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22.7.19

4 Amores: Ágape

Neste vídeo encerramos a nossa jornada pelo Amor, finalmente falando de Ágape, o amor que traz consigo a iluminação. Para tentar descrever um nível tão elevado e inefável de Amor, demonstraremos como se dá parte do trabalho do famoso médico-palhaço, Patch Adams, que pode muito bem ser considerado um santo da era moderna. Podem nos faltar palavras, mas sobrarão brincadeiras e um belo exemplo de vida.

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18.7.19

A filosofia pode ser terapêutica?

Segundo os pensadores do período helenístico, sim.

Na verdade, a filosofia naquela época era diferente de como a praticamos hoje. Se na filosofia moderna o conhecimento filosófico é ensinado como um discurso nas universidades, dedicada a tentar resolver os problemas da natureza do conhecimento – por exemplo, racionalismo versus empirismo, materialismo versus metafísica, objetividade versus subjetividade – na antiguidade clássica os filósofos viam a própria filosofia como uma “forma de viver”.

Ou seja, os filósofos estavam preocupados com os problemas da ética. E com ética eu não me refiro a moral. Não se tratava de simplesmente descobrir o “comportamento correto”, tal como seria numa moral religiosa, seja cristã, judia, budista ou qualquer outra.

A ética se refere ao modo como nos relacionamos com as coisas do mundo, com as outras pessoas e até mesmo com nossos próprios desejos. É muito mais um exercício a ser desenvolvido que uma norma a ser seguida. É neste sentido que a ética, numa concepção helenista, se aproxima do que hoje entendemos como o campo da psicologia, ou melhor, das psicoterapias.

Uma psicoterapia é também uma forma de pensar a maneira como nos relacionarmos com nossa vida, repensar nossos investimentos e cuidar daquilo que nos faz sofrer. Toda terapia – independente de sua abordagem – segue um ideal ético, ainda que cada terapia tenha a sua própria ética.

O terapêutico é a maneira como lidamos com o sofrimento, e para os helenistas, o sofrimento não é por acaso. Ele tem origem em nosso pensamento. Isto é, seja por pensamentos incorretos, raciocínios distorcidos ou modos patológicos de enxergar a realidade, nós sofremos.

E se a filosofia é, por excelência, o meio para nos fazer pensar melhor, não é estranho imaginar que ela poderia nos fazer sofrer menos também. [1]

Por trás do pensamento, no entanto, há o próprio desejo. Aquilo que o homem quer do mundo e na vida. Pensamos de determinada maneira porque queremos algo disso. Ao questionar o pensamento, a filosofia estaria na verdade investigando, explorando e tratando os nossos desejos, origem de nossos pensamentos, e causa do sofrimento.

Deste modo, as escolas filosóficas helenistas e suas diferentes propostas éticas eram, em última instância, modos de lidar e educar o próprio desejo. A filosofia aparece como uma terapia do desejo. [2]

Apresentarei a vocês neste texto resumidamente as três principais escolas do pensamento helenista e suas respectivas formas de lidar com o desejo:

O Epicuranismo e a busca pelo desejo verdadeiro
Fundada por Epicuro, esta escola entendia que o homem sofre porque ele tem “maus desejos”. Isto é, desejos ruins e artificiais, como a busca por dinheiro, fama, glória etc. Estes desejos seriam impróprios não por uma simples razão moralista, mas porque, de algum modo ou de outro, os filósofos percebiam que tais desejos não podiam trazer uma verdadeira felicidade. Eles não correspondiam ao que as pessoas realmente necessitavam na vida.

A verdadeira felicidade viria dos desejos verdadeiros, estes sim que deveriam ser buscados e valorizados. Epicuro, por exemplo, acreditava que a riqueza seria um bem vazio se não pudesse ser compartilhada com outras pessoas, criando com elas momentos de alegria. Deste modo, o dinheiro não é um verdadeiro desejo, mas sim a companhia de boas amizades. A busca por riqueza seria um desejo artificial, enquanto cultivar uma boa amizade ou um amor recompensaria melhor a nossa natureza.

A terapêutica de Epicuro dedicava-se, portanto, em descobrir que aquelas coisas que perseguimos normalmente são artificiais. Necessitamos descobrir quais são os nossos verdadeiros desejos, porque eles sim podem nos trazer a felicidade.

Por outro lado, esta terapêutica lida com o problema de que nem sempre reconhecemos o nosso desejo como ruim. Isto é, alguém pode gostar de seu mau desejo. A ética epicurista só seria praticável a alguém num momento em que já se percebe num nível “patológico”.

O Ceticismo e as expectativas
Outra escola importante da antiguidade era o ceticismo. Hoje usamos esta palavra para nos referir a pessoas que são cientificistas, que não acreditam ou duvidam de algo, ou até mesmo que são ateias. Porém, originalmente, os céticos eram aqueles que duvidavam de que existisse uma visão única sobre algo, que duvidavam de que havia uma verdade.

