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28.10.21

"Rumi - A dança da alma" grátis para quem tem Amazon Prime

Nosso e-book "Rumi - A dança da alma", com poemas de Rumi selecionados e traduzidos por Rafael Arrais, acaba de voltar ao Prime Reading da Amazon. Pelos próximos 4 meses, ele estará gratuito para quem assina o Amazon Prime:

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Ainda não tem o Prime? Com menos de 10 reais por mês, você tem direito a frete grátis nas compras na Amazon, Prime Video, Prime Reading, Prime Music e uma série de outros benefícios. Ainda é possível testar gratuitamente por um mês! Veja só:

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2.2.21

O ano em que virei tradutor profissional

Muitos aqui devem saber que tenho trabalhado há alguns anos com tradução, edição e autopublicação de e-books e livros impressos na Amazon e outras lojas. Bem, para quem não sabe, ou não conhece a história toda, ela está bem relatada noutro texto aqui do blog, O ano em que virei editora.

Pois bem, ocorre que até pouco tempo atrás eu talvez nem pudesse ser considerado um tradutor profissional, mas sim alguém que traduzia por hobby. Isso mudou. Mudou não somente porque com o advento da pandemia de COVID-19 as vendas de e-books deram um salto, e eu passei a conseguir viver somente disso, mas também, e talvez o mais importante nesse caso, pelo fato de eu ter sido procurado por uma editora para vender minhas traduções!

Sim, após tanto enviar meus originais para diversas editoras ao longo de anos e anos, calhou de eu ser publicado por uma delas sem nem precisar ir atrás dos seus editores: foram eles que vieram “bater a porta” da minha caixa de e-mail.

É claro que fui publicado não como autor, e sim como tradutor, mas fato é que hoje também estou presente em estantes de livrarias físicas, não somente em lojas virtuais.

Ao longo do ano passado (2020) eu vendi três das minhas traduções à Faro Editorial. Duas delas já foram publicadas: O Pequeno Príncipe (de Antoine de Saint-Exupéry), ainda em 2020, e A Revolução dos Bichos (de George Orwell), no início deste ano. Quanto à terceira tradução, ainda não foi publicada, e não posso revelar qual é.

Logo abaixo trarei imagens de ambos os livros. Eu não recebo direitos autorais pela venda deles, pois a negociação de uma tradução se dá por um pagamento único, como a venda de um produto mesmo. No entanto, caso vocês os comprem na loja da Amazon utilizando os links abaixo, eu ganharei uma comissão praticamente equivalente à parte que um autor leva de direitos autorais :)

Eis as obras:

O Pequeno Príncipe

Comprar O Pequeno Príncipe na Amazon

A Revolução dos Bichos

Comprar A Revolução dos Bichos na Amazon

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Obs.: A Revolução dos Bichos foi publicado pelo selo Avis Rara, da Faro Editorial.

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11.5.20

Lançamento: Karanblade Livro 1: O Urso

As Edições Textos para Reflexão voltam a publicar um livro do seu editor, Rafael Arrais.

Karanblade é a lendária campanha para Dungeons & Dragons (RPG de fantasia medieval) que surgiu no final dos anos 1990 e deixou muita saudade. Hoje ela retorna através de uma série de literatura fantástica ambientada em seu mundo, a Terra Próxima. O primeiro livro se chama O Urso.

Um ebook exclusivo para Amazon Kindle:

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Abaixo, segue uma amostra com o primeiro capítulo da obra:


1.


Ao sul da Terra Próxima, além de cidade murada de Bak e do reino dos anões, próximo às últimas árvores que se erguem e formam a gigantesca Floresta do Sul e, finalmente, a oeste da não menos gigantesca cordilheira conhecida por Montanhas Rotun, existe uma terra de planícies ensolaradas, vento fresco, e também de caças e caçadores. Os bárbaros que sempre viveram próximo às montanhas, por isso também chamados de rotunianos, há muito elegeram tais planícies como terras de caça e conflito. Tribos vindas tanto do sopé das montanhas quanto do interior da floresta procuram pelos bisões e javalis, enquanto tentam se desviar de outras feras que não podem caçar, como os leões e gatopardos; elas também precisam lidar com as tribos rivais das Ilhas da Chuva, sempre dispostas a invadir o continente e ditar suas leis a ferro e fogo, ou com os detestáveis orcs, que nunca deveriam ter saído de sua casa, nos fundos túneis do Grande Subterrâneo, muito ao norte daquela terra.
Foi exatamente ali, no Caminho dos Caçadores, que um jovem rotuniano lutou sua primeira e decisiva batalha. Ali que o inexperiente e destemido Oldar se tornou o grande guerreiro da Floresta, passando a ser conhecido como Oldalin, o Grande Urso.

Tudo aconteceu numa manhã de primavera, quando os bárbaros da tribo de Terralta, chefiados por Gunther, o de Longa Visão, se aproximavam de um pequeno vale onde sabiam haver muitos bisões pastando com o alvorecer. Era a primeira vez que Oldar, o jovial e atlético filho dos bárbaros de Terralta, participava de uma caçada tão longe de sua tribo. Antes se aventurara com coelhos, pequenos javalis e coiotes, mas agora teria de provar ser um bom caçador, no alto de seus quinze anos de vida.
A equipe era formada por dois batedores, que espreitavam sorrateiramente e enviavam assobios peculiares para Gunther e os outros oito caçadores, dentre eles Oldar. Os batedores armavam-se apenas de facas de aço enferrujado, já que a função de abater os animais era dos caçadores, que se muniam de lanças e arcos, além dos famosos machados bárbaros. Apenas Gunther, o líder, portava uma cota de malha, coisa rara entre os bárbaros daquela região.
Aproximavam-se da última colina que escondia o vale, e Gunther ordenou: “Allin, Uldom, vão pela descida à direita. Os batedores vão com os outros pela esquerda e depois à frente em direção à caça. Eu fico aqui com o jovem Oldar, ele verá como se caça como adulto, e nunca irá esquecer!”.
De fato, Oldar sentiu um misto de alívio e vergonha por permanecer com Gunther longe da ação, já que carregava consigo a estranha sensação de que realmente nunca iria esquecer aquele dia.

Assim foi feito, e após alguns minutos ouviram-se os assobios dos batedores; então, os dois que desceram pela direita correram com as lanças em riste, bradando as canções de caça e afugentando uma parte da extensa manada de bisões para o lado dos cinco guerreiros que se escondiam detrás de algumas rochas. Oldar estava eufórico com a eficiência e coragem de seus irmãos. Puseram-se quase que no meio da passagem dos bisões, matando dois que vinham na frente com suas lanças fincadas ao solo, como uma murada de espetos mortais. Os outros três atacaram esses com suas lanças, enquanto tentavam não ser alvo do estouro da manada.
Gunther gesticulava para que os batedores voltassem pelo caminho à direita, longe dos bisões que fugiam em marcha rápida. Não era necessária mais nenhuma ordem, haviam abatido dois grandes bisões em poucos minutos, mais do que suficiente para um desfecho de sucesso para aquele dia de caça. Infelizmente, no entanto, em poucos segundos todos iriam deixar de ser caçadores e passar a ser a caça.

