Pular para conteúdo
26.1.11

É o fim do caminho?

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É à noite, é a morte, é o laço, é o anzol

Esses são os versos iniciais de “Águas de Março”, célebre música composta por Tom Jobim no fim dos anos 50. Tom compôs este e diversos outros sucessos enquanto visitava o sítio da família na localidade de Poço Fundo, a 40 minutos de Petrópolis. A beleza da região serrana do Rio de Janeiro parece sem dúvida ter ajudado muito em sua inspiração. A poesia de Jobim fala sobretudo da vida – o vento ventando; uma ave no céu; é a promessa de vida no teu coração – e da morte – é o fim do caminho; é a noite; o fim da ladeira.

Ultimamente a natureza não tem esperado Março para enviar suas águas. Em Janeiro de 2011 a região serrana do Rio registrou a maior tragédia natural de que se tem notícia no estado: as chuvas vieram muito fortes e praticamente todos os morros tiveram deslizamentos de terra, matando centenas de pessoas, soterradas pelas próprias casas – particularmente em Nova Friburgo e Teresópolis. A casa onde Tom Jobim compôs suas canções também foi levada pela enxurrada.

Este desastre natural, entretanto, não se compara ao terremoto que devastou quase completamente Lisboa, a capital de Portugal, em 1755. Em uma época onde a população mundial era muito inferior a atual, estima-se que morreram entre 10 e 100 mil pessoas naquele que é até hoje o terremoto mais letal da história. Até aquela época era muito comum atribuir os desastres naturais a “ira divina”, num tipo de associação de ideias que data da pré-história... Entretanto, o terremoto de 1755 suscitou respostas divergentes dos filósofos iluministas. Gente como Voltaire parece ter se cansado de ficar sempre a mercê da “ira divina”, e tratou de analisar a existência como ela realmente o é – um ciclo de vida e de morte.

Nossa sociedade moderna parece ter enorme dificuldade em lidar com a morte. Tirando as funerárias e as seguradoras, parece que ao capitalismo a morte é um tremendo desperdício: altos funcionários e CEOs que acumularam conhecimento e experiência por décadas e décadas subitamente se tornam incapazes por razão do envelhecimento, se aposentam, e depois simplesmente se despedem de nós. Atores de cinema ou TV, de fama mundial, que trazem renda garantida aos grandes estúdios, subitamente se vão ainda durante as filmagens do próximo blockbuster. Até mesmo aquele economista de renome que sempre consultávamos antes de realizar nossas aplicações na bolsa de valores, ele também se vai, e não sabemos mais a quem consultar.

O capitalismo, entretanto, parece não sentir falta dos informais, das donas de casa, dos lixeiros, dos carpinteiros, dos pedreiros, dos pequenos trabalhadores do campo, enfim, dos pobres. A informação que se perde quando estes se vão não parece de tanta importância para que o giro da roda do dinheiro continue sua constância – mas fato é que todos morrem. Todos podem ser levados pela enxurrada, pelos tremores, pelos acidentes, pela violência e ignorância dos homens, ou simplesmente pelo próprio tempo em que aqui se vive. Sim, pois não há dia em que não estejamos a morrer: todas as nossas células morrem e são substituídas por outras, inúmeras vezes, durante a vida de nosso corpo. Nesse sentido, a própria vida é uma tragédia constante...

Porque então estarrecer-se com a sombra da morte? Se a morte é apenas o último tilintar dos neurônios no cérebro – estes que também morrem e nascem a todo dia – então a morte é apenas um sonho sem sonhos. Morremos então, todo dia, conscientemente – pois sabemos da degeneração celular –, e inconscientemente – quando nos deitamos na cama e sonhamos uma vez mais, até o dia seguinte, até o próximo ciclo do Sol.

Porque então agradecer aos deuses por ter sido poupado de uma tragédia, se toda a tragédia é em si uma tragédia? Por vezes, teria sido melhor não ter sido poupado, ao menos se compreendemos a morte como o fim do caminho. Nas religiões orientais, particularmente no hinduísmo, o aspecto destrutivo de Deus é tão bem compreendido quanto o aspecto criativo. Entende-se, sobretudo, que a existência não é uma história simples, um “era uma vez...”, com início, meio e fim – mas antes um ciclo incomensurável, uma existência cósmica que se estende até as beiradas do infinito, uma história onde falar em início e fim faz tanto sentido quanto falar no nascer e no por do Sol.

