sonhos aos 4 anos de idade e passam a pintar realisticamente e compor poesias de profundo conteúdo espiritual, e muitos outros casos de crianças prodígios. Ou para garotos orientais que meditam por dias sem comer nem beber e não ressecam a pele ou sequer esboçam qualquer reação física. Ou para médiuns de cirurgias físicas que operam a anos sem assepsia e nunca foi relatado caso de contaminação, apesar de o pretenso médium não ter sequer o segundo grau completo, muito menos saiba o básico do básico da medicina geral; No entanto, essas explicações são tão ou mais fantásticas do que as explicações reencarnacionistas, principalmente a explicação espírita (que muitos confundem com espiritualista ou "da Nova Era", quando muito pouco tem a ver, a começar pelo fato do codificador da doutrina espírita, e muitos de seus amigos e divulgadores, terem sido cientistas).

Convenientemente, Sagan passou ao largo de diversos fenômenos "sem explicação científica" em suas análises, mas não o podemos culpar: assim como todos nós, Sagan estava apenas defendendo o que de fato acreditava de coração, a sua forma de ver o mundo. E, de toda forma, por mais que as evidências do parágrafo acima sejam consideravelmente mais fortes dos que as inúmeras listadas em seu livro, AINDA não nos trazem, de forma alguma, uma prova cabal, experimental, científica, da existência da vida após a morte, de espíritos, curas pela fé, e muito menos de Deus.

Acredito que tudo possa se resumir em que a ausência de evidência não é prova da ausência, e que o ônus da prova cabe a quem afirma, e não a quem prefere não concordar, ou acreditar. O importante, portanto, não é impor a nossa "verdade" aos outros, ou convertê-los a nossa opinião sobre a vida, mas sim encontrar uma forma em que todos possamos crer ou descrer no que quisermos, sem no entanto atropelar os direitos alheios, nos ofender, ou simplesmente nos matar, o que é infelizmente o mais comum na história da humanidade.

Da mesma forma, ler os livros de Sagan, e principalmente "O mundo assombrado (...)" deveria ser essencial para todo e qualquer espiritualista e/ou religioso: porque nos esquivar dos críticos, senão por não termos convicção de nossa própria fé? Porque aceitar dogmas e ignorar uma revisão consciente e equilibrada de nossa crença, senão porque já perdemos qualquer compromisso com a realidade? Porque temer perdermos qualquer tipo de "consolo" religioso ao lermos críticas céticas, senão por termos uma compreensão errônea de que a religião é tão somente "um consolo para o sofriemento humano"? - Aquele (espiritualista) que se esquiva de encarar o ceticismo opera da mesma forma que o cético que se esquiva de analisar e/ou tentar explicar fenômenos que não foram classicicados como fraudes, e mesmo assim não são explicados pela ciência... É MAIS FÁCIL se esquivar e não encarar o pensamento contrário, sejamos espiritualistas ou céticos.

É exatamente porisso que admiro Sagan, independente de concordar com ele ou não. Ele nunca se esquivou de ir a fundo no estudo dos fenômenos ditos "sobrenaturais". Felizmente (ou infelizmente) nunca parece ter se deparado com um fenômeno realmente complexo, e algumas vezes apelou para explicações esdrúxulas (sonhar que estamos caindo pode ter a ver com a época em que "dormíamos em árvores", o que me parece interessante, apenas falta explicar como genes, que determinam característcias meramente físicas, podem nos "relembrar" de quando nossos átomos formavam símios, e não homens), mas de modo geral foi profundamente corajoso, meticuloso, bem-humorado e generoso em suas pesquisas e conclusões. Nota-se que não quis ofender ninguém, mas antes demonstrar o porque de crer no que crê: de que nada somos além de poeira de estrelas, até que se prove o contrário, apesar de que sermos poeria de estrelas seja, por si só, "sufucientemente extraordinário".

Tudo poder ser? Provavelmente, para quem crê no que lhe parece aprazível. No entanto, para quem precisa "crer para compreender, e compreender para crer", como dizia Sto. Agostinho, a realidade precisa exercer papel mediador para toda e qualquer crença, materialista ou espiritualista, científica ou religiosa... Me parece que o "sobrenatural" é apenas o natural ainda não compreendido pela ciência. Tomara que um dia ambas, ciência e religião, se reencontrem, e caminhem novamente juntas. Pois Ciência é tão somente Conhecimento, e religião é tão somente Religação ao Cosmos. Que nosso Conhecimento do Cosmos ande sempre junto do bom senso, do ceticismo sincero, da moral e do amor... Tomara que sim.

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