Gotas…
Límpidas, porém cálidas.
Caem…
Em infinitos oceanos.
Muitas gotas.
Gotas sem rumo.
Caem ao acaso
em um lindo vaso
que guarda o ser humano.
Quantas gotas
hão de cair
para ante a verdade,
evaporarem de volta aos céus,
e finalmente encontrarem
um caminho a seguir?
(Tantas quantas lágrimas
o Criador puder chorar…)
raph'99
***
As gotas são as almas dos homens.
Límpidas por nascerem puras, cálidas por procurarem arduamente a evolução.
Cada oceano é uma terra de homens, pois cada planeta tem seu oceano.
A princípio as almas parecem estar sem rumo, e a ilusão de que existe o acaso parece bem real.
O "lindo vaso" é o próprio ser humano, sua máquina perfeita, seu corpo terreno.
Evaporam de volta aos céus quando desencarnam, não uma mas muitas vezes.
Porisso o "quantas gotas hão de cair"...
Após várias encarnações as almas finalmente encontram um caminho à seguir.
Então a ilusão de que existe o acaso desaparece.
E finalmente,
O Criador só poderia estar chorando de alegria.
E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele disse:
"Vossos filhos não são vossos filhos
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam conosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles tem seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós.
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arquiteto mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável."
***
Gibran Khalil Gibran (na tradução de Mansour Challita) em seu livro O Profeta, talvez traga uma das mais belas e sucintas definições da relação (verdadeira) de pais e filhos de toda a história. Está colocada aqui, pois por mais que não goste de copiar textos extensos de outros autores, esse é um dos que não tem outra forma de serem abordados que não no próprio texto original.
Em breve, falaremos então de espíritos, seres eternos que foram arremessados a milhões de anos, e ainda percorrem o universo rumo ao alvo na senda do infinito... Quem sabe ler nas entrelinhas, sabe o grande homem que foi Gibran.
O astrônomo queria saber o que havia no início desse universo, e com seu super telescópio, passou dias e noites, e semanas e meses, apenas observando os céus noturnos, em busca de algum resquício de luz da grande explosão que iniciou isso tudo, o Big Bang.
E quando mais achava pistas sobre ele, mas tempo passava no telescópio... Até que um dia foi recompensado, encontrara no passado distante, a milhões de anos-luz, o nascimento de uma pequena estrela nos confins de nossa própria galáxia. De uma explosão de luz, viu que do nascimento incandescente daquele pequeno sol, milhares de pequenos fragmentos foram arremessados no espaço sem fim... Um desses fragmentos era um asteróide, mas não um asteróide qualquer, porque o astrônomo sonhou que ele era parte dessa pedra viajante.
Ou talvez estivesse no sonho de alguém, mas o fato é que viu todo o percurso daquele pequeno pedaço de rocha pelo espaço... Observou muitas outras estrelas, outros sóis e seus planetas, luas, anéis de Saturno, e milhares de outros asteróides, cada qual em sua própria rota, determinada por sabe lá quem ou o que...
Até que avistou um imenso ponto negro no espaço, realmente mais negro do que o próprio espaço em si, totalmente escuro, pois que nem a luz lhe escapava. Era assutador, impossível saber o que havia em seu horizonte interno, pois sugava toda a luz, e ainda não haviam inventado um telescópio que enxergasse onde não há luz alguma... Mas nesse momento soube da inevitabilidade de sua aproximação do arauto da destruição, era impossível que aquele pequeno asteróide tivesse forças para sobrepujar a atração mortal do imenso buraco negro.
No entanto, quando estava mais próximo de sua entrada, pareceu tranquilizar-se, como quem pensa da seguinte forma: "se por acaso foi o nascimento de uma estrela que me arremessou no espaço, talvez não seja de todo mal que eu me perca para sempre na carcaça mortal de uma de suas irmãs". O buraco negro nada mais era do que uma estrela muito mais antiga que já havia entrado em processo de auto destruição, levando tudo a sua volta consigo, até mesmo a luz, mas não a esperança...
Pois que após vagar por incontáveis séculos pelo universo sem fim, o pequeno asteróide e seu astrônomo aprenderam uma lição. "Aqui existe vida, vida abundante, vida infinita. Enquanto uns se perdem nos horizontes escuros de um buraco negro, muitos outros são arremessados no espaço a todo momento, numa inexplicável, onipotente demonstração de amor."
E desse modo pleno de confiança, adentrou no escuro absoluto... Menos de um momento depois, já se via vagando pelo nosso sistema solar, em direção a terceira pedra do nosso sol, a mãe azul, Terra. Não sabia o que havia ocorrido dentro do buraco negro, mas sabia sim que persistia, ainda que numa outra forma, um asteróide muito maior, com diversas outras inteligências em estado bruto... "Nada se perde, tudo se transforma."