O primeiro grito veio da passagem à direita, por onde desceram Allin e Uldom, e voltavam os batedores. Gunther sentia o cheiro do medo, sabia que seus irmãos estavam em grande perigo. Prontamente retirou seu grande machado das costas e gritou para um agora assustado Oldar: “Fique aqui garoto! Se eu não voltar, corra de volta para a aldeia e avise ao curandeiro que Gunther e seus guerreiros tombaram ante a maitranda!”.
Maitranda! Oldar sempre detestou essa palavra, que significava muitas coisas em rotuniano: revolta da natureza, desejo de fazer o mal, magia negra... Oldar sabia que Gunther podia sentir tais forças, mas nunca imaginou que seria alvo delas logo em sua primeira caçada de adulto!
Gritos seguiram a mais gritos, e eles eram cada vez mais assustadores e desesperados, tirando os estranhos grunhidos que ora surgiam entre eles. Oldar sabia que deveria esperar ou, no mínimo, fugir. Era apenas um jovem bárbaro pego no meio de algo que não estava preparado para lidar... Ora, mas é exatamente nessa hora que surgem os heróis: aqueles que fazem o impensável em prol de seus irmãos. Que arriscam a vida se preciso, para vencer o inimigo, mesmo que seja um inimigo tão assustador. Naquele dia, Oldar provou ser um deles: agarrou o cabo do machado de seu pai com força, fechou os olhos brevemente e, quando os abriu, percebeu que não era mais necessário correr.

Seja o que for que estava a sua frente, era algo que para o jovem bárbaro significava apenas a morte. Não seria possível fugir daquela criatura enorme, semelhante a um grande urso negro da Floresta do Sul, mas com um estranho brilho vermelho no olhar, enormes buracos de lança e cortes de machado no corpo, suficientes para o fim de dez ursos daquele porte, e carregando o corpo sem vida de Gunther entre as mandíbulas. No que se seguiu, a criatura apenas cuspiu aquele que fora sempre um modelo de guerreiro para Oldar, e moveu-se com inigualável velocidade ao encontro do jovem. Seus grunhidos eram ensurdecedores.
Oldar nunca iria se lembrar como, mas o fato é que no primeiro avanço da bestial criatura, conseguiu não apenas se manter lúcido, como desviar com maestria de sua bocarra mortal, assim como de suas garras dianteiras, que insistiam em tentar lhe fatiar como um coelho indefeso. Oldar matara coelhos, tantos que aprendeu que um coelho jamais teria chances contra um bárbaro... Ele era esse coelho agora, o que poderia fazer?
Nas cenas que se sucederam, tentou em vão acertar a pata traseira do urso negro, mas ele se movia quase como um felino, tamanha a velocidade e agilidade. Percebeu que ganhara um extenso corte nas costas, e rolou pelo chão para escapar de um abraço mortal... Estava próximo do fim. A criatura o agarrou com as patas dianteiras, e preparava o bote final. Mas o destino não quis que a maitranda triunfasse nesse dia: num último esforço, Oldar conseguiu desprender seu braço direito da pata colossal e colocou seu machado entre sua face e a enorme bocarra... O urso engoliu aço e sangue; era o derradeiro suspiro da criatura, que tombou em cima de seu algoz.

Para o jovem Oldar, o mundo ficara escuro...


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26.3.20

Nossos ebooks no Amazon Prime

9.3.20

Lançamento: Introdução ao Yoga

As Edições Textos para Reflexão publicam Annie Besant, uma das maiores espiritualistas de história.

As 4 conferências compiladas em Introdução ao Yoga visavam dar um esboço geral do Yoga, a fim de introduzir o estudo e a prática dos Sutras de Patanjali – o mais importante dos tratados de Yoga. Preparar o estudante para o seu caminho espiritual, tal é o objetivo do presente livro e a razão das numerosas citações tiradas de Patanjali.

Um ebook já disponível para Amazon Kindle e Kobo:

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Abaixo, segue uma amostra do primeiro capítulo da obra:


O QUE É O UNIVERSO?

Contemplemos em primeiro lugar o mundo que nos cerca. O que significa a sua história? O que ela nos diz em geral, quando a estudamos? Ela se apresenta para nós como um cenário no qual se movem os povos e os acontecimentos, mas na realidade isso tudo não se trata nada além de sombras que dançam. As nações, os reis e homens de Estado, os ministros e os exércitos são sombras, e não realidades. 
Quanto aos grandes eventos, as batalhas e revoluções, a grandeza e decadência dos Estados, tudo isso são sombras ainda mais distantes da realidade. Se o historiador aprofundar as suas investigações, se for se ocupar das condições econômicas, das organizações sociais, das tendências e das correntes intelectuais, estará sempre no meio de sombras sem consistência alguma, projetadas por realidades invisíveis.
O mundo está cheio de formas ilusórias. Os valores que se dão a elas são falsos. As proporções são deformadas. Os objetos que as pessoas mundanas olham como preciosidades são rejeitados pelos espiritualistas como coisas sem valor. Os diamantes deste mundo, que fazem reluzir de mil formas os raios do sol exterior, têm valor apenas para o homem que se apega ao brilho do vidro. A coroa de um rei, o cetro de um imperador, a majestade do poder terrestre nada são em absoluto para o homem que já vislumbrou a majestade do Eu. 
Ora, então nada existe de real, de verdadeiramente precioso? A esta pergunta responderemos de modo diferente do que fariam a maior parte das pessoas:

O Universo só existe para o Eu.

Se o Grande Arquiteto concebe o plano dos Seus mundos e os chama à existência, Ele não é movido a isso pelo que o mundo exterior pode dar, muito menos pela beleza ou pelo prazer. Ele preencheu Seus mundos com objetos belos e agradáveis. Acima da nossa cabeça a imensa abóbada celeste, depois as montanhas de cumes nevados, os vales verdejantes, todos perfumados de flores; o oceano insondável, por vezes tranquilo como um lago, outras vezes erguendo as suas ondulações furiosamente – tudo existe não pelos objetos em si, mas pelo valor que eles apresentam ao Eu; não pelo que esses objetos possam ser por si próprios, mas para que se prestem às vontades do Eu e possam tornar possíveis as Suas manifestações. 
O mundo, com todos os seus encantos, com a sua felicidade e o seu sofrimento, com as suas alegrias e as suas dores, foi concebido com uma soberana sabedoria, de modo a poder levar o Eu a manifestar os Seus poderes. Do nevoeiro do fogo ao Logos [razão universal], tudo existe para o Eu. O imperceptível grão de pó, o mais poderoso Deva [deus] das regiões celestes, a planta alpina que cresce num canto ignorado, a estrela que brilha sobre nossa cabeça, tudo isto existe para que os fragmentos do Eu único, revestidos de numerosas formas, possam, ao realizar a sua própria identidade, manifestar os poderes  do Eu através dos seus corpos materiais. 
Um Eu único tanto reside no humilde pó como no Deva mais exaltado. “Mamansha”, “a minha porção”, “uma parte de mim mesmo”, como os chama Sri Krishna, eis o que são todos esses Jivatmas, todos esses Espíritos Vivos. Para eles o Universo existe. Para eles o sol brilha, as ondas quebram nas praias, os ventos sopram, a chuva cai: de modo que o Eu possa compreender que se manifestou na matéria, espalhado pelo Universo. 