Em todo caso, os céticos dificilmente entenderão como pode este povo tão simples, aparentemente tão ignorante, continuar louvando ao Deus do cristianismo mesmo após tamanha tragédia natural. Tragédia natural é ato divino, é coisa da natureza, e da natureza cabe o cuidado de Deus. Se ele poupa alguns e toma outros, porque agradecer, porque se revoltar, porque enfim, acreditar?

É que naqueles que creem, mesmo que seja na sombra da sombra do Deus de todo o Cosmos, reside esta distinta intuição de que nada ocorre ao acaso, até mesmo porque ninguém sabe o que diabos é o acaso... E se o próprio acaso for ele mesmo mais um deus, será em todo caso tão desconhecido quanto Aquele outro. E ainda que permaneçam fiéis ante a maior das tragédias, como os apóstolos a serem pregados nas cruzes, é porque em seu íntimo sabem, de alguma forma, que a morte não é o fim do caminho, mas apenas a passagem de um ambiente ao outro, na grande casa do Cosmos.

Mas e aqueles que não creem? O que lhes resta senão encarar face a face este aparente “grande nada”, o vazio, o buraco negro que suga tudo o que há? Talvez, conforme os estóicos e epicuristas, devam se contentar com o que podem mudar, o que podem decidir, o que podem sentir, no aqui e no agora. E, conforme disse Carl Sagan, de alguma forma se contentarem com viver na memória daqueles que os amam – a vida após a vida – embora não estejam mais aqui para saber...

E, finalmente, aqueles que compreendem a morte mais profundamente, sabendo perfeitamente que ela é ao mesmo tempo um fim e um recomeço, ao mesmo tempo uma enorme mudança e uma fugaz renovação, ao mesmo tempo o arauto do desespero e a promessa da evolução, não há que se ater aos fantasmas das mentes alheias. Não há que se estagnar com o tempo e a vontade nas mãos. Não há que cair na ilusão de que o mundo todo é tão somente isto que vivemos aqui, neste planeta ínfimo na periferia de uma de bilhões e bilhões de galáxias do Cosmos... Somos, sim, seres a viajar por esse universo infinitamente belo, tanto pelo milagre da vida quanto pelo caos da destruição, que no fim apenas permite que a vida se renove e renove, rumo a algum lugar cada vez mais alto na montanha divina, rumo aos galhos ao topo da árvore da vida, onde o Sol pode ser visto em toda a sua glória, e onde tudo o que há é amor a irradiar-se nos mais variados espectros de pura luz.

Aos que tem olhos para ver, restará sempre esta promessa de vida em seus corações. Não de um céu de tédio eterno, mas do trabalho contínuo, do caminhar passo a passo, do navegar em mar revolto e noite fria, mas sempre rumando ao próximo farol.

Perto deste conhecimento, perto desta visão distinta do jogo da vida consigo mesma, do turbilhão de seres e potencialidades a desafiar a entropia cósmica, um mero terremoto, uma pequena enxurrada, é tão significativa quanto à destruição de um ninho de formigas... Embora mesmo a menor das formigas seja, ela também, parte da mesma teia que nos conecta a todo o Cosmos.


E se viver é morrer a cada instante,
Entregamo-nos, então, à eternidade.
Mas se viver é sofrer na escuridão,
Entregamo-nos de corpo e alma à caridade.

(trecho final de poema de Otávio Fossá)

***

Elis Regina e Tom Jobim cantando "Águas de Março".

Crédito da foto: Wikipedia (ruínas do Convento do Carmo, destruído no terremoto de 1755)

Marcadores: , , , , , , , , , ,

19.1.11

A saudade e a eternidade

Estes poemas dizem respeito aquele sentimento que nos ocorre quando subitamente sentimos falta dos momentos doces perdidos no passado, mas também dizem respeito a nossa lembrança da eternidade que jaz presente nessa persistente saudade do que ainda virá...

