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27.7.09

Reflexões sobre a reencarnação, parte 2

continuando da parte 1...

A Lei de Causa e Efeito, em filosofia, parte da definição de que "nenhum efeito é quantitativamente maior e/ou qualitativamente superior à causa". Segundo as doutrinas espiritualistas, é um conceito que determina que todo ato moral ocasiona uma resposta da natureza, que mais cedo ou mais tarde "retornará" a quem o efetuou - ou, em outras palavras, "cada um colhe o que plantou".

Pela dor ou pelo amor

Eu dizia que a reencarnação não opera a esmo, e de fato a compreensão da Lei de Causa e Efeito é a essência da compreensão da reencarnação. Primeiramente, é preciso diferenciar a Lei de Causa e Efeito do conceito de Karma: enquanto que normalmente o conceito de Karma sugere uma dívida a ser resgatada, a Lei de Causa e Efeito nos apresenta a idéia de que o futuro depende das ações e decisões do presente. Uma causa positiva gera uma efeito positivo, enquanto que uma causa negativa gera um efeito igualmente negativo. Ou seja, a compreensão do Karma vem muitas vezes associada a conceitos como "punição divina" ou "destino", como se só houvesse uma forma de purificar nosso espírito: pelo sofrimento e pela quitação de dívidas morais pregressas. Já a Lei de Causa e Efeito é mais abrangente e, principalmente, mais fluida: somos nós, e somente nós, os construtores de nosso próprio destino. Nada está escrito em pedra, nenhum evento infortuno é absolutamente inevitável, pois pela mesma via com que contraimos débitos para com a harmonia de nossa própria consciência, poderemos saldar com créditos. Evolui-se pela dor, isso é certo; Mas também evolui-se pelo amor, e isso depende de nossa vontade.

Acredito que seja mais simples ilustrar tal conceito com uma alegoria. Não cabe a nós julgar o porque do sofrimento alheio, disso só mesmo sabe o próprio ser que sofre, e o Deus onisciente, mas como se trata de uma alegoria, queiram desculpar-me.

Imaginemos um padre inquisidor na época medieval que, por sua crença cega, tenha enviado inúmeras pessoas inocentes para a morte na fogueira, por acusações de "bruxaria"... Certamente este espírito que acreditava ser "extremamente religioso" há de ter tido uma inesquecível desilusão quando compreendeu o resultado de seus atos com a consciência plena, seja ainda antes de desencarnar, seja após a morte. Ignoremos o tempo que tal espírito tenha passado em confusão mental ante a própria nebulosidade de sua consciência; Passemos os séculos adiante e imaginemos que tal espírito, após muito vagar a esmo pela escuridão de sua alma, tenha refletido e compreendido a extensão macabra de seus atos pregressos, e neste momento esteja por decidir (certamente com o auxílio de espíritos superiores em moral) quais eventos deseja vivenciar em sua próxima encarnação, com o objetivo de se depurar, de purificar as chagas de sua alma o mais breve possível...

Eis que os espíritos superiores lhe oferecem duas opções (lembremos que isto é tão somente uma alegoria): morrer em um incêndio, da mesma forma que matou tantos inocentes nos séculos passados, ou ser um médico da Cruz Vermelha, passando a vida a atender queimados em guerras e nas regiões mais inóspitas e pobres do planeta, sem no entanto padecer de uma queimadura sequer durante toda uma vida... O que você escolheria? Morrer queimado, porém sem muito esforço ou responsabilidade pela própria melhora, ou passar toda uma vida praticando caridade, convivendo com o sofrimento alheio e auxiliando da melhor forma possível?

Obviamente que qualquer homem são escolheria a segunda opção. O problema, no entanto, é que não basta escolher simplesmente, é preciso arregaçar as mangas e efetivamente praticar a caridade. Oh, e quantos, quantos de nós temos falhados miseravelmente em cumprir aquilo que prometemos aos seres de luz. Em tão somente amar e tomar as rédeas de nossa vida, enquanto tantos outros se limitam a passar pela vida como um barco de papel a flutuar pelo mar. Mas eis que, quando somos postos à prova, preferimos a acomodação, o fascínio de nosso próprio ego, as promessas vãs da matéria que nada mais é do que fumaça condensada, a transformar-se eternamente.

Os estóicos diziam que devíamos nos preocupar somente com aquilo que podemos modificar. Não podemos mudar as leis naturais nem o ânimo dos homens cegos, mas podemos compreender as leis naturais e agir à seu favor - e podemos servir de auxílio para todos aqueles que seguem ainda cegos pelas estradas milenares. Mas os estóicos sabiam: nosso problema é com nós mesmos, é com nossa própria consciência. Nós somos nosso próprio mal, e não poderia ser de outra forma...