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6.11.19

Indicações de livros

Quando comecei este blog, há mais de uma década, jamais imaginei que ele poderia durar tanto, e que eu pudesse escrever tanto nele. Nesses anos todos os leitores assíduos, assim como os ocasionais, puderam ver como o meu caminho através da espiritualidade, da filosofia e da ciência foi se tornando mais e mais aprofundado. Isso, obviamente, não caiu do céu.

Não me entendam mal: como poeta, eu sei muito bem do valor da intuição e das ideias voadoras que volta e meia são capturadas em sua rede. Para isto, de fato, os livros não ajudam tanto. Mas, para todo o resto, os livros são o que há de mais precioso no auxílio do nosso caminho. Por isso eu resolvi, finalmente, trazer a vocês uma lista extensa e definitiva dos livros, sejam físicos ou digitais, que formam os alicerces do Textos para Reflexão.

Todas as listas se encontram hospedadas no site da Amazon. De lá vocês podem comprar e-books e ler através do app gratuito Kindle, ou comprar os livros impressos – muitos deles com frete grátis para quem tem o Amazon Prime (que pode ser assinado gratuitamente por 30 dias).

Mas não para por aí: se vocês comprarem qualquer um deles através dos links desta página (e somente dos links desta página), eu receberei uma parte da sua compra, e isso ajudará muito o blog, o canal e as Edições Textos para Reflexão.

Assim sendo, aqui vão os links para as listas com as minhas indicações de livros, tarots e e-books, separadas em categorias específicas para facilitar a navegação:

» Filosofia
De Platão a Byung-Chul Han, os livros de filosofia e da história da filosofia que foram essenciais em meu caminho.

» Literatura
De Tolkien a Alan Moore, as histórias e os quadrinhos que foram essenciais em meu caminho.

» Poesia
De Safo a Gibran, os poemas que foram essenciais em meu caminho.

» Espiritualidade, Mitologia e Magia
De Lao Tse a Joseph Campbell, os livros sagrados, ou nem tão sagrados, que foram essenciais em meu caminho.

» Baralhos de Tarot
Os melhores decks de tarot disponíveis.

» Ciência
De Darwin a Carl Sagan, os livros de ciência e divulgação científica que foram essenciais em meu caminho.

» Economia, História e Política
De Huizinga a Yuval Harari, os livros que me ajudaram a entender nossa história, e foram igualmente essenciais em meu caminho.

***

Obs (1).: Vale lembrar que eu receberei uma parcela de qualquer compra que fizerem na Amazon se vocês a acessarem usando qualquer um dos links desta página, mesmo que seja um smartphone, uma camiseta ou um produto de limpeza :)

Obs (2).: Se preferirem, podem deixar esta URL salva nos seus favoritos para acessarem mais tarde, sempre que forem fazer uma nova compra na Amazon (ela contém os mesmos links acima):

raph.com.br/tpr/amazon


Boa Leitura e Bom Caminho!
raph


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31.8.19

Lançamento: Meditações de Marco Aurélio

As Edições Textos para Reflexão retornam a filosofia com a obra de Marco Aurélio, o imperador romano que mais se aproximou do ideal platônico de um “rei-filósofo”.

Meditações é um dos marcos do estoicismo e da história da filosofia ocidental. A tradução (a partir de versões inglesas) é de Rafael Arrais, que também já traduziu o Manual de Epicteto e diversas obras poéticas e espiritualistas da humanidade.

Já disponível em ebook e versão impressa:

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Abaixo, segue o Prefácio da obra (por Rafael Arrais):


Em sua famosa obra, A República, Platão defende que o Estado ideal deveria ser governado por uma espécie de “rei-filósofo”. No entanto, mesmo na época o pensador grego sabia que se tratava de algo muito difícil de vir a acontecer:

“Se nunca aconteceu, nos séculos passados, que um filósofo fosse obrigado a se encarregar do governo de um Estado [...], se algum dia realmente vier a acontecer, poderemos então afirmar que existe uma República semelhante a esta que imaginamos, quando a Musa Filosófica se tornar senhora de uma cidade.” (A República, Livro VI)

O próprio Platão, convidado pelo governante de Siracusa, tentou implantar o seu sistema de governo idealizado no “mundo real”, mas falhou miseravelmente. Ora, se nem mesmo quem imaginou os reis-filósofos encontrou um, diríamos que alguém assim nunca existiu, certo?
Bem, se houve algum homem que se aproximou dos ideais platônicos, e conseguiu ser bem sucedido tanto na condução do Estado quanto no caminho da filosofia, este homem foi Marco Aurélio, imperador de Roma.
Marco Aurélio foi o último dos cinco imperadores que governaram o Império Romano num período conhecido como Pax Romana (Paz Romana), que durou até a sua morte, em 180 d.C. Curiosamente, como ainda veremos, a última década de sua vida foi quase toda dedicada a defender o Império de invasores bárbaros – havia paz dentro do Império, mas não em suas fronteiras.
Nascido em 121 d.C., devido a morte prematura do pai ele foi criado como filho adotivo do bom imperador Antonino Pio, também seu tio, a quem sucedeu no governo em 161 d.C. Devido a haver sido educado pelos melhores mentores e sábios de sua época, Marco Aurélio conheceu a fundo a filosofia grega, e veio a se apaixonar pelo estoicismo.
Esta corrente filosófica surgiu em Atenas já após Platão e Aristóteles, quando por volta do ano 301 a.C. um estrangeiro de origem fenícia chegou a cidade e passou a divulgar sua doutrina e atrair discípulos. Seu nome era Zenão de Cítio.
Ao contrário de muitos filósofos da época, Zenão preferia realizar suas palestras em locais públicos, sendo o seu ponto favorito uma espécie de “pórtico” (stoa, em grego) da cidade. Por conta da palavra stoa, a nova doutrina veio a ser conhecida como estoicismo.
Zenão teve alguns discípulos que vieram a se tornar relativamente famosos, mas do ponto de vista histórico existiram três estoicos tardios, nascidos séculos após Zenão, que foram muito mais importantes que ele próprio: Sêneca, Epicteto e o próprio Marco Aurélio.
Sêneca (3 a.C. – 65 d.C.), a exemplo de Marco Aurélio, conseguiu ser bem sucedido na filosofia e na política, tendo alcançado o cargo de senador romano. Foi Epicteto (60 d.C. – 100 d.C.), entretanto, o grande exemplo seguido pelo imperador filósofo. Ao contrário dos outros dois expoentes do estoicismo, Epicteto teve origem humilde e foi escravo por boa parte da vida; mesmo assim tal fato não o impediu de ter sido um dos pensadores mais originais da história da filosofia, ao ponto da própria obra de Marco Aurélio ser mais uma espécie de comentário alongado de Epicteto do que algo propriamente original.
A própria essência do estoicismo foi de tal forma resumida no início do Manual de Epicteto, que poderíamos dizer que todo o restante pode ser desenrolado, como um fio, desta reflexão inicial:

As coisas se dividem em duas: as que dependem de nós e as que não dependem de nós. Dependem de nós o que se pensa de alguma coisa, a inclinação, o desejo, a aversão e, em uma palavra, tudo o que é obra nossa. Não dependem de nós o corpo, a posse, a opinião dos outros, as funções públicas, e, numa palavra, tudo o que não é obra nossa. O que depende de nós é, por natureza, livre, sem impedimento, sem contrariedade, enquanto o que não depende de nós é fraco, escravo, sujeito a impedimento, estranho.” (Manual, I)

Assim, um estoico focava a sua atenção não propriamente nos eventos do mundo, mas na sua interpretação, na sua opinião acerca de tais eventos. Ou, como repetia Marco Aurélio, “tudo é opinião”.
No entanto, sem dúvida seria bem mais simples se dedicar à filosofia estoica e à reflexão acerca da própria opinião no espaço reservado de uma escola filosófica, numa casa de campo afastada das grandes cidades, quiçá simplesmente viajando a turismo pelo mundo. Todavia, nada disso foi possível ao imperador Marco Aurélio, que tinha literalmente o maior império de seu tempo dependendo dos seus cuidados. O fato de ele ter sido bem sucedido em seu caminho filosófico, mesmo diante de tantas responsabilidades e atribulações, faz dele quase que um exemplo de homem divino, embora ele próprio pouco se importasse com a fama.
Aliás, Marco Aurélio jamais desejou publicar obra alguma. As suas Meditações, que tinham a si mesmo como destinatário, eram nada mais que diários pessoais, escritos sabe-se lá a qual custo em meio ao seu governo. De fato, ele passou os últimos dez anos de sua vida residindo longe do conforto de Roma, defendendo a fronteira norte do Império dos ataques de povos bárbaros, como os Quados e, principalmente, os Marcomanos. E ao que tudo indica foi precisamente nesses anos, quem sabe para ajudar a si mesmo a ser resiliente a guerra, quem sabe por puro amor a filosofia, que Marco Aurélio escreveu e presenteou a história da filosofia com as Meditações.
Coube a Cássio Dião, um historiador da época, relatar o esforço descomunal do imperador em não deixar a chama filosófica se apagar, mesmo em meio aos dias mais sombrios:

“Marco não encontrou a boa sorte que merecia, pois ele não era dotado de um físico vigoroso e se viu envolvido em um turbilhão de problemas durante praticamente todo o seu reinado. Mas, na parte que me toca, eu o admiro ainda mais por essa razão, já que, em meio a dificuldades incomuns e extraordinárias ele conseguiu sobreviver e preservar o Império.”

Assim, na sequência ficamos com as reflexões de um dos maiores governantes e filósofos que já passou pelo mundo, que embora tenham ficado conhecidas como as Meditações de Marco Aurélio, na realidade foram intituladas pelo próprio autor como Pensamentos para mim mesmo...


O tradutor.


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7.4.16

Que tal ler nossos clássicos digitais, de graça?

Em época de crise e de vacas magras, há que se pensar em economia, mas há também que se pensar em continuar lendo e aprendendo... Mas o ideal seria poder ler e aprender com economia, não? E que tal ler e aprender de graça?

Para incentivar leitores a experimentar o seu aplicativo, a Amazon está oferecendo um crédito de R$ 10,00 em eBooks para quem baixar o aplicativo pela primeira vez até o dia 30 de abril. O Kindle está disponível gratuitamente para download nas lojas Google Play, Apple Store e Windows, e com ele é possível ler livros digitais em qualquer dispositivo, incluindo celulares e tablets, Android e iOS.

E agora que você já baixou o Kindle pela primeira vez, criou sua conta na Amazon e ganhou o crédito de R$ 10,00 para compra de eBooks, que tal escolher até cinco dos nossos clássicos digitais, cada um ao custo módico de R$ 1,99? Nós preparamos algumas listas temáticas de leitura para ajudar na sua escolha:

Bestsellers
» O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry
» A Arte da Guerra, de Sun Tzu
» Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche
» Navegar é preciso, de Fernando Pessoa
» O manual para a vida, de Epicteto

Filosofia
» Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche
» O manual para a vida, de Epicteto
» A Arte da Guerra, de Sun Tzu
» Tao Te Ching, de Lao Tse
» A Vontade de Crer, de William James

Espiritualidade
» Bhagavad Gita
» Tao Te Ching, de Lao Tse
» Os Evangelhos de Tomé e Maria
» A Voz do Silêncio, de Helena Blavatsky
» O Profeta, de Khalil Gibran

Poesia mística
» Navegar é preciso, de Fernando Pessoa
» Gitanjali, de Rabindranath Tagore
» O Profeta, de Khalil Gibran
» 49 noites antes da Colheita (Sefirat ha Ômer), de Rafael Arrais
» Tudo será Céu, de Rafael Arrais

Finalmente, você ainda poderá baixar nossos eBooks gratuitos, em formato para Kindle (mobi) ou outros leitores, como o Kobo (ePub). Boa leitura!

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Crédito da imagem: Amazon

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4.4.15

Aos contadores do Ômer...

A Contagem do Ômer, ou Sefirat ha Ômer, é o nome dado a contagem dos 49 dias ou sete semanas entre Pessach e Shavuot, feriados judaicos correspondentes, respectivamente, a Páscoa e ao dia de Pentecostes. Através da Cabala, a Contagem deixou de ser somente uma tradição agrícola, ou histórica, para se tornar um dos maiores rituais de meditação e autoconhecimento do mundo, praticado simultaneamente por milhares de pessoas em todo o globo, todos os anos.

Durante 49 noites, no Ômer de 2014, eu meditei sobre o microcosmo e o macrocosmo, sobre a lua e as estrelas, sobre a noite escura e a manhã vindoura, sobre a solidão e a tristeza, e sobre o amor que é eterno... Tais meditações se transformaram em poemas, e são estes poemas que compõem o livro 49 noites antes da Colheita.

Em homenagem aos contadores do Ômer deste ano, disponibilizei meu livro em download gratuito na Amazon, a promoção é válida entre hoje (04/04) e aproximadamente quinta-feira (08/04). Se você vai iniciar sua Contagem hoje, já pode aproveitar os poemas como "instrumento de trabalho". Alguns podem preferir ler o poema correspondente ao dia da Contagem antes ou depois da sua meditação diária, mas o importante é que acredito que eles podem, de verdade, lhes ajudar:

Baixe grátis (Kindle)

Não tem um Kindle? Não há problema: você também pode ler os e-books da Amazon num Tablet, iPad, Laptop, Smartphone, iPhone, PC ou MAC, basta instalar um dos aplicativos de leitura gratuitos.