Queimou ao entrar em contato com nossa atmosfera, e caiu incandescente... Mas dor, dor não sentia... Sentia uma imensa alegria, como a de quem encontra uma casa nova para morar. E, caindo em algum lugar do Egito, a milhões de anos atrás, se transformou numa imensa montanha, e depois numa das árvores que crescia na base dela, e depois em um pequeno réptil, um gatopardo, um gorila, um homem das cavernas e, finalmente, um homem!
Então o astrônomo acordou de súbito, houvera cochilado durante suas observações sem fim. Imediatamente pensou: "nunca sonhei um sonho tão real." E dali em diante, passou a se preocupar mais consigo mesmo do que com o universo distante... De algum modo, sentia que era ele em si, parte desse universo, e olhar para dentro de si era como olhar para as regiões mais longínquas do cosmos.
As vezes me pego assim...
Meio que solto no tempo...
Meio ontem... Meio amanhã.
Meio no início... Meio no fim.
Então sou pura solidão.
Pura poeira cósmica.
Que pulsa e vibra
no centro dessa explosão...
Mas sós não estamos.
E toda essa imensidão percebemos.
E mesmo aqui em presente vivemos.
Nunca fomos... Nada seremos.
Que afinal fazemos?
Pergunto-me quando traço
essas linhas sem compasso
no espaço sem espaço...
Energia... Transcende a matéria.
Antares, Capela, Terra...
Tantas foram... Tantas mais
esperando pela Galera Etérea.
E não sou rápido o bastante
Para ser o antes do depois...
Ou depois... Ou antes
desse ciclo constante...
Portanto se o tempo intervêm,
aceito-o trânquilo...
Pois já vi lá do alto do mastro
quanto tempo ele tem.
raph'99
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Acho sempre interessante como o que escrevemos no futuro pode complementar
o que escrevemos no passado, e vice-versa. Enfim, talvez a inspiração para o
ato de escrever em si esteja ela totalmente fora do tempo...
Já dizia Santo Agostinho:
“O passado já não existe e o futuro ainda não existe. (…) O presente não tem nenhuma duração, se a tivesse, dividir-se-ia em passado e futuro.” - Portanto, o que importa é o que nós somos, o que conquistamos moralmente para nós mesmos, o quanto fomos capazes de evoluir até agora... Mas, e que "agora" seria esse então? Não importa.
Não importa, porque se nossa medida de grandeza fosse baseada no quanto conseguimos juntar em nossas casas ou em cofres de bancos, ou a quantas instituições de caridade doamos todo ano, ou a quantas pessoas nos conhecem ou quantas notas saem sobre nossas vidas nos jornais todos os dias, enfim, acho que teríamos muitos grandes homens e grandes mulheres nesse mundo.
Mas, como Sócrates o fez, é preciso aprender a julgar quem é sábio e quem apenas se julga como tal... Não extamente pelos outros, mas antes por nós mesmos. Aprender o que é realmente a sabedoria nos aponta o único caminho pelo qual deveríamos estar sujando nossas botas de lama. São vários os caminhos para a sabedoria, e todos, guiados por nosso próprio amor ao saber, levam para dentro de nós mesmos.
Como estamos sempre em trânsito, nessa viagem quase que eterna de nossa pequena Via Láctea pelos confins do cosmos, tudo a nossa volta também é dinâmico, está sempre em movimento. Não adianta querer guardar quinquilharias nas gavetas, trajes finos nos armários, medalhas e troféis no sótão... O turbilhão que move esse universo não poupa a nada nem a ninguém, mais poderoso do que o próprio tempo, ele só cessa ante os portais que levam a algo ainda mais poderoso.
Sim, pois que nada adentra aos portais de nossa própria alma, ah não ser nós mesmos. Lá, somos onipotentes, embora ainda não possamos exercer essa onipotência em todo seu potencial... Mas mesmo assim, tudo que guardamos na alma "o ladrão não leva e as traças não devoram".
Sábio é aquele que guarda um ensinamento dentro d'alma, e não precisa vasculhar toda sua biblioteca para encontra-lo novamente. Sábio é também quem carrega toda a sua casa sempre consigo mesmo, e prefere o som leve de uma harpa que pode carregar, do que uma sinfonia belíssima tocada em piano, mas que lhe pesa mais do que qualquer outra coisa, por ainda não poder decifra-la. Sim, mesmo aqueles que guardam seus amores a sete chaves dentro de seus corações não podem ser censurados, pois que não há coisa mais valiosa do que um amor, e é perigoso deixar um amor perdido enquanto se corre atrás de outro.
Mas, acima de tudo, sábio é aquele que não se preocupa em decorar tantas orações, pois que sabe que diante de tamanha imensidão, a única coisa que pode dizer ao descobrir que dentro de si mesmo existe uma imensidão ainda maior e mais bela, é somente isso mesmo...