 
« continuando da parte 1
Artigo original em inglês por Lynn Picknett e Clive Prince  (para a revista Fortean Times), tradução de Rafael Arrais. Algumas das notas ao final também são minhas. 
"Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes." (Bernard de Chartres).
A revolução hermética
  Voltando  a Bruno, em 1592 ele se mudou para Veneza – e conforme as coisas ocorreram  após, foi uma decisão equivocada. A república era um viveiro de oposição a  autoridade papal, e inclusive haviam movimentos no sentido de se forjar uma  aliança política e religiosa com a Inglaterra. As figuras chaves neste plano  estavam todas associadas a Bruno, incluindo Traiano Boccalini, autor de Novidades do Parnaso que, explicitamente  modelado numa das obras de Bruno, pedia uma “reforma geral de todo o mundo”  [1]. Bruno também visitou um antigo contato em Pádua, na República da Veneza,  Gian Vincenzo Pinelli, o distinto erudito no centro da rede de intelectuais e  pensadores radicais da Europa. Ele hoje é mais conhecido como o mentor de  Galileu.
Entretanto,  Bruno foi traído e entregue a Inquisição, tendo permanecido na prisão, em Roma,  por oito anos, antes de ser queimado na fogueira em Fevereiro de 1600. Seu  julgamento final e execução foram presididos pelo Cardeal Inquisidor Roberto  Bellarmino, mais tarde um personagem chave do drama envolvendo Galileu.
A saída  de cena de Bruno deixou um vazio no palco central, uma grande oportunidade para  um intelectual aspirante. Bruno havia aplicado para a cadeira de matemática na  Universidade de Pádua, mas após sua detenção o emprego caiu no colo de outro  candidato – chamado Galileu Galilei [2]. No entanto, algo de maior impacto  imediato foi a chegada, alguns meses após a partida de Bruno, de seu herdeiro  no Hermetismo.
As  impressionantes similaridades entre as carreiras, filosofias e objetivos de  Bruno e Tommaso Campanella (1568-1639) sugerem um plano compartilhado. De fato,  a chegada do jovem Campanella (então com apenas 23 anos) na cena hermética  italiana, logo após a prisão de Bruno, sugere que ele estava dando continuidade  ao que o napolitano foi forçado a largar. Assim como Bruno, Campanella era um  napolitano e dominicano que tornara-se um cruzado do Hermetismo. Chegando a  Pádua logo após a saída de cena de Bruno, Campanella encontrou-se com Pinelli e  Galileu. Foi também em Pádua que ele foi preso pela Inquisição, no início de  1594, e transferido para Roma – para a mesma prisão onde esteve Bruno.  Comparado a Bruno, Campanella teve uma pena bem mais branda: após haver  abjurado toda sua obra, foi levado a um monastério dominicano e então, logo  após, enviado de volta a Nápoles.
Campanella  compartilhava da visão de Bruno onde o heliocentrismo seria um gatilho para uma  mudança de era – seu maior trabalho foi A  cidade do Sol (La città del Sole,  escrito antes de 1602; publicado em 1623), onde ele delineou sua visão de uma  sociedade ideal amparada pelos princípios herméticos – que ele acreditava que  iria se iniciar a partir de 1600 [3]. A aproximação do novo século o encorajou  a ser muito mais proativo, politicamente, do que Bruno. Ele ajudou a organizar  a Revolta Calabresa, tentando expulsar os regentes espanhóis do Reino de  Nápoles para pavimentar o caminho ao estabelecimento de uma república baseada  em princípios mágicos, um sistema que iria manter soerguida a tocha da nova  era, para que o resto do mundo os seguisse.
Informantes  traíram a insurreição em favor da Espanha, e após a organização haver sido  impiedosamente esmagada em Novembro de 1599, Campanella e os outros líderes  foram presos. Isto quase certamente explica o repentino desejo da Inquisição em  se livrar de Bruno, que também protestava contra a regência espanhola e foi o  inspirador espiritual da revolta; ele foi para a fogueira praticamente três  meses depois. Stephen Mason, da Universidade de Cambridge, argumenta que ele  foi executado como forma de exemplo aos rebeldes calabreses, por conta de sua  conexão com Campanella [4]. Executando publicamente o líder espiritual dos  insurgentes no início de seu ano especial, 1600, foi sem dúvida um movimento  calculado [5].