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Vejam o vídeo com um dos poemas do livro, Netzach shebe Netzach, com música e edição de Fabio Almeida:

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Ainda no tema de "downloads gratuitos" para a Contagem de 2015, recomendamos o Sefirat ha Ômer 2015, um APP gratuito para Android, criado por Cristian Dornelles. Contendo todos os textos e gráficos do portal Teoria da Conspiração, este aplicativo independente de conexão com internet serve para acompanhar cada dia dos 49 dias de meditação, onde você estiver:

» Baixe grátis no Google Play

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7.9.14

Lançamento: Cancioneiro

As Edições Textos para Reflexão voltam a publicar Fernando Pessoa.

Em Cancioneiro, temos uma extensa seleção dos poemas que Pessoa escreveu e assinou o seu próprio nome, isto é, que não pertencem a nenhum dos seus heterônimos.

Se há muitos que já se afastaram desta compilação por haver sido rotulada de esotérica, mística e hermética, nos dias de hoje os amantes de Pessoa são cada vez mais atraídos por ela pelos exatos mesmos atributos...

Um livro digital já disponível nas seguintes lojas:

Amazon Kindle Kobo Livraria Cultura

***

Abaixo, seguem alguns poemas da edição:

[Entre o sono e o sonho]

Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

***

[Tenho tanto sentimento]

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

***

[Grandes mistérios]

Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.

São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.

Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.

***

[Fresta]

Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quando a vida dá ou tem,

Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado,

Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

***

[Iniciação]

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

...

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

...

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.

...

Neófito, não há morte.

(Fernando Pessoa)


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15.8.14

Lançamento: A vontade de crer

As Edições Textos para Reflexão tem o orgulho de lhes trazer A vontade de crer, um dos livros mais conhecidos de William James, traduzido do original em inglês pela nova integrante de nossa equipe, Kamila Pereira (Hipátia).

William James, um dos fundadores da psicologia moderna, foi um daqueles raros homens que soube transitar com igual destreza entre a Academia e o Templo, entre a racionalidade e a espiritualidade, entre o empirismo e a subjetividade. James estava, de fato, em casa no universo. Mas o seu universo não se resumia ao que residia lá fora. Ele sabia, pois também contemplou tal caminho, que haviam espaços infinitos, ou quase infinitos, também dentro de nós. 

Um livro digital já disponível para o Amazon Kindle:

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Abaixo, o Prefácio da nossa edição, escrito por Kamila:

William James (1842-1910) nasceu em Nova York, em uma família rica e influente. Os membros de sua família foram conhecidos pelo interesse intelectual em história, biografias e críticas; inclusive seu pai, Henry James Sr., foi um teólogo do cristianismo de Swedenborg. Esse contexto intelectual gerou frutos em James e seus irmãos: seu irmão, Henry James, tornou-se um importante romancista, enquanto sua irmã, Alice James, ficou famosa como cronista.

William James se aproveitou da educação cosmopolita que recebeu e se formou em Medicina, mas nunca a exerceu. Porém, seu interesse e estudos em filosofia e psicologia o levaram a se tornar professor de Harvard. Nesse posto, tornou-se o primeiro professor a ministrar um curso de psicologia nos Estados Unidos, como também foi considerado um influente pensador do século XIX, notável por seus trabalhos com a filosofia do pragmatismo. Entre seus mais notáveis livros, encontram-se The Principles of Psychology e Essays in Radical Empiricism. Além disso, James também se interessou pela filosofia da religião. Como importante obras escritas pelo autor nessa área existem The Varieties of Religious Experience e The Will To Believe. Esta última obra está aqui apresentada com uma nova tradução e novos comentários, sendo intitulada como A Vontade de Crer.

A Vontade de Crer é uma palestra realizada por William James e, posteriormente, publicada como livro. Nessa argumentação, o autor discute criticamente o pensamento científico e a adoção da fé. James inicia a obra apresentando a definição de hipótese e opção e segue argumentando como as nossas escolhas, mesmo aquelas feitas por cientistas, não são apenas pautadas na razão e em nossa vontade, mas também podem ser influenciadas por medos, esperanças, preconceitos e paixões. O autor continua seu discurso argumentando que a crença em alcançar certos resultados, por parte dos cientistas, é uma das principais alavancas da ciência, levando-a a alcançar muito de seus avanços. Entretanto, a ciência também está preocupada em evitar erros ao longo de seu percurso na busca da verdade. Para o autor, esse medo pode gerar um afastamento e/ou indiferença em relação a algumas questões, gerando uma dessincronização de ideias: por um lado, cientistas procuram ser cautelosos com o estudo de algumas áreas, por outro lado, eles se utilizam da crença em obter certas verdades como estímulo para alcançar respostas.

Enfim, esta obra apresenta uma bela crítica ao modo imparcial que muitos de nós agimos. Se lido com uma disposição em acompanhar à discussão de William James e em refletir profundamente quanto às suas conclusões, este livro pode gerar no leitor reflexões quanto às nossas crenças e modos de pensar e agir, assim como trazer novos paradigmas à nossa vida. Portanto, sugiro que iniciam essa leitura com a mente aberta à novas possiblidades e aproveitem as futuras reflexões geradas pela obra.

Kamila J. Pereira


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11.8.14

Conectados, parte 3

« continuando da parte 2

Placebo: se origina do latim placeo, placere, que significa agradar. Entende-se efeito placebo como a melhoria dos sintomas e/ou funções fisiológicas do organismo em resposta a fatores inespecíficos e aparentemente inertes (sugestão verbal ou visual, comprimidos inertes, cirurgia fictícia, etc.)


A arte de se estourar bolhas

Em 1970, Linus Pauling, célebre bioquímico americano, ganhador tanto do Nobel de Química quanto do Nobel da Paz, lançou um livro chamado Vitamin C and the Common Cold (A Vitamina C e o Resfriado Comum) que é até hoje o grande responsável pelo maior efeito placebo da história [1]. Pela tese de Pauling, a ingestão de altas doses diárias de vitamina C seria responsável não somente pelo tratamento de resfriados, como pela manutenção de uma “boa saúde” geral do organismo.

Somente em 1986 o professor A. Stewart Truswell, da Universidade de Sidney, publicou o resultado de 27 experimentos para validar a tese de Pauling, alguns realizados desde o início da década de 1970, e chegou a conclusão de que a ingestão de vitamina C, particularmente em altas doses (mais de 500mg/dia), não tinha nenhum efeito considerável no tratamento dos sintomas da gripe, tampouco na redução de sua duração. No entanto, 16 anos após o lançamento do livro de Pauling, a Indústria Farmacêutica já havia consolidado um mercado lucrativo com base nela – como era de se esperar, até hoje há inúmeros comerciais na TV falando sobre como a vitamina C auxilia a tratar resfriados...

Se até hoje você, como eu, toma vitamina C quando está com gripe, ainda que saiba que ela não tem efeito científico comprovado, é porque está tirando vantagem do efeito placebo para “convencer a sua mente” de que ela é um agente de cura. Neste caso, “crer na cura”, como já dizia Hipócrates, pode ser parte importante de um tratamento bem sucedido. Até hoje a ciência mal faz ideia do que é exatamente o efeito placebo [2], mas ele nos deixa ao menos uma importante lição – nós definitivamente somos, em maior ou menor grau, sugestionáveis.