Saudades do verão

Os poetas tem esse dom
De deixar tanta saudade quando se vão
Mas não deixa de ser saudade boa
Por mais que doa
Por mais que por ora deságue
Como chuva de verão

Melhor amar e sentir a tudo isso, então,
Tudo isso que cascas de sentimento
Palavras, conjuntos de signos,
Jamais nos explicarão

Melhor amar e perder
Que nunca haver sequer amado
Melhor assim envelhecer
Que nunca haver sequer vivido

Que se a morte é a derradeira estação
Aos poetas, e aos amigos dos poetas,
Resta tão somente esse alento
De lembrar, de sentir, de saudar,
Esse amor, essa saudade,
Que pela pele nos arde
Como os primeiros raios de sol
Do próximo verão

Rafael Arrais, 2011


Eternidade

Busco um canto
em que todos os povos
se reconheçam,
e todas as vozes
se identifiquem,
e todos os olhos
se substantivem,
e todas as cores
se materializem.

Busco um canto
em que todas as crenças,
se consumam,
e todas as raças
se despatriotizem,
e todas as doenças
se extinguam,
e todos os  braços
se encontrem.

Busco um canto
em que a paz
se solidifique,
em que os sábios
não se corrompam,
e que as luzes
jamais apaguem.

Busco um canto
em que toda humanidade
em uníssono,
acompanhe,
e que a melodia,
atravesse séculos
de progressos e sangue,
e nos traga de volta
o dom da eternidade.

Flavia Lopes, (talvez) algum lugar entre 1998 e 2006

***

Crédito da foto: Dircinha

Marcadores: , , , ,

13.1.11

Monstros e heróis

Texto de Joseph Campbell em "O herói de mil faces” (Ed. Cultrix/Pensamento) – pgs. 25 a 28. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. As notas ao final são minhas.

A figura do monstro-tirano é familiar às mitologias, tradições folclóricas, lendas e até pesadelos do mundo [1]; e suas características, em todas as manifestações, são essencialmente as mesmas. Ele é o acumulador do benefício geral. É o monstro ávido pelos vorazes direitos do “meu e para mim”. A ruína que atrai para si é descrita na mitologia e nos contos de fadas como generalizada, alcançando todo o seu domínio [2]. Este domínio pode não ir além de sua casa, de sua própria psique torturada ou das vidas que ele destrói com o toque de sua amizade ou assistência, mas também pode atingir toda a sua civilização. O ego inflado do tirano é uma maldição para ele mesmo e para o seu mundo – pouco importa quanto seus negócios pareçam prosperar. Auto-aterrorizado; dominado pelo medo; alerta contra tudo, para enfrentar e combater as agressões do seu ambiente – que são, primeiramente, reflexos dos incontroláveis impulsos de aquisição que se encontram em seu próprio íntimo –, o gigante da independência autoconquistada é o mensageiro do desastre do mundo, muito embora, em sua mente, ele possa estar convencido de ser movido por intenções humanas. Onde quer que ponha a mão, há um grito [...]: um grito em favor do herói redentor, o portador da espada flamejante, cujos golpes, cujo toque e cuja existência libertarão a terra [3].

O herói é o homem da submissão autoconquistada. Mas submissão a quê? Eis precisamente o enigma que hoje temos de colocar diante de nós mesmos. Eis o enigma cuja solução, em toda parte, constitui a virtude primária e a façanha histórica do herói [4]. Como indica o professor Arnold J. Toynbee, em seu estudo de seis volumes a respeito das leis que presidem a ascensão e desintegração das civilizações, o cisma no espírito, bem como o cisma no organismo social, não serão resolvidos por meio de um esquema de retorno aos bons tempos passados (arcaísmo), por meio de programas que garantam produzir um futuro projetado de natureza ideal (futurismo), ou mesmo por meio do mais realista e bem concebido trabalho de re-união dos elementos que se encontram em processo de deterioração. Apenas o nascimento pode conquistar a morte – o nascimento não da coisa antiga, mas de algo novo [5]. Dentro do espírito e do organismo social deve haver [...] uma contínua “recorrência de nascimento” (palingenesia) destinada a anular as recorrências ininterruptas da morte. Pois o trabalho da Nêmesis – caso não nos regeneremos – se realiza por intermédio das próprias vitórias que obtemos: a maldição irrompe da casca de nossa própria virtude. Portanto, a paz, assim como a guerra, a mudança e a permanência, são armadilhas. Quando chega o dia em que seremos vencidos pela morte, ela vem; nada podemos fazer, exceto aceitar a crucifixão – e a consequente ressurreição –, ou o completo desmembramento – e o consequente renascimento [6].