Campanella  escapou da pena de morte fingindo-se louco, e foi então sentenciado a pena  perpétua em sua própria residência. Mas ele não apenas teve direito ao acesso a  livros e materiais de escrita, como também recebia visitas de eruditos, que se  asseguravam de que seus escritos fossem publicados na Alemanha. Presumivelmente  propinas estavam envolvidas neste processo.
Vista  sob a luz das maquinações políticas dos herméticos – especialmente a ameaça dos  sombrios Giordanos – a evocação original do nome de Hermes Trimegisto, feita  por Copérnico em seu Da Revolução das  Esferas Celestiais, era algo que dificilmente teria escapado do olhar dos  guardiões da Igreja. Os defensores da Igreja – a Inquisição e os Jesuítas –  tinha todas as razões para estarem nervosos. Durante o século 16, a Igreja  Romana havia experimentado seu maior trauma, o advento do Protestantismo. Quem  poderia dizer o que poderia ocorrer a seguir? Talvez a Inquisição e os Jesuítas  tenham reagido de forma desproporcional, mas aqueles tempos despertavam a  paranoia. 
Enquanto  a ideia de Copérnico permanecesse como uma simples teoria, entretanto, as  implicações herméticas poderiam ser contidas. Porém, quando um indivíduo  declarou que ele havia encontrado uma prova, então a Igreja ficou seriamente  preocupada. E a ansiedade eclesiástica cresceu ainda mais com tal ameaça de um  associado direto dos místicos revolucionários, Tommaso Campanella e os outros  Giordanos suspeitos – em outras palavras, Galileu.
 
O mensageiro das estrelas
  A  carreira de Galileu Galilei se iniciou em 1592 aos 28 anos – graças à prisão de  Bruno –, quando ele se tornou professor de matemática na Universidade de Pádua.  Lá, como vimos, ele se encontrou com Campanella, no que foi o início de uma  colaboração de toda uma vida. Outra grande influência foi seu mentor Pinelli,  que o introduziu a ciência emergente da ótica, que ajudou a formar sua  reputação. Outro associado herege era Traiano Boccalini, autor de Novidades do Parnaso (inspirado em  Bruno). Com amigos como esses, Galileu certamente já estava na lista negra da  Inquisição desde o início.
Galileu  também estava familiarizado com os escritos de Bruno. De fato, após a  publicação do primeiro livro de Galileu que tocava esta controvérsia, o  astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler o criticou por não deixar claro  em sua obra o débito intelectual que ela tinha para com as ideias de Bruno. 
Foi por  volta de 1610, com a nova tecnologia do telescópio, que Galileu fez observações  – a superfície acidentada da Lua, as luas de Júpiter, e particularmente as  fases “quase lunares” de Vênus – que davam imenso suporte a teoria de  Copérnico. Galileu reconheceu o potencial de suas descobertas, e rapidamente  resumiu a primeira leva de observações em seu Sidereus Nuncius (O  Mensageiro das Estrelas), de 1610. A intelligentsia (grupo de pessoas engajadas  em trabalho intelectual) estava entusiasmada: ele rapidamente tornou-se  matemático e filósofo da corte de Cosimo de Medici, Grade Duque da Toscana. 
Entretanto, Galileu não usou suas  descobertas para apoiar a teoria copernicana, mesmo em sendo um defensor  ardoroso dela, conforme escreveu a Kepler em 1597, contanto que havia “sido  convencido por Copérnico muitos anos atrás”. No Mensageiro das Estrelas, e noutro livro sobre suas descobertas  acerca das fases de Vênus, ele meramente apresentou suas observações. Talvez já  imaginasse que seria mais seguro não alardear as implicações copernicanas de  seus livros.
É claro que o destino de Bruno estava  gravado em sua mente como um conto ameaçador. Mas não há nenhuma dúvida de que  ele estava totalmente a par da significância do Hermetismo no heliocentrismo.  Um de seus mais firmes defensores durante a controvérsia, Campanella escreveu A Apologia de Galileu (Apologia pro Galileo) de sua cela  prisional, em 1622. E – então vivendo como um homem livre em Roma sob a  proteção do próprio Papa – Campanella ainda se correspondia com Galileu por  toda a década seguinte, durante seu período mais difícil, o encorajando a  permanecer firme e a lembrar da importância espiritual de seu trabalho [6].