Recentemente, um estudo científico publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA provocou rebuliço no mundo online. Os pesquisadores se valeram do Facebook, provavelmente a maior rede social do mundo nos dias de hoje, para tentar comprovar como o que lemos em nosso próprio feed de notícias [3] pode afetar positivamente ou negativamente o nosso humor e estado de espírito em geral [4].

O estudo analisou 689.003 usuários (dentre os que usam o Facebook em inglês) cujos feeds foram propositalmente alterados para mostrar posts mais positivos ou negativos de seus amigos. O resultado? Quando o usuário via mais posts positivos em seu feed, escrevia mais comentários positivos. Quando via mais posts negativos, escrevia mais comentários negativos... A comunidade online se indignou principalmente pela invasão de privacidade deste tipo de pesquisa, já que ninguém soube que estava sendo “testado”. Entretanto, o que a pesquisa demonstrou é que, apesar de em menor escala, somos sugestionáveis também nas redes sociais. Ou, noutras palavras, a nossa dieta de informação define, muitas vezes, uma parte considerável do nosso estado de espírito.

Há algo próprio da chamada Web 2.0 que é ainda muito, muito mais grave do que a influência das notícias que os seus amigos postam no Facebook. Ocorre que nesta nova era da Web, a maior parte dos sites também se tornaram serviços e, desta forma, requerem que você se cadastre neles para os utilizar. Mas o cadastro é somente o primeiro passo. Em sites de compras como a Amazon, por exemplo, cada uma das suas compras passadas (e até mesmo cada item à venda pelo qual você já navegou um dia dentro da Amazon) pode servir de “base de dados” para lhe trazer sugestões sobre “o que comprar a seguir”.

No caso das compras, isto geralmente é bem anunciado nos termos de adesão do site, e ainda que 99% das pessoas jamais leia esses termos, fica até mesmo óbvio que suas compras passadas estão servindo de guia para os anúncios do site. No caso das redes sociais, particularmente do Facebook, nem sempre é fácil notar o que está sendo feito dos seus dados nos bastidores...

Um dos conceitos que foram vitais para o sucesso prolongado do Facebook é algo aparentemente muito simples: um botão, um botão de curtir (ou like button, em inglês).

Ora, computadores não podem ler sua mente, mas podem ler cada um dos cliques no botão de curtir que você deu, desde que começou a usar o Facebook. Com isso, o servidor consegue saber quais são os amigos e as páginas que você mais gosta dentro da rede social, e assim criar um filtro customizado para o seu feed de notícias. Aquela menina que posta fotos de biquíni quase toda semana, e que você sempre curte? Está no topo da lista do seu feed. Aquele amigo chato da época de colégio que só posta vídeos de música clássica, e que você nunca curtiu sequer uma vez? Está na lista dos excluídos do seu feed, e ainda que você continue amigo dele, em meio aos seus quase 500 amigos, a chance de ver qualquer postagem dele é ínfima, senão zero.

O que este tipo de atividade cria, na prática, são bolhas de conteúdo dentro do seu Facebook. De modo que, se um dia você finalmente arrumar um namoro sério, é bem provável que a sua namorada ache um tanto estranho o seu feed onde aparecerão diversas fotos de sua amiga de biquíni (dica: não mostre o seu feed a ela). E, da mesma forma, se um dia você por acaso ver Gustavo Dudamel regendo uma orquestra enquanto trocava de canal na TV a cabo, será um tanto improvável que fique uns minutinhos por lá e aprenda a apreciar música clássica, pois aqueles posts do seu amigo de infância nunca mais apareceram para você.

O que é mais nocivo nesta era das bolhas de conteúdo, no entanto, é que com o tempo, se você não tomar cuidado com o que anda curtindo em seu Facebook, é bem capaz de seu feed de notícias trazer tão somente as notícias de quem concorda com suas posições ideológicas, ou de quem gosta do mesmo tipo de música que você, ou vê os mesmos filmes e lê os mesmos livros.

No taoísmo, a filosofia da China antiga, aprendemos que os opostos são necessários para que nos tornemos aptos a enxergar o caminho do meio. Se formos analisar as ideologias políticas conforme o editor da Superinteressante [5], os esquerdistas extremos creem que a fonte de todo o bem é o Estado, enquanto que os direitistas extremos creem que esta fonte é o Mercado. Não é difícil perceber como um, na verdade, precisa do outro – um Mercado sem a regulação do Estado pode enveredar para um capitalismo tão consumista que extinguirá os recursos naturais necessários para a manutenção da humanidade na Terra; já um Estado que trancafie o Mercado numa prisão de burocracias sem fim fará com que a economia do país definhe, ferindo primeiramente os mais pobres, exatamente aqueles que gostaria de auxiliar.

Aos que conseguem transitar pelos extremos, aos que são capazes de enxergar os dois lados da moeda, está até mesmo óbvio que não há uma fonte única de bem absoluto, assim como tampouco há uma fonte de mal absoluto – o que há são ideias opostas, e a arte da Política consiste exatamente em se chegar a consensos que são capazes de atender os anseios da maioria, ao mesmo tempo em que levam em consideração as opiniões da minoria (sem a oprimir, sem a ridicularizar, sem a censurar).

Não é tão difícil assim de entender. No entanto, se nos últimos anos tudo o que você têm visto no seu feed de notícias do Facebook são opiniões radicais à favor de somente um lado, é bem capaz de você, como ser sugestionável que é, cair na falácia do “8 ou 80” (ou uma ideia está totalmente certa, ou totalmente errada), e demonizar um dos lados, enquanto crê que a sua forma de pensar é “evidentemente a mais correta, já que todos os meus amigos concordam”.

É preciso tomar cuidado, muito cuidado, com este tipo de “pensamento encapsulado em bolhas”, pois foi com ideias muito parecidas que os regimes mais autoritários e sanguinários da história política foram implementados. A Web precisa ser livre, realmente livre, e não somente mais uma sucursal das agências de marketing das multinacionais, ou das “ideologias enlatadas” do Grande Negócio Eleitoral.

De vez em quando, clique também no botão de curtir de uma ideia que não concorde, mas que esteja bem elaborada. De vez em quando, pratique a arte de se estourar bolhas... Lembre-se de que, assim como todos os demais seres humanos, você também pode estar errado.

» Em seguida, Aaron, o homem do amanhã...

***

[1] Saiba mais no artigo (em inglês) Vitamin C: Do High Doses Prevent Colds?, por Charles W. Marshall, Ph.D.

[2] Veja também o nosso artigo Placebo-Nocebo.

[3] Uma lista onde aparecem as publicações de nossos amigos e das páginas que seguimos no Facebook.

[4] Saiba mais no artigo Nossas Emoções Estão Surgindo em Bolhas Criadas Pelo Facebook, por Derek Mead.

[5] Denis Russo Burgierman. Não deixe de conferir o seu excelente artigo sobre o tema, A maldição do esquerdo-direitismo.