Teseu, o herói que matou o Minotauro, veio para Creta do exterior, como um símbolo e agente da civilização grega em ascensão. Ele foi a coisa nova e viva que surgiu. Mas também é possível buscar e encontrar a regeneração no interior dos próprios muros do império do tirano. O professor Toynbee utiliza os termos “separação” e “transfiguração” para descrever a crise por intermédio da qual é atingida a dimensão espiritual mais elevada que possibilita a retomada do trabalho da criação. O primeiro passo, a separação ou afastamento, consiste numa radical transferência da ênfase do mundo externo para o mundo interno, do macrocosmo para o microcosmo, uma retirada, do desespero da terra devastada, para a paz do reino sempiterno que está dentro de nós [7]. Mas esse reino, como nos ensina a psicanálise, é precisamente o inconsciente infantil. Este é o reino no qual penetramos durante o sono. Carregamo-lo dentro de nós eternamente. Todos os ogros e auxiliares secretos de nossa infância habitam nele, lá reside toda a mágica da infância.

E, o que é mais importante, todas as potencialidades vitais que jamais conseguimos levar à realização adulta, aquelas outras partes de nós mesmos, aí estão; pois essas sementes douradas não perecem [8]. Se pelo menos uma ínfima parcela dessa totalidade perdida pudesse ser trazida à luz do dia, experimentaríamos uma maravilhosa expansão dos nossos poderes, uma vívida renovação da vida. Atingiríamos a estatura de um arranha-céu [9]. Além disso, se pudéssemos recuperar algo esquecido, não apenas por nós mesmos, mas por toda a geração ou por toda a civilização a que pertencemos, poderíamos vir a ser verdadeiramente portadores da boa nova [10], heróis culturais do nosso tempo – personagens do momento histórico local e mundial.

Numa palavra: a primeira tarefa do herói consiste em retirar-se da cena mundana dos efeitos secundários e iniciar uma jornada pelas regiões causais da psique, onde residem efetivamente as dificuldades, para torná-las claras, erradicá-las em favor de si mesmo [...] e penetrar no domínio da experiência e da assimilação, diretas e sem distorções, daquilo que C. G. Jung denominou “imagens arquetípicas”. Este é o processo conhecido na filosofia hindu e budista como viveka, “descriminação [entre o verdadeiro e o falso].

Os arquétipos a serem descobertos e assimilados são precisamente aqueles que inspiraram, nos anais da cultura humana, as imagens básicas do rituais, da mitologia e das visões. Esses “seres eternos do sonho” não devem ser confundidos com figuras simbólicas, modificadas individualmente, que surgem num pesadelo ou na insanidade mental do indivíduo ainda atormentado. O sonho é o mito personalizado e o mito é o sonho despersonalizado; o mito e o sonho simbolizam, da mesma maneira geral, a dinâmica da psique. Mas, nos sonhos, as formas são distorcidas pelos problemas particulares do sonhador, ao passo que, nos mitos, os problemas e soluções apresentados são válidos diretamente para toda a humanidade.

O herói, por conseguinte, é o home ou mulher que conseguiu vencer suas limitações históricas pessoais e locais e alcançou formas normalmente válidas, humanas. As visões, ideias e inspirações dessas pessoas vêm diretamente das fontes primárias da vida e do pensamento humanos [11]. Eis porque falam com eloquência, não da sociedade e da psique atuais, em estado de desintegração [12], mas da fonte inesgotável por intermédio da qual a sociedade renasce. O herói morreu como homem moderno; mas, como homem eterno – aperfeiçoado, não específico e universal –, renasceu. Sua segunda e solene tarefa e façanha é, por conseguinte (como declara Toynbee e como indicam todas as mitologias da humanidade), retornar ao nosso meio, transfigurado, e ensinar a lição de vida renovada que aprendeu.