Conforme escreveu Frances Yates, um  historiador britânico: “Tanto na Apologia quanto nas cartas a Galileu, Campanella fala sobre o heliocentrismo como um  retorno a verdade antiga e o início de uma nova era, usando de linguagem muito  similar a de Bruno em A Cena de Le Ceneri [A Ceia da Quarta-Feira de Cinzas,  onde ele defende a teoria de Copérnico e declara que o estabelecimento do  heliocentrismo iria libertar o espírito humano]... E em outras cartas ele  assegura a Galileu que estava construindo uma nova teologia que iria vingá-lo.”  [7]
As coisas se encaminharam a uma decisão em  1615 quando Galileu finalmente foi a público, escrevendo: “Eu afirmo que o Sol  está localizado ao centro da revolução das órbitas celestes e não se move, e  que a Terra gira sobre si mesma e se move em torno do Sol” [8]. Ele tornou-se  uma celebridade notória da noite para o dia.
Galileu,  Campanella e o Papa
  Quando, como resultado da declaração  pública de Galileu, o Papa Paulo V ordenou uma investigação em bases teológicas  do heliocentrismo, que concluiu que esta teoria era contrária às escrituras, o  livro de Copérnico, Da Revolução das  Esferas Celestiais, foi finalmente banido, juntamente com outras obras que  defendiam o heliocentrismo [9]. Galileu foi chamado a Roma para ser repreendido.  O Sol se movia em torno da Terra e não o contrário. Era verdade porque o  Vaticano afirmava ser verdade.
Mas houve um subtexto não alardeado: o  cardeal que recebeu a tarefa de repreender Galileu foi Roberto Bellarmino, o  mesmo que havia interrogado Bruno, o mesmo que havia sido responsável por sua  condenação e execução. Isto não foi uma coincidência; Bellarmino havia sido  Arcebispo de Cápua desde 1602, porém foi chamado de volta a Roma especificamente  para tratar do caso de Galileu.
Bellarmino, é claro, entendia, por  experiência própria (tendo lidado com o caso de Bruno), a significância do  heliocentrismo para a revolução hermética. Bruno estava morto e Campanella  encarcerado em Nápoles, mas eles tinham seguidores – ninguém sabia  quantos.  E agora aqui estava Galileu,  associado com sujeitos como Campanella, se encaminhando para cada vez mais  perto da prova que, segundo Bruno, iria iniciar uma nova era do Hermetismo.  Galileu recebeu uma declaração escrita por Bellarmino dizendo que o Papa havia  decretado que as ideias de Copérnico não poderiam ser “defendidas ou  sustentadas”. Galileu concordou apressadamente.
Ainda mais indicativa foi sua reação  imediata: ele pediu a permissão de seu patrono, Duque Cosimo, para viajar a  Nápoles – mas esta foi negada. Porque Nápoles? Um ponto crucial do quebra cabeças  se encaixou quando lemos num artigo de Olaf Pedersen, um especialista nos  aspectos religiosos do caso Galileu, que a razão do pedido de seu pedido e da  estranha recusa de seu patrono foi precisamente porque Galileu desejava visitar  Tommaso Campanella em sua cela [10]. A Igreja traz de volta o homem que havia  condenado Bruno para repreender Galileu, e sua primeira reação é tentar se  consultar com o sucessor de Bruno, Campanella...
Ainda que a Galileu tenha sido negada sua  viagem, Campanella escreveu A Apologia de  Galileu, que foi publicada, em seguida, em Frankfurt, com a ajuda de seus  seguidores. No entanto, em se considerando a reputação de Campanella –  condenado por heresia e subversão – ele dificilmente ajudaria no caso Galileu.  Isto é provavelmente a causa de, em Florença, Galileu ter mantido sua cabeça  baixa. Nada no decreto papal proibia a discussão do heliocentrismo como uma  hipótese, e muitos intelectuais estavam fazendo exatamente isso,  entusiasmadamente. O próprio Galileu não mencionou a questão por muitos anos,  embora estivesse claramente esperando por uma oportunidade mais apropriada para  retornar a ela.
Então em 1623, um velho amigo, Maffeo Barberini,  tornou-se o Papa Urbano VIII. Tomando isto como um sinal de que sua sorte finalmente  havia mudado, Galileu foi até Roma visitá-lo pouco depois. A eleição de Urbano  era também uma boa notícia para Campanella. Em 1626, Urbano requisitou que o  rei da Espanha libertasse-o de sua prisão para que Campanella fosse até Roma  realizar magias de proteção. Após 27 anos, Campanella não somente estava livre,  como também era o mais novo conselheiro do Papa! Urbano chegou inclusive a lhe  dar permissão para fundar uma universidade em Roma para treinar missionários  que simpatizavam com suas ideias filosóficas e religiosas. Este favor papal  garantido ao seu maior e mais controverso colaborador foi outro bom sinal aos  olhos de Galileu.