Crédito das imagens: [topo] Google Image Search (Linus Pauling em sua fazenda, em meados da década de 1980); [ao longo] Google Image Search.

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18.4.14

Um ano de Zaratustra!

Em pouco mais de um ano à venda, nossa edição digital de Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, acaba de completar 365 dias na lista dos 100 mais vendidos da Amazon Brasil!

Para comemorar este feito do bigodudo alemão, estaremos disponibilizando em download gratuito outras três obras das Edições Textos para Reflexão. Ad infinitum e Rumi - A dança da alma poderão ser baixados de graça até a madrugada do dia 20 para o dia 21, enquanto que Tudo será Céu ainda estará gratuito até a madrugada do dia 22 para o 23!

Clique nas capas dos livros para saber mais sobre eles na loja da Amazon (*). Lembrando que nosso bestseller do pensador alemão continua sendo vendido a módicos R$1,99:

(*) Obs.: Você não precisa ter um Kindle para ler nossos livros digitais. Basta baixar qualquer um dos aplicativos gratuitos do Kindle para que os possa ler em seu tablet, smartphone, laptop ou desktop.


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2.1.14

O ano em que virei editora

É claro que todo escritor sonha em publicar um livro, mas até cerca de um ano atrás tudo o que havia conseguido publicar era um livro com tiragem quase “caseira”, vendido sobretudo entre familiares e amigos, e alguns outros livros de RPG, contos, poemas e artigos antigos deste blog, todos disponibilizados diretamente como PDF para download.

Há cerca de um ano atrás, porém, eu estava angustiado e esperançoso ao mesmo tempo. Angustiado por ter de finalizar meu livro, Ad infinitum, que vinha sendo escrito há cerca de 3 anos, e esperançoso por crer que, após seu lançamento, eu finalmente me veria livre daquele fardo, e poderia me dedicar somente ao blog e aos videogames novamente.

É claro que todo escritor fica feliz e aliviado ao ter seu livro publicado, mas até cerca de um ano atrás eu mal poderia imaginar que, após Ad infinitum, ainda viriam 11 outros livros, a grande maioria de outros autores.

Foi “quase sem querer” que tudo ocorreu... Após haver autopublicado meu livro em formato impresso, através do Clube de Autores, estava eu folheando uma revista na banca de jornais próxima da minha casa quando soube, através de uma matéria de meia página, que a Amazon não somente havia recém chegado no Brasil com o seu leitor de livros digitais, o Kindle, como já era possível a autopublicação de ebooks através do serviço Kindle Direct Publishing.

Como já era cliente da Amazon há muitos anos (inclusive tendo ganhado boas comissões através da venda de livros de RPG através de um site antigo que mantive no final da década de 90), fui testar o serviço... A princípio, bastava enviar um arquivo Word relativamente bem diagramado, uma capa e uma descrição, escolher o preço final de venda, que a Amazon publicava e vendia a obra. O autor ainda ficaria com entre 35% a 70% do valor das vendas – algo imensamente superior aos 5% a 10% do mercado impresso.

Na prática, não era assim tão simples. O arquivo Word do Ad infinitum que enviei não resultou em um ebook que me agradasse, e como sou “relativamente perfeccionista”, precisei estudar um pouco melhor acerca da arte da diagramação de livros digitais... Para minha surpresa, descobri que em seu estado mais essencial, um ebook nada mais é do que html, a mesma linguagem de código que monta as páginas da web, e a mesma linguagem com a qual trabalho profissionalmente há quase uma década!

Apesar de não ter sido algo tão trivial, consegui aprender a montar um epub, que é o formato de livro digital mais utilizado no mundo todo. Com isso, o caminho estava aberto para autopublicação não somente na Amazon, mas também na Kobo, que também havia recém-chegado ao país, em parceria com a Livraria Cultura [1].

Até aqui, tudo certo: ter um livro disponível em impresso e em versão digital, sendo vendido na grande Amazon, já era uma conquista e tanto para quem, até poucos meses antes, não sabia nem se ou quando exatamente conseguiria finalizar o tal livro... Mas isto ainda era somente o início – foi navegando pelas listas de mais vendidos da Amazon brasileira que me deparei com algo bastante intrigante...

Eu não pude deixar de notar que havia diversos livros digitais de Fernando Pessoa com preços muito diferentes uns dos outros. Enquanto muitos eram vendidos a cerca de 15 ou 20 reais, o que seria um preço comum para ebooks, outros custavam 5 reais ou até menos do que isso, e não pareciam dever em nada, na qualidade da capa e da diagramação, aos demais.

Quando fui me informar melhor sobre essa disparidade de preços, acabei compreendendo o que se passava. Ocorre que Fernando Pessoa morreu em 1935, de modo que em 01/01/2006, 70 anos após sua partida, toda a sua obra entrou definitivamente em domínio público no mundo todo. Isto significa, dentre outras coisas, que qualquer um pode editar seus livros como bem entender, sem dever nenhum centavo de direitos autorais aos antigos detentores de seus direitos de publicação.

Ora, isto também significava que eu mesmo poderia publicar minha própria antologia da poesia e da prosa do grande poeta português. E foi exatamente o que fiz a seguir, daí nascendo o ebook Navegar é preciso, que até hoje é muito bem sucedido em vendas, principalmente na Amazon.

Mal podia suspeitar, há um ano atrás, que me tornaria não somente um escritor publicado na Amazon, mas um editor, um tradutor e, porque não, uma editora!

Após Pessoa, que não necessitava de tradução alguma, fui atrás dos melhores autores e livros que li na vida, buscando a viabilidade da autopublicação dos mesmos. Com isso, logo na sequência encontrei uma rara tradução de Friedrich Nietzsche que já se encontrava em domínio público e, com a ajuda de meu amigo Frater Sinésio, que ajudou na revisão do texto, publiquei o célebre Assim falou Zaratustra pelo preço de um café expresso (ou menos) na Amazon Brasil. Até hoje, é de longe o ebook mais vendido das Edições Textos para Reflexão, sendo que raramente sai da lista dos 100 mais vendidos.

Depois, entre traduções e edições, algumas com a estimada ajuda de Sinésio, ainda consegui publicar mais 9 livros digitais durante o ano, atingindo uma média totalmente inesperada de 1 livro por mês. Embora nenhum deles tenha atingido o sucesso de vendas dos dois anteriores, há muitos que também se destacaram.

Porém, independente das vendas, que são realmente muito bem vindas, o que mais importa é que isto se tornou também um hobby extremamente prazeroso. Claro que também dá um bom trabalho (neste ano joguei muito pouco videogame), mas é um trabalho bastante recompensador – não exatamente pelos reais que caem na minha conta de banco, mas pela possibilidade de iniciar, quem sabe, algumas centenas de pessoas, em sua maioria jovens, em alguns dos maiores textos da humanidade...

Eu não estou brincando, eu realmente fui muito cuidadoso na seleção dos livros. “Cuidadoso” talvez não fosse a melhor palavra... Intuitivo, quem sabe? É que não fiz grandes planos de publicação, e fui publicando meio que conforme o coração mandava. Por exemplo, eu certamente não publicaria Nietzsche antes de Lao Tse ou Gibran, se fosse seguir minha lista de preferências, mas o fato de haver publicado Nietzsche antes dos demais foi de vital importância para o estabelecimento das vendas dos livros que vieram após, já que o livro de Nietzsche passou a anunciar a editora e, consequentemente, os demais lançamentos.

