Este artigo não trata de ataque a Chico Xavier, mas sim de sua defesa. O título é para atrair aqueles que pesquisam no google por "textos prontos" (geralmente pelas palavras-chave "Chico Xavier charlatão" ou "Chico Xavier fraude") para poderem atacar a memória de Chico em discussões online. Se era essa a sua intenção, me desculpe, mas lhe convido a refletir um pouco mais sobre a natureza dos ataques gratuítos a Chico - afinal, porque será que ele incomoda tanto?
Segundo a Wikipedia e suas fontes, Chico Xavier psicografou quatrocentos e doze livros. Nunca admitiu ser o autor de nenhuma dessas obras. Reproduzia apenas o que os espíritos lhe ditavam. Por esse motivo, não aceitava o dinheiro arrecadado com a venda de seus livros. Vendeu mais de 20 milhões de exemplares. Cedeu os direitos autorais para organizações espíritas e instituições de caridade, desde o primeiro livro.
Suas obras são publicadas pelo Centro Espírita União, Casa Editora O Clarim, Edicel, Federação Espírita Brasileira, Federação Espírita do Estado de São Paulo, Federação Paulista do Rio Grande do Sul, Fundação Marieta Gaio, Grupo Espírita Emmanuel s/c Editora, Comunhão Espírita Cristã, Instituto de Difusão Espírita, Instituto de Divulgação Espírita André Luiz, Livraria Allan Kardec Editora, Editora Pensamento e União Espírita Mineira.
Apesar disso, o ataque mais comum a Chico parte dos céticos que afirmam que ele era um charlatão em busca de ganhos financeiros: que a renda de seus livros eram doados a instituições sem fins lucrativos, que não pagavam impostos, e lhe retornavam esses lucros em forma de "mimos" e outros auxílios. Vamos então analisar a lógica do ataque:
1- Seus 20 milhões de livros vendidos não eram sequer publicados pela mesma editora, e sim dúzias de editoras diferentes. Eram, portanto, todas parte de um "conxavo secreto" para favorecer os supostos ganhos sem impostos?
2- Os impostos insidem nos livros em si, só não insidem nas desepesas administrativas das editoras. Apesar disso, a maior parte dos livros de Chico é vendida por quantias bem abaixo da média editorial no país. Será mesmo que essa era uma boa estratégia para se obter lucro?
3- Não seria mais fácil para Chico simplesmente ficar com o valor dos direitos autorias de seus livros, desde o início? Muitos autores espíritas vendem milhares de exemplares (alguns, como Zíbia Gasparetto, milhões deles) e mesmo assim "embolsam" os direitos autorais - está perfeitamente de acordo com a lei, que é laica e não reconhece o direito de supostas entidades sobrenaturais (e, mesmo assim, elas não poderiam usar o dinheiro).
4- Porque Chico viveu a vida toda em residência humilde, sustentado por sua aposentadoria, e atendendo pessoas de segunda a sábado sem cobrar nada? Porque não decidiu pelo menos gastar essa "suposta bolada" no fim da vida? Porque, pelo contrário, trabalhou cada vez mais e mais, até o limite, quando seu corpo não podia mais lhe atender? Porque, enfim, não passou o fim da vida desfrutando de sua riqueza, viajando o mundo, quem sabe visitando locais espirituais como Índia ou Nepal?
5- Porque um suposto charlatão recebeu a maior audiência em porcentagem da TV brasileira nos programas Pinga-fogo da TV Tupi em 1971 (maior até do que a da final da copa de 70)? (*)
6- Porque um suposto charlatão concorreu ao prêmio nobel da paz em 1981 e na votação para o Maior Brasileiro da História realizada pela revista Época na internet, obteve 9.966 votos, ou 36% do total, ficando em primeiro lugar? (*)
7- Ainda mesmo que Chico tivesse recebido alguns "mimos" de algumas dessas editoras, seriam então um pequeníssima parte da porcentagem de direitos autorias a que teria direito de qualquer forma - me escapa a lógica do ataque.
Ou seja, um ataque no mínimo absolutamente ilógico. Os céticos tem todo o direito de crerem no que quiserem, mas é interessante que nesse caso se usem de boatos obscuros e supostas entrevistas com ex-coordenadores de centros espíritas que "recebiam todos uma parte da bolada" - ora, ora, caso soubessem procurar em fontes mais sólidas, de prerência na biografia "As Vidas de Chico Xavier" (publicada pelo grupo espanhol Planeta, que não é espírita, e escrita pelo jornalista cético Marcel Souto Maior) ou mesmo nas próprias obras de Chico, que tratam de poesia a história antiga, de espiritualiadade a ciências (de fato, o livro "Mecanismos da Mediunidade" está em linguagem puramente científica) e às vezes também de polêmicas descrições da vida no "plano espiritual" - então talvez tivessem a oportunidade de construir uma opinião mais embasada e, porque não dizer, realmente cética.
Antes que digam que sequer considerei a lógica do ataque, vale retornar a mesma reportagem da revista Época (do link logo acima):
"Nos anos 70, Chico foi acusado de favorecer atores e políticos e deixar de atender as pessoas humildes. Também surgiram denúncias de venda de ingressos para visitas. Até o fim de seus dias, Chico recebeu, todos os sábados, milhares de crentes de todo o Brasil. Primeiro em Pedro Leopoldo, depois em Uberaba, para onde se mudou em 1959, quando já era uma celebridade. Nunca se conseguiu comprovar que o médium soubesse da movimentação financeira em torno de seu nome. Seu filho adotivo, Eurípedes Higino dos Reis, chegou a ser investigado pelo Ministério Público. De acordo com a Federação Espírita Brasileira, os direitos autorais dos livros de Chico Xavier, cedidos em cartório, beneficiam mais de 100 mil famílias. Chico Xavier dizia viver da aposentadoria como escriturário do Ministério da Agricultura."