Galileu decidiu que era seguro escrever seu Diálogo Acerca dos Dois Sistemas  Principais do Mundo (Dialogo sopre i  due massimi sistemi del mondo), uma discussão cerca do antigo sistema ptolomaico,  e do novo sistema copernicano. Com a aprovação prévia da Inquisição, ele foi  publicado em Florença em 1632. O Papa apenas pediu a Galileu para que suas  próprias ideias anti-heliocêntricas fossem incluídas. 
Era  significativo, no entanto, que houvessem alguns conceitos próximos entre o Diálogo de Galileu e a obra de Bruno, A Ceia da Quarta-Feira de Cinzas, de  1584. Pode não ter sido uma coincidência,  já que esta era exatamente a obra giordana favorita de Campanella. Apesar do  mito da “batalha de egos”, ficou claro que Urbano teve de ser “incentivado” a  entrar em ação. Seus diversos oponentes dentre os Cardeais Inquisidores estavam  começando a sugerir que o aval papal a publicação do Diálogo era um sinal que endossava os crescentes rumores acerca de  suas tendências heréticas. Não houve nenhuma batalha de egos. O Papa Urbano  estava apenas ficando cada vez mais temeroso.
Um relutante Urbano instruiu a Inquisição a  chamar um chocado Galileu até Roma, onde se apresentou diante da Inquisição em  Abril de 1633. Ele declarou que seu livro apenas discutia brevemente a teoria  de Copérnico, e que até o decreto de 1616 ele não havia considerado nem a  hipótese copernicana nem a ptolomaica como definitivas (contradizendo o que  escreveu a Kepler 36 anos antes), mas que desde então havia passado a  considerar a visão ptolomaica como “verdadeira e além de questionamentos”. Enquanto  poucos iriam condenar Galileu por tentar escapar – afinal, esta era a Gestapo  do Vaticano – estas palavras dificilmente podem ser imputadas a um nobre  defensor da liberdade intelectual, futuro “mártir da ciência”. E ainda assim,  Galileu tampouco se pareceu com um velho arrogante que se recusava a admitir  que estava errado [11].
Galileu perdeu. Os inquisidores declararam  que o Diálogo era uma tentativa  dissimilada de promover o heliocentrismo – e nisto provavelmente estavam certos  – e que suas desculpas não haviam lhes convencido do contrário. Ele se encontrou  “veementemente suspeito de heresia” – apenas um degrau inferior a ser  formalmente acusado como herege. Sua única escapatória foi “abjurar e  amaldiçoar” as ideias heréticas.
Ajoelhado ante o altar de Santa Maria, no  mesmo local onde Bruno foi condenado 33 anos antes, Galileu renegou  oficialmente o heliocentrismo. Todas as suas publicações passadas e futuras  foram formalmente proibidas, e ele foi condenado a passar o resto de seus dias  em prisão domiciliar, embora já tivesse mais de 70 anos na época. Uma de suas  primeiras visitas na prisão foi de seu grande colaborador e apologista, Tommaso  Campanella. 
Conclusão
  Apesar do julgamento de Galileu ser sempre citado como o momento onde as forças  da razão e do dogma colidiram, o fator hermético é, nós argumentamos, mais  importante. A reverência religiosa que os seguidores do Hermetismo davam ao  heliocentrismo foi a principal razão que levou a Igreja a condenar tardiamente a  teoria de Copérnico, e logo após, ao próprio Galileu. O fator hermético estava  lá, mas no pano de fundo, o que é precisamente a causa deste senso de que falta  alguma coisa na controversa história deste julgamento.
Entretanto, Galileu de forma alguma era tão  inocente quanto parecia. Existem inúmeras questões válidas acerca de sua  relação com o movimento undergroud da  reforma hermética. Há sua contínua associação e correspondência com Campanella,  especialmente seu desejo de visitá-lo logo após a primeira repreensão dada pela  Inquisição, em 1616. Campanella dificilmente seria o tipo de companhia que  Galileu gostaria de manter, há menos que tivesse relação com os Giordanos. 
