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18.6.13

O choro do recém-nascido

Nós não esquecemos
De que sua guarda foi educada
Para defender o barão,
Morrer pela nação
E viver sem razão.
Nós não esquecemos
E não perdoamos.

Seus anunciantes pagos
Apontam suas câmeras para o bairro nobre
E fingem que não existem
Os que sofrem ao largo –
Estes que não merecem nem nota de rodapé.
Mas nós já não lemos seu jornal
Nem sintonizamos seu canal.

Nós não esquecemos
De como sua “bancada rural”
Vem tratando nossas matas e nossos índios,
Corrompendo ao que é ancestral.
Nós não esquecemos
E não perdoamos.

Uma grande escola evitaria dezenas de prisões,
Mas seu presídio condena ao inferno o marginal
E seu sistema de ensino
Serve apenas para ensinar ricos
A ganhar ainda mais dinheiro.
Mas nós não aprendemos mais da sua cartilha,
Somos a geração Coca-Cola
Que já não bebe Coca-Cola.

Nós não esquecemos
De seus corruptos impunes
Nem dos aplausos do pretenso “partido da moral”
Aos seus próprios corruptores.
Nós não esquecemos
E não perdoamos.

Hoje, vocês querem nos dar futebol...
Futebol em troca de saúde para os desesperados,
Educação para os desamparados
E segurança para os desnorteados.
Mas nós não faremos sua festa dentro dos estádios;
Faremos a nossa própria festa, fora deles,
E por todo este grandioso país.

Nós não esquecemos.
Nós não perdoamos.

Esperem por nosso grito...
O choro do recém-nascido!


raph’13 (inspirado em Anonymous)

***

Crédito da imagem: Anonymous

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14.6.13

Primavera Brasilis

Como sabemos, a Primavera chegou ao Brasil. Com “pleno emprego” e tudo, os jovens ainda assim foram chamados e compareceram as ruas de São Paulo e outras metrópoles da Terra Brasilis. Vimos um médico desnorteado incitando sua polícia à violência. Vimos um professor esquecido das ideologias da juventude. Vimos a “direita” e a “esquerda” alinhando seu discurso e demonstrando o que os que estavam nas ruas já sabiam há tempos: que neste país, não são tão diferentes assim.

Acreditaram que toda a manifestação era “orquestrada” por alguma “liderança oculta”. Acreditaram que ninguém iria dar bola para míseros 20 centavos de aumento das passagens de ônibus. Acreditaram que todos eram vândalos de baixa renda e baixa escolaridade, e que a melhor solução seria a repressão que a polícia militar, a despeito de estarmos a décadas do fim da ditadura, ainda sabe fazer como ninguém.

Deu no que deu. Agora, após até mesmo a Folha de São Paulo haver “mudado de opinião” tão repentinamente, sua preocupação deixou de ser com os míseros 20 centavos e com os vândalos. Agora estão preocupados com a repercussão da violência policial no exterior, com a repercussão da prisão de jornalistas na Anistia Internacional e, principalmente, em saber quem diabos é o “cabeça”, a “liderança oculta”, o sujeito mascarado...

Eu vou lhe dizer quem é o sujeito mascarado, mas só no final. Antes vou falar sobre os manifestantes, os ex-vândalos. Vi um estilista, amante de livros, que resolveu conferir as manifestações ao vivo, e desligou a TV:

Pela primeira vez me senti no lugar correto, para usar o novo jargão do protestante 2.0: “A passeata que fui me representa”.

Finalmente sinto que participei de algo ao lado de pessoas que tinham o mesmo pensamento que eu, que não estavam lá pra defender um partido ou uma causa específica, mas sim por indignação pelo tratamento concedido por parte dos nossos representantes públicos. Diferente dos protestos ao redor do mundo, nós não gritamos “palavras de ordem”. Aqui no Brasil (mais especificamente o que vi e vivi em São Paulo), até os gritos de guerra mais pesados viram festividades em forma de marchinhas: “vem pra rua vem!”. Quem estava lá entende. Não era agressivo. Era festivo.

Sinceramente, seria muito bom se víssemos isso como uma qualidade e não como defeito. A agressividade sendo trocada por chamados de convívio mútuo a de ser comemorada e louvada. Lá, antes das 20hrs, tínhamos tudo, consciência política, participação, voz e alegria. Esta foi a passeata que eu fui e assim ela terminou. Não foi a passeata que assisti pela TV ao chegar em casa, quando aquela minoria que restou resolveu quebrar tudo e roubou as manchetes da melhor e mais bonita manifestação que já participei [1].