***

[1] Monstros, heróis, personagens e arquétipos vindos da mitologia estão em geral presentes em quase todas as ficções do mundo – incluindo certamente literatura, cinema e quadrinhos –, mas na maior parte dos casos são sombras diluídas, superficiais, das essências presentes em nossa mitologia ancestral.

[2] Somente o ignorante do verdadeiro bem pode crer que os maus – em realidade, seres mais ou menos no mesmo estágio de ignorância – podem realmente “vencer”. A resposta é muito simples, mas sua compreensão pode levar eras: é que a vivência do verdadeiro bem já é a vitória em si mesma, enquanto que a ignorância do bem – ou o caminho do mal – é em si mesma sua própria ruína, sua amarga derrota.

[3] Há muitos heróis que empunharam tal espada, mas talvez o maior deles tenha sido Jesus. O próprio rabi da Galiléia afirmou que trouxe a espada no lugar da paz (Mateus 10/34). A espada serve obviamente para derrotar o monstro interno, o ego, e libertar o Eu-verdadeiro. Desta batalha, entretanto, podemos esperar tudo menos a paz – a paz virá depois da vitória necessária.

[4] Em sua submissão a uma espécie de vontade superior – um destino manifesto, um desígnio divino, uma lei inexorável da natureza, etc. – o herói alcança paradoxalmente uma espécie de liberdade ainda desconhecida dos demais, aprisionados ao próprio ego em maior ou menor grau.

[5] De fato, engana-se que algo antigo possa nascer. Embora todos esperem pelo “já conhecido” no nascimento, é fato que a natureza não cansa de renovar-se a todo instante, e todo nascimento ou renascimento só poderá trazer algo de novo, embora o novo por vezes pareça assustador.

[6] Por vezes podem parecer absurdas e fantásticas tais lendas de heróis que constantemente vencem a morte, mas os mitos sempre trazem suas verdades ocultas, esperando serem desveladas por aqueles que tiveram olhos para ver e ouvidos para escutar. Não se trata de vencer a morte, mas de compreender a vida – ou, como disse Fernando Pessoa através da poesia: “Neófito, não há morte”.

[7] As jornadas de autoconhecimento da mitologia oriental não deixam de lidar com tais assuntos de uma forma mais sutil, e ao mesmo tempo mais direta e literal. O próprio Buda, ao lutar com seus próprios desejos, travou a mesma batalha dos heróis, embora sua história não faça menções a espadas ou minotauros.

[8] Vão-se as personalidades e seus egos inflamados, ficam as potencialidades, as eternas vencedoras da morte.

[9] Como saber disso sem haver alcançado? Eis que todos nós trazemos tal intuição dos reinos esquecidos... Em cada um, em cada cultura, em cada crença, tal intuição se manifesta de uma forma específica – mas ela sempre estará lá.

[10] Como a lembrança do que foi esquecido pode ser apresentada como uma boa nova? Uma novidade? É que a novidade, a renovação, passa pela reinterpretação de antigas verdades nos contextos temporais específicos.

[11] E o mais curioso, que pode ser atestado por qualquer antropólogo, é como tal essência da vida e pensamento humano é compartilhada por todos os povos, desde os primeiros caçadores-coletores a pintar as rochas, desde os primeiros xamãs em seus transes misteriosos.

[12] Os pós-modernistas apostaram que a ciência e a tecnologia resolveriam todos os nossos problemas, mas esqueceram que elas nada podem fazer quanto a nossa alma, pois trata-se de uma linguagem que lhes é profundamente desconhecida.

***

Crédito da foto: Robbie Jack/Corbis (performance "The Minotaur", no Royal Opera House, Londres)

Marcadores: , , , , , , , , , ,

6.1.11

O tilintar das potencialidades

Porque não há o que temer, as potencialidades jamais se perdem, apenas as personalidades:


Garotinha norte-coreana de aproximadamente 5 anos (não consegui encontrar o nome).