Podemos ver que os céticos concordavam com a visão de Epicuro de que o sofrimento humano tem origem em suas falsas crenças, em seus falsos desejos. Porque muitas vezes pensamos que aquilo que desejamos é verdadeiro e bom, e depois de perseguir tal ilusão nos decepcionamos e sofremos.

No entanto, os céticos discordavam dos epicuristas que a solução estaria em cultivar desejos melhores. Para eles, isto simplesmente não existia. Seria apenas trocar um falso desejo por outro, que inevitavelmente também nos faria sofrer em algum momento.

Aos céticos, o problema era a própria expectativa criada pelo desejo. A terapia cética buscava assim criar uma indiferença ao próprio desejo, pois, se somos indiferentes ao que desejamos, nos tornaríamos imunes aos sofrimentos das altas expectativas.

Porém, é necessário questionar até que ponto a expectativa seria algo evitável, ou mesmo se a indiferença seria vantajosa, e não apenas uma maneira de fugir dos paradoxos da vida e do desejo. Quem suportaria uma vida indiferente a tudo?

O Estoicismo e o autocontrole
Finalmente, a última das três principais escolas da antiguidade é o estoicismo. Esta deixou para a posterioridade o seu ideal ascético, tendo influenciado em muito o cristianismo. O objetivo estoico é substituir as paixões humanas pela razão. Seus filósofos acreditavam que nós não somos simples animais, movidos pelas nossas emoções, mas que através de nossa capacidade racional podemos alcançar uma vida superior.

Os estoicos viam o sofrimento no desejo. Em nossas paixões. Pois ao querermos coisas e não podermos tê-las ou transformá-las, terminaríamos frustrados. Nossas emoções nos fariam sempre demasiadamente humanos, mesquinhos pelos nossos interesses, incapazes de uma visão superior sobre a vida e a sociedade. O ideal estoico dizia então que o homem devia usar sua maior virtude, a racionalidade, para dominar a as suas paixões e exercitar o autocontrole.

É curioso que, como terapeuta, percebo que a maioria dos nossos clientes procuram o atendimento motivados por um ideal estoico. Geralmente percebem que há algo neles que não podem controlar, e desejam ter maior domínio sobre isso em suas vidas para não mais sofrerem.

No entanto, os estoicos precisam confrontar-se com a dificuldade – quiçá a impossibilidade muitas vezes – de serem sempre racionais ou não possuírem emoções ou paixões autênticas, por mais que estas pareçam injustas ou contraditórias. Será que o homem pode estar sempre no controle de si mesmo?

***

Vemos, portanto, que os ideais terapêuticos que nossos clientes buscam ou que profissionais e influenciadores promovem por aí não nasceram da psicologia moderna. Inocentes são aqueles que acreditam nisso. Eles existem desde muitos séculos na filosofia, se não são anteriores a ela mesma.

É neste sentido que a filosofia pode ser sim terapêutica, já que a origem de nossa ética emerge dela, mesmo que disto não saibamos. Que alguém busque um desejo verdadeiro que lhe traga felicidade, que tente lutar contra suas próprias expectativas ou queira controlar a si mesmo através da racionalidade, tudo isto faz parte de um ideal ético filosófico.

Se a filosofia pode ser terapêutica é porque antes a terapia é filosófica. Cabe questionar, para além disso: qual é afinal a nossa ética?

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[1] Nota do Editor: antigamente o blog Textos para Reflexão tinha uma espécie de “slogan” – pensar para melhor viver. É interessante que, anos depois do “slogan” haver sumido, a sua essência tenha reaparecido aqui :)

[2] Mais sobre este tema pode ser lido no livro The Therapy of Desire de Martha Nussbaum.

Igor Teo é psicanalista e escritor. Para saber mais acesse o seu site pessoal.

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Crédito da imagem: Bill Ringer/Unsplash

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16.7.19

Traduzindo o Imperador

Vocês devem ter reparado que faz algum tempo que não temos um novo lançamento nas Edições Textos para Reflexão. Isto porque faz alguns meses que eu estou me dedicando quase que exclusivamente à tradução de Meditações de Marco Aurélio, o imperador de Roma (a partir da versão inglesa de George Long).

Além de ter sido o último imperador da chamada Pax Romana, um longo período de relativa paz e progresso no Império Romano, Marco Aurélio é um dos expoentes do estoicismo, uma vertente filosófica originária na Grécia no século 3 a.C. que exerceu profunda influência na ética cristã. Assim, se trata quem sabe do homem que mais se aproximou do ideal de “rei-filósofo” cunhado na República de Platão.