Como o governo e a grande mídia gostariam que fossem somente alguns atos passageiros de uma minoria de vândalos. Como o governo e a grande mídia gostariam que fossem manifestações orquestradas por pequenos partidos políticos que ainda acreditam em lendas comunistas do século passado. Pois, fosse assim, eles já saberiam o que fazer. Mas não é assim, não mais. Vi também um jornalista que não teme expor sua opinião:

O esquerdo-direitismo é uma crença semi-religiosa que se tornou a ideologia dominante do mundo no último século. Esquerdo-direitistas são pessoas que acreditam que todo o bem que existe no mundo provém de apenas uma fonte. Há dois tipos de esquerdo-direitistas – aqueles que acham que a fonte de todo o bem é o mercado e aqueles que acham que é o estado. A estes chamamos esquerdistas, aqueles são os direitistas.

No fundo, esquerdistas e direitistas são dois lados de uma mesma coisa. Ambos veem o mundo em apenas duas dimensões, sem profundidade, dividido entre bons e maus. Não admira que esquerdistas transformem-se em direitistas e vice-versa com tanta facilidade – alguns dos analistas mais ferrenhos da direita passaram a juventude militando nas facções mais radicais da esquerda [2].

Vamos aprender política brasileira com o seu maior representante, o PMDB: (passo 1) Estar no poder; (passo 2) Caso não ganhemos a presidência, formar a base aliada do governo; (passo 3) Na base aliada, negociar o maior número de ministérios possível; (passo 4) Sempre que as negociações estiverem emperradas, chantagear o governo. Resultado: Passo 1 sempre garantido de uma forma ou de outra.

No entanto, existem exceções: (a) PT e PSDB nunca podem formar a base aliada um do outro. Quando um não está no poder, é obrigado a ser oposição de verdade (a diferença é que para o PSDB a ficha ainda não caiu); (b) PSTU é um partido efetivamente ideológico, mas que ainda acredita em lendas do século passado; (c) PSOL é um partido efetivamente ideológico, mas que acredita que algo de novo pode surgir neste século. Resultado: na última eleição no Rio de Janeiro (2012) “direita” e “esquerda” massacraram o candidato do PSOL, por que era o único que seguia uma ideologia. 

Os governantes deste país têm nos ensinado que ideologias são muito perigosas. Quem está no poder geralmente não gosta muito delas... Mas se você acha que eu escrevi tudo isso somente para defender o PSOL, está enganado. Nada garante que o PSOL, ao chegar ao poder, não se comporte da mesma forma que outros partidos de oposição que chegaram lá e pouca coisa mudaram. Isto por que o sistema está equivocado, antigo, corrupto. Aqui não se faz Política, se faz um “negócio eleitoral”. O que os que estão no poder mais temem, portanto, é exatamente que a Primavera Brasilis seja apolítica, isto é, Política de verdade: para começar a se refazer Política, antes é necessário fazer uma reforma geral na política. Os “P”s e os “p”s são propositais.

Vi que os manifestantes, em sua grande maioria, não somente não trazem símbolos de partidos políticos, como abominam se envolver com eles. Bandeiras de partidos são somente toleradas, não tem nada a ver com a alma desta Primavera. Os partidos Políticos do futuro ainda irão surgir. Os Políticos do futuro serão jovens, jovens de verdade, independente de sua idade.

Mas, e quem é afinal o tal mascarado?

Agora eu posso lhe contar. Você mesmo pode descobrir quem ele é, e é muito fácil. Dê um jeito de comprar uma dessas máscaras do Alan Moore, depois vá a pelo menos uma manifestação desta Primavera, seja onde estiver no país, e procure observar a tudo com os olhos de um jovem, de uma criança, de um recém-nascido... Caminhe pelas ruas como se elas fossem novas ruas. Observe os transeuntes como se eles fossem, ao menos por breves momentos, parte da sua família. E se alguém lhe apontar alguma arma de fogo ou canhão, lhe entregue uma flor.

Depois retorne para sua casa e, de frente para algum espelho, retire a máscara.

Lá estará o tal mascarado, desmascarado...


Onde a mente encontra-se sem medo e a cabeça é mantida erguida
Onde o conhecimento é livre
Onde o mundo não foi quebrado em fragmentos
Por estreitos muros domésticos
Onde as palavras vêm da verdade profunda
Onde laboriosas lutas esticam seus braços em direção à perfeição
Onde o riacho límpido da razão não perdeu o seu rumo
Afluindo ao triste deserto dos hábitos moribundos
Onde a mente é direcionada adiante por você
A pensamentos e ações sempre em constante afloramento
Nesse céu de liberdade, Pai, deixe meu país acordar

(Tagore)

***

[1] Trechos do artigo de Bruno Passos para o blog Papo de Homem: Contra o aumento das tarifas de ônibus: o protesto que eu não vi pela TV.

[2] Trechos do artigo de Denis Russo Burgierman para a Superinteressante: A maldição do esquerdo-direitismo.

Crédito da imagem: Anonymous

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13.4.12

Gandhi Play

» Parte da série: Play a myth

Se houveram aqueles que souberam falar diretamente ao reino da alma, caminharam no mundo também alguns raros seres que adentraram o reino do mito, e dissolveram seus egos num oceano de bem-aventurança. Embora fossem ainda eles mesmos, eram também um portal vivo para o Infinito, habitados pelos mais belos deuses que a mente humana foi capaz de identificar. Estes são os que falam em nome do amor: os santos...

Jogue, represente, interprete, brinque: play a myth.

***

(clique na imagem para abrir em tamanho maior)

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» Saiba mais sobre Gandhi

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Crédito da imagem: Rafael Arrais + Google Image Search

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5.7.11

O acordo anônimo

Texto de fonte anônima. Os comentários ao final são meus.

Anonymous (anônimo), primeiramente, foi um conceito, uma brincadeira de usuários de um canal de chat a um tempo atrás, como uma sátira da natureza desregrada e caótica que é a internet.

Anonymous "não perdoa, não esquece". Essa frase é uma lembrança, a todo e cada anônimo sobre liberdade. Não se perdoa nem se esquece qualquer ato de censura, seja qual for. Quando há a tentativa de censura por um meio de informação, Anonymous assegura que essa informação seja espalhada para nunca ser esquecida ou perdoada. O "efeito Streisand" (Barbara Streisand uma vez reclamou que sua casa era visível no Google Maps. Ninguém ligava até ela reclamar, e agora todos sabem onde ela mora).

Anonymous são todos e ninguém. É aquele cara descendo a rua, o motorista do ônibus, o carteiro.

Mesmo Anonymous tendo vindo de uma brincadeira, uma sátira, não significa que tudo que fazemos como "anônimos" é infantil. Nosso trabalho, por muitas vezes é sério. A internet é séria. Sempre que a liberdade da internet é ameaçada, vem de nós a resistência sobre essa ameaça. Porque a internet é nosso lar, nossa casa.

Se nós conseguirmos desenvolver uma comunidade que pense como um todo e se denomine "anônima", então é necessário que se entenda o que Anonymous realmente significa. Porque, toda nossa cultura e filosofia, todos nossos atos, vem de um único ponto de concordância. A Anonymous só existe verdadeiramente na inteligência coletiva daqueles que suportam essa ideia. É uma regra rápida e complexa. Anonymous só existe na "colméia" e só pode ser compreendia no plural, por aqueles que são anônimos.

Quando você está no Anonymous, você é uma colméia de pessoas sem nome e sem rosto. Você não pode ser singularizado, dividido ou atacado por suas ações, pois quando se ataca um, se ataca todos.

Quando anônimos não tem uma causa, eles são uma horda de gatos, porém, quando tem, eles são tão perigosos quanto vespas raivosas. Anonymous é uma irmandade, que se conhece e se cuida.

Eu vejo uma comunidade de seres inteligentes, construtivos e ativistas. Anonymous sabe quando ser séria e quando se divertir. Ativiade hacker para manter a internet livre e mudar o mundo, e piadas para manter a diversão.

Nós nivelamos o campo de batalha fazendo a informação livre, e ao mesmo tempo fazemos pela diversão.

Esse é o acordo anônimo.

***

Comentários: Antes que me perguntem, eu não faço parte do Anonymous, até mesmo porque ninguém que se identifique poderia fazer parte do Anonymous. Porém, me pareceu relevante publicar isso aqui, como uma demonstração de que "o novo sempre vem"... A internet sempre me pareceu algo muito promissor, e parece que somente nos dias atuais, com as revoluções árabes e suas consequencias, estamos nos dando conta de sua real capacidade revolucionária. Que seja um revolução de esperança, um "iluminismo online", e não mais uma "revolução que nada muda". Que meu país, e todos os países, acordem num céu de liberdade.

***

Crédito da imagem: anônimo.

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