Sungha Jung, aproximadamente aos 11 anos. Prodígio sul-coreano.

***

Não há surpresa que tantas crianças prodígio venham das coréias, o foco na disciplina e nas atividades artísticas no período da infância costuma despertar as potencialidades (principalmente na música, que vem direto da alma). Mozart, afinal, jamais teria sido tão genial se o pai não lhe tivesse ensinado a tocar piano por volta dos 3 anos...

Marcadores: , , , ,

3.1.11

The lessons of evolution

(translated by the author from the orginal portuguese article, “As lições da evolução”)

All of those who did not enlisted themselves in holy wars can learn some lessons from Darwin-Wallace’s theory concerning the origin and evolution of the species. Lessons about how nature works not only at the physical level, but at the spiritual level as well. Those who think that the evolution determined the triumph of materialism against other philosophies of nature are just wrong. If modern sciente opted to “forget” Alfred Russel Wallace, who was a spiritualist, at least it couldn’t do anything about what Charles Darwin wrote at the last paragraph of “The Origin of Species”:

“Thus, from the war of nature, from famine and death, the most exalted object which we are capable of conceiving, namely, the production of the higher animals, directly follows. There is grandeur in this view of life, with its several powers, having been originally breathed by the Creator into a few forms or into one; and that, whilst this planet has gone circling on according to the fixed law of gravity, from so simple a beginning endless forms most beautiful and most wonderful have been, and are being evolved.”

We know that this theory never pretended to explain the surge of life nor of the human consciousness, but the mecanism from which life evolved from the ancient and most simple life forms over Earth. Even then, and not without good reasons, it became one of the pilars that sustains the modern materialist thinking that says that all we are can be explained just by the particles that forms our bodies and brains – even when we actually don’t have a clue about which particles forms our counsciousness, but that’s another story.

What I would like to show here, though, is that the evolutuon theory also brings some huge lessons for a spiritualist view of existence:

We are all one
Even at physical level, we are formed by particles, by dust from distant stars that came to our planet over meteors and, mixing with other elements at Earth’s cradle, mysteriously created the very first living organisms. From organisms as simple as bacterias, everyone else surged, evolving from the same life code, the DNA. Today science proved that there are no human races, our genome is almost identical from australian aborigene to the white european. Not only racism is ignorance, but the notion that we are beings apart at creation, that irrational animals should serve us as objects, is absurd. The indians already knew that we are all one, that nature is only one, and that we are all connected; But, in modern age, scientific proof was needed for our eyes to be opened once more. This is nature’s biggest lesson: next time you look at a small squirrel by the ground, know that we are only here because their ancestors, our ancestors, survived the great extinction of the dinossaurs. We are sons of the squirrels, and the bacterias, because on this cosmic path, nobody is more special than anybody, the same opportunity to live and evolve was given to all of us.

We benefict ourselves from exchanges
The concept of “pure race” was definitely dumped by evolution. If nazism surged on the world, it was because their leaders were also ignorant, and lost the opportunity to learn from nature. Isolated human beings, reproducing only in small local communities, are much more vulnearble to viruses and diseases overall, because they simply didn’t had enough mixtures with genomes from other human beings that walked across distant places of Earth.
Altough, more even, we know that commercial, cultural and religious exchanges were fundamental for humanity’s development as a whole. It was with the silk route, from India to Europe and Middle East, that many civilizations begun to develop faster and faster. It was by the time when many philosophical and religious douctrines met at the same peaceful place that much of our global knowledge solidified: from Ancient Greece to Alexandria, from Al-Andaluz to European Renaissance.
If we made those archievements through the exchange of genes, market goods and knowledge, who knows where we could reach with the exchange of love?

Altruism is one species’s evolution
From bacterias that spends energy to produce a viscous substance that make their colonies float over water’s surface and became more protected, to the ancient gift exchange among homonidies, where male brought food from their hunts as payment for having sex with the females, altruism has been comproved as one species’s evolution.
Those who hunt alone will have more food when he kills his prey, but history shows that those species who hunt as a group obtains an evolutionary advantage: when everybody helps each other out, even having to share the hunt, they have much more chances of avoiding dying by starving, alone, because the probability of getting a good hunt each day is much bigger for groups with more eyes and more sharp weapons.
Since ancient times, nature have been teaching us that mystery: the more we share with other beings, more potential we develop to share even more. Love is neverending fuel, the fire from it’s pyre is eternal and the wind only make it grow more and more...