Certamente a linguagem poética e alegórica não irá agradar aqueles que desejam, meticulosamente, avaliar a Lei de Causa e Efeito como quem calcula a velocidade de um objeto arremessado pelo ar. Mas não é pela razão pura que a compreenderemos: necessitamos do auxílio da intuição... Será que podemos perceber, em nossa consciência, quando tomamos atitudes que vão contra a harmonia da natureza? Pratiquem! Será que podemos aprender, tal qual a criança no jardim de infância, a fazer caridade, talvez simplesmente por dar o primeiro passo, e visitar algum asilo ou pediatria? Pratiquem! Será que podemos olhar para trás e, analisando as escolhas de nossa própria vida, refletir sobre aquelas que nos trouxeram as recompensas realmente profundas, a sabedoria verdadeira? Pratiquem!

Já foi dito que não há lei além de faz o que tu queres, e que sob a vontade, o amor é a lei... Nada poderia resumir melhor, talvez, a Lei de Causa e Efeito. Não se trata de ajustar as contas com um deus-que-pune-pecados, nem tampouco sofrer egoisticamente circundando a própria culpa, mas sim ter a coragem, o ânimo e a vontade para se colocar novamente de pé e encarar, frente a frente, as próprias faltas. E tomar o remédio amargo para a melhora. Amargo, sim, mas que não deixa de ser remédio. Escolher, na medida em que conquista cada vez mais sabedoria, o caminho do amor e da caridade, e não o da dor e da tragédia. Mas sobretudo compreender que, por bem ou por mal, pela dor ou pelo amor, caminha-se sempre a frente!

À seguir, irei discorrer sobre algumas peculiaridades da crença na reencarnação, como por exemplo "não acreditar em idade"... Será que somos realmente reencarnacionistas?

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Crédito da foto: jackosak

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23.7.09

Reflexões do Imperador

Texto de Marco Aurélio (imperador romano) em "Meditações" (Editora Martins Claret, tradução de Alex Marins).

O tempo da vida humana: um ponto. Sua substância: um fluxo. Suas sensações: trevas. Todo o seu corpo: corrupção. Sua alma: um remoinho. Sua sorte: um enigma. Seu renome: uma cega opinião. Resumindo, tudo, em sua matéria: precariedade. Em seu espírito: sonho e fumaça. Sua existência: uma guerra, a etapa de uma viagem. Sua glória póstuma: esquecimento. Que nos pode então servir de guia? A filosofia, apenas isso.

A filosofia consiste em fazer com que o gênio interior de cada um seja invulnerável aos ultrajes, impassível, superior aos prazeres e às dores. Que não se mova ao acaso, por falsidade ou maldade. Que não cogite do que fazem ou deixam de fazer os outros. Que aceite as vicissitudes e o destino como provenientes da mesma origem. Acima de tudo, que aguarde a morte com serenidade, nela não vendo mais do que a dissolução dos elementos constitutivos de todos os seres. Pois, se para os elementos nada há de horrível em se transformarem incessantemente uns nos outros, por que temer a transformação universal e a universal dissolução? Como nada é mal segundo a natureza, acredite que a natureza assim exige.

[livro II - XVII]

***

A época antiga nos relegou centenas de reis e imperadores que, por mais que tenham conquistado diversas regiões do mundo, hoje são praticamente esquecidos. Aqui está um imperador que conquistou (ou pretendeu e se dedicou a conquistar) sua própria alma; Hoje, poucos se importam com quantas regiões Marco Aurélio conquistou, seu legado é algo muito superior as regiões e riquezas que se perderam no tempo.

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Crédito da foto: Cebete

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10.7.09

Ritmo reduzido

Olá pessoal, sei que ultimamente o blog tem sido mais visitado, e que alguns se acostumaram com o ritmo de postagem quase diário. Por isso venho aqui avisar que irei postar em um ritmo mais lento por talvez uns 2-3 meses, devido a quantidade de trabalho que estarei absorvendo nesse período (um grande projeto web). Abraços--raph

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S.A.G.

Tu que és eu mesmo, além de tudo meu;
Sem natureza, inominado, ateu;
Que quando o mais se esfuma, ficas no crisol;
Tu que és o segredo e o coração do Sol;
Tu que és a escondida fonte do universo;
Tu solitário, real fogo no bastão imerso;
Sempre abrasando; tu que és a só semente;
De liberdade, vida, amor e luz eternamente;
Tu, além da visão e da palavra;
Tu eu invoco; e assim meu fogo lavra!
Tu eu invoco, minha vida, meu farol,
Tu que és o segredo e o coração do Sol
E aquele arcano dos arcanos santo
Do qual eu sou veículo e sou manto
Demonstra teu terrível, doce brilho:
Aparece, como é lei, neste teu filho!

