Símbolos e portais
Ainda não sei bem porque resolvi renovar o layout do blog de uma hora para outra, mas fato é que ocorreu pelo menos um caso curioso durante o processo...
A única coisa que tinha em mente, desde o início, era esta imagem de fundo, que remete ao elemento água. Achei que este elemento seria interessante por remeter simbolicamente a certos conceitos que acredito casarem bem com o conteúdo do blog, como sentimento, subjetividade e fluidez. Até aqui, tudo certo, foi uma criação consciente.
A questão é que quando alterei a fonte da logo, “Textos para Reflexão”, achei que talvez ficasse legal ter uma caixa ao lado esquerdo, talvez um símbolo que pudesse ser utilizado como ícone, já que ocuparia um espaço menor. Então copiei o texto para dentro da caixa e iria escrever apenas um “T”, mas sem querer escrevi dois deles. Como existia um efeito aplicado às fontes da logo antiga, que as deixavam mais agrupadas, com a nova fonte ambos os “T”s se fundiram em uma espécie de portal. Tudo bem, o papo geek termina por aqui.
Ocorre que esta imagem de portal me remeteu imediatamente a uma imagem que já havia utilizado em uma série de artigos intitulada “Isto não é o nada”. Na terceira imagem do primeiro artigo da série, temos uma das fotos do genial Michael Kenna, de sua série “Silent world” (“Mundo silencioso”). Ora, até aqui eu sequer sabia o nome disso, apenas achei muito bonito – como, aliás, já achava antes – e resolvi colocar também no rodapé (está no rodapé das páginas no layout padrão).
Apenas após ter lançado o novo layout, e ter recebido alguns comentários acerca de sua simbologia, é que resolvi estudar o que diabos era aquela imagem de portal... Para minha surpresa, ela tem vários significados bem interessantes e profundos, alguns relacionados à imagem diretamente, outros indiretamente:
O torii
Um torii é um portão tradicional japonês, ligado à tradição xintoísta, e assinala a entrada ou proximidade de um santuário.
O torii é composto por dois pilares verticais, unidos no topo por uma trave horizontal (kasagi), geralmente mais larga que a distância entre os postes. Sob a kasagi há outra trave horizontal, (nuki) que une os dois pilares. Em torno desta estrutura básica, encontramos múltiplas variações, dependendo do estilo arquitetônico do Santuário e da sua divindade principal (saijin).
Os templos podem ter um ou mais torii, indicando a crescente proximidade do local sagrado. Quando são vários, há, geralmente, um maior que é chamado ichi no torii (“o primeiro torii”). Além disso, os torii também podem estar integrados na tamagaki ou vedação que circunda o santuário.
Os mais utilizados são a madeira e a pedra, mas não há restrições estabelecidas e, na atualidade, têm sido construídos torii com outros materiais.
Não há consenso acerca da origem dos torii. No entanto, simbolizam claramente a separação, mas também a proximidade, entre o mundo dos homens e o mundo dos kami (espíritos da natureza, protetores ancestrais, deuses, ou simplesmente Deus).
Ou seja, sem querer, acabei escolhendo um símbolo que talvez descreva melhor o blog do que eu jamais fui capaz de descrever... Bem, esta era a relação mais direta da imagem, mas encontrei outras...
O tau
O formato meio arredondado da fonte utilizada na logo fez com que o “T” ficasse parecido com o tau (τ ), que é a décima nona letra do alfabeto grego.
Até aqui nada demais, mas achei interessante que o tau fosse usado, em física e engenharia, para representar a constante de tempo. Não pelo que ela significa exatamente, mas pelo próprio conceito evocado pelas palavras – “constante de tempo”. Ainda tenho de pensar mais sobre isso.
O tau também era um símbolo adorado por São Francisco de Assis. É muito utilizado, até hoje, por franciscanos. São colares onde um tau de madeira pende sobre o peito. Quando era adolescente eu usei um desses por mais de um ano, não lembro bem porque – acho que porque achava legal, apenas.
O pi
Amigos também me lembraram que o símbolo parece o pi (π), outra letra grega, que na matemática representa a proporção numérica originada da relação entre as grandezas do perímetro de uma circunferência e seu diâmetro. Além de estar associado a forma do círculo, que é um símbolo da perfeição e da totalidade, a própria fórmula de cálculo do pi não possui uma valor final, o que remete a idéia de fractais geométricos e do próprio infinito...
Stonehenge
Finalmente, o símbolo me remeteu ao formato de algumas das pedras de Stonehenge (do inglês arcaico "stan" = pedra, e "hencg" = eixo)... Trata-se de um monumento megalítico da Idade do Bronze, localizado na planície de Salisbury, próximo a Amesbury, no condado de Wiltshire, no Sul da Inglaterra.
Constituí-se no mais visitado e conhecido círculo de pedras britânico, e até hoje é incerta a origem da sua construção, bem como da sua função, mas acredita-se que era usado para estudos astronômicos, mágicos ou religiosos.
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Claro que não desconsidero a possibilidade de, como ser humano que sou, estar buscando por significados onde talvez não existam... Por outro lado, todo espiritualista sabe muito bem como sua intuição as vezes o guia de forma oculta e incerta, mas que muitas vezes também acaba por o surpreender com belos resultados – como uma poesia, uma oração, ou uma nova equação para a natureza.
O que posso dizer é, portanto, somente isso: que sejam bem vindos ao meu portal.
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Crédito da imagem: Michael Kenna (Torii, Takaishima, Honshu, Japão, 2002).
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