Outra questão interessante e não planejada (pelo menos, conscientemente) é a relação que existe entre os livros e seus autores. Já havia um conto em Navegar é preciso em que Pessoa mencionava Epicuro, que por sua vez também já fora alvo das críticas apaixonadas do grande filósofo alemão. Também há autores que destacam a proximidade de algumas ideias de Pessoa com as de Nietzsche que, por sua vez, foi um dos influenciadores de Khalil Gibran. A Arte da Guerra é um clássico que, sem dúvida, deve muito de suas ideias a outro ainda mais antigo, o Tao Te Ching, que por sua vez ainda influenciou parte dos conceitos de A Voz do Silêncio, de H. P. Blavatsky – que também foi traduzido para o português por ninguém menos que... Fernando Pessoa!

Mesmo Jalal ud-Din Rumi bebe da mesma fonte do gnosticismo presente nos Evangelhos de Tomé e Maria, que por sua vez também ecoa no Profeta de Gibran... Enfim, são mesmo muitas relações inesperadas entre estes poucos livros.

Portanto, eu me despeço do ano que passou com o mesmo espírito e o mesmo entusiasmo com que abraço o ano que chega... Sem tanto planejar mas, antes de mais nada, agradecer. Agradecer imensamente pela oportunidade de melhorar um pouco toda esta vizinhança, não exatamente através das minhas palavras, mas através dos dizeres de tantos gigantes de outrora. Pensamentos que já me ajudaram muito nesta vida, mas que nunca poderia imaginar que seriam publicados por mim.

É, sem dúvida, uma honra (não mais um fardo)... Espero que gostem do percurso, e que seus dias, e nossos dias, permaneçam sendo sempre este Ano Novo perene, elaborado e sustentado por tantas reflexões vindas do Alto.

02/01/2014

Rafael Arrais (autor/tradutor/editor)

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[1] O serviço de autopublicação da Kobo se chama Kobo Writing Life (KWL). Além dele e do Kindle Direct Publishing (KDP), ainda publico hoje através do Publique-se da Livraria Saraiva. Infelizmente os serviços de autopublicação da Google e da Apple ainda não estão disponíveis para alguém residente no Brasil. Para maiores detalhes acerca do mundo da autopublicação, recomendo o site Revolução eBook.

» Veja também O ano em que virei tradutor profissional

Crédito da imagem: Joel "Boy Wonder" Robinson

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1.7.13

Ad infinitum: baixe gratuitamente a versão digital, somente hoje!

4 personagens. Um diálogo sobre o Tudo.

"Ad infinitum" poderá ser baixado gratuitamente na Amazon Brasil até o final do dia de hoje (01/07/2013), bastando somente que tenha uma conta cadastrada na Amazon (*):

Baixar o eBook na Amazon Brasil

(*) Mesmo sem um Kindle, você pode ler em tablets, laptops ou mesmo smartphones, basta baixar o aplicativo de leitura gratuito. Se puder avaliar o livro na Amazon após o ler, lhe agradeço :)

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Comentário
Hoje o livro chegou a ficar por cerca de 2h na posição #3 entre os 100 livros mais baixados de toda a Amazon Brasil, e passou boa parte do dia na posição #4. Isto foi bem melhor do que eu esperava, então não posso deixar de agradecer a todos que baixaram e compartilharam a promoção nas redes sociais. Hoje não ganhei nenhum centavo, mas ganhei mais de uma centena de novos leitores, o que é muito mais valioso. Valeu pessoal!


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9.5.13

Lançamento: Toda poesia de Alberto Caeiro

As Edições Textos para Reflexão voltam a publicar Fernando Pessoa, ou melhor, Mestre Caeiro. Em Toda poesia de Alberto Caeiro temos ao todo 3 livros – O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos –, além de diversos textos adicionais.

Um livro digital já disponível para o Amazon Kindle e o Kobo:

Comprar eBook (Kindle) Comprar eBook (Kobo)

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Abaixo, segue um trecho da introdução do livro:

“A fonte da vida temporal é a eternidade. A eternidade se derrama a si mesma no mundo. É a ideia mítica, básica, do deus que se torna múltiplo em nós. Na índia, o deus que repousa em mim é chamado o habitante do corpo. Identificar-se com esse aspecto divino, imortal, de você mesmo é identificar-se com a divindade.

Ora, a eternidade está além de todas as categorias de pensamento. Este é um ponto fundamental em todas as grandes religiões do Oriente. Nosso desejo é pensar a respeito de Deus. Deus é um pensamento. Deus é um nome. Deus é uma ideia. Mas sua referência é a algo que transcende a todo pensamento. O supremo mistério de ser está além de todas as categorias de pensamento. Como disse Immanuel Kant, o filósofo alemão: a coisa em si é não coisa. Transcende a coisidade e vai além de tudo o que poderia ser pensado.

As melhores coisas não podem ser ditas porque transcendem o pensamento. As coisas um pouco piores são mal compreendidas, porque são os pensamentos que supostamente se referem àquilo a respeito de que não se pode pensar. Logo abaixo dessas, vêm as coisas das quais falamos. E o mito é aquele campo de referência àquilo que é absolutamente transcendente”.

O poder do mito (trecho), Joseph Campbell

Mestre Caeiro foi além da linguagem, e exatamente por isso, descascou a casca da metafísica, e demonstrou como toda poesia é sensação, sentimento e intuição, os frutos por detrás das cascas das palavras.

Segundo Pessoa, “a obra de Alberto Caeiro representa uma reconstrução integral do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos que viveram nele e por isso o não pensaram, o puderam fazer”.

Neopagão por excelência, mito de si mesmo, Mestre Caeiro, o único heterônimo de Pessoa que era reconhecido pelos outros heterônimos como mestre, nos traduz em seus poemas tudo aquilo que não pode ser traduzido... Isto tampouco é um paradoxo: é que se trata de uma linguagem para ser percebida pela alma, e não pelo cérebro.

De fato, “há metafísica suficiente em não pensar em nada”, ou seja, em simplesmente existir, e contemplar tudo isto que está a nossa volta. Toda a Eternidade apaixonada pela produção do tempo. Toda a Transcendência a velejar pelo horizonte. Toda a Natureza a bailar com a brisa que escora pelos ombros...

Seria inútil prosseguir nessa descrição do indescritível. Portanto, antes de lhes deixar na companhia de Caeiro, trago uma poesia ainda mais antiga e inefável, vinda da Pérsia (séc. XIII):

Além das ideias de certo e errado,
há um campo. Eu lhe encontrarei lá.

Quando a alma se deita naquela grama,
o mundo está preenchido demais para que falemos dele.
Ideias, linguagem, e mesmo a frase “cada um”
não fazem mais nenhum sentido.

Jalal ud-Din Rumi (poeta sufi)


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