Ou seja, a consciência de cada um que julgue o que faz sentido, e o que não faz...
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No "bate-pronto", outros comentários acerca de ataques comuns a Chico Xavier
Chico sofria de auto-engano.
Muitos céticos analisam dessa forma, e devem ser respeitados. Não acho desrespeitoso analisá-lo dessa forma, pois antes reconhecem que foi um homem de bem que praticou a caridade a vida toda - no entanto, falta explicar como um homem humilde do interior de minas, com segundo grau incompleto, escreveu tanto e sobre tantos assuntos diversos. Ainda assim, portanto, um desafio para a psicologia moderna.
Chico era doente mental.
De certa forma, parte do mesmo pressuposto acima, apenas tende a ser mais desrespeitoso o julgamento, afinal, mesmo em sendo doença mental, fica faltando explicar que tipo de doença era essa, que permitia a um homem falar horas em TV ao vivo, para todo um país, e não gaguejar, nem falar algo aparentemente "louco" ou "ilógico" de antemão (ah não ser, claro, para os preconceituosos).
Chico treinava a "escrita-automática" e porisso escrevia tanto.
Bem, decerto ele "treinou" muito então, "treinou" a vida inteira - mas falta explicar como psicografou diversos livros em conjunto com Waldo Vieira, onde um trazia os capítulos pares, e outro os ímpares, separados por quilômetros de distância entre suas respectivas cidades, e no fim o livro fazia total sentido de coerência, sem precisar ser editado na mínima vírgula, aparentemente. Teorias como a "escrita-automática" ou o "quase mítico" Inconsciente Coletivo falham em explicar esse fenômeno em específico, a não ser que postulemos que as informaões ficam "flutuando pelo ar" apenas à espera que os "escritores automáticos" as usem - nesse caso, em que isso diferiria exatamente da lógica espiritualista?
Porque Chico viveu doente? Porque um curandeiro não procura outro curandeiro?
Chico não era curandeiro, nem nunca pretendeu ser. Chico psicografava mensagens escritas em papel, e supostamente recebia influência de seu guia espiritual, Emmanuel, toda vez que ia falar em público (como foi o caso no Pinga-fogo). A lógica das enfermidades de Chico está na "Lei de Cause e Efeito" da doutrina espírita, caso queiram saber.
Gostaria de sugerir um tema. Por que vocês não desmascaram as práticas espíritas de Chico? Adoraria ver seus seguidores humilhados pela ciência. (texto comum em blogs sobre dismistificadores).
Ora, Chico também escrevia sobre ciência! O espiritismo não pretende negar a ciência, mas ir "adiante" onde a ciência tradicional ainda não se atreve a meter o nariz. Segundo o espiritismo, caso a ciência prove experimentalmente algo que vá contra a doutrina espírita, é a doutrina que tem de se adequar a ciência, e não ao contrário. O codificador da doutrina, Kardec, era ele mesmo um homem de ciências. Em tempo: a única "prática espírita" de Chico era a psicografia, e temos diversas áreas da psicologia e parapsicologia para estuda-la. Em relação a hipótese do espírito existir, temos estudos de Experiência de Quase Morte, casos de crianças que se lembram de vidas passadas, terapias de regressão de memória, dentre outros estudos científicos (independente de admitirem ou não a hipótese, a estão estudando de maneira científica e honesta).
Segundo a Bíblia a prática de necromancia é condenada.
Espiritismo não é necromancia, a palavra "espiritismo" foi cunhada por Kardec a menos de 2 séculos e não poderia constar na Bíblia. No mais, fica difícil compreender como Jesus falou com Moisés em uma tenda (Elias foi "arrebatado aos céus", mas Moisés estava "morto" a séculos).
Chico era gay.
Um caso clássico de auto-confissão de preconceito por parte de quem ataca. Não que fizesse alguma diferença, mas ao que tudo indica Chico desencarnou ainda virgem. Além disso, tinha uma posição que agradaria muitos defensores do fim do preconceito para com homossexuais.
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A resposta habitual de Chico (aos ataques)
"A doutrina é de paz... Emmanuel tem me ensinado a não perder tempo discutindo. Tudo passa... As pessoas pensam o que querem a meu respeito – pensam e falam. Estou apenas tentando cumprir com o meu dever de médium. Companheiros escrevem fazendo insinuações em torno da obra dos espíritos por meu intermédio... O que posso fazer? Estamos numa doutrina de livre opinião. Devo prosseguir trabalhando. O meu compromisso é com os espíritos... Não pretendo ser líder de nada. Estou consciente de que tenho procurado fazer o melhor e sou grato aos nossos Benfeitores por não me terem permitido uma vida inútil. Um dia, nós vamos compreender a necessidade de uma união mais profunda – quando sentirmos ameaçados pelas religiões intolerantes, que estão crescendo muito..."
Jornal O Ideal - Nº 56 - Janeiro de 2000
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(*) Numa análise mais cética, estes argumentos podem cair na falácia do "apelo a autoridade". Porém, não esqueçamos que o Pinga-fogo de 1971 foi um esforço jornalístico para tentar fazer Chico cair em contradição e/ou "desmascará-lo", e todos sabem que teve o efeito oposto: tornou-o um mito no país. No mais, os outros argumentos não dependem desses para se sustentar.
Este artigo também pode ser visualizado pelo endereço http://tinyurl.com/chicoxavier
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Crédito da foto: Wikipedia
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