From adversity comes the greatest evolutionary leaps
No species evolved with little stress lives, be it by the abundance of preys to be hunted or by the complete ausence of predators. Without adversity, be it a starving predator or one’s stomach begging for energy, beings wouldn’t had any good reason to evolve.
Altough we all like peace, that everything “works as planned”, we cannot expect that adversities pass always far from us. That would be, at the long range, a big trap. Stagnation, be it physical, be it mental, be it spiritual, is the greatest evil of mankind. The dark age of medieval Europe showed us that dogmas do not serve as our salvation, and that absolut truths manuals are of no help if the people is yet ignorant of the real intepretation of those truths. To aquire knowledge doesn’t make anybody a saint: it’s needed to practice, it’s needed to step deep in the mud, it’s needed to face the desert and comprehend that, be stagnation anywhere still alive, nature won’t let us relax.
The “war of nature”, which Darwin spoke about above, is the path where it’s mecanism keep pushing us, over and over, always upwards.

Environment shapes us
Deep water small cataclysms, caused by the interruption in the leak of high temperature waters from terrestrial crust, can cause the extinction of whole ecological niches, killing small coral reefs and other species from ocean’s deep. A river changes it’s course, monsoons are interrupted, and entire empires are extinct, or move to invade new territories, like is the usual case in southern Asia history...
In our vain hope that we were the center of the whole Cosmos, we believed that it were the gods who should serve us, even by the path of so many forms of bargains. Even today, there are scientists who believe that they can dictate the routes of nature, “creating” new species or slowing indefinitely the aging of body’s cells. All in vain: nothing is still, everything flows, everything vibrates. Nature moves in cycles, and between glacial ages over Earth, the humans have surged with all of their knowledge.
But not all knowledge is vain. The greatest proof of this is in the comprehension that it’s the environment which molds the evolution of the species, much more than the battles for survival. And even here, once more, the indians were correct: we are all connected, more even with the environment around us.

Nature is free
Men have been trying to comprehend the mecanisms of nature, but even today they fail miserably over any kind of deeper prediction about where the wind gotta blow next. To predict climate over a short time is possible, but over the long range it’s not: nature insists in raising it’s veil, and among the smallest events that, for not knowing their true cause, we call as “chaotic” or “random”, nothing can be predicted efectively from the future. Nor where the wind gotta blow, nor where the earth gotta shake, nor up to where evolution gotta bring us.
Darwin used to say that the destiny of species “tends towards perfection”. Even it being so complex to define perfection, nature will never get tired of surprising us. In just a few seconds of the cosmic year, men were born with all their knowledge. Perfection is the tomorrow, is what is yet to come, is the potentiality of the etereal consciousnesses dancing over the ages and the species – and nobody can really tell where all of this gotta end. Of it’s agenda, life itself cares: nature is free.

Life is the function of the system
Even every system having it’s function, there are many who opt to ignore that even nature-system has one. In every particle that insists to mold organisms that behave in an anti-entrophical way during the time they are alive, lies a piece of the sacred code; Which codified, tells along infinite chemical reactions among the cosmic whirlwind: “To produce life, that is my function”.

The law of evolution
Nor the strongest, nor the most intelligent. Survives and evolves those who better adapt to the environment’s conditions, and it’s constant changes.
Physically, we are part of the species which obtained the biggest sucess over adapting to the Earth’s environment. We explored and occupied the most remote zones of our planet, and today we are in the very first steps of launching ourselves over the vast Cosmic ocean. Which we still lack, if not an adaptation of the consciousness? If not to explore and to occupy our infinite interior?

article by Rafael Arrais

***

Image credits : [top] Louie Psihoyos/CORBIS (Paleontologist Doug Zhiming); [middle] Bettmann/CORBIS (Neanderthal)

Marcadores: , , , , , , , , ,