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29.4.19

Sócrates, o Xamã de Atenas

Neste vídeo vamos tentar entender porque exatamente um dos maiores sábios da antiga Grécia não gostava de livros ou qualquer espécie de discurso escrito. Teria a escrita sido inventada por Toth, o deus da magia egípcio, para beneficiar ou prejudicar a humanidade? Se Platão tivesse seguido à risca o conselho de seu mestre, hoje ninguém saberia quase nada da vida e das ideias do grande Sócrates... mas, será que a crítica de Sócrates a escrita também não vale algumas reflexões?

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15.4.19

Parmêndies vs. Heráclito: deu treta!

Neste vídeo vamos esmiuçar o primeiro grande embate de ideias da história da filosofia ocidental: de um lado, vindo de Eleia, Parmênides e sua defesa intransigente do Ser imutável; do outro, originário de Éfeso, Heráclito e sua ideia de Logos como "um fogo sempre vivo", sempre em mutação. Para mediar tal combate, foram convidados mais três pensadores de peso: Sócrates, Platão e Benedito Espinosa. Fique conosco até o final para saber quem venceu (ou não)...

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Sefirat ha Ômer 2019

Contagem do Ômer, ou Sefirat ha Ômer, é o nome dado à contagem dos 49 dias ou sete semanas entre Pessach e Shavuót, feriados judaicos correspondentes, respectivamente, a Páscoa e ao dia de Pentecostes. Nesta Contagem mística (de origem judaica), meditamos todos os dias relacionando sete das esferas da Árvore da Vida da Kabbalah com elas próprias e também com as demais, totalizando exatamente os 49 dias de Contagem (7x7=49).

Em 2014 eu segui a Contagem conforme proposta pela Kabbalah Hermética, seguindo o passo a passo organizado pelo meu amigo Marcelo Del Debbio (você pode ver toda a explicação e os vídeos de cada dia da Contagem aqui). De forma inteiramente inesperada, acabei escrevendo (o verbo mais correto provavelmente seria “recebendo”) um novo poema a cada noite da minha Contagem, o que acabou se tornando um livro chamado 49 noites antes da Colheita (disponível em e-book e versão impressa). Todos os 49 poemas foram recitados e gravados em áudio, e hoje estão disponíveis gratuitamente no nosso canal do YouTube.

A Contagem de 2019 se inicia em 20 de Abril, ao pôr do sol. Para celebrar mais um ano de Ômer, trago abaixo os 49 tweets que postei no meu twitter, respectivos a minha meditação do ano passado:

• Todos os primeiros passos foram dados por amor. [1/49]

• Cada passo, cada sentimento, ao seu ritmo. [2/49]

• Assim, ama a quem vai a frente, mas também a quem vai atrás. Ama quem vai a sua direita, e quem vai a sua esquerda. [3/49]

• Ama cada ser. Cada forma com a qual a Vida dá forma e observa a si mesma. [4/49]

• E saiba que, no Caminho do Amor, há um mandamento não escrito: "submissão". [5/49]

• E quem de fato o compreendeu, sabe que o Amor é, foi e sempre será: eterno. [6/49]

• Amadurecido no camimho, amo por amar; não como quem quer guardar um tesouro num cofre, mas como quem vê o ouro espalhado junto a brisa do deserto, e sorri. [7/49]

• Caminho com um sonho em meu horizonte: o dia de alcançar o Amor que julga estranho apenas o que é estranho. [8/49]

• Não perambulo por este deserto a esmo, há um monte onde preciso chegar. Há uma festa para a qual eu também fui chamado. [9/49]

• Cruza um beduíno em meu caminho. É velho, fala num jeito manso, tem a pele desgastada e os olhos cintilantes. Ele me pede um pouco da água do meu cantil. Subitamente, sinto por ele um Amor imenso, além das palavras. [10/49]

• Ninguém atravessa um deserto sem conhecer os seus oásis. [11/49]

• Além das ideias de certo e errado, há um oásis no deserto. Toda travessia passa por ele, por deitar em sua relva, por beber de sua água; e, então, retornar ao mundo. [12/49]

• Nesta senda pelo deserto, mestre e discípulo avançam somente de mãos dadas. [13/49]

• Bendito é o mestre que anseia por discípulos que possam, ainda nesta vida, lhe ultrapassar em sabedoria. [14/49]

• Ama verdadeiramente quem é capaz de transbordar a si mesmo. [15/49]

• O Amor não é um jogo com regras estabelecidas. O Amor é uma experiência. [16/49]