E há ainda o aparente uso das ideias de  Bruno – que, em seu A Ceia da  Quarta-Feira de Cinzas, fez a primeira menção ao Sol de Copérnico como o  gatilho para uma nova era hermética – como modelo para o seu Diálogo Acerca dos Dois Sistemas Principais  do Mundo. Seria esta a forma que encontrou para demonstrar aos Giordanos  que era um simpatizante? Ou seria o próprio Galileu um dos membros ativos desta  organização revolucionária? 
***
[1] Nota dos autores: Esta é descrição da  obra de Boccalini declamada no primeiro dos famosos manifestos rosacrucianos de  1614, que incluíam um trecho de Novidades  do Parnaso (News from Parnassus),  uma dos diversos exemplos da conexão estreita entre o movimento de reforma do  Hermetismo italiano e os círculos germânicos de onde o rosacrucionismo surgiu.
[2] Nota dos  autores: Timothy Ferris: Coming of Age in the Milky Way, The Bodley  Head, 1989, p.85–86.
[3] Devemos levar em consideração que as  mudanças de séculos (ao menos no calendário cristão) despertavam muitas ideias  de “mudanças de era”. No entanto, há muitos espiritualistas que, como eu,  enxergam tais mudanças como processos que levam muitos séculos. Ou, como diz a  lei hermética: “Tudo flui, nada está parado”.
[4] Nota dos autores: Stephen Mason: Religious  Reformation and the Pulmonary Transit of the Blood, History of Science,  vol. 41, part 4, no. 134, Dec 2003, p.468.
[5] Tanto Bruno quanto Campanella eram,  afinal, dominicanos, parte da Igreja. Bem ou mal, condená-los a fogueira era  algo que “arranhava” a imagem do Vaticano. Desta forma, preferiram queimar  apenas um, apenas o líder espiritual, Giordano Bruno. Campanella era somente o  “líder de operações”, e por isso foi poupado da fogueira.
[6] Para os “mártires da ciência”,  ironicamente, seu próprio trabalho tinha profundo significado espiritual.  Campanella estava apenas a reafirmar o que Galileu já sabia desde muito cedo.
[7] Nota dos autores: Frances Yates: Giordano  Bruno and the Hermetic Tradition, Routledge & Kegan Paul, 1964, p.383.
[8] Só muito tempo depois se descobriu que  mesmo o Sol se move ao redor da Via Láctea, e que mesmo nossa galáxia se move  em relação às galáxias próximas, e também em relação ao aglomerado de galáxias  locais. Mas as implicações espirituais destas descobertas ainda estão um tanto  quanto distantes de serem assimiladas. Talvez o novo guru tenha sido um  agnóstico, e não um espiritualista.
[9] É aqui que fica muito claro o caráter  de “guerra religiosa” na questão do heliocentrismo. Ainda que Copérnico não  declarasse ter provas da teoria, se em sua época ela fosse associada a uma  tentativa de derrubada da Igreja em favor de uma nova era espiritual com menos  dogmas e mais investigações filosóficas e livre pensamento (o que desejavam os  Giordanos), certamente já haveria sido banida muitos anos antes. É precisamente esta história que a Academia e o  Vaticano não contam.
[10] Nota dos autores: Olaf Pedersen: Galileo’s Religion, in CV Coyne (ed.): The Galileo Affair: A Meeting of Science and  Faith – Proceedings of the Cracow Conference, May 24–27, 1984, Specola  Vaticana, Vatican City, 1985, p.97.
[11] Galileu nunca teve um espírito  revolucionário da altura de Giordano Bruno. A Inquisição havia queimado o  sujeito certo. Mas, como vimos, as ideias de Bruno não puderam ser destruídas  junto com seu corpo... Iriam ecoar ainda na mente do próximo gênio da história  da ciência, o matemático, físico, alquimista, teólogo, filósofo e ocultista –  Sir Isaac Newton. Mas esta é uma outra  história.
***
Crédito das imagens: [topo] National Geographic Society/Corbis (pintura de Jean-Leon Huens, onde Galileu explica a topografia lunar aos céticos); [ao longo] Gravura de autor anônimo, divulgada primeiramente em um livro de Camile Flammarion
Marcadores: autores selecionados, autores selecionados (131-140), ciência, Clive Prince, Copérnico, cristianismo, Galileu, Giordano Bruno, hermetismo, história, Lynn Picknett, religião