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31.8.15

Memes para reflexão, parte 3

« continuando da parte 2

(clique nas imagens abaixo para abri-las em nossa galeria de memes no Facebook)

O Senhor dos Exércitos
As Cruzadas não se prestaram a “combater infiéis” somente na Terra Santa. No caminho até lá, houve algumas outras batalhas da Igreja dentro da própria Europa. Bem, “batalha” talvez não seja a melhor definição, e sim “massacre”.

Em 1209 a cidade de Béziers era habitada por cerca de 60 mil pessoas, e dentre elas havia muitos seguidores do catarismo, uma vertente mística do cristianismo que desagradava a Igreja. O problema é que nem todos dentro dos seus muros eram cátaros, o que gerou um questionamento muito pertinente de um dos comandantes do exército francês ao representante do Papa, quando eles se preparavam para invadir a cidade com uma força militar vastamente superior. O comandante perguntou: “Mas senhor, nesta cidade encontram-se vivendo em paz cristãos, judeus, árabes e cátaros. Como vamos saber quais são os inimigos?”. E o representante assim o respondeu: “Matem todos; Deus escolherá os seus!”. Béziers foi dizimada, mas não se sabe se Deus conseguiu encontrar os seus...

A ideia da “guerra do Bem contra o Mal” é poderosa e sedutora, e por isso mesmo sempre agradou aos Imperadores, Reis e Papas. De todas as ilusões que se interpõe a verdade inconveniente de que, como muitos já devem saber, todas as guerras do mundo se dão quase que unicamente pelo desejo da conquista de territórios e riquezas, a lenda do Bem contra o Mal é a mais simples de se compreender, e a mais capaz de arrebatar uma grande massa de ignorantes. Nesse tipo de guerra não há dor na consciência em dizimar inocentes, nem mesmo em estuprar mulheres e crianças, pois fica pré-estabelecido que elas são como demônios sem alma, fruto de um suposto exército comandando pelo Mal.

No entanto, talvez até mesmo uma criança já seja capaz de se questionar: “Ora, mas se Deus criou a todos nós, como ele pode ser o Senhor de um único exército?”. Acredito que a resposta seja óbvia, e este meme é uma tentativa de trazer essa reflexão à tona.


Buda, e Budai...
Uma curiosidade: na imagem cima não temos o Buda Sidarta Gautama, mas Budai, uma divindade chinesa que é costumeiramente confundida com Sidarta. Obviamente que o Buda Gautama provavelmente nunca foi muito "gordinho", até mesmo porque chegou a praticar jejuns extremos, e após atingir a iluminação, aos 35 anos, passou os próximos 45 anos de sua vida viajando pelos arredores do Nepal.

A vida de Buda se parece muito mais com a vida de um místico andarilho, como Jesus de Nazaré, que viajou a pé pelos arredores de sua cidade natal, ensinando a todos com quem cruzava. A diferença é que Buda não é conhecido por realizar milagres, como ressuscitar mortos, curar leprosos ou transformar água em vinho. Em todo caso, os ensinamentos de Buda foram tão impactantes quanto os de Jesus, o que é atestado pelo fato de terem igualmente sobrevivido por mais de dois mil anos, sem terem sido esquecidos.

No entanto, não é difícil encontrar pessoas que, por total desconhecimento da história de vida de Sidarta, creem piamente que ele passou a vida toda meditando ao lado de uma árvore, e não ajudou ninguém. O fato de sua imagem ser costumeiramente confundida com a imagem de Budai talvez ainda ajude a perpetuar essa lenda do “monge gordinho que nunca saiu do lugar”.

Tal visão, é óbvio, não poderia estar mais distante da realidade. Desde o momento em que atingiu a iluminação, é dito que o Buda passou o restante de seus dias tentando auxiliar aos demais a atingir esse mesmo grau de consciência da realidade, e de desapego para com tudo o que existe somente no fluxo do tempo.

Se há um lugar em que Sidarta passou boa parte da vida, não foi na sombra de uma árvore, mas na própria eternidade.

» Em breve, + memes!

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Crédito das imagens: Raph/Google Image Search

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28.8.15

Memes para reflexão, parte 2

« continuando da parte 1

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Sócrates
No início eu estava sem muitas ideias, e achei por bem pesquisar por “memes filosóficos” no Google. Encontrei pouca coisa que me interessou, mas este sobre Sócrates, que achei originalmente em inglês, me pareceu um meme digno para iniciar a série.

Há mesmo muitas formas de se analisar a afirmação que o grande sábio de Atenas não se cansava de repetir: “Tudo o que sei é que nada sei”. Muitos talvez a achem incompreensível, afinal se você sabe que não sabe, é porque já sabe alguma coisa. Outros provavelmente a consideram alguma espécie de “falsa modéstia”, já que Sócrates vencia praticamente todas as suas discussões “mesmo sem saber de nada” (também existem memes sobre isso online).

Na verdade, eu creio ser exatamente o oposto da “falsa modéstia”, e daí o meme ter me interessado... Talvez seja mais fácil me fazer entender através de um pequeno experimento mental:

Imaginemos que tudo o que sabíamos antes de entrarmos no colégio formasse um círculo de raio “x” em torno de nós mesmos. A “borda” desse círculo seria o nosso contato com “o desconhecido”, e na medida em que vamos aprendendo, dia após dia, aula após aula, pensamento após pensamento, este círculo vai crescendo junto como nosso novo conhecimento adquirido...

Ora, no dia em que nos formamos no colégio este círculo pode ter crescido enormemente, para um raio de “20x” ou “100x” ou “1000x”, não importa, o que importa é que na medida em que a “borda” do círculo vai crescendo, a nossa fronteira com “o desconhecido” vai se tornando cada vez mais extensa.

É como a física de partículas, que descobriu o átomo, depois os prótons, nêutrons e elétrons, e finalmente os quarks. Ou a cosmologia, que descobriu que na verdade cada estrela era um sol, e depois que havia algumas galáxias além da Via Láctea, e finalmente que há incontáveis galáxias viajando pelo espaço em grandes aglomerados. Ou seja: cada vez que aprofundamos nosso conhecimento da natureza, surgem mais questões, e mais vias a serem trilhadas.

E, se o conhecimento do que há lá fora é tão vasto, nada indica que o conhecimento do que há dentro de nós mesmos, ainda que nem sempre puramente objetivo, fique atrás.

Assim sendo, faz muito sentido encarar esta existência de maneira mais socrática, mais humilde, e considerar que o que sabemos é uma gota d’água perto do oceano do que ainda falta conhecer. Não nos adianta muita coisa, portanto, amar a Sócrates e ignorar solenemente o seu exemplo de vida.


Lúcifer
Embora Isaías muito provavelmente estivesse se referindo a um antigo rei da Babilônia, através de metáforas, quando relatou a sua “queda do céu” no Antigo Testamento, fato é que o mito do Anjo Caído se tornou extremante popular nos últimos milênios. Bem, é sobre este mito que quis me referir ao trazer o primeiro meme da série de minha autoria (como, aliás, o são todos os demais a partir daqui).

A despeito dos inúmeros problemas lógicos em se crer numa entidade que é “oposta ao Criador” mesmo tendo sido criada por ele (como tudo o mais), o que sempre me interessou na ideia do Anjo Caído é a questão incômoda acerca da sua insistência milenar na ignorância.

Pois, pensem bem, ainda que você tenha se rebelado contra o Criador, ainda que tenha atraído um enorme exército de seguidores para “combater a sua luz”, como você esperaria ganhar tal batalha?

Ora, se todos somos filhos do Criador, se todos nós somos formados por sua substância, como seria possível vencer? Antes de montar um exército para tentar assassinar Deus, deveríamos obviamente começar por nós mesmos, já que também somos formados por Deus... Seria muito mais lógico nos matar. E, de fato, qualquer suicida provavelmente causa mais dor a Deus do que todas as tentativas de “invasão do céu” pelas hordas infernais, pois a simples ideia de “invadir o céu a força e, sei lá, humilhar a Deus (?)” é absurda.

Outros podem argumentar que Lúcifer, sabendo muito bem que não tem como vencer, se dedica apenas a “roubar almas” de Deus, as corrompendo. Mas, ainda que ele aumentasse enormemente o seu exército usando deste expediente, no fim das contas do que adiantaria tudo isso? Fato é que a sua batalha continuaria sendo invencível.

Assim sendo, se esse tal Anjo Caído de fato ainda não se arrependeu e abandonou a ignorância após tanto tempo, ou ele é apenas uma espécie de fantoche, ou autômato, “programado” pelo Criador para exercer a sua função de “rei das trevas”, ou ele é simplesmente o maior bode expiatório que já existiu!

» Em breve, + memes!

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Crédito das imagens: Raph/Google Image Search

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27.8.15

Memes para reflexão, parte 1

Muita gente passou a conhecer os memes após o advento das redes sociais online. O que pouca gente sabe, no entanto, é que os memes da internet nada mais são do que uma espécie de “subgrupo” de um conceito muito mais abrangente, poderoso, e até mesmo místico:

Um meme – conforme proposto pelo biólogo britânico Richard Dawkins – é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma se autopropagar. Os memes podem ser ideias, línguas, sons, desenhos, doutrinas religiosas, valores estéticos e morais etc. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.

Apesar de ser um conceito puramente metafísico, ele tem sido capaz de explicar muita coisa que ocorre dentro da mente humana, particularmente no que tange a troca de informações sociais e culturais. Assim, se é verdade que muitos memes da internet não passam de pequenas peças de humor, não é verdade que todos eles possam ser considerados somente isso.

Conforme um dia nos explicou Ralph Waldo Emerson, “A chave de todo ser humano é seu pensamento. Resistente e desafiante aos olhares, tem oculto um estandarte que obedece, que é a ideia ante a qual todos os seus fatos são interpretados. O ser humano pode somente ser reformado mostrando-lhe uma ideia nova que supere a antiga e traga comandos próprios”.

É levando isto em consideração que eu pensei comigo mesmo, “Ora, se há tantos memes bobos que alcançaram tamanho sucesso em se replicar pelas mentes alheias, por que não usar do mesmo expediente para tentar refletir adiante ideias um pouco mais profundas?”.

Foi assim que me senti inspirado para criar alguns “memes para reflexão” e publicá-los em nossa página no Facebook. A minha ideia, é claro, não é criar memes “acadêmicos” ou “muito sérios”, mas me aproveitar do bom humor e do grande alcance deste tipo de linguagem online para, como sempre tento fazer, levar as pessoas a refletirem um pouco mais sobre algumas ideias que talvez estejam já velhas demais, solidificadas demais, dogmáticas demais.

Com isso não quero denegrir ou reduzir tais ideias, que são memes muito mais antigos e duradouros do que qualquer meme de internet, mas pelo contrário: mostrar outros pontos de vista para, quem sabe, trazer tais ideias ancestrais para o meio do século 21, onde há um verdadeiro Dilúvio de informação irrelevante; de modo que as ideias relevantes talvez precisem ser guardadas com carinho, na segurança de nossa Arca de Noé, esta que sempre navegou em nossa própria alma.

Na sequência, trarei alguns dos memes publicados em nossa galeria no Facebook, com uma pequena explicação sobre o que exatamente quis passar com cada um, assim como uma rápida descrição das discussões geradas por aqueles que foram mais compartilhados.

» Em breve, os memes!

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Crédito da imagem: Raph/Google Image Search

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24.8.15

Simpósio de Hermetismo, 2015

A foto acima foi tirada em 2012, durante o III Simpósio de Hermetismo em São Paulo, organizado pela Associação Educacional Sirius-Gaia. Se notarem bem, eu também estou ali no meio do pessoal...

A boa notícia é que este ano finalmente teremos o IV Simpósio, também em São Paulo, no mês de Novembro. A ótima notícia é que, até amanhã, você ainda pode se inscrever no evento com o preço promocional.

Mas, o que diabos é um Simpósio de Hermetismo?

A Filosofia Hermética é base de tradições milenares, perpetuadas através dos diversos métodos adotados nos diferentes Círculos Iniciáticos, que permitem aos praticantes a expansão da consciência através do autoconhecimento, seu desenvolvimento enquanto indivíduo (e consequentemente do mundo que o cerca) e a superação das fronteiras do ordinário.

As Ciências Ocultas unem o conhecimento místico à ciência e procuram desvendar de forma clara e compreensível aquilo que é “extraordinário” ou, em outros termos, aquilo que vai além do “conhecimento ortodoxo”, a ciência convencional.

Esta sabedoria antiga durante muito tempo permaneceu restrita às diversas Ordens ou Escolas de Mistérios, guardadas do acesso do público em geral, não apenas por seu caráter “secreto”, mas porque sua linguagem simbólica encontra-se além da visão objetiva ou dos interesses da maioria das pessoas, permanecendo “oculta” para elas.

O Simpósio deste ano chega a sua quarta edição, com o mesmo objetivo de promover e sustentar o debate a respeito de diversas práticas ocultistas e filosóficas, reunindo no mesmo evento diferentes correntes e Escolas Ocultistas para compartilhar sua visão e sua prática.

O evento ocorrerá durante os dias 20 a 22 de Novembro em São Paulo, no Espaço Federal, na Avenida Paulista, 1776, primeiro andar (próximo ao metrô Trianon-Masp). Veja a programação completa.

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Nota: Já me inscrevi para o Simpósio deste ano, e devo estar pessoalmente no evento (como espectador) durante todo o Sábado (21) e a manhã de Domingo (22). Se você curte este blog, além de poder me encontrar por lá, provavelmente deverá curtir o que os palestrantes têm a nos passar. Mas, para além do ganho de conhecimento, o que é mais interessante num evento como esse é exatamente poder encontrar pessoalmente todos os demais "loucos" que se interessam por tais assuntos. Há uma sensação de comunidade e pertencimento que pode ser bastante agradável aqueles que têm a alma aberta :)

Crédito da foto: AESG/Divulgação

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21.8.15

Uma longa tradução (parte 3)

O grande projeto do Textos para Reflexão este ano é, como alguns devem saber, a tradução de um dos livros mais sagrados do mundo, o Bhagavad Gita (vocês podem saber mais sobre ele no artigo A sublime canção, que servirá de base para o prefácio da edição).

Conforme falei no início, estarei lhes trazendo alguns trechos desta longa tradução para que possam acompanhar o seu andamento enquanto eu não chego ao final do trabalho.

Portanto, continuando da parte anterior, segue abaixo o trecho final do Capítulo I:


Arjuna descreve os malefícios da guerra

Com a destruição da família, as antigas tradições e códigos de conduta também são perdidos, e a imoralidade passa a prevalecer. (1.40)

E quando a imoralidade prevalece, ó Krishna, as mulheres da família se tornam corrompidas, assim como seus filhos indesejados [1] (1.41)

Tudo isso carrega tanto a família quanto seus assassinos para o inferno, pois os espíritos de seus antepassados são esquecidos pelos filhos corrompidos, que já não lhe prestarão mais as oferendas cerimoniais nem o respeito devido. (1.42)

Pelo ato ilegítimo e pecaminoso de tais rebentos indesejados, as qualidades ancestrais da família e toda a ordem social são destruídas. (1.43)

Já nos foi dito, ó Krishna, que os membros de tais famílias corrompidas vagueiam pelo inferno por um longo período. [2] (1.44)

Ai de nós, de todos nós! Estamos prestes a cometer um grande pecado ao concordarmos com essa matança insensata de nossos parentes, tudo por conta da ganância dos prazeres e riquezas do reino (Hastinapura [3]). (1.45)

Para mim seria muito melhor que meus irmãos me matassem com suas armas na batalha, enquanto eu estivesse desarmado e sem oferecer resistência. Que eles bebam o sangue do meu coração... (1.46)

Sanjaya disse: Tendo dito isso tudo ao seu amigo Lorde Krishna, e deixando seu arco e suas flechas de lado, o príncipe Arjuna se recostou no assento de sua carruagem de guerra, com sua alma inundada de angústia e tristeza. (1.47)


(tradução de Rafael Arrais)

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[1] Novamente há dois planos de interpretação. O literal se assemelha a antiga visão conservadora (de fato, milenar). O plano mítico continua tratando do campo psicológico: as mulheres corrompidas, e seus filhos indesejados, nada mais são do que os maus pensamentos, muitos dos quais “não sabemos exatamente como chegaram até nós”.

[2] No hinduísmo o inferno não é eterno, e quer significar o período de arrependimento pelo qual a alma passa, seja após a morte, quando aguarda um novo renascimento, seja ainda na própria vida. No entanto, muitas descrições do inferno hindu não devem em nada, em matéria de sofrimento, ao inferno do cristianismo.

[3] Hastinapura (cidade [pura] do elefante [hastina]) é a lendária capital da dinastia dos reis Kurus e local principal de toda a narrativa do Mahabharata, incluindo o Gita. Está localizada ao norte da Índia, às margens do rio Ganges, e possuí um importante sítio arqueológico que comprova sua existência ainda na época em que tais obras sagradas foram primeiramente escritas. Hoje abriga uma cidadezinha fundada em 1949, que contava 21.248 habitantes no senso de 2001.

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Crédito da imagem: Google Image Search/krishna.org

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18.8.15

Lançamento: A fórmula do ateísmo

As Edições Textos para Reflexão publicam novamente um livro de Igor Teo, colunista do portal Teoria da Conspiração:

"Este livro não é apenas sobre religião. Numa sociedade marcada cada vez mais pelo espírito cético e pós-tradicional, Igor Teo demonstra como o fundamento da crença é o que temos de mais básico em nossa relação com o mundo. Estamos a todo o momento acreditando em algo, e agindo no mundo segundo uma crença. Acreditamos não apenas que Deus exista ou não, mas também na ordem econômica, na ordem social, na nossa identidade, na forma que nossas relações com as outras pessoas supostamente devem acontecer.

Nossas crenças sobre nós mesmos e o funcionamento do mundo constituem a fantasia subjetiva que herdamos da sociedade e da relação com o Outro. É com nossas próprias fantasias sobre o mundo que temos que viver e lidar inevitavelmente. Através da psicanálise, o autor busca entender a instituição da crença na nossa vida, discutindo a questão levantada por Jacques Lacan como a “verdadeira fórmula do ateísmo”, em que se entende que tal fórmula não seria de que Deus está morto, mas que na verdade Deus é inconsciente."

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Abaixo, segue o prefácio do livro, por Rafael Arrais:

Sócrates foi acusado de ateísmo, e condenado à morte pela ingestão de veneno.

Jesus de Nazaré foi acusado de ateísmo, e condenado à morte pela crucificação.

Benedito Espinosa foi acusado de ateísmo, e excomungado do judaísmo por sua comunidade.

Já Albert Einstein, a despeito de ser um grande simpatizante do deus da filosofia de Espinosa, certamente foi acusado de ateísmo por tantos outros. Para a sorte do cientista alemão, no entanto, em sua época o ateísmo já não era mais um crime passível de excomunhão de comunidades, ou de penas de morte.

Em sua origem na Grécia antiga, pouco antes dos tempos socráticos, o termo atheos significava “sem Deus”, ou “aquele que cortou seus laços com os deuses”. Ele era aplicado a todos aqueles que abandonavam, ou tentavam deturpar, as crenças oficiais de suas respectivas comunidades.

Hoje em dia, no entanto, há muitos autoproclamados ateus que efetivamente não creem em seres sobrenaturais de qualquer espécie. Eles costumam dizer que a sua única diferença para com os crentes é o fato de eles “crerem num deus a menos”. Mas, será mesmo?

O que este livro vem nos mostrar, através da sua análise didática do pensamento de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Slavoj Žižek e alguns outros pensadores da psicologia humana, é que os antigos estavam certos: de fato, é mesmo impossível sermos “totalmente ateus”, pois é impossível sermos “100% céticos” – acreditamos num deus a menos, está bem, mas quem disse que isso nos faz descrentes de todos os deuses?

Afinal, se não cremos em Javé, Allah, Krishna, ou nem mesmo no deus de Espinosa, isso não significa que sejamos ateus para o deus do consumo, o deus do comunismo, ou o deus do liberalismo. Se todos os deuses são ficções, coisas que se passam na mente humana, e não na realidade objetiva, então a Declaração dos Direitos Humanos, o Manifesto Comunista e a Bíblia Sagrada estão todos no mesmo barco, e ele se chama linguagem.

Dessa forma, talvez o melhor caminho para compreendermos a inefável natureza da Natureza seja voltar nosso olhar para aquele deus que é capaz de contemplar, elaborar e interpretar o que há no tempo e no espaço: nós mesmos.

Pois, seja sobrenatural ou não, fato é que ele reside num mar profundo e pouco navegado. Este livro, como tantos outros, não lhe servirá de muito auxílio se você mesmo não se resolver a arriscar um mergulho dentro de si.

Na filosofia, a única certeza que temos é de que existe algo, e não nada. Ironicamente, o que muitos místicos navegantes descobriram a duras penas é que, no fim das contas, não necessitamos realmente de nenhuma outra.


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12.8.15

Entre a esquerda e a direita: os comentários (parte final)

Parte da série “Entre a esquerda e a direita”, onde Alfredo Carvalho e Igor Teo responderam minhas perguntas, e agora estou comentando os assuntos abordados. Para conhecer mais sobre a proposta da série e seus participantes, não deixe de ler nossa apresentação.

Entre a pobreza e a desigualdade
Os seus críticos dizem que é o livro mais vendido e menos lido dos últimos tempos, mas fato é que desde que publicou O Capital no Século 21, Thomas Piketty foi subitamente catapultado ao posto de “economista pop star”, algo que certamente não temos visto com tanta frequência por aí.

A tese principal que o economista francês traz ao mundo em sua obra, amparada por calhamaços de estudos e estatísticas econômicas, é a de que os países desenvolvidos vêm registrando uma elevação da concentração de renda num ritmo consideravelmente mais rápido do que o próprio crescimento econômico. Ora, isto significa basicamente dizer que, sob o signo do capitalismo moderno, a desigualdade entre os ricos e os pobres vem se tornando um abismo cada vez mais instransponível. Ele tem razão?

Na verdade, não poderia estar mais correto. E não é que essa desigualdade seja algo “concebível”, como aquele varejista que tem uma renda 20 vezes maior do que um dos seus gerentes de setor, ou aquele milionário “bem nascido” que recebeu uma herança superior ao patrimônio total de todos os habitantes de uma cidadezinha de Minas, não, é algo que realmente vai além da imaginação: estamos falando de algumas pessoas que detém mais riqueza do que o PIB de inúmeros países somados.

Um estudo apresentado pela entidade Oxfam às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos, no início de 2015, demonstrou que a eclosão da crise econômica mundial, em 2008, fez com que o ritmo da desigualdade se acelerasse ainda mais. Segundo o estudo, em 2009, os 1% mais ricos do planeta acumulavam cerca de 44% do PIB global; em 2014, chegamos a relação de 1% para 48%; e, em meados de 2016, a previsão é a de que os 1% mais ricos deterão metade das riquezas do mundo. Não sei quanto a vocês, mas sempre que penso nisso me dá a impressão de que a desigualdade é tão avassaladora que simplesmente não conseguimos concebê-la racionalmente, ou talvez simplesmente não queiramos pensar muito sobre o assunto...

Já li muitas críticas às estatísticas que Piketty usou como base para elaborar sua tese. Mas, ainda que ele tenha errado num ou noutro cálculo, fica muito difícil desmontar a essência da sua tese. É fato, a desigualdade no mundo sempre foi grande, mas hoje está atingindo níveis simplesmente estratosféricos. E sabem por quê? Porque na realidade nunca acumulamos tanta riqueza – no passado éramos mais pobres por igual, e hoje somos mais ricos, embora de maneira enormemente desigual.

Essa constatação histórica do desenvolvimento da economia humana, juntamente com a ciência e a tecnologia, é precisamente a única forma viável de contrapormos as ideias de Piketty. Neste sentido, acredito que o economista italiano radicado nos EUA, Luigi Zingales, seja a voz mais sã a se levantar e analisar de forma crítica o best-seller de Piketty.

Como professor da Universidade de Chicago, Zingales está literalmente no centro do pensamento liberal, e como tal, traz aquela outra visão que muitos simpatizantes da esquerda fazem questão de ignorar, a de que, se o capitalismo moderno trouxe muita desigualdade, também trouxe muita riqueza. Assim, chegamos àquela pergunta fatídica: É melhor sermos pobres por igual, ou relativamente ricos, enquanto uma pequena elite se torna absurdamente rica?

Vamos deixar esta resposta para depois. Primeiro, é preciso considerarmos que, a despeito de suas visões de mundo, nem Zingales nem Piketty podem ser situados precisamente nas extremidades da esquerda ou da direita, como aliás é comum com todos os grandes pensadores...

Quando perguntado por um repórter da Folha de São Paulo sobre a relação do título do seu livro com a obra-prima de Karl Marx, numa alusão a possiblidade de ser um comunista ou anticapitalista, Piketty respondeu assim:

“O problema é que há gente que vive ainda na Guerra Fria e tem necessidade de inimigos anticapitalistas. Não sou esse inimigo. Creio no capitalismo, na propriedade privada e nas forças do mercado.

Nasci tarde demais para ter a menor tentação que seja pelo comunismo de tipo soviético. Isso não me interessa. Ao mesmo tempo, acho que temos necessidade, basta ver a crise de 2008, de instituições públicas muito fortes para regular o mercado financeiro e as desigualdades produzidas pelo capitalismo.”

Pulemos então para a entrevista com Zingales no Estadão. Quando lhe perguntaram se existe alguma intervenção aceitável do Estado na economia, eis o que ele disse:

“O mercado precisa de regras para operar. A pergunta é quem vai implementá-las e mantê-las funcionando. Mas, além disso, é importante entender que a criação de uma rede de proteção social pode ser considerada uma intervenção pró-mercado.

Os empreendedores buscam com frequência lobbies para conseguirem subsídios. Quando uma empresa está prestes a falir, o empresário diz que precisa de ajuda porque os trabalhadores vão ficar desempregados. O meu ponto de vista é que, se temos uma boa proteção social, não é preciso se preocupar com os trabalhadores, e as empresas podem falir sem problema. Num modelo de livre mercado, as empresas precisam falir, mas os indivíduos não precisam sofrer.”

Ora, é impressão minha, ou parece que os baluartes do socialismo e do neoliberalismo chegaram a concordâncias surpreendentes sobre a economia e a política?

Vejam bem que nem Piketty nem Zingales pretendem carregar tais alcunhas, e ainda que fosse o caso, muitas vezes “socialismo” e “neoliberalismo” são somente palavras cujos significados se perdem na complexidade de um mundo de ideias cada vez mais conectadas, um fluxo onde quase tudo parece poder mudar da noite para o dia.

No fundo, ambos estão defendendo um capitalismo de real livre mercado, livre dos grandes monopólios, cartéis e lobbies políticos, onde nenhuma empresa possa ser “grande demais para quebrar”, mesmo que ela seja um banco, precisamente porque haverá uma rede de proteção e bem estar social capaz de cuidar de uma nova leva de desempregados, até que novas empresas possam absorvê-los. Isso nada mais é do que o socialismo e o capitalismo andando de mãos dadas, às vezes um pouco mais a direita, às vezes um pouco mais a esquerda. Ou seja, o grande terror dos extremistas, mas quem sabe a única solução para o mundo atual...


A resposta para o amanhã
Pobreza ou desigualdade? Privacidade ou segurança? Estado ou Mercado? Socialismo ou capitalismo? Esquerda ou direita?

A verdade é que, se quisermos nos certificar de que teremos um futuro melhor do que o presente, nós devemos responder tais perguntas em debates amigáveis, ou reuniões políticas onde tanto o governo quanto a oposição não somente tenham a voz assegurada, mas que, sobretudo, tenham uma ideologia genuína, e se prestem a defender no poder aquilo que sempre defenderam antes de chegarem ao poder.

Pois nada é mais distante da Política do que este Grande Negócio Eleitoral, onde os discursos são escritos por marqueteiros, e não por estadistas.

Pois nada é mais nefasto para a Política do que ter um grande partido político de ideologia incerta, que ora defende isto, ora aquilo, de acordo com a direção do vento, ou do bocado do Orçamento que conseguirá abocanhar em acordos obscuros em prol da garantia da “boa governança”.

Assim, eu prefiro não responder a nenhuma dessas questões, mas deixá-las em aberto para que vocês, da Mansão do Amanhã, possam não somente refletir sobre elas, como quem sabe até encontrarem alguma inspiração para se aventurarem na Política, com “P” maiúsculo.

Quando foi condenado pela polis ateniense por corromper seus jovens discípulos com novas ideias, foi dada a Sócrates a opção de se exilar e evitar a morte pela ingestão de veneno. O grande filósofo optou por permanecer em sua polis e aceitar o veredito. Há muitos que dizem que sua decisão se baseou inteiramente em seu enorme respeito para com a Justiça de Atenas. Mas, creio eu, talvez o velho sábio não encontrasse muita utilidade em prosseguir com sua existência, se não fosse para incitar os jovens a terem novas ideias...

Assim, ao não aceitar o exílio em troca da própria vida, Sócrates também se recusou a deixar que suas ideias fossem exiladas do mundo. O que essa bela história nos ensina é que a única resposta possível para o amanhã deve necessariamente partir do Amanhã.

Portanto, não é somente reclamando dos nossos representantes no Executivo, no Legislativo e no Judiciário que iremos conseguir mudar alguma coisa mais depressa. Se você quer realmente que este país chegue a ser, finalmente, o “país do futuro”, não há melhor caminho do que ser, você mesmo, um ser da Política.

E, se você é jovem, há todo um universo de possibilidades em aberto. Se for o caso de seguir neste caminho, tão sagrado quanto profano, lembre-se de que a Política não se faz em gabinetes, departamentos ou centrais sindicais isoladas a esquerda ou a direita; a Política se faz entre a esquerda e a direita.


Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política.
Simplesmente serão governados por aqueles que gostam.

(Platão)

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Crédito da imagem: Google Image Search/Divulgação (Thomas Piketty e Luigi Zingales)

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5.8.15

Alumínio

» Conto pessoal, da série “Cotidianos”, com breves reflexões acerca dos eventos do dia a dia...


Há algum tempo atrás li num livro que Napoleão, o imperador da França, tinha uma pequena coleção de talheres de alumínio, e que os guardava somente para si e os seus convidados mais ilustres. Os demais usavam talheres de ouro mesmo.

Isto porque, na sua época, a produção de alumínio em larga escala havia sido recém-descoberta, e ainda era tão cara que os talheres ou joias feitos de alumínio tinham muito mais valor do que os mesmos forjados em ouro. Somente algumas décadas depois, ao final do século XIX, é que novas descobertas científicas permitiram que a produção de alumínio se tornasse bem mais barata [1].

Mas não consta que durante o reinado de Napoleão os alquimistas franceses tenham substituído o ouro pelo alumínio. Que eu saiba, eles continuaram tentando transformar o seu chumbo em ouro, como antes.

Ocorre que o ouro dos alquimistas nada tinha a ver com o ouro dos talheres comuns de Napoleão. Se tratava de um ouro mais etéreo, mais espiritual, mais simbólico. Um ouro, de fato, muito mais difícil de produzir do que aquele ouro mais comum. No entanto, um ouro que não se sujeitava as leis de escassez, da oferta e procura – enfim, um ouro que nunca esteve à venda.

Outra importante consideração a fazer sobre os alquimistas é que eles não valorizavam seus mestres pelo seu peso em ouro, mas sim pela sua luminosidade.

Na antiga Atenas um grande mestre das ideias também se tornou puro ouro. Mas ele fazia questão de ressaltar que nada sabia. As ideias tinham valor por si mesmas, ele provavelmente pensava, e o fato de orbitá-las não o fazia seu dono, apenas o seu divulgador. Ele era apenas um espelho devidamente polido, tudo o que fazia era refletir alguma luz vinda sabe-se lá de onde...

E se ele repetia há todo momento que tudo o que sabia era que nada sabia, é porque era sábio o suficiente para compreender a grande e vil armadilha que se arma para aqueles que julgam que o seu ouro é sua propriedade, e não a propriedade de toda a humanidade.

Pois que se a fonte dourada é represada pelas alucinações do ego, ela perde a sua pureza, e se torna fétida.

Afinal, aquele que se torna imperador de si mesmo produz não talheres, mas o próprio alimento para todos aqueles que vagam por este mundo, esfomeados e desamparados. São eles quem precisam ser alimentados, e não o ego!

Assim, o sábio que conquistou os seus próprios países, que marchou sobre a própria sombra e a trouxe para o seu exército, dispõe de riqueza inimaginável.

Mas como isso valeria mais do que ouro?

Ora, se os pretensos alquimistas tivessem sucesso, e se todo o chumbo do mundo se transmutasse em ouro, os talheres mais valiosos passariam a ser de prata. Isso já não diz muito sobre o valor que damos ao ouro?

No entanto, o outro ouro, o ouro dos verdadeiros alquimistas, será sempre o bem mais valioso! E no dia em que ele deixar de ser tão raro, no dia em que for tão comum quanto o alumínio de Napoleão, então esta terra estará cheia de imperadores sem súditos, e um céu dourado terá sido derramado sobre o mundo...

Há uma batalha diária, feroz e violenta, para que cada pensamento se livre do seu chumbo, e se eleve e se doure e se torne sublime!

Para aqueles que creem que o céu está lá fora, cheio de deuses misteriosos, esta é uma guerra sem sentido.

Mas para aqueles que trouxeram seus deuses para dentro, esta é a única guerra que merece ser travada, a grande guerra alquímica.


raph’15

***

[1] Essa história também é contada neste artigo: Você sabia que o alumínio chegou a valer mais do que o ouro?

Crédito da imagem: Google Image Search/todayifoundout.com

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4.8.15

A escadaria para o Paraíso

A despeito de ter durado pouco mais de uma década, o Led Zepellin é uma das bandas de rock mais lembradas e celebradas do último século, e também deste. Prova disso é que em 2012 os seus integrantes ainda vivos foram alguns dos homenageados no Kennedy Center Honors, evento anual que ocorre nos EUA. Dentre as diversas celebridades presentes, estava o próprio presidente Barack Obama, que pareceu ser um fã genuíno da banda.

Ora, e se há muitos por essas bandas que mal conhecem o som do grupo britânico, a verdade é que eles têm um hino, e este hino desperta a memória, faz com que uma brisa sopre pela alma até mesmo daqueles que nunca compraram um CD ou sequer compreendem suas letras. Estou falando, é claro, de Stairway to Heaven (Escadaria para o Paraíso).

A música que se tornou um hino do rock mundial foi composta pelo vocalista Robert Plant e o guitarrista Jimmy Page no início da década de 70, exatamente numa época em que Page foi dono de uma livraria especializada em espiritualidade e ocultismo, chamada The Equinox Booksellers and Publishers. Ora, mas e o que o misticismo tem a ver com o hino? Muita coisa, conforme o ocultista Marcelo Del Debbio explica em seu blog, e eu recomendo muitíssimo a leitura a todos os fãs desta música.

Mas o meu objetivo aqui não é lhes dar nenhuma aula de artes ocultas. Pelo contrário, meu intento é somente o de mostrar o resultado final de toda arte grandiosa, de toda magia elaborada com amor: a elevação da alma.

Voltando ao evento no Kennedy Center, há um momento muito especial, que é quando a banda americana Heart, também das antigas, e que sempre foi fã do Led Zepellin, traz um cover extraordinário de Stairway, cantado genuinamente com a alma. E, na plateia, vemos os autores do hino se emocionando, cada um a sua maneira, a cada trecho da música.

É então que também podemos nos emocionar, na medida em que compreendemos do que se trata tal magia, com o efeito que ela causa até hoje nas plateias. Mas, sobretudo, o que mais emociona é o olhar de Robert Plant, inundado de lágrimas, no trecho final da apresentação (em torno de 6:35 no vídeo abaixo)...

To be a rock and not to roll. Ora, eu posso traduzir este trecho, mas o que ele suscita vai muito além das palavras. Por um breve momento, Plant parece ter se conectado novamente com aquele antigo refúgio de onde veio toda a sua inspiração. Por um breve momento, ele se tornou como uma rocha, e deixou de rolar.

O que nos emociona é perceber esta rocha, e então ter de voltar ao mundo onde tudo rola e rodopia:

[Escadaria para o Paraíso]

Há uma senhora que está certa de que tudo o que brilha é ouro
E ela está comprando uma escadaria para o Paraíso
E quando chega lá ela sabe, se as lojas estão fechadas,
Com uma palavra ela consegue o que veio buscar

Oh, e ela está comprando uma escadaria para o Paraíso

Há um sinal na parede, mas ela quer ter certeza,
Pois você sabe, às vezes as palavras têm duplo sentido
Em uma árvore à beira do riacho há uma ave que canta
Às vezes todos os nossos pensamentos são inquietantes

Oh, e isso me faz pensar
Oh, e isso me faz pensar

Há algo que sinto quando olho para o oeste
E o meu espírito clama para partir
Em meus pensamentos tenho visto anéis de fumaça através das árvores
E as vozes daqueles que estão de pé nos observando

Oh, e isso me faz pensar
Oh, e isso me deixa maravilhado

E um sussurro nos avisa que cedo, se todos entoarmos a canção,
Então o flautista nos conduzirá à razão
E um novo dia irá nascer para aqueles que suportarem
E a floresta irá ecoar com gargalhadas

Oh, oh
Se há um alvoroço em sua horta
Não fique assustada
É apenas a purificação da primavera para a Rainha de Maio

Sim, há dois caminhos que você pode seguir
Mas na longa jornada
Há sempre tempo para se mudar de estrada

Oh, e isso realmente me deixa maravilhado

Sua cabeça lateja e isto não vai parar, caso você não saiba
O flautista lhe chama para que se junte a ele
Querida senhora, não pode ouvir o vento soprar? Você sabia
Que a sua escadaria repousa no vento sussurrante?

(...)

E enquanto seguimos soltos pela estrada
Nossas sombras se elevam mais alto que nossas almas
Lá caminha uma senhora que todos nós conhecemos
Que irradia uma luz branca, e quer nos mostrar

Como tudo ainda vira ouro
E se você ouvir com atenção
A canção finalmente chegará até você
Quando todos são um e um é todos, yeah!

Ser como uma rocha e não rolar

(...)

Oh, e ela está comprando uma escadaria para o Paraíso


tradução do inglês por Rafael Arrais

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» Que tal uma viagem no tempo? Stairway to Heaven, no original.

Crédito da imagem: Steven DaLuz

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2.8.15

Os conhecimentos da humanidade

Há pouco mais de dois meses o canal Conhecimentos da Humanidade publicou o seu primeiro vídeo no YouTube. Segundo Léo Lousada e Bruno Lanaro, apresentadores, roteiristas e editores dos episódios, o seu objetivo é:

"Aqui nós iremos te levar pra uma viagem através da história da humanidade, abordando os conhecimentos das tradições ocidentais e orientais. Falaremos sobre religião, misticismo e mitologia, assim como um pouco de história, ciência e curiosidades sobre os temas abordados."

Quando ambos disseram isso em seu primeiro episódio, com caixas de War, Dungeons & Dragons e Battletech na estante as suas costas, eu honestamente não coloquei tanta fé; mas já na sequência do primeiro episódio ficou claro que aquilo parecia muito mais do que um vídeo caseiro que dois amigos decidiram filmar e divulgar no YouTube.

A verdade é que fui um homem de pouca fé. Léo Lousada é um dos integrantes da Associação Educacional Sirius Gaia, um dos responsáveis pela organização dos Simpósios de Hermetismo em São Paulo (dos quais falarei mais em breve aqui no blog), e um amigo virtual que ainda não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. Já Bruno Lanaro, que eu não conhecia, me parece ser um grande estudioso de mitologia e espiritualidade, particularmente da parte oriental do globo.

Bem, e o que eles conseguiram nesses dois meses foi muito mais do que arranjar um cenário para esconder o seus gostos nerds (nada contra os gostos nerds!): os vídeos do seu canal não só são muito bem planejados, roteirizados e apresentados, como formam uma sequência que promete nos trazer um conhecimento genuíno das nossas tradições espiritualistas, e isso já é muito, muito mais do que 99% do que vemos por aí... E a melhor coisa é que eles parecem muito disciplinados, e nos trazem um novo episódio, de cerca de 10 a 15 minutos em média, religiosamente toda a quinta-feira. Por um trabalho gratuito e feito com carinho, está ótimo.

Até agora eles já falaram sobre locais sagrados e, na série sobre religiões, já passearam sobre o xamanismo, o hinduísmo e o zoroastrismo. É precisamente o primeiro episódio desta série que decidi lhes trazer abaixo. Mas em seu canal no YouTube vocês podem conferir muitos outros vídeos interessantes. Bom aprendizado a todos!

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Crédito da imagem: Conhecimentos da Humanidade (Léo Lousada e Bruno Lanaro)

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