Estou com aproximadamente 2/3 da tradução concluída, espero publicar na Amazon (em e-book e impresso!) em no máximo dois meses... Abaixo, trago alguns trechos retirados dos primeiros livros (ou capítulos) da minha tradução, e também a capa:


Livro II, trecho I

Inicie a manhã dizendo para si mesmo: hoje devo cruzar meu caminho com os intrometidos, os ingratos, os arrogantes, os traiçoeiros, os invejosos e os mal-humorados. Tudo isso lhes afeta pelo fato de serem ignorantes do bem e do mal. Eu, porém, que contemplei a natureza do bem, e vi a beleza, e que igualmente observei o mal, e percebi o seu horror, e que ainda refleti sobre a natureza daqueles que incorrem no erro, e descobri que eles também me são aparentados, não somente pelo sangue ou pelo nascimento, mas por participarem da mesma inteligência e da mesma origem divina, já não posso temer que me causem dano algum.
Pois que ninguém [além de mim] pode reformar o meu próprio mal, tampouco eu poderia me zangar com um parente, muito menos odiá-lo. Pois que nós fomos criados para a cooperação mútua, como os pés, as mãos, as pálpebras, os dentes superiores e inferiores.
Assim, agir contra o próximo é algo contrário à natureza, e deve ser evitado.


Livro II, trecho XII

Quão rápido todas as coisas desvanecem: em todo o universo, os próprios corpos, e no tempo, a lembrança deles. O que será a natureza de todas as coisas sensíveis, particularmente aquelas que nos atraem pela isca do prazer, ou nos aterrorizam pela dor, ou ainda aquelas cujo brilho passageiro nos desatina?
Quão sem valor, desprezíveis, sórdidas, perecíveis e mortas: cabe a nossa faculdade intelectual tomar consciência disto. E igualmente observar a quem as opiniões e os buchichos conferem fama; e refletir acerca do que é a morte, e o fato de, se um homem a encara em si mesmo, e por um poder de abstração reflexiva, a separa de todos os fantasmas imaginários que lhe associamos, ele então enfim perceberá que ela é nada mais do que uma operação da natureza; e se alguém tem medo de uma operação natural, é infantil. No entanto, a morte não é apenas uma operação da natureza, mas também algo que conduz ao seu cumprimento. [...]


Livro IV, trecho XLIX

Seja como às rochas contra as quais as ondas se quebram incessantemente, mantenha-se firme e domestica a fúria das águas ao seu redor.
Estou infeliz porque este infortúnio me ocorreu? Pelo contrário, estou satisfeito! E minha satisfação decorre do fato de que, apesar de tal infortúnio haver se sucedido em minha vida, eu continuo livre do sofrimento, nem revoltado com o dia de hoje, nem temeroso quanto ao futuro.
Pois que tal infortúnio poderia ocorrer na vida de qualquer homem, mas nem todos os homens se conservariam livres do sofrimento ante tal evento. Por que então este evento seria um infortúnio, e aquele outro, uma sorte?
E como você julgaria qualquer evento um infortúnio, se ele não desvia um homem da sua natureza? E acaso algo lhe parece como um desvio da natureza de um homem, se não é contrário à vontade da própria natureza? Ora, você conhece a vontade da natureza – terá, então, isto que se passou o impedido de continuar sendo justo, magnânimo, moderado, prudente, protegido contra a irreflexão e a falsidade? Terá roubado a sua modéstia, a sua liberdade, e tudo o mais que constitui o caráter essencial da sua natureza?
Assim sendo, lembre-se de aplicar tal princípio em cada ocasião que possa lhe causar aborrecimento: tal evento não é em si mesmo um infortúnio, nem motivo de infelicidade, mas poder suportá-lo com coragem é ao mesmo tempo uma sorte e um motivo de satisfação.


Livro V, trecho XXVII

Viva junto aos deuses. Vive próximo aos deuses aquele que lhes mostra diuturnamente que a sua alma se encontra satisfeita com a sua própria sorte, realizando tudo o que determina o seu daemon, que Zeus conferiu a cada homem como um guardião e um guia, uma parte da sua divindade. E ele se reflete em nossa razão e em nossa sabedoria.

Meditações de Marco Aurélio; tradução de Rafael Arrais
(em breve, na Amazon e outras lojas...)


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Crédito da imagem [no topo]: Google Image Search

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15.7.19

Edições Textos para Reflexão na Google Play!

Demorou, mas enfim temos as Edições Textos para Reflexão disponíveis na Google Play. Graças a uma parceria com a Bibliomundi, foi possível distribuir nossos e-books por lá. Inicialmente a maior parte do nosso catálogo será composta de nossos livros gratuitos, que agora podem ser baixados em qualquer smartphone Android no mundo. Basta acessar o link abaixo ou buscar por "textos para reflexao" (incluindo as aspas) na seção de Livros da loja:

Acesse nossas edições na Google Play


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8.7.19

4 Amores: Filia

Neste vídeo continuamos nossa jornada pelo Amor, desta vez falando de Filia, o amor que se traduz em amizade. Para tal, vamos conhecer a história do professor Leo Busgaglia, que em 1969 criou um curso numa universidade americana que falava basicamente de... Amor! Após lecionar por anos sobre o tema, e estudar a obra de centenas de autores, Buscaglia resumiu tudo em 7 princípios básicos que devem estar na mente de todos aqueles que buscam abastecer a sua alma, e não somente o seu intelecto.

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