• São tantas as belezas neste Caminho: são incontáveis, e todas passarão. Tudo passa, exceto o Amor que sentimos contemplando a beleza em si mesma, o Amor que arde na eternidade. Eu quero fogo, fogo! [17/49]

• Quem quase nunca julga, raramente poderá ser julgado. [18/49]

• Jamais vi fruto algum com a casca assinada: "feito pela Terra". [19/49]

• Quem ama tem um compromisso com a própria alma. [20/49]

• Nessa travessia é preciso amar quem segue se arrastando pela areia da mesma forma com que amamos quem vai saltitante, bem lá na frente... [21/49]

• Muitos países foram conquistados pelas armas e seus soldados, mas somente o Amor pode conquistar uma alma. [22/49]

• Muitos dos que se arrastam pela retaguarda não são velhos nem mancos: eles estão atados pelos tornozelos a pesados grilhões; e é de bom grado que carregam suas bolas de chumbo. [23/49]

• Quem quer que chegue primeiro no local da Colheita, terá a nobre função de ajudar nos prepartivos da festa, enquanto se aguarda pelos demais... [24/49]

• Uma alma verdadeiramente antiga jamais se portará de forma intolerante para com os erros de quem dá seus primeiros passos no Caminho. [25/49]

• A noite, no deserto de si, sob a luz de incontáveis estrelas, é impossível não se sentir pequenino. [26/49]

Amor nunca foi posse, mas vínculo, entrelaçamento de almas. [27/49]

• Ninguém atravessa o deserto pela fama de grande explorador. Atravessamos o deserto porque é esta a única via para a Colheita. [28/49]

• O verdadeiro caminhante coloca sua Obra acima de si mesmo: ele já não tem importância alguma, só importa a luz que é capaz de refletir. [29/49]

• O verdadeiro caminhante nunca pediu pela guerra, mas sempre fez parte do exército da Vida. [30/49]

• O verdadeiro caminhante é sempre grato e atento a todas as lições do Caminho. [31/49]

• Foi justamente a grama, a mais humilde das plantas, a que transformou esta parte do deserto num oásis... [32/49]

• Enquanto não se ama por amar, enquanto não se compreende que o Amor é o próprio tesouro, que o Amor basta a si mesmo, é impossível alcançar a essência desta realidade... [33/49]

• A melhor forma de vencer este deserto é caminhar de mãos dadas. [34/49]

• A verdadeira majestade advém do exemplo. [35/49]

• O Amor é um compromisso com a experiência de se estar vivo, aqui e agora... [36/49]

• Quem evita o seu próprio deserto está fadado a se arrastar solitário, apartado de si, junto a multidão. [37/49]

• A melhor ajuda é aquela de quem transborda o próprio coração, e atinge às margens dos desertos alheios. [38/49]

• Quem ama tem compromisso com o Amor em si. O Amor é seu próprio tesouro. [39/49]

• Morrer para si; desvanescer como a areia soprada pelo vento; renascer de uma semente de Amor: é tudo isso o que se faz neste deserto. [40/49]

• Desde que iniciei minha caminhada, jamais vi o sol faltar ao seu compromisso com o dia, ou a lua com a noite. [41/49]

• O Amor não tem compromisso algum com a violência, a ignorância ou o sentimento de posse. O Amor tem compromisso consigo mesmo, a Vida tem a sua própria agenda... [42/49]

• Esta jornada é tão longa e extenuante, por que alguém iria querer passar por tantos sacrifícios? Mas eu nem quero, nem não quero, eu amo. Eu sirvo ao Amor, e de bom grado! [43/49]

• Nenhum ser humano é capaz de conhecer toda a extensão de seu próprio deserto. Ainda é preciso outro ser humano para se descobrir nossos recônditos mais ocultos. O olhar de quem amamos é o olhar de Deus... [44/49]

• O Amor em movimento, o Amor como exemplo, supera qualquer texto, vale mais que qualquer discurso. [45/49]

• Aqui, no deserto de mim, após a longa caminhada, perdi tudo o que tinha, restou apenas o Amor: o que sou. [46/49]

• Quando não há nada no mundo além da noite, do deserto, da lua e das estrelas, você subitamente se torna agredecido por tudo o que existe. [47/49]

• O compromisso com quem se ama verdadeiramente é perene, vence qualquer distância: um jamais esteve fora do outro. [48/49]

• Não há soberania mais elevada do que a submissão ao Amor. [49/49]


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Crédito da imagem: Google Image Search

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5.4.19

O homem universal

O que é o homem universal?

O polímata, aquele que conhece várias áreas do saber, geralmente é identificado com o homem renascentista, a exemplo de Leonardo da Vinci. No Renascimento (entre os séculos XIV e XVI, aproximadamente) houve um retorno a ideais da Antiguidade Clássica e uma perspectiva mais centrada no homem (humanismo) e não em Deus. Porém, não seria o monge medieval também um homem universal? Um verdadeiro polímata?

Os mosteiros, com suas grandes bibliotecas, eram o centro do saber na Europa antes do surgimento das universidades. Na verdade, foi a partir deles que algumas das primeiras universidades surgiriam. O que torna o monge medieval um homem universal? Por influência da Antiguidade Clássica, na Idade Média ensinava-se as Sete Artes Liberais, aprimoradas nesse período, que eram a base do saber: o Trivium (lógica, gramática e retórica) e o Quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia). O clero era educado nelas, principalmente os padres. Era um requisito indispensável para os padres aprender o latim e algumas vezes também o hebraico e o grego, para um estudo aprofundado da Bíblia.

Além de padres e muitos monges terem essa base nas Sete Artes Liberais e conhecimento de idiomas, eles estudavam filosofia e teologia. Nos mosteiros, os monges repetiam, e repetem até hoje, os salmos na Liturgia das Horas tantas vezes por dia que alguns sabem os 150 salmos de cor. É comum que citem de cor muitas passagens dos Evangelhos ou mesmo algumas do Velho Testamento. Houve vários monges que também foram cientistas. Um dos exemplos mais óbvios é Gregor Mendel, o pai da genética: biólogo botânico e monge agostiniano. E um padre e físico belga, Georges Lemaître, criou a teoria do Big Bang. 

Mas voltemos aos monges. Além de muitos terem inúmeros conhecimentos intelectuais em diversas áreas do saber, todos eles possuem uma categoria muito especial de conhecimento: o manual. Assim como os pintores renascentistas, vários monges, frades e padres se destacaram na habilidade com a pintura, a exemplo de Fra Angelico, frade dominicano. Nos mosteiros sempre foi muito comum que os monges aprendessem as artes da pintura e da caligrafia e preparassem as belas iluminuras dos pergaminhos medievais. Mas os conhecimentos do monge medieval não acabam aí. Eles aprendiam a cozinhar, preparavam as próprias comidas e até vendiam artigos como pães, biscoitos, geleias e cervejas artesanais, tudo feito por eles mesmos. E fazem isso até hoje.

Isso é tudo? Não, alguns monges fazem esculturas, costuram, dentre outras habilidades manuais, dependendo dos artigos que vendem nas lojas dos mosteiros. E além disso, eles também fazem sua própria limpeza: varrem e lavam o chão, lavam os pratos. Lavam a própria roupa.

Aristóteles e outros filósofos da Antiguidade Clássica colocavam os trabalhos intelectuais acima dos manuais porque tinham escravos para fazer para eles trabalhos como cozinhar, lavar e limpar. Na Idade Média e com o cristianismo houve uma valorização de trabalhos do campo como a agricultura. E aqui encontramos mais uma habilidade de muitos monges medievais: plantar, já que muitos plantavam e colhiam a própria comida. E cortavam a própria lenha para se aquecer no inverno. Além disso, sempre foram excelentes anfitriões, recebendo e hospedando viajantes que chegassem. 

Portanto, o monge medieval, além dos conhecimentos intelectuais em várias áreas, também sabia pintar, esculpir, fazer caligrafia (os monges copistas), costurar, cozinhar, limpar, plantar e tudo mais que fosse necessário à sobrevivência, pois eles não tinham nenhum empregado para fazer isso para eles. Num mosteiro todos devem fazer um pouco de trabalho intelectual, manual e braçal. 

Será mesmo que o homem urbano renascentista, que conhece a fundo filosofia, ciência e engenharia, sabe pintar e esculpir, mas talvez não saiba plantar, cozinhar, costurar e limpar, é mais universal que o homem medieval, principalmente se falamos de um monge medieval?

E será que não é particularmente interessante que todos saibam um pouco dos trabalhos braçais e auxiliem com eles, como ocorre em mosteiros, ao invés de considerá-los em segundo plano, como inferiores, enquanto o homem universal renascentista se coloca num pedestal com seus trabalhos intelectuais e artísticos superiores?

Respondendo nossa pergunta inicial: o que é o homem universal? Depende das crenças do pequeno universo no qual ele foi criado, educado e ensinado a valorizar.

Wanju Duli é escritora – Contato: facebook.com/WanjuDuIi

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Crédito da imagem: Pintura de Fritz Wagner

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