Aleister Crowley

Igne Natura Renovatur Integra (INRI) - Pelo Fogo a Natureza se Renova Inteiramente

Faz o que tu queres, há de ser o todo da lei.
O amor é a lei, amor sob a vontade.

***

Crédito da foto: Rodrigo Martin

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9.7.09

Reflexões sobre a reencarnação, parte 1

Esta série de artigos sobre reencarnação não irá se preocupar em demonstrar evidências de que a reencarnação é uma lei da natureza. Ao invés disso, irei falar sobre aspectos da reencarnação, e da crença na reencarnação, que geralmente não são muito abordados, embora mereçam - na minha opinião - uma reflexão mais cuidadosa. Se você procura por evidências da reencarnação, irá encontrar outros posts neste blog que tratam do assunto. Vale dizer, é claro, que esta série de artigos tampouco se propõe a convencer ninguém acerca da realidade ou irrealidade da reencarnação.

Potencialidade e personalidade

O reencarnacionismo é uma crença que data dos primórdios das civilizações egípcia e orientais, estando entre nós a bastante tempo. Não é muito complicado compreender o princípio básico da reencarnação: somos espíritos que habitam corpos durante o período em que estão aptos a receber um espírito; Quando as leis naturais fazem com que o corpo humano não consiga mais sustentar a vida orgânica, o espírito então se desliga, pois de nada lhe adiantaria continuar habitando um cadáver. Por analogia, é simples compreender se pensarmos em um distinto senhor que troca de roupas toda a vez que elas estão gastas e puídas - não lhe convém comparecer ao trabalho, ou a alguma festa, com uma roupa inapropriada. Da mesma forma, espíritos trocam de corpos como este senhor troca de roupas. Porém, lembremos que isso é apenas uma analogia. Importante é, entretanto, lembrar que não há nada de sombrio na morte do corpo: é exatamente ela que permite a vida. Sem morte física não existiria vida física, pois no universo tudo está em constante mudança, e o sistema da natureza é todo encadeado em sutis e elegantes leis de causa e efeito. O que não tinha vida, no entanto, continuará não tendo: o espírito sopra onde é chamado, e habita os corpos e orbes que o seu nível de evolução, a sua potencialidade espiritual, lhes permite.

Há muitos espiritualistas que creem que o espírito é imaterial, mas isso não parece ser a verdade, ou pelo menos não é o que os espíritos dizem. Através da codificação do célebre Livro dos Espíritos, na pergunta #82 formulada por Kardec, temos a resposta de que os espíritos são incorpóreos (não possuem um corpo fisico), mas não imateriais, pois que tudo é formado por matéria; Muito embora a matéria que forme o espírito seja fluida, e ainda não detectada pela ciência (talvez porque não interaja com a luz, à semelhança de aproximadamente 96% da matéria do universo, segundo postula a teoria da Matéria Escura).

Também há muitos desinformados que atribuem a reencarnação crenças anedóticas como, por exemplo, a possibilidade de reencarnarmos em um porco, ou uma vaca, ou um inseto, etc. É verdade que a metempsicose postula sobre essa possibilidade, mas não a rencarnação. A reencarnação está associada a evolução, e também a simetria das leis da natureza, que são as mesmas por todo o Cosmos. Nesse sentido, a teoria de Darwin-Wallace é de vital importância para o reencarnacionismo. Assim como faz todo sentido dizer que ramos científicos como a biologia perderiam todo o sentido sem a teoria da evolução das espécies, o mesmo pode ser dito em relação ao reencarnacionismo. De fato, não é à toa que um dos criadores desta teoria era reencarnacionista e espiritualista. Ora, isso porque os espíritos não reencarnam somente entre o homo sapiens, mas vem necessariamente reencarnando desde a formação da vida na Terra, por milhões e milhões de anos e encarnando em milhares de espécies. Ocorre que, apenas no estágio em que os espíritos adquirem a capacidade de se reconhecerem como indivíduos, é que estarão aptos a habitar corpos de espécies onde o cérebro lhes permitirá ter um processo de consciência mais elaborado. Porém, segundo o espiritualismo, não é o cérebro quem gera a consciência, mas o espírito quem comanda o cérebro, e o corpo, através do processo de consciência.

A reencarnação não trata, portanto, apenas do homem, e apenas da Terra, mas sim de todos os seres vivos da natureza, na Terra e em outros planetas onde haja vida. Ou seja: o que tem vida, o que vivifica os corpos orgânicos, terá sempre vida. E o que não tinha vida, o que era só o corpo, continuará em seu ciclo natural. Como dizia Lavoisier, "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" - Ora, a vida é o que evolui, o que se transforma de forma não-entrópica, o que organiza a matéria. Aquilo que não tinha vida é o que continua a ser jogado para cá e para lá pelo turbilhão da natureza em seu movimento eterno, como a poeira estelar que possibilitou o surgimento da vida orgânica em nosso planeta.

Há que saber diferenciar, no entanto, potencialidade de personalidade.

Personalidade é tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos, ou seja, o conjunto de características psicológicas que determinam a sua individualidade pessoal e social. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e único para cada indivíduo. O termo deriva do grego persona, com significado de máscara, que designava a "personagem" representada pelos atores teatrais no palco. Todos somos chamados a construir nossas personalidades, a vida em sociedade pede isso. A questão está em saber diferenciar nossa essência espiritual da máscara construída por nossa mente - a máscara para a alma. Não é culpa da mente que tenhamos que usar essas máscaras, isso também é algo que faz parte da evolução natural dos seres. Ora, todo ser que se reconhece como indivíduo passa a ter a necessidade de construir este indivíduo, de saber como diferencia-lo, como representa-lo e apresenta-lo para os outros. Ocorre que muitos de nós não estão à altura do desafio, não conseguem suportar a angústia de encarar a si próprios, de elaborar da melhor forma possível os seus próprios medos, incertezas, sua moral, etc. Então torna-se mais simples apenas seguir um padrão social, e ao invés de elaborar nossa personalidade por nós mesmos, copiar aquelas que são mais aceitas no mercado da sociedade.

O problema é que nossa essência é única, diz algo somente a nós próprios, necessita de aprendizagem que outros não necessitam, e é capaz de fazer o que outros não fazem. Copiando a máscara alheia, é capaz de termos sérios problemas. O nariz pode apertar e não permitir que respiremos direito, o material pode incomodar a pele e fazer coçar até ferir, o elástico pode arrebentar e nos deixar expostos sem uma máscara para nos proteger... Ora, máscaras são necessárias, mas somente até que compreendamos que tudo o que somos realmente é nossa essência espiritual - aí então não precisaremos mais delas, e saberemos viver a vida em paz, enxergando em todos que cruzam a nossa frente a fagulha divina de espíritos antigos, arqueados em exaustão de tanto rodar pelas trilhas das encarnações terrenas.

As personalidades são como máscaras que usamos de encarnação em encarnação, são mais caras para nós do que nosso corpo, porém tão dispensáveis e passageiras quanto ele. Eis que trocamos de máscaras como trocamos de roupa. Já a potencialidade é diferente: ela está sempre caminhando à frente, é ela o sentido de termos de viver por tanto tempo, através de tantas vidas e tantas histórias que nos parecem ainda absolutamente disconexas. Amala e Kamala foram duas crianças selvagens achadas a oeste de Calcutá, na India, em 1920. Elas foram aparentemente abandonadas na floresta ainda bebês e foram criadas por lobos. Enquanto estiveram entre os homens, não se comportaram de forma muito diversa dos lobos - andavam com as mãos no chão, comiam carne crua, não sabiam pronunciar as palavras mais simples, etc. O cético irá pular de alegria e ver aí, sem muita reflexão, a prova de que o espírito sequer existe... Mas, analisando de forma mais profunda, alguns talvez compreendam que se tratam de potencialidades não despertas.

Ora, um homo sapiens criado por lobos talvez nunca seja muito mais do que um lobo, mas será, cognitivamente, pelo menos um ser do mesmo nível de um lobo. Já o inverso seria impossível: um lobo jamais chegaria ao nível de cognição dos homo sapiens, mesmo que seja educado e treinado pelos melhores adestradores de animais... Isto porque a potencialidade do espírito do lobo não se compara a potencialidade do espírito de um homem. Potencialidade cognitiva, ética, de nível de consciência e raciocínio, etc. Não sejamos ingênuos, mesmo Mozart nunca teria sido gênio se não houvesse sido apresentado a um piano ainda quando criança, imaginem então se houvesse sido também criado por lobos. As leis da natureza valem para todos, se o cérebro em nossa infância não é estimulado da maneira correta, há muito pouco que possamos fazer depois. O espírito necessita despertar suas potencialidades através da interação simbólica, intuitiva, interpretativa e amorosa com o mundo que o cerca. Se isso não ocorre, o cérebro físico não se desenvolve, a personalidade defeituosa não possibilita que a individualidade se manifeste, e a potencialidade da alma permanece adormecida, esperando uma nova oportunidade.

Não existem atalhos neste caminho: todos temos, invariávelmente, que trilha-lo, passo a passo, vida a vida; Sempre em busca do maior desenvolvimento dessas potencialidades da alma, que se manifestam através do corpo mas não fazem parte do corpo, e que não estão em DNA algum. Entretanto, Deus não nos criou princípios inteligentes e nos largou a esmo no Cosmos, ora encarnando na secura das tribos nômades do Quênia, ora no aconchego de uma distinta família burguesa da Suécia, ora perfeitamente saudáveis, ora com doenças que limitam nossas vidas a poucos dias de vida... Não, a reencarnação não é algo que se opera de forma aleatória, ela obedece a leis bastante específicas. Sem seu correto entendimento, é talvez impossível compreender a profundidade e a lógica da justiça do reencarnacionismo.

Por isso, à seguir vamos refletir sobre a Lei de Causa e Efeito.

***

Crédito da imagem: The Bhaktivedanta Book Trust International

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8.7.09

Nosso planeta, nossa casa

Você acabou de ver o trailer do filme Home, um dos filmes sobre ecologia mais extraordinários dos últimos tempos. Mesmo que você já esteja cansado de ouvir falar nisso, assista, vale a pena, nem que seja apenas para admirar as tomadas aéreas (belíssimas):

» Home (em inglês), com legendas em inglês

» Home - Nosso planeta, nossa casa, legendado em português (parte 1, as outras estão no YouTube)

Atualização: Já é possível comprar o DVD em lojas online (se estiver em falta, também é simples achar para download na web...)

***

Se ainda está na dúvida, leia este texto, extraído do filme, e reflita:

"O motor da vida é o sistema de ligação. Tudo está ligado. Nada é auto-suficiente. Água e ar são inseparáveis, unidos na vida e para a nossa vida na Terra. Partilhar é tudo.

É preciso cem litros de água para produzir um quilo de batatas, quatro mil para cultivar um quilo de arroz, e treze mil para criar um quilo de carne.

A Nigéria é o maior exportador de petróleo de África. Contudo, 70% da sua população vive abaixo do nível da pobreza. A riqueza está lá, mas os habitantes do país não têm acesso a ela. O mesmo acontece no resto do planeta. Metade da população pobre do mundo vive em países ricos em recursos. Só que metade da riqueza mundial está nas mãos dos 2% mais ricos da população.

Dubai tem poucos recursos naturais, mas, com o dinheiro proveniente do petróleo, pode importar milhões de toneladas de material e trabalhadores de todo o mundo.
Dubai não tem terra arável, mas pode importar comida.
Dubai não tem água, mas pode desperdiçar uma quantidade imensa de energia para dessalinizar a água salgada e construir os maiores arranha-céus do mundo.
Dubai tem quantidades intermináveis de luz solar, mas não tem painéis solares.
É a cidade dos excessos, que não pára de impressionar o mundo.
Nada parece mais distante da natureza do que Dubai, apesar de nada depender mais da natureza do que Dubai.
Dubai é a culminância do modelo ocidental."

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Preto Velho

Sou preto. Negro como a noite sem estrelas.

Sou velho. Velho como as vidas de meus irmãos.

Mas se sou ainda negro, é porque trago em mim as marcas do tempo, as marcas do Cristo. Essas marcas são as estrelas de minha alma, de minha vida.

Sou negro. Mas a brancura do linho se estampa na simplicidade do meu olhar, que tenta ver apenas o lado bonito da vida.

Sou velho, sim. Mas é na experiência da vida que se adquire a verdadeira sabedoria, aquela que vem do Alto. Sou velho. Velho no falar; velho na mensagem, velho nas tentativas de acertar.

A minha força, eu a construí na vida, na dor, no sofrimento. Não no sofrimento como alguns entendem, mas naquele decorrente das lutas, das dificuldades do caminho, da força empreendida na subida.

A força da vida se estrutura nas vivências. É à medida que construímos nossa experiência que essa força se apodera de nós, nos envolve e nós então nos saturamos dela. É a força e a coragem de ser você mesmo, do não se acovardar diante das lutas, de continuar tentando.

Sou forte.

Mas quando me deixo encher de pretensões, então eu descubro que sou fraco. Quando aprendo a sair de mim mesmo e ir em direção ao próximo, aí eu sei que me fortaleço.

Sou andarilho.

Eu sou preto, sou velho, sou humano. Sou como você, sou espírito. Sou errante, aprendiz de mim mesmo.

Na estrada da vida, aprendi que até hoje, e possivelmente para sempre, serei apenas o aprendiz da vida.

Pelas estradas da vida eu corro, eu ando.

Tudo isso para aprender que, como você, eu sou um cidadão do universo, viajor do mundo. Sou um semeador da paz.

Sou preto, sou velho, sou espírito.

Pai João de Aruanda (psicografia de Robson Pinheiro em seu livro Sabedoria de Preto Velho - ed. Casa dos Espíritos)

***

Para quem é espírito, ser preto ou branco, velho ou jovem, é tudo uma questão secundária...


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7.7.09

Você vai estar lá?

Me abrace
Como o Rio Jordão
E então eu lhe direi
Você é meu amigo

Me carregue
Como se fosse meu irmão
Me ame como uma mãe
Você vai estar lá?

Quando exausto
Me diga que vai me segurar
Quando errado, você vai me dirigir
Quando perdido você vai me achar?

Mas eles me dizem
Um homem deve ter fé
E seguir mesmo quando não pode
E lutar até o fim
Mas eu sou apenas humano!

Todo mundo está tomando controle de mim
Parece que os mundos
Tem um papel para mim
Estou tão confuso
Você irá me mostrar
Você estará lá para mim
E se importar o suficiente para me suportar?

(me guie)
(encoste sua cabeça devagar)
(suave e corajosamente)
(me leve até lá)

(me segure)
(me ame e me alimente)
(me beije e me liberte)
(eu me sentirei abençoado)

(cerregue)
(carregue-me com coragem)
(me levante devagar)
(me leve até lá)

(me salve)
(me cure e me banhe)
(delicadamente me diga)
(eu vou estar lá)

(me levante)
(me levante devagar)
(carregue-me com coragem)
(me mostre que você se importa)

(necessite de mim)
(me ame e me alimente)
(me beije e me liberte)
(eu me sentirei abençoado)

Em nossa hora mais sombria
No meu desespero mais profundo
Você ainda vai se importar?
Você vai estar lá?
Em minhas provações e tribulações
Por minhas dúvidas e frustrações
Em minha violência
Em minha turbulência
Pelo meu medo e minhas confissões
Em minha angústia e minha dor
Por minha alegria e tristeza
Na promessa de um outro amanhã
Eu nunca deixarei você partir
Pois você estará sempre em meu coração

Michael Jackson (Will You Be There), tradução de Rafael Arrais

***

Não se trata de uma "verdade conveniente", e sim de uma verdade: que o mundo se lembrou de quem era Michael Jackson, embora tarde demais...

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6.7.09

Três dias para ver

Por Helen Keller [1]

Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som. De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. “Nada de especial”, foi à resposta.

Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tato encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.

Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias.

Eu dividiria esse período em três partes. No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas “janelas da alma”, os olhos. Só consigo “ver” as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.

Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita? Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.

Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias! O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles. Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.

À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa noite não conseguiria dormir. No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.

Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos, veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal. Minha parada seguinte seria o Museu de Artes. Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a cegueira.

Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tato. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.

À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa esfera restricta ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso. Imagino que o movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a emoção de ver a graça em movimento.

Na manhã seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino. Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.

Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.

Da 5ª Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.

Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas acho que na noite desse último dia vou voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia no espírito humano. À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.

Talvez este resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes a perder a visão. Nas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual. Então, finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para você.

Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tacto. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza. Mas, de todos os sentidos, estou certa de que a visão deve ser o mais delicioso.

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[1] Helen Keller (1880-1968) foi uma extraordinária mulher, triplamente deficiente, que ficou cega e surda, desde tenra idade, devido a uma doença diagnosticada na época como febre cerebral (hoje acredita-se que tenha sido escarlatina). Tornou-se uma célebre escritora, filósofa e conferencista, uma personagem famosa pelo extenso trabalho que desenvolveu em favor das pessoas portadoras de deficiência. Este ensaio acima foi publicado no Reader's Digest a mais de 70 anos, o texto foi extraído do site Lerparaver.
Há que se diminuir o ego ante tal extrato de sabedoria vindo de uma mulher que conheceu o mundo apenas através do tato, do olfato e do paladar.

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O trilhar

O I Ching, oráculo chines, possui um hexagrama muito interessante, é o 10, "O trilhar".

Composto por 2 trigramas, tem na sua parte inferior o trigrama referente ao Lago e no superior o Céu.

Significa o caminho da mente; e a figura simbolizada na naureza é o reflexo do Céu no Lago.

O Lago é nossa mente, O Céu a espiritualidade, quanto mais o Lago estiver calmo, mais nitidamente ele vai refletir o Céu; quanto mais agitar a água do Lago, mais distorcida será a imagem nele refletida, até um ponto onde nada mais se refletirá nele, só a agitação de suas próprias águas.

Mentalizar a simbologia deste hexagrama pode ser um excelente exercício mental para práticas de meditação.

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Fonte: Aaron da comunidade Consciência com Ciência, do Orkut.

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3.7.09

Há vagas no céu

O sociólogo Domenico de Masi defende uma abordagem mais lúdica e prazeirosa do trabalho. Segundo ele, não é próprio da espécie humana gostar de trabalhar, e os tempos modernos nos trazem a possibilidade de que todos trabalhem meio expediente, ganhando menos mas nos dedicando mais ao tempo ocioso de forma criativa, e principalmente abrindo mais vagas para quem está desempregado. Domenico apontou um ponto de convergência em todas as religiões: em nenhuma delas se trabalha no Paraíso. "Tenha o Paraíso sido criado por Deus, tenha sido inventado pelos homens, se o trabalho fosse um valor positivo, no Paraíso se trabalharia", afirma.

Especulam os analistas que em uma década terá havido uma verdadeira revolução na forma como encaramos o trabalho, como informa este trecho da interessante reportagem da revista Galileu de Julho de 2009:

"Para começar, esqueça essa história de emprego. Em dez anos, emprego será uma palavra caminhando para o desuso. O mundo estará mais veloz, interligado e com organizações diferentes das nossas. Novas tecnologias vão ampliar ainda mais a possibilidade de trabalhar ao redor do globo, em qualquer horário. Hierarquias flexíveis irão surgir para acompanhar o poder descentralizado das redes de produção. Será a era do trabalho freelance, colaborativo e, de certa forma, inseguro. Também será o tempo de mais conforto, cuidado com a natureza e criatividade.

A globalização e os avanços tecnológicos (alguns deles já estão disponíveis hoje) vão tornar tudo isso possível. E uma nova geração que vai chegar ao comando das empresas, com uma presença feminina cada vez maior, vai colocar em xeque antigos dogmas. Para que as empresas vão pedir nossa presença física durante oito horas por dia se podem nos contatar por videoconferência a qualquer instante? Para que trabalhar com clientes ou fornecedores apenas do seu país se você pode negociar sem dificuldades com o mundo inteiro? Imagine as possibilidades e verá que o mercado de trabalho vai ser bem diferente em 2020. O emprego vai acabar. Vamos ter que nos adaptar. Mas o que vai surgir no lugar dele é mais racional, moderno e, se tudo der certo, mais prazeroso."

Por ocasião dos eventos de minha vida, tenho trabalhado de casa (ou home office, como queiram chamar) aproximadamente desde 2005. Moro em Mato Grosso do Sul e trabalho para uma empresa do Rio de Janeiro - no entanto, o fato de trabalhar com web talvez explique o fato de eu ter, sem querer, "chegado mais cedo ao futuro". De qualquer forma, fato é que existem vantagens e desvantagens de se trabalhar de casa. Entre as desvantagens temos, principalmente, a falta de contato humano, a sensação de se estar "o dia todo enfurnado em casa", e uma maior cobrança e desconfiança de quem lhe pede o trabalho - afinal eles não estão do seu lado para ver o que está fazendo. Entre as vantagens temos, principalmente, um ambiente com menos stress para se trabalhar, o fato de não precisarmos nos deslocar fisicamente pela cidade e evitar o trânsito, e a possibilidade de desenvolver a disciplina e a qualidade do trabalho - o que reduz a desconfinaça de quem lhe contrata quanto a este método ainda heterodoxo no país. Em relação a esta breve descrição, tenho duas dicas importantes: a primeira é que uma ida a cafeteria após o almoço é psicologicamente essencial, pois evita a sensação de estarmos o dia todo em casa, e faz com que vejamos o sol, vejamos pessoas, etc; a segunda é que a disciplina é vital: sem ela, ou sem a intenção genuína de desenvolve-la, é praticamente impossível manter um emprego à distância (a não ser que o seu empregador seja realmente disperso).

Mas retornemos ao Paraíso de Domenico: será que, como ele afirma, todas as religiões compreendem que não há trabalho no céu? Não é preciso ser muito estudioso de teologia para encontrar diversos autores, e mesmo doutrinas religiosas, que defendem que há sim trabalho no céu, inclusive porque este "céu" seria, antes de mais nada, uma condição conquistada por nossa própria consciência e paz de espírito. Ora, diz-se que Deus trabalhou por alguns dias para construir todo o Cosmos, e depois descansou - mas será que ele está até agora "sentado no trono", esperando-nos para ficar lá, parados, admirando-o em êxtase por toda a eternidade? É esta a "mais profunda idéia de perfeição" que conseguimos extrair do entendimento de Deus?

Eu posso falar por mim: se entendemos toda a natureza como um sistema construído e mantido por Deus, isso significa que ele não só trabalhou naqueles dias iniciais, como decerto nunca "descansou", nunca deixou de trabalhar - afinal, as simetrias espaciais e temporais do Cosmos estão aí para nos provar isso. Se sábios disseram que "o trabalho dignifica o homem" e que "devemos ser julgados por nossas obras", porque esperar que justamente o Paraíso, justamente o Reino de Deus, seja um jardim onde ninguém precisa aparar a grama? Será que não existe jardineiro no céu?

Acredito eu que há duas idéias para o trabalho. Para uns, o trabalho é tudo o que fazemos para garantir o sustento e a manutenção meterial, uma espécie de mal necessário, talvez mesmo uma "escravidão consentida", para que possamos desfrutar de nosso tempo livre. E, como "tempo é dinheiro", marchamos apressadamente, como formigas desnorteadas em um grande formigueiro humano; Trabalhamos apressadamente, comemos apressadamente, interagimos com as pessoas (e conosco mesmo) apressadamente. Tudo para que, lá no final, percebamos que vivemos também apressadamente: todo nosso "tempo livre" escorreu pelas mãos, e ao invés de termos realizado obras das quais nos orgulhar, tudo o que conquistamos foi, quando muito, números em uma conta bancária.

Já para outros, e talvez sejam hoje a grande minoria, o trabalho é uma obra viva. É a essência do que são, o grande objetivo de estarem por aqui. Não trabalham para acumular migalhas eletrônicas em uma tela de home banking, mas para realizar algo, e de preferência contribuir para que a comunidade, a cidade, o país, enfim - para que toda a humanidade realize algo de bom. Estes não vêem a sua frente chefes carrascos ou gerentes mesquinhos, mas apenas seres, com maior ou menor ignorância, que tocam a vida da melhor forma possível. Não trabalham para eles, não seguem ordens: trabalham para si mesmos, e para o mundo. Da mesma forma, não vêem os que lhe estão abaixo na escala salarial como seres inferiores, mas apenas como seres iguais a ele, realmente iguais, e extremamente importantes no contexto do sistema global. Se não existissem lixeiros, nossa vida seria um lixo. Se não existissem condutores, não sairíamos do lugar. Se não existissem pequenos comerciantes, não teríamos onde comprar. Ou seja: não é uma lógica tão difícil de ser compreendida.

Foi preciso a grande ameaça do aquecimento global para que finalmente o mundo empresarial se conscientiza-se de que a ecologia deve fazer parte do objetivo a médio e longo prazo de toda empresa. É um tanto desalentador que a humanidade ainda precise de pressões do sistema-natureza para que volte a caminhar na passada correta. Mas, se somos realmente um bando de preguiçosos aniosos por achar um céu onde encostar, pelo menos a natureza nos demonstra que ainda pode, talvez por mais algumas décadas, nos esperar para essa caminhada conjunta. Deste trabalho conjunto entre homo sapiens e natureza, há muito mais a se comemorar do que temer. Afinal, se o homem não destruir a si próprio, é bem possível que saia dessa crise compreendendo enfim que em todo o Cosmos, em todas as suas infinitas moradas, tudo o que há é trabalho!

Será que, quando chegarmos enfim ao céu, não serão os jardineiros os grandes beneficiados? Para eles, haverá sempre vaga no céu. Para todos os outros, talvez tenham de retornar para a terra e arranjar outro trabalho. Pois que se Deus trabalha sem cessar, ele não poderia esperar que entrássemos em seu Reino de outra maneira que não de mãos dadas, cada qual sabendo sua divina função a empenhar, cada qual compreendendo que embora não passe de mais uma formiga do imenso formigueiro divino, não deixa de ser essencial para Deus, e para todo esse sistema infinito.

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Crédito da foto: FAROOQ KHAN/epa/Corbis

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2.7.09

O assombro no olhar

Há esta distinta idéia de retorno à escuridão, ao nada
Onde tudo o que construímos nessa longa estrada
Da vida, nada restará: não há homem são
Que não trema, com um assombro no olhar
Ante tal nefasto pensamento, uma existência inteira
A navegar pelo oceano à beira, tudo em vão,
Tudo perdido neste derradeiro momento:
Da água do mar ficará apenas o gosto amargo do sal
Do mundo, apenas uma brisa, uma curiosidade,
Uma ansiedade por saber de seu final

Entretanto há também outra espécie de assombro
A olhos vistos naqueles que, abrindo-os, vêem
Um baile infinito de partículas pelo ar, um turbilhão
De belos pensamentos a escorar pelo ombro
E não adianta se virar para ver onde vão dar:
O vento sopra onde quer, e não há uma compreensão
De onde vem nem para onde vai; há somente este alento
De se saber que quase nada sabemos realmente
Que nossa ciência não fala exatamente do princípio,
Então, também do fim, não há nada do que se preocupar

Tenha em mente não o futuro em angustiada expectativa
Nem o passado em melancólica lembrança fugitiva
Pois que tens o tempo em suas mãos, e a vontade à disposição
Para dar o passo à frente, caminhar sem mourejar
Com um incerto assombro no olhar:
O assombro de quem molhou os pés na beirada do mar
E se encantou, e mergulhou na profundeza do ser
Apaixonando-se por este momento eternamente...
Tudo o que temos é o presente

raph'09

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Crédito da foto: Bettmann/CORBIS (Rabindranath